Artigo em destaque: Nanoargilas para superar a toxicidade.

O artigo científico de autoria de membros da comunidade brasileira de pesquisa em Materiais em destaque neste mês é: Reaching Biocompatibility with Nanoclays: Eliminating the Cytotoxicity of Ir(III) Complexes. Malte C. Grüner, Kassio P. S. Zanoni, Camila F. Borgognoni, Cristiane C. Melo, Valtencir Zucolotto, and Andrea S. S. de Camargo. ACS Applied Materials & Interfaces 2018 10 (32), 26830-26834. DOI: 10.1021/acsami.8b10842.

Nanoargilas para superar a toxicidade

Trabalhando em laboratórios do Instituto de Física de São Carlos – USP (IFSC-USP), uma equipe científica desenvolveu uma estratégia que elimina a citotoxicidade (capacidade de destruir células) de um grupo de compostos com propriedades fotofísicas muito interessantes para aplicações na área da saúde. O estudo tornou viável a utilização dessas substâncias, outrora tóxicas, no estudo de organismos vivos e no diagnóstico e tratamento de doenças. Além de eliminar a citotoxicidade, a estratégia modifica algumas propriedades dos compostos, agregando novas funções que podem ser aproveitadas para sensoriamento de oxigênio intracelular e para aprimorar a eficiência de dispositivos luminescentes, como OLEDs.

O trabalho foi reportado em artigo recentemente publicado no periódico ACS Applied Materials and Interfaces (fator de impacto 8,097).

Tudo começou numa conversa informal entre três bolsistas de pós-doutorado ligados a laboratórios do IFSC-USP: Malte C. Grüner e Kassio P. S. Zanoni, ambos ligados ao Laboratório de Espectroscopia de Materiais Funcionais (LEMAF), e Camila F. Borgognoni, do Grupo de Nanomedicina e Nanotoxicologia (Gnano). Zanoni tinha trabalhado com complexos de irídio(III) durante seu doutorado, e desejava aproveitar algumas propriedades desses compostos para utilizá-los como agentes de terapia fotodinâmica. Tal terapia se refere a um conjunto de tratamentos para tecidos doentes, como por exemplo os atingidos pelo câncer, nos quais uma fonte de radiação externa é utilizada para a ativação, no momento apropriado, de um composto inserido dentro do corpo, o qual se encarrega de destruir as células que precisam ser eliminadas.

O desejo do pós-doc Zanoni, entretanto, esbarrava na alta citotoxicidade dos complexos de irídio(III). O pós-doc Grüner, então, teve a ideia inovadora de tentar utilizar laponitas (materiais que ele tinha estudado em seu doutorado) para inibir a citotoxicidade dos compostos. A partir dessa ideia, Grüner e Zanoni realizaram o preparo e a caracterização dos materiais no LEMAF, coordenado pela professora Andrea S. S. de Camargo. No GNano, coordenado pelo professor Valtencir Zucolotto, a pós-doc Borgognoni e a mestranda Cristiane Melo se encarregaram de investigar as interações das nanopartículas com as células.

Os autores do artigo. A partir da esquerda: Kassio Zanoni, Camila Borgognoni, Malte Grüner, Cristiane Melo, Valtencir Zucolotto e Andrea de Camargo.
Os autores do artigo. A partir da esquerda: Kassio Zanoni, Camila Borgognoni, Malte Grüner, Cristiane Melo, Valtencir Zucolotto e Andrea de Camargo.

Estratégia e aplicações

Ilustração da adsorção de complexos de Ir(III) (esferas azuis) na superfície de nanodiscos de laponita (discos amarelos), em solução.
Ilustração da adsorção de complexos de Ir(III) (esferas azuis) na superfície de nanodiscos de laponita (discos amarelos), em solução.

Uma das principais propriedades dos complexos de irídio(III) é a sua intensa luminescência (emissão de luz não resultante do calor) numa ampla gama de cores. Essa característica pode ser útil para iluminar células no interior de organismos vivos em técnicas de bioimageamento, usadas tanto para pesquisa quanto para diagnóstico e tratamento de doenças.

Por sua vez, as laponitas, que são nanoargilas sintéticas totalmente compatíveis com tecidos vivos, têm sido frequentemente propostas na literatura científica como nanoplataformas para transporte de fármacos e de outros compostos dentro de organismos vivos. As laponitas possuem cerca de 25 nm de comprimento e apenas 1 nm de altura.

No trabalho da equipe do IFSC-USP, um novo material foi desenvolvido como resultado da adsorção de moléculas de complexos de irídio(III) na superfície de nanodiscos de laponita.

Os pesquisadores verificaram, no laboratório (in vitro) a capacidade de o novo material ser absorvido por células, sua luminescência dentro das células e sua baixa toxicidade com relação a elas. Para isso, eles utilizaram células de fígado e observaram sua interação com o novo nanomaterial, comparando-a com a interação com o complexo de irídio(III) puro. Os resultados foram sumamente favoráveis aos nanodiscos de laponita com irídio(III), que demonstraram ser inofensivos para as células, além de apresentar boa penetração e alta luminescência – características que os tornam muito adequados para aplicação em técnicas de bioimageamento.

Emissão de luz em várias cores dos nanomateriais desenvolvidos (complexos de Ir(III) adsorvidos em laponita) distribuídos em xerogéis (parte superior) e em células do tecido do fígado (parte inferior).
Emissão de luz em várias cores dos nanomateriais desenvolvidos (complexos de Ir(III) adsorvidos em laponita) distribuídos em xerogéis (parte superior) e em células do tecido do fígado (parte inferior).

“Neste trabalho, foi demonstrado pela primeira vez que a adsorção de complexos de Ir(III) (em geral, altamente tóxicos) na superfície de nanodiscos de laponita é capaz de extinguir por completo a citotoxicidade desses compostos”, resume o pós-doc Kassio Zanoni,  que em 2017 foi vencedor do Young Research Award da SBPMat. “Tal feito torna altamente viável o uso de compostos outrora tóxicos em meios celulares sem prejudicar a integridade do meio e, portanto, tem o potencial de expandir as pesquisas de novos materiais biocompatíveis para uso em mapeamento celular, medicina teranóstica e terapia fotodinâmica”, completa.

De acordo com os autores, o novo nanomaterial poderia agir como uma droga de terapia fotodinâmica, já que, ao ser irradiado com determinados tipos de radiação, produz uma molécula (o oxigênio singleto) que atua na destruição de células cancerígenas. Dessa maneira, o nanomaterial também se torna promissor no campo da medicina teranóstica, a qual propõe a combinação, numa mesma plataforma, do diagnóstico de doenças por bioimageamento com a sua cura por meio de terapias fotodinâmicas.

Além disso, o nanomaterial pode ser usado como sensor para determinar com exatidão a quantidade de oxigênio distribuído no interior de uma célula. “Conforme demonstrado no nosso trabalho, a intensidade da emissão desse nanomaterial é uma variável em função da concentração de oxigênio”, justifica Zanoni.

Por fim, o nanomaterial, na forma de um filme fino nanométrico, também poderia ser aplicado em diodos orgânicos emissores de luz (OLEDs) – dispositivos que já são usados, por exemplo, em telas de celulares. “Isso porque o complexo de Ir(III) adsorvido na laponita agrega propriedades fotofísicas, fotoquímicas e eletroquímicas que são estratégicas para o desenvolvimento de dispositivos mais eficientes”, explica Zanoni.

Esta pesquisa foi realizada com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).

Sócios da SBPMat nomeados editores de periódicos científicos internacionais.

Prof. Novais de Oliveira Jr (esquerda), editor associado da ACS Appl. Mater. Interfaces, com o editor-chefe, Prof. Schanze no XVI B-MRS Meeting.
Prof. Novais de Oliveira Jr (esquerda), editor associado da ACS Appl. Mater. Interfaces, com o editor-chefe, Prof. Schanze no XVI B-MRS Meeting.

O presidente da SBPMat, Osvaldo Novais de Oliveira Junior, é o mais novo editor associado da ACS Applied Materials and Interfaces, periódico da ACS Publications com fator de impacto de 7,504. O professor titular do IFSC – USP (Instituto de Física de São Carlos da Universidade de São Paulo) assumiu a função no início de setembro. Na SBPMat, Oliveira Junior já foi diretor administrativo e conselheiro, e preside a sociedade desde início de 2016.

A revista Solar Energy (fator de impacto 4,018) também incorporou recentemente um membro da SBPMat entre seus editores. Trata-se de Carlos Frederico de Oliveira Graeff, professor titular e pró-reitor de pesquisa da Unesp (Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho). Graeff foi nomeado editor associado na área de Fotovoltaicos nesse periódico da editora Elsevier. Sócio da SBPMat desde sua fundação, Graeff foi diretor científico da sociedade e atuou no comitê científico do Boletim da SBPMat.

Finalmente, Carlos José Leopoldo Constantino, também professor da Unesp e membro da comunidade da SBPMat, assumiu em julho deste ano como editor associado na área de Nanomateriais do periódico Journal of Nanoscience and Nanotechnology (fator de impacto 1,483), da American Scientific Publishers.

Prof. Graeff (esquerda) e Constantino, nomeados editores associados de revistas internacionais.
Prof. Graeff (esquerda) e Constantino, nomeados editores associados de revistas internacionais.

Artigo em destaque: Contribuição analítica à energia sustentável.

O artigo científico com participação de membros da comunidade brasileira de pesquisa em Materiais em destaque neste mês é: Influence of charge carriers mobility and lifetime on the performance of bulk heterojunction organic solar cells. D.J. Coutinho, G.C. Faria, D.T. Balogh, R.M. Faria. Solar Energy Materials and Solar Cells, Volume 143, Pages 503-509 (December 2015). DOI:10.1016/j.solmat.2015.07.047

Contribuição analítica à energia sustentável

Um trabalho totalmente desenvolvido no Instituto de Física de São Carlos, da Universidade de São Paulo (IFSC-USP) fez contribuições significativas à análise do desempenho de células solares orgânicas, dispositivos capazes de transformar em eletricidade a luz do sol, que é uma fonte de energia renovável, limpa, segura e praticamente inesgotável. Resultados do estudo foram recentemente publicados no periódico Solar Energy Materials & Solar Cells, cujo fator de impacto é de 5,337.

Composição da célula solar de heterojunção de volume utilizada nos experimentos reportados no artigo. Na camada ativa, a configuração dos materiais aceitador (azul) e doador (vermelho) de elétrons.

Com estrutura análoga à de um sanduíche, a célula solar orgânica é composta por camadas de espessura nanométrica feitas de diversos materiais que cumprem funções específicas no dispositivo.

A chamada “camada ativa”, aquela que protagoniza as principais etapas da transformação da luz (fluxo de fótons) em corrente elétrica (fluxo de partículas com carga elétrica), é feita de materiais orgânicos (suas moléculas possuem átomos de carbono) semicondutores. Na rede de átomos dos semicondutores tradicionais, os elétrons situados na chamada “banda de valência” pulam de seus estados quando absorvem fótons, deixando vagas chamadas “buracos” (holes) e ocupando novos lugares na chamada “banda de condução”. Nos semicondutores orgânicos, o mecanismo de geração dos pares elétron-buraco é semelhante, com a diferença de que, em vez da transição direta de uma banda para outra, ocorre a formação do éxciton molecular (um sistema contendo uma carga negativa e uma positiva), que se dissocia com facilidade produzindo as cargas livres (elétrons e buracos).

Para que aconteça a etapa seguinte na conversão de luz em eletricidade, a camada ativa das células solares orgânicas deve possuir muitas regiões de interface entre dois tipos de materiais: o doador e o aceitador de elétrons (geralmente um polímero eletrônico e um derivado do fulereno, respectivamente). Se o éxciton, em sua vida de alguns picossegundos, consegue chegar até alguma região de interface, as forças que mantém elétron e buraco unidos são quebradas para que aconteça a doação do elétron pelo polímero ao fulereno. Nesse momento, não havendo armadilhas no caminho que impeçam seu movimento, elétrons e buracos fluem em direções opostas, atraídos e coletados por elementos eletrodos, gerando corrente elétrica que poderá ser utilizada em um circuito externo.

Nessa sucessão de etapas, perdas de eficiência na conversão de energia solar em elétrica podem acontecer devido a diversos fatores. Um exemplo é a recombinação de elétrons e buracos depois da dissociação do éxciton, a qual impede que esses transportadores de cargas fluam livremente. Outro exemplo é o dos defeitos ou impurezas em materiais da camada ativa, que agem como armadilhas dos transportadores de cargas, diminuindo sua mobilidade.

No artigo publicado na Solar Energy Materials and Solar Cells, são reportados os resultados de uma série de experimentos realizados com o objetivo de estudar em detalhe a mobilidade e tempo de vida de portadores de cargas (elétrons e buracos) em função da temperatura, numa célula solar orgânica de heterojunção de volume, fabricada no IFSC. Nesse tipo de dispositivo, o material doador de elétrons e o aceitador convivem numa configuração particular (um filme nanométrico de estrutura bifásica) que aumenta a área de interface entre os dois materiais com relação a outras possíveis configurações.

Os autores também apresentam no artigo os resultados de medidas de corrente elétrica em função da tensão externa aplicada (J-V) sob iluminação – um dos experimentos mais relevantes na caracterização de células solares. De fato, esse experimento é necessário para calcular a eficiência de uma célula solar.

Célula solar orgânica durante caracterização elétrica sob iluminação artificial equivalente a um sol. No protótipo da figura acima, em uma placa de 5 X 5 cm, cinco dispositivos são ligados em série produzindo aproximadamente 2V no total. A eficiência individual de cada dispositivo deste estudo é em torno de 4%.

Para ajustar e analisar os resultados experimentais, os autores desenvolveram um modelo baseado num conjunto de equações. O modelo veio preencher uma lacuna na literatura científica, já que, até sua publicação, essas análises eram feitas a partir de aproximações, sendo imprecisas, ou por meio de métodos numéricos, que exigem árduo e demorado trabalho.

“Não existe ainda hoje uma descrição formal para a curva J-V”, comenta Roberto Mendonça Faria, professor titular do IFSC-USP e autor correspondente do paper. “Nosso artigo teve o mérito de elaborar uma expressão analítica para J-V que reproduz com sucesso as características de uma célula solar orgânica para o caso em que as mobilidades dos portadores positivos e negativos são iguais”, destaca ele, acrescentando que, com essa expressão, é possível fazer uma análise mais precisa do desempenho das células, mesmo para casos onde as mobilidades de elétrons e buracos não sejam exatamente iguais.

À esquerda, Roberto Mendonça Faria (último autor do artigo) e, à direita , Douglas José Coutinho (primeiro autor).

O artigo também apresenta as análises que a equipe do IFSC conseguiu fazer a partir dos resultados experimentais e do modelo, principalmente a respeito de alguns fatores que levam a perdas de eficiência na conversão de luz em eletricidade.

Dessa maneira, os autores do artigo fizeram uma contribuição ao desafio de produzir energia de modo sustentável. “A produção de energia é vital para que a sociedade humana continue seu progresso econômico e social, mas não pode continuar com seus efeitos secundários, e terríveis, de poluir o planeta e contribuir ao efeito do aquecimento global”, afirma Faria.

Os resultados reportados no artigo fazem parte das pesquisas de mestrado e doutorado de Douglas José Coutinho, realizadas com orientação do professor Faria e com financiamento das agências brasileiras de apoio à pesquisa FAPESP e CNPq (inclusive por meio do INCT de Eletrônica Orgânica, INEO).

Gente da nossa comunidade: entrevista com o pesquisador Osvaldo Novais de Oliveira Junior.

Hoje, 29 de janeiro de 2016, ocorre em Campinas a posse da nova diretoria executiva da SBPMat, presidida por Osvaldo Novais de Oliveira Junior, professor do Instituto de Física de São Carlos (IFSC) da Universidade de São Paulo (USP) e pesquisador da área de Materiais há 35 anos, período no qual gerou mais de 460 artigos publicados em periódicos indexados, 7 patentes e 16 capítulos de livros, entre outras publicações. No total, a produção científica do professor Osvaldo recebeu, até o momento, mais de 8.500 citações segundo a Web of Science (índice h = 46) e 12.100 (h = 53) conforme o Google Scholar.

Osvaldo Novais de Oliveira Jr. nasceu em 13 de agosto de 1960 em Barretos, uma cidade do norte do Estado de São Paulo que, na época, tinha em torno de 60 mil habitantes. Ganhou ainda adolescente o apelido de Chu, que o acompanha até hoje, inclusive fazendo parte de seu endereço eletrônico profissional.

Iniciou seus estudos universitários na Fundação Educacional de Barretos. Em 1980, enquanto cursava ali a Licenciatura em Física, fez transferência para o Bacharelado em Física na USP de São Carlos (IFSC/USP),  e começou a desenvolver trabalhos de pesquisa no “Grupo de Eletretos”, hoje chamado “Grupo de Polímeros Bernhard Gross”. No contexto desse grupo iniciou seu mestrado em 1983, com orientação do professor Guilherme Fontes Leal Ferreira, obtendo em 1984 o título de mestre em Física Aplicada. No ano seguinte começou a dar aulas no Bacharelado em Física da USP de São Carlos e continuou desenvolvendo atividades de pesquisa no Grupo de Polímeros

De São Carlos mudou-se, em 1986, para a cidade galesa de Bangor, no Reino Unido, para fazer doutorado na Universidade do País de Gales – hoje Universidade de Bangor. Em 1990 obteve o título de doutor em Engenharia Eletrônica ao defender sua tese sobre propriedades elétricas de filmes de Langmuir, orientada pelo professor David Martin Taylor.

De volta ao Brasil em 1991, agregou a suas atividades docentes na USP de São Carlos, aulas nos cursos de pós-graduação em Física Aplicada. Em 1993, foi nomeado professor associado na USP.

No mesmo ano, iniciou suas primeiras pesquisas acadêmicas em processamento de línguas naturais, área que lida, basicamente, com problemas relacionados à geração e compreensão automática de textos por meio de computadores. O professor Osvaldo Novais foi parte da equipe fundadora do Núcleo Interinstitucional de Linguística Computacional (NILC) e participou do desenvolvimento do primeiro software para revisão gramatical do português brasileiro, o qual foi chamado “ReGra”. O revisor fez parte de várias versões do processador de texto Microsfot Word a partir de 1999. Do trabalho no NILC e de cursos de escrita científica, resultou o livro produzido pelo professor Osvaldo e outros sete autores sobre escrita científica em inglês (Writing Scientific Papers in English Successfully: Your Complete Roadmap).

Osvaldo Novais foi pesquisador visitante na Universidade de Massachusetts, Lowell (UMass Lowell), nos Estados Unidos, entre 2000 e 2001, e professor visitante da Universidade de Aveiro (Portugal) em 2006. Também nesse ano, recebeu o Prêmio Scopus, outorgado pela Elsevier do Brasil e a Capes, como um dos 16 pesquisadores brasileiros com maior produção científica, com base no número de publicações, citações e orientações (hoje são 40 trabalhos de mestrado e doutorado concluídos).

Em 2008, tornou-se professor titular da USP, após ser aprovado em concurso.

Atualmente, além de suas atividades de professor e pesquisador no IFSC-USP, o professor Osvaldo Novais é membro da coordenação de Física na FAPESP, editor regional para América do Sul do periódico científico “Display and Imaging” e editor associado do “Journal of Nanoscience and Nanotechnology”.

Segue uma entrevista com o pesquisador.

Boletim da SBPMat: – Conte-nos o que o levou a se tornar um pesquisador e a trabalhar na área de Materiais.

Osvaldo Novais: – Minhas escolhas profissionais ocorreram quase sempre sem planejamento, e sem uma motivação específica. Iniciei o curso de Licenciatura em Ciências na Fundação Educacional de Barretos, pois não havia conseguido passar no vestibular de Engenharia Eletrônica, que eu imaginava ser a profissão de que eu gostaria. Após ter decidido mudar de área ao final do primeiro ano, e passar em vestibulares de Filosofia e Psicologia, por razões financeiras e familiares acabei continuando o curso de Ciências e optei por Licenciatura em Física no terceiro ano. Uma transformação importante ocorreu com a transferência para o Bacharelado em Física na USP de São Carlos, e já na Iniciação Científica tinha me decidido ser um professor e pesquisador. Minha escolha pela área de polímeros aconteceu por indicação de uma amiga, que tinha grande admiração pelos docentes do então Grupo de Eletretos. Pois iniciei um trabalho de iniciação nesse Grupo, hoje denominado Grupo de Polímeros Bernhard Gross, e aqui estou há 35 anos.

A despeito de não ter escolhido carreira e nem área de pesquisa por vocação ou convicção, tive muita sorte porque considero o estudo de Materiais ao mesmo tempo fascinante e essencial para a sociedade. Pesquisadores em Materiais podem se divertir com os desafios, e contribuírem para fazer deste um mundo melhor. A formação de pesquisador também permitiu que eu possa atuar em diferentes áreas, importante para quem é apaixonado por conhecimento, como sou.

Boletim da SBPMat: – Quais são, na sua própria avaliação, as suas principais contribuições à área de Materiais?

Osvaldo Novais: – Acho que minha maior contribuição seja a de ter participado da construção de uma rede de pesquisas em Materiais, principalmente em filmes orgânicos nanoestruturados. Essa rede tem hoje pesquisadores em várias regiões do Brasil, incluindo conexões internacionais também. No que concerne a contribuições científicas específicas, eu talvez pudesse destacar o estudo de propriedades elétricas de filmes de Langmuir e uso desses filmes como modelos de membrana celular. Outro destaque poderia ser dado a sensores (como as línguas eletrônicas) e biossensores produzidos com filmes nanoestruturados, com a ressalva de que os protagonistas dessas contribuições tenham sido alunos e pós-doutorandos de meu grupo de pesquisa.

Boletim da SBPMat: – Em paralelo a sua atuação na pesquisa em Materiais, você desenvolve estudos sobre processamento de línguas naturais dentro do NILC, núcleo do qual você é membro fundador. Fale-nos um pouquinho sobre essa atividade.

Osvaldo Novais: – Por necessidade, acabei me interessando por escrita científica em inglês, num trabalho inicialmente informal que deu origem a projetos de ferramentas de software de auxílio à escrita. Com o convite para compor a equipe que desenvolveu o primeiro revisor gramatical para o português nos anos 1990, formou-se o NILC, que é hoje referência no mundo todo para o processamento automático de português. Digo isso sem constrangimento, pois os méritos dessa conquista são todos de uma equipe de cientistas da computação e de linguistas, de várias universidades do Brasil, que há anos realizam pesquisa e desenvolvimento do mais alto nível. Minha participação só foi importante no início.

Por duas décadas minhas pesquisas em processamento de línguas naturais (PLN) junto ao NILC eram totalmente desconectadas da área de Física, mas nos últimos anos temos empregado metodologias de Física Estatística para o tratamento de textos. Com o novo paradigma de pesquisa baseado em uso intensivo de dados (chamado “Big Data”), há agora a possibilidade de juntar nanotecnologia – área eminentemente de materiais – com PLN e inteligência artificial, por exemplo nos sistemas de diagnóstico apoiados por computador. Este é um tópico fascinante que permite exercitar a convergência de tecnologias, que dará a tônica da pesquisa e desenvolvimento no século XXI.

Boletim da SBPMat: – Conte-nos, de modo muito resumido, quais são seus planos para a SBPMat enquanto presidente da sociedade no período 2016-2018.

Osvaldo Novais: – Acho que o plano mais relevante é dar continuidade ao excelente trabalho que as diretorias anteriores realizaram, que fez da SBPMat uma das sociedades científicas mais pujantes no Brasil. Isso inclui manter o excelente nível de nossos encontros anuais, e fortalecer a inserção internacional que a SBPMat tem logrado. Outras metas da nova diretoria são a de incrementar a interação de pesquisadores em materiais com as indústrias instaladas no Brasil, incentivar a participação de jovens pesquisadores na sociedade, e promover programas de divulgação científica e tecnológica, enfatizando o papel central da pesquisa em Materiais para o desenvolvimento tecnológico e social.

Boletim da SBPMat: – Sempre convidamos os entrevistados desta seção do boletim a deixarem uma mensagem para os leitores que estão iniciando suas carreiras científicas. Gostaria de falar algo em particular para esses futuros cientistas/ cientistas juniores?

Osvaldo Novais: – Minha mensagem é a de que se dediquem com afinco para obter uma formação científica sólida, com ênfase no domínio das linguagens do conhecimento, quais sejam as línguas naturais (português e inglês no nosso caso) e as linguagens dos formalismos matemáticos. É essa formação sólida que permitirá a nossos jovens cientistas aprenderem continuamente, o que é essencial numa sociedade de transformações tão rápidas. E que possam perseguir sonhos com a solução de problemas científicos e tecnológicos, que é uma das atividades mais divertidas e renovadoras.

Artigo em destaque: Revelando segredos da luminescência de um íon lantanídeo.

O artigo científico com participação de membros da comunidade brasileira de pesquisa em Materiais em destaque neste mês é: Mechanisms of optical losses inthe 5D4 and 5Dlevels in Tb3+ doped low silica calcium aluminosilicate glasses. J. F. M. dos Santos, I. A. A. Terra, N. G. C. Astrath, F. B. Guimarães, M. L. Baesso, L. A. O. Nunes and T. Catunda. J. Appl. Phys. 117, 053102 (2015). DOI: 10.1063/1.4906781.

