Sócio da SBPMat é nomeado editor da Applied Surface Science.

Figueroa_socio_siteO professor Carlos Alejandro Figueroa (Universidade de Caxias do Sul, UCS), sócio da SBPMat, foi nomeado editor da Applied Surface Science (editora Elsevier), renomada revista da área de Física e Química aplicadas a superfícies e interfaces, com fator de impacto = 6,182.

Figueroa é o segundo pesquisador de uma instituição latino-americana dentro da equipe de 30 editores da revista.

University Chapters: ciclo de webinários.

barra_UCs-fundo branco-1200 pxO Programa University Chapters da SBPMat promoverá webinários durante os meses de outubro e novembro. Cada chapter será responsável pela organização de um webinário. As palestras se propõem atender não só o público universitário, mas também todas as pessoas que tenham interesse sobre a temática.

Dentro dessa proposta, o UC-UFPE dará início ao ciclo com um webinário sobre empreendedorismo com foco na criação de startups com Edson Mackeenzy, conhecido como um dos principais incentivadores do ecossistema de startups do Brasil.

Veja a programação com as palestras confirmadas até o momento:

 

UC-UFPE

Título: COMO AS STARTUPS ESTÃO TRANSFORMANDO AS ORGANIZAÇÕES.

Palestrante: Edson Mackeenzy.

Data e horário: Segunda-feira, 05/10/2020 às 18h.

Através do Zoom (link aqui) e Youtube (link aqui).

 

UC – Caxias do Sul

Título: BIOMATERIAIS E SUA COMPATIBILIDADE COM A ENGENHARIA DE MATERIAIS.

Palestrante: Prof. Dra. Jadna Catafesta (coordenadora dos cursos de Engenharia de Materiais e Polