Artigo em destaque: Implantes dentários antimicrobianos.

Imagem de microscopia eletrônica de varredura do novo revestimento antibiofilme.
Imagem de microscopia eletrônica de varredura do novo revestimento antibiofilme.

Biofilmes são comunidades de microrganismos que convivem dentro de uma matriz polimérica produzida por eles mesmos formando uma estrutura tridimensional. Os biofilmes crescem aderidos às mais diversas superfícies, naturais ou artificiais, e podem incluir uma diversidade de bactérias e fungos. Quando encontradas sobre nossos dentes, essas comunidades de micróbios podem causar prejuízos à saúde bastante conhecidos, como a cárie dental. Ainda dentro da boca, onde a tendência a formar biofilmes não é pequena, implantes dentários também podem ser prejudicados pela ação de biofilmes. De fato, a principal causa de falha em implantes dentários está relacionada a infecções nos tecidos circundantes ao implante, devidas ao acúmulo de bactérias sobre os parafusos de titânio que são implantados pelo cirurgião-dentista no osso do maxilar ou mandíbula para fazer o papel de raízes das próteses dentárias.

Pensando nesse problema, uma equipe de pesquisadores de áreas relacionadas a odontologia e materiais desenvolveu um revestimento capaz de reduzir a adesão de bactérias e fungos à superfície do titânio, atacando assim a formação de biofilmes na sua primeira etapa. No novo revestimento, a adesão de bactérias foi oito vezes menor do que no titânio sem revestir. Além disso, o revestimento mudou a composição da população de micróbios nos biofilmes que chegaram a aparecer na superfície. Dessa maneira, a presença de bactérias diretamente responsáveis por gerar infecções em torno dos implantes foi sete vezes menor no revestimento do que no titânio sem revestir. “Nosso revestimento não apenas reduziu a adesão de microrganismos, mas também modificou a sua composição para um perfil menos agressivo ao hospedeiro”, resume o professor Valentim Adelino Ricardo Barão (UNICAMP), autor correspondente de artigo sobre o trabalho, recentemente publicado na ACS Applied Materials and Interfaces. Finalmente, além de gerar as propriedades antibiofilme no titânio, o revestimento manteve a biocompatibilidade desse material, permitindo o crescimento de células humanas em sua superfície, e aumentou sua resistência à corrosão.

De acordo com os autores do trabalho, este novo revestimento pode ser uma estratégia promissora para controlar a formação de biofilmes em implantes de titânio e assim reduzir o desenvolvimento de infecções microbianas. “Inúmeros revestimentos vêm sendo desenvolvidos nesta área”, contextualiza o professor Barão. “No entanto, os disponíveis no mercado objetivam, principalmente, melhorar propriedades biomecânicas e a biocompatibilidade, não sendo efetivos em reduzir o acúmulo de microrganismos”. Conforme os autores do artigo, para poder aplicar o titânio revestido em pacientes e disponibilizá-lo no mercado, seria necessário testar sua inserção como implante dentário em modelos animais e, finalmente, realizar um ensaio clínico controlado que contemple a inserção do material em seres humanos.

Do desenvolvimento do material aos estudos in vitro e in situ.

Os autores do artigo. A partir da esquerda do leitor: Joao Gabriel Silva Souza, Martinna M. Bertolini, Raphael Cavalcante Costa, Jairo Matozinho Cordeiro, Bruna Egumi Nagay, Amanda B Almeida, Belén Retamal-Valdes, Francisco Nociti, Magda Feres, Elidiane Cipriano Rangel, e Valentim Adelino Ricardo Barao.
Os autores do artigo. A partir da esquerda do leitor: Joao Gabriel Silva Souza, Martinna M. Bertolini, Raphael Cavalcante Costa, Jairo Matozinho Cordeiro, Bruna Egumi Nagay, Amanda B Almeida, Belén Retamal-Valdes, Francisco Nociti, Magda Feres, Elidiane Cipriano Rangel e Valentim Adelino Ricardo Barão.

A pesquisa foi realizada dentro do doutorado de João Gabriel Silva Souza, com orientação do professor Barão e financiamento das agências brasileiras Fapesp e Capes. A tese foi defendida em 2019 no Programa de Pós-Graduação em Clínica Odontológica da Faculdade de Odontologia de Piracicaba da UNICAMP.

O objetivo principal da tese, conta Souza, foi desenvolver um revestimento para o titânio, material amplamente usado em odontologia, com capacidade de reduzir o acúmulo microbiano, usando a tecnologia de plasma de baixa pressão. As buscas bibliográficas apontaram que uma superfície superhidrofóbica seria uma promissora alternativa para reduzir a adesão de bactérias em titânio e suas ligas. Considera-se que uma superfície é superhidrofóbica (ou seja, muito difícil de molhar) quando o ângulo formado entre ela e uma gota de água é maior que 150º. A superhidrofobicidade, por sua vez, tem como bases a alta rugosidade e a composição química da superfície.

 “Com base nessa ideia e estudos prévios já desenvolvidos pelo grupo de pesquisa do professor Barão, buscamos desenvolver um revestimento superhidrofóbico com a tecnologia de plasma, alterando diversos parâmetros, como pressão, gases etc.”, conta Souza.

O revestimento foi desenvolvido e caracterizado no Laboratório de Plasmas Tecnológicos da UNESP – Sorocaba, que engloba o Laboratório Multiusuário de Caracterização de Materiais, sob orientação da professora Elidiane Rangel. “A professora Elidiane tem ampla experiência na área e vem contribuindo amplamente com nosso grupo de pesquisa no desenvolvimento de revestimentos para aplicabilidade odontológica”, comenta o professor Barão.

Enquanto a literatura científica registrava revestimentos superhidrofóbicos fabricados, principalmente, em duas etapas (uma para obter rugosidade e a segunda para conseguir a hidrofobicidade), a professora Rangel conseguiu fabricar o revestimento em apenas uma etapa, usando a técnica de PECVD (plasma-enhanced chemical vapor deposition). Nessa técnica, forma-se, dentro de um reator, uma atmosfera de gases cuidadosamente selecionados (neste caso, oxigênio, argônio e hexametildissiloxano, de fórmula C6H18OSi2). Depois de aplicar uma tensão elétrica, essa atmosfera fica altamente energizada (em estado de plasma), os gases se decompõem e geram-se espécies (átomos, moléculas, íons) com muita propensão a reagir quimicamente. Essas espécies formam novos compostos que se depositam em estado sólido na superfície do material que se deseja revestir (neste caso, o titânio).

Para fabricar o revestimento superhidrofóbico por meio dessa técnica, a professora Elidiane realizou um processo único de 60 minutos. O resultado foi uma superfície baseada em silício e oxigênio, de aspecto semelhante à couve-flor, com uma rugosidade diversa. Fazendo uma analogia com o relevo do nosso planeta, o revestimento apresentou, na escala micrométrica, montanhas de diversas alturas e formatos, separadas por vales e cânions.

Depois de obter o revestimento, com o objetivo de testar sua efetividade como antibiofilme, a pesquisa envolveu grupos de pesquisa da Universidade de Guarulhos e da University of Connecticut Health Center (EUA), onde o então doutorando Souza realizou o chamado “período sanduíche de doutorado”. Além disso, o Laboratório Nacional de Nanotecnologia (LNNano) e o Laboratório Nacional de Biociências (LNBio) do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM) foram utilizados para caracterização do revestimento e análise da composição de proteínas aderidas nele, respectivamente.

A equipe de cientistas fez então uma série de testes e análises microbiológicas, tanto em laboratório (in vitro), quanto na boca de voluntários (in situ), sempre comparando o titânio sem revestir e o titânio com o revestimento superhidrofóbico. Em um dos experimentos in vitro, utilizaram saliva natural como meio de cultivo de diversos microrganismos usualmente presentes em biofilmes que crescem em implantes. Em contato com esse meio, as amostras de titânio revestidas mostraram um desempenho antibiofilme muito bom com relação ao titânio sem revestir: a adesão do conjunto de micróbios foi oito vezes menor, e, em particular, a adesão de uma bactéria diretamente responsável pela formação da matriz dos biofilmes foi 17 vezes menor. Consequentemente, em uma etapa posterior do experimento, a formação de biofilme no revestimento foi escassa e esparsa.

Em outro interessante teste, realizado in situ, quatro voluntários usaram durante 3 dias um aparelho no palato, formado por alguns discos de titânio sem tratar e outros com o revestimento superhidrofóbico. Ao analisar a composição dos biofilmes formados nas duas superfícies, a partir da parceria com a professora Magda Feres da Universidade de Guarulhos, os pesquisadores se surpreenderam mais uma vez com o desempenho positivo do revestimento desenvolvido, que reduziu em sete vezes a presença de patógenos diretamente associados a infecções que levam a falhas em implantes dentários, alterando a composição de microrganismos presentes.

Acima à esquerda do leitor, reconstrução 3D baseada em microscopia confocal a laser mostra a densa formação de picos no novo revestimento. Alta rugosidade com relação ao titânio sem revestir (controle) também pode ser vista na imagem abaixo. No centro, superhidrofobicidade obtida: a gota de água não se espalha na superfície. À direita, imagens mostram o revestimento com proliferação de células humanas, mostrando biocompatibilidade (acima) e o reduzido acúmulo bacteriano (manchas verdes), abaixo.
Acima e à esquerda do leitor, reconstrução 3D baseada em microscopia confocal a laser mostra a densa formação de picos no novo revestimento. Alta rugosidade com relação ao titânio sem revestir (controle) também pode ser vista abaixo. No centro, superhidrofobicidade obtida: a gota de água não se espalha na superfície. À direita, imagens exibem o revestimento com proliferação de células humanas, mostrando biocompatibilidade (acima) e com reduzido acúmulo bacteriano (manchas verdes), abaixo.

Seleção para mestrado e doutorado em Ciência dos Materiais na Unesp de Ilha Solteira.

Estão abertas as inscrições para o processo seletivo de Mestrado e Doutorado no Programa de Pós-Graduação em Ciência dos Materiais (PPGCM) da Unesp de Ilha Solteira.
O PPGCM é um programa com nota 5 na avaliação da CAPES, contando, hoje com cerca de 80 pós-graduandos.
Alguns dados:
1.  Período de inscrição: 01/04/2019 a 10/05/2019;
2. Divulgação das inscrições deferidas e indeferidas: até 17/05/2019;
3. Análise curricular: 17/05/2019 a 31/05/2019;
4. Divulgação dos Candidatos selecionados para entrevista: 31/05/2019;
5. Entrevista: 06 e 07/06/2019, no Departamento de Física e Química;
6. Prova para concorrer a bolsa: 07/06/2019, as 14h, na Sala de Seminários do Departamento de Física e Química;

Obs.: Havendo bolsas disponíveis, a distribuição obedecerá aos critérios definidos pelo programa (Normas)

7. Divulgação do resultado final do processo seletivo e gabarito da prova: até 19/06/2019 (será disponibilizado somente no site);

Artigo em destaque: Labirinto de argila em matriz de hidrogel para liberação controlada de fármacos.

O artigo científico de autoria de membros da comunidade brasileira de pesquisa em Materiais em destaque neste mês é: Celso R. N. Jesus, Eduardo F. Molina, Sandra H. Pulcinelli, and Celso V. Santilli. Highly Controlled Diffusion Drug Release from Ureasil–Poly(ethylene oxide)–Na+–Montmorillonite Hybrid Hydrogel Nanocomposites. ACS Appl. Mater. Interfaces, 2018, 10 (22), pp 19059–19068. DOI: 10.1021/acsami.8b04559

Labirinto de argila em matriz de hidrogel para liberação controlada de fármacos

Ao combinar na escala nanométrica uma argila e um gel polimérico, uma equipe científica com membros da Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho” (UNESP) e da Universidade de Franca (UNIFRAN) desenvolveu um novo material que consegue carregar fármacos e liberá-los de forma gradual e controlada.

A equipe testou in vitro – ou seja, no laboratório, em recipientes que simulam as condições biológicas – o desempenho do material na liberação de diclofenaco sódico. Esse fármaco é um anti-inflamatório, administrável por via oral ou por injeção, bastante utilizado para aliviar o inchaço e a dor gerados, por exemplo, por artrite, reumatismo, lesões musculares, cirurgias ou gota.

O material desenvolvido é um nanocompósito, no qual é possível distinguir um hidrogel polimérico, uma argila e o fármaco. O hidrogel (gel que absorve quantidades de água superiores às normais sem se dissolver) é composto por um material híbrido orgânico-inorgânico chamado siloxano-poliéter ou ureasil. A argila é conhecida como montmorilonita, e se apresenta no nanocompósito em forma de lamelas nanométricas homogeneamente dispersas no hidrogel. Quanto ao diclofenaco sódico, que aparece encapsulado dentro do nanocompósito, é incorporado ao material durante a preparação do mesmo, como se fosse mais um “ingrediente”.

O nanocompósito foi obtido pela equipe paulista por meio do processo sol-gel. Esse método de preparo de materiais é baseado em uma série de reações químicas, nas quais ocorre uma transformação de um “sol” (líquido com partículas nanométricas em suspensão) em um gel (rede rígida tridimensional com interstícios nos quais o líquido permanece imobilizado).

Neste nanocompósito, o hidrogel, que é hidrofílico, tem como função principal absorver água do meio externo e armazená-la em seus interstícios. Nesse ambiente aquoso, moléculas do fármaco se dispersam devido ao processo físico de difusão até atravessarem os poros do hidrogel e saírem para o meio externo, o qual seria o corpo humano se o material estivesse sendo usado para liberar fármacos em pacientes reais.

imagem hidrogelA principal novidade do material é o uso da argila, que é impermeável, para controlar o modo como o fármaco é liberado. De fato, no material desenvolvido pela equipe paulista, as lamelas nanométricas de argila atuaram como barreira física à passagem das moléculas de água e do fármaco.

Conforme ilustra a imagem ao lado, o conjunto de lamelas formou um verdadeiro labirinto que retardou o movimento dessas moléculas, imprimindo um determinado ritmo à absorção de água e à liberação do diclofenaco sódico.

“A principal contribuição do trabalho foi desenvolver um sistema de barreira baseado em um material híbrido orgânico-inorgânico contendo polímero-argila para o controle fino de liberação do fármaco diclofenaco de sódio”, afirma Eduardo Ferreira Molina, autor correspondente de artigo sobre o assunto, recentemente publicado no periódico ACS Applied Materials & Interfaces. Molina atualmente é professor da Universidade de Franca (SP).

No trabalho reportado nessa revista, os autores prepararam uma série de amostras do nanocompósito usando diferentes proporções de argila montmorilonita, e também amostras do hidrogel sem argila. Os cientistas usaram várias técnicas de caracterização para analisar a estrutura dos nanocompósitos obtidos e das fases que os compõem (o hidrogel e a argila), bem como para estudar a absorção de água e a liberação do fármaco no material. Dessa maneira, a equipe conseguiu verificar que a presença da argila era essencial para controlar a forma como o fármaco era liberado. Ajustando a porcentagem de argila usada na preparação dos nanocompósitos, os pesquisadores conseguiram evitar que uma grande dose de diclofenaco sódico fosse liberada no início (um problema comum em sistemas de liberação de fármacos). Eles também conseguiram que a liberação posterior ocorresse de forma pausada e a uma taxa constante e previsível.