Revelando segredos da luminescência de um íon lantanídeo.

Uma equipe de cientistas de instituições brasileiras avançou na compreensão de mecanismos que limitam a eficiência da emissão de luz em materiais dopados com íon de térbio trivalente (Tb3+). Esse íon, do grupo das terras raras e subgrupo dos materiais lantanídeos, apresenta emissões luminescentes desde o ultravioleta até o infravermelho, sendo particularmente interessante, por seu interesse tecnológico, a sua intensa emissão verde, de cerca de 545 nm de comprimento de onda.

Alguns anos atrás, por exemplo, pesquisadores japoneses demonstraram emissão laser de fibras ópticas dopadas com Tb3+. Entretanto, o dispositivo apresentou baixa eficiência devido à saturação do seu ganho óptico, mesmo a baixas potências de excitação.

Processo de luminescência de amostra de LSCAS dopada com Tb3 excitada por um laser azul emitindo luz verde. As fotos mostram a amostra sem (esq.) e com (dir.) excitação.

Retomando esse problema tecnológico, a equipe de cientistas do Brasil fez um estudo detalhado dos processos que causam a saturação da emissão verde. Para isso, utilizaram o Tb3+ como dopante de um material que, por suas propriedades, garante alta eficiência de emissão, principalmente no infravermelho: o vidro aluminosilicato de cálcio com baixa concentração de sílica, conhecido como LSCAS, de low-silica calcium aluminosilicate.

O estudo envolveu dois grupos de pesquisa que mantêm colaboração há cerca de duas décadas, o grupo de espectroscopia de sólidos do Instituto de Física de São Carlos, da Universidade de São Paulo (IFSC – USP), e o grupo de fototérmica da Universidade Estadual de Maringá (UEM). Os resultados foram reportados em um artigo recentemente publicado no Journal of Applied Physics.

Em primeiro lugar, amostras do vidro com diversas concentrações do dopante foram preparadas pelo grupo da UEM.

Foto das amostras de LSCAS. A amostra base apresenta concentração de 0,05% de Tb3+.

No IFSC – USP, as amostras foram excitadas por meio de um laser em dois comprimentos de onda distintos, 488 nm (visível) e 325 nm (ultravioleta), e seus espectros de absorção, emissão e excitação foram obtidos. Ao analisá-los, os cientistas do grupo de espectroscopia de sólidos observaram certas particularidades no comportamento de algumas das emissões luminescentes, como, por exemplo, uma forte saturação numa emissão verde semelhante à observada no laser dos cientistas japoneses, e, em outros comprimentos de onda, uma diminuição da luminescência ocorrendo a intensidades de excitação mais baixas do que o previsto. Dessa maneira, os pesquisadores brasileiros puderam concluir que o mecanismo associado na literatura às emissões de materiais dopados com Tb3+, conhecido como cross relaxation, não era suficiente para explicar a totalidade do comportamento das emissões, e nem sequer a saturação que ocorre nas emissões no verde, e propuseram a ação adicional de outros processos.

“Mecanismos de perdas adicionais, tais como emissões por defeitos na matriz, processos de conversão ascendente de energia, entre outros, exercem uma influência significativa no sistema que estudamos”, explica Tomaz Catunda, professor do IFSC e autor correspondente do artigo. “Estas vias de decaimento, até então ignoradas na literatura, apresentam grande relevância na fabricação de dispositivos ópticos em materiais dopados com Tb3+”, completa.

O estudo de vidros dopados com Tb3+ na equipe brasileira começou durante a pesquisa de doutorado de Idelma Terra, defendida em 2013 pela USP, que visava ao desenvolvimento de materiais para aumentar a eficiência de células solares. A tese foi agraciada com o “Prêmio Vale-Capes de Ciência e Sustentabilidade 2014”. O estudo desses materiais continuou no doutorado de Giselly dos Santos Bianchi, realizado na UEM e na dissertação de mestrado de Jéssica Fabiana Mariano dos Santos, defendido em 2014 pela EESC-USP.