Os resultados deste trabalho podem constituir um primeiro passo rumo ao uso deste nanocompósito como sistema de liberação de fármacos para tratamentos prolongados de artrite, enxaqueca, dor pós-cirúrgica etc. Com um sistema como este, a medicação poderia ser liberada paulatinamente nas doses e taxas mais adequadas, mantendo a concentração ideal do fármaco na corrente sanguínea.

Celso R. N. Jesus (esquerda), primeiro autor do artigo e Eduardo F. Molina, autor correspondente.
Celso R. N. Jesus (esquerda), primeiro autor do artigo e Eduardo F. Molina, autor correspondente.

O trabalho, que recebeu financiamento das agências federais brasileiras CAPES e CNPq e da agência paulista FAPESP, foi realizado no Instituto de Química da UNESP, na cidade de Araraquara, com exceção das medidas de espalhamento de raios-X a baixo ângulo (SAXS), realizadas no Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS), na cidade de Campinas.

A pesquisa foi desenvolvida entre 2010 e 2014 no doutorado em Química de Celso Ricardo Nogueira Jesus, com orientação do professor Celso Valentim Santilli (UNESP) e da professora Sandra Helena Pulcinelli (UNESP). A ideia, até então inédita, de desenvolver esses nanocompósitos para funcionarem como barreiras para liberação controlada de fármacos surgiu no início do doutorado de Nogueira Jesus. O tema reuniu temas desenvolvidos em outros dois trabalhos de pós-graduação. Por um lado, a pesquisa de doutorado de Eduardo Molina, orientada pelo professor Santilli, sobre siloxano-poliéter para liberação controlada de fármacos. Em 2010, esse trabalho estava em fase de conclusão. Por outro lado, o trabalho de mestrado de Márcia Hikosaka, orientado pela professora Pulcinelli e concluído alguns anos atrás, sobre o preparo de nanocompósitos com polímeros e argila montmorilonita.

Cientista em destaque: entrevista com Carlos Frederico Oliveira Graeff.

Prof. Carlos Graeff
Prof. Carlos Graeff

Fascinado desde pequeno pela ciência, da qual tinha um representante dentro de casa (o pai, renomado neurocientista), o ribeirão-pretano Carlos Frederico Oliveira Graeff escolheu a área de Física para seus estudos universitários. Obteve os diplomas de bacharel (1989), mestre (1991) e doutor (1994) em Física pela Unicamp. No mestrado e no doutorado, orientado pelo professor Ivan Chambouleyron, deu os primeiros passos como pesquisador na área de Materiais, com estudos sobre materiais baseados em germânio e silício. Durante o doutorado, fez um estágio de pesquisa no Max Plank Institut für Festkörperforschung, na Alemanha.

De 1994 a 1996, voltou à Alemanha para fazer pós-doutorado em ressonância magnética eletrônica, semicondutores e dispositivos eletrônicos no Walter Schottky Institute da Technische Universität München (TUM), com bolsa da fundação alemã Alexander Von Humboldt.

Ao voltar ao Brasil, tornou-se professor do Departamento de Física e Matemática da Universidade de São Paulo (USP), onde permaneceu durante 10 anos. Em 2006 ingressou como professor titular à Faculdade de Ciências de Bauru da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP), onde ainda desenvolve seu trabalho de docência e pesquisa. Ao longo de sua carreira acadêmica, Graeff foi professor ou pesquisador visitante de instituições da França, China e Suíça.

De 2007 a 2009, Graeff foi coordenador do Programa de Pós-graduação em Ciência e Tecnologia de Materiais (POSMAT) da UNESP – campus de Bauru. Entre 2009 e 2014, foi coordenador da recém-criada Área de Materiais da CAPES, setor responsável pela avaliação dos programas brasileiros de pós-graduação em Materiais, entre outras funções. De 2011 a 2013, Graeff foi presidente do Clube Humboldt do Brasil e, em 2012 e 2013, diretor científico da SBPMat. O cientista também cumpriu ou cumpre funções de gestão ou conselho na FAPESP, CAPES e IUPAC (International Union of Pure and Applied Chemistry).

Em 2017, depois de ter participado do corpo editorial de vários periódicos internacionais, foi nomeado editor associado na área de fotovoltaicos da revista Solar Energy (fator de impacto 4,018), da editora Elsevier. Também em 2017, tornou-se pró-reitor de Pesquisa na UNESP, cargo que desempenha até o presente.

Possuidor de um índice h é de 28, Graeff é autor de cerca de 200 trabalhos indexados que contam com mais de 2.500 citações, conforme o Google Scholar. Em três décadas de trabalho científico, junto à sua equipe do Laboratório de Novos Materiais e Dispositivos e a seus numerosos colaboradores nacionais e internacionais, Graeff tem feito contribuições à área de Materiais numa diversidade de assuntos. Entre seus artigos mais citados, encontram-se estudos sobre diamante sintético, heteroestruturas de silício e germânio, polímeros conjugados, látex e melanina (material biológico com propriedades semicondutoras, promissor para o desenvolvimento de dispositivos bioeletrônicos).

O pesquisador também tem trabalhado na área de energia fotovoltaica (conversão direta da radiação solar em eletricidade), fazendo uma série de contribuições ao desenvolvimento de células solares baseadas em diferentes materiais (corantes, perovskitas e semicondutores orgânicos). Sobre esse assunto, a energia fotovoltaica, Carlos Graeff oferecerá uma palestra plenária no XVII Encontro da SBPMat, que será realizado em Natal (RN) de 16 a 20 de setembro.

Segue uma entrevista com este destacado pesquisador da nossa comunidade.

Boletim da SBPMat: – Como ou por que você se tornou um cientista? Sempre quis ser cientista? Conte também, brevemente, o que o levou a atuar no campo dos materiais.

Carlos Graeff: – O meu pai, Frederico Graeff, é um pesquisador bastante conhecido e talvez tenha sido uma das influências mais importantes nesta minha decisão. Minhas tias também eram docentes e pesquisadoras, portanto tive acesso desde muito pequeno em casa ao mundo da ciência, que sempre me fascinou. A decisão de fazer Física veio em grande parte dos vários livros que li e da série Cosmos apresentada por Carl Sagan que passava na televisão. A decisão em trabalhar na área de Materiais veio tardiamente durante o meu bacharelado em Física após os primeiros cursos de Física da Matéria Condensada e Semicondutores. Trabalhei desde o início da pós-graduação em Materiais, e logo fui sendo atraído pelas interfaces da Física com a Química e Biologia em temas muito variados de Ciência e Engenharia dos Materiais.

Boletim da SBPMat: – Quais são, na sua própria avaliação, as suas principais contribuições à área de Materiais? Por favor, considere todos os aspectos da atividade científica.

Carlos Graeff: – Escolher as principais contribuições é sempre uma tarefa difícil. No meu caso em especial é fácil perceber, lendo o meu CV, que tenho uma trajetória bastante eclética em termos de materiais estudados e aplicações. Usando a originalidade como escolha, vou me deter em três temas; o primeiro, a produção de CoS (sulfeto de cobalto) a base de tintas ecológicas para a produção de eletrodos para células solares. Conseguimos um método simples, industrial e ecológico para substituir a platina em células solares a base de corante. No segundo tema, nós propusemos vários métodos alternativos para a síntese de melanina, o material responsável pelo bronzeado, e com isso conseguimos produzir materiais biocompatíveis com características muito especiais no que diz respeito por exemplo à solubilidade. Estamos identificando um defeito muito importante para esse material usando como ferramenta principal simulações computacionais combinadas com técnicas espectroscópicas. Estamos seguros que este material será importante na área emergente da bioeletrônica. No terceiro tema, descrevemos com detalhes todo o processo de degradação de semicondutores orgânicos identificando rotas para a produção de dosímetros de alta sensibilidade para aplicações em hospitais e clínicas que utilizam por exemplo raios gama para tratamentos e diagnóstico de câncer. Tivemos ainda contribuições muito originais na física da ressonância magnética detectada eletricamente, aumentando a sensibilidade e a compreensão geral dos fenômenos físicos envolvidos. Além destas contribuições de cunho fundamental, fui responsável com orgulho e satisfação pela implantação da área de materiais na CAPES. Outra fonte de satisfação são os bons alunos que tive a sorte de orientar, muitos deles cientistas brilhantes. Ajudei e coordenei a montagem de vários laboratórios tanto aqui no Brasil como no exterior, mais recentemente ajudei na montagem de um laboratório de ressonância magnética na China.