O artigo do Journal of Applied Physics veio se agregar a um conjunto de dezenas de papers publicados em periódicos internacionais gerados a partir da colaboração entre os grupos do IFSC e da UEM, em alguns casos envolvendo também outros cientistas do Brasil e do exterior, sobre espectroscopia óptica de vidros de aluminato de cálcio dopados com íons de terras raras e suas aplicações em dispositivos emissores de luz.

Prêmio Capes de melhor tese em Materiais: síntese rápida de compostos de titanato de estrôncio para sensor de gás.

O aluno de pós-doutorado do Instituto de Química da Universidade Estadual Paulista (UNESP) Luís Fernando da Silva, recebeu o prêmio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) de melhor Tese de 2014 na área de materiais. A pesquisa, feita em seu doutorado pela Universidade de São Paulo (USP), utilizou um novo método de síntese para compostos químicos que apresentam propriedades eficazes em sensores de gás.

O trabalho, intitulado Síntese e caracterização do composto SrTiO3 e SrTi1-xFexO3 através do método hidrotermal assistido por micro-ondas, teve orientação do professor Valmor Mastelaro, docente do Instituto de Física da USP em São Carlos. Silva utilizou ainda a estrutura dos laboratórios do Centro de Desenvolvimento de Materiais Funcionais (CDMF) para realizar seu estudo.

O pesquisador trabalhou com os compostos titanato de estrôncio puro e com ferro (SrTiO3 e SrTi1-xFexO3). Silva explica que, para produzir esses materiais em laboratório, era necessário um extenso intervalo de tempo, o que atrasava e complicava o processo de síntese desse composto. “Propus em meu trabalho o uso do tratamento hidrotermal assistido por microondas para a obtenção deste composto. A vantagem deste método é a baixa temperatura e o curto intervalo de tempo”.

Comumente, a síntese do titanato dura 12 horas em uma temperatura de 1200 °C. Com o novo modelo proposto por Silva em sua tese de doutorado, a duração total do processo é de 10 minutos a uma temperatura de 140 °C. O pesquisador explica que, além de tornar a síntese do composto mais rápida, o método hidrotermal assistido por microondas também permite um melhor controle das propriedades do titanato. “Este composto apresentou interessantes propriedades fotoluminescentes, fotocatalíticas, e como sensor de gás ozônio e dióxido de nitrogênio”.

Os sensores de gás geralmente são utilizados na indústria como uma peça chave para a segurança nas linhas de produção. Esses equipamentos ajudam a detectar gases inodoros e perigosos para os seres humanos. Dessa forma, os detectores têm um papel vital na segurança de instalações e prevenção de acidentes.

Para acessar o trabalho original de Luís Fernando da Silva, clique aqui.

Sobre o CDMF

O CDMF é um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) apoiados pela FAPESP. O Centro também recebe investimento do CNPq, a partir do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia dos Materiais em Nanotecnologia (INCTMN), integrando uma rede de pesquisa entre UNESP, Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Universidade de São Paulo (USP) e Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN).

Prêmio CAPES de Tese

O Prêmio CAPES de Tese foi instituído no ano de 2005, com objetivo de outorgar distinção às melhores teses de doutorado defendidas e aprovadas nos cursos reconhecidos pelo Ministério da Educação. São considerados na seleção os quesitos originalidade, inovação e qualidade, sendo que a pré-seleção é feita nos programas de pós-graduação das instituições de ensino superior.

A cerimônia de entrega dos prêmios ocorrerá na sede da CAPES, em Brasília, no dia 10 de dezembro.

[Divulgação do Centro de Desenvolvimento de Materiais Funcionais (CDMF)]

Concurso para professor no IFSC-USP na área de Materiais.

Encontra-se aberta uma (01) vaga para Professor Doutor no Instituto de Física de São Carlos – USP, para atuar junto ao Grupo Crescimento de Cristais e Materiais Cerâmicos nas seguintes áreas de pesquisa:

a) Materiais Hídridos Inorgânicos Multifuncionais,
b) Crescimento de Cristais por Fusão,
c) Espectroscopia de Raios-X (XAS, XPS) Aplicadas ao Estudo de Materiais Inorgânicos.

Mais informações sobre o concurso bem como o acesso ao edital completo podem ser obtidas no endereço: http://www.ifsc.usp.br/images/stories/concursos/atac-ifsc-40-2013/Edital_40_Abertura_conc_Prof.Dr._FCM.pdf