Boletim da SBPMat: – Agora convidamos você a deixar uma mensagem para os leitores que estão iniciando suas carreiras científicas.

Carlos Graeff: – Comecei o meu mestrado em 1989, numa época talvez tão conturbada como a atual, não desanimem! Com foco e um pouco de sorte sempre é possível gerar novas ideias, construir uma carreira sólida e contribuir para o nosso belo país. Estamos passando por uma grande revolução, com a emergência de novas tecnologias que vão alterar a sociedade de forma profunda. Cada vez mais a inteligência terá papel determinante nos rumos de nossa sociedade, estejam preparados para trabalhar neste novo mundo de grandes oportunidades. Busquem sempre o diálogo com especialistas das mais diversas áreas do conhecimento e dos mais diversos países. Muito possivelmente, nos próximos anos vamos desvendar os mistérios do funcionamento do cérebro, dominar formas de geração de energia ilimitadas e ecológicas, gerar inteligência artificial. Abram-se para o novo, sejam ousados, o Brasil precisa do espirito cidadão e empreendedor de vocês.

Boletim da SBPMat: – Você proferirá uma palestra plenária no XVII Encontro da SBPMat. Deixe um convite para nossa comunidade.

Carlos Graeff: – A energia fotovoltaica chega a sua maturidade comercial, estamos vivendo uma revolução energética sem precedentes. Na palestra procurarei mostrar alguns dados atualizados sobre as perspectivas do uso das células fotovoltaicas no Brasil e no mundo; seus princípios de funcionamento; os desafios para os cientistas e engenheiros de materiais nesta corrida incansável por materiais, processos e dispositivos cada vez mais eficientes, duráveis e ecológicos. Apresentarei resultados recentes de nosso grupo neste tema.

Sócios da SBPMat nomeados editores de periódicos científicos internacionais.

Prof. Novais de Oliveira Jr (esquerda), editor associado da ACS Appl. Mater. Interfaces, com o editor-chefe, Prof. Schanze no XVI B-MRS Meeting.
Prof. Novais de Oliveira Jr (esquerda), editor associado da ACS Appl. Mater. Interfaces, com o editor-chefe, Prof. Schanze no XVI B-MRS Meeting.

O presidente da SBPMat, Osvaldo Novais de Oliveira Junior, é o mais novo editor associado da ACS Applied Materials and Interfaces, periódico da ACS Publications com fator de impacto de 7,504. O professor titular do IFSC – USP (Instituto de Física de São Carlos da Universidade de São Paulo) assumiu a função no início de setembro. Na SBPMat, Oliveira Junior já foi diretor administrativo e conselheiro, e preside a sociedade desde início de 2016.

A revista Solar Energy (fator de impacto 4,018) também incorporou recentemente um membro da SBPMat entre seus editores. Trata-se de Carlos Frederico de Oliveira Graeff, professor titular e pró-reitor de pesquisa da Unesp (Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho). Graeff foi nomeado editor associado na área de Fotovoltaicos nesse periódico da editora Elsevier. Sócio da SBPMat desde sua fundação, Graeff foi diretor científico da sociedade e atuou no comitê científico do Boletim da SBPMat.

Finalmente, Carlos José Leopoldo Constantino, também professor da Unesp e membro da comunidade da SBPMat, assumiu em julho deste ano como editor associado na área de Nanomateriais do periódico Journal of Nanoscience and Nanotechnology (fator de impacto 1,483), da American Scientific Publishers.

Prof. Graeff (esquerda) e Constantino, nomeados editores associados de revistas internacionais.
Prof. Graeff (esquerda) e Constantino, nomeados editores associados de revistas internacionais.

Processo seletivo do POSMAT – Unesp.

Estão abertas no período de 02 a 20/10/2017 as inscrições para o Exame de Seleção do Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de Materiais (POSMAT), Cursos de Mestrado e Doutorado – UNESP.

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Pós-doutorado em Física da Matéria Condensada na UNESP Presidente Prudente.

  • Título:Bolsa de Pós-doutorado (PD) em Física da Matéria Condensada
  • Área de conhecimento:Física
  • Nº do processo FAPESP:2013/14262-7
  • Título do projeto: Espalhamento micro-Raman e SERS: interação entre analitos de interesse e sistemas miméticos de membranas celulares.
  • Área de atuação:Física da Matéria Condensada
  • Pesquisador principal:Carlos José Leopoldo Constantino
  • Unidade/Instituição: Faculdade de Ciências e Tecnologia/FCT; Universidade Estadual Paulista/UNESP; Presidente Prudente-SP.
  • Data limite para inscrições:31/07/2017

O Laboratório de Filmes Nanoestruturados e Espectroscopia, Departamento de Física, Faculdade de Ciências e Tecnologia, UNESP (DF/FCT/UNESP), em Presidente Prudente, SP, oferece uma Bolsa de Pós-doutorado para desenvolver projeto na área de Espectroscopia Micro-Raman e Espalhamento Raman Amplificado em Superfície (SERS) e Sistemas Miméticos de Membrana Celular. É desejável que o candidato possua formação em Doutorado em Física, Química ou áreas afins. O perfil que se tem em vista nesta chamada é de um pesquisador que tenha facilidade para trabalhar em equipe e que possua fluência em inglês. O projeto de pesquisa em nível de pós-doutoramento na área de Micro-Raman, SERS e Sistemas Miméticos de Membrana Celular (sistemas biomiméticos) inclui as seguintes atividades:

  1. Síntese de nanopartículas metálicas aplicadas como “substrato SERS”.
  2. Incorporação de tais nanopartículas em filmes de Langmuir, Langmuir-Blodgett (LB) e vesículas de fosfolipídios, aplicados como sistemas biomiméticos.
  3. Investigar as interações entre os analitos de interesse e os sistemas biomiméticos utilizando as técnicas de micro-Raman e SERS.
  4. A partir dos resultados, propor mecanismos moleculares envolvidos na interação sistemas biomiméticos/analitos.
  5. Desenvolver uma metodologia que permita investigar os sistemas biomiméticos de forma complementar a partir das técnicas micro-Raman (SERS) e microscopia de fluorescência confocal.

A Bolsa de Pós-Doutorado será oferecida por 18 meses a partir de 01/setembro/2017, ou assim que os trâmites necessários forem cumpridos.

Os candidatos interessados devem enviar uma mensagem, até o dia 31/07/2017, para o endereço case@fct.unesp.br, anexando (i) curriculum vitae com a lista de publicações; (ii) duas cartas de referência.

Instrumentação disponível: http://www.fct.unesp.br/#!/departamentos/fisica-quimica-e-biologia/laboratorios/lab-filmes-finos-e-esp-raman/

Pós-doutorado empresarial em desenvolvimento de tintas condutivas.

Oportunidade de pós-doutorado empresarial PDI (CNPq – http://www.cnpq.br/web/guest/apresentacao13/) para participação em projeto de desenvolvimento de tintas condutivas. O projeto é desenvolvido pelo departamento de física da UNESP-Rio Claro em colaboração com a indústria de tintas condutivas TICON.

Os(as) interessados(as) devem enviar curriculum Lattes para o e-mail giovanigozzi@rc.unesp.br ou giovani.gozzi@gmail.com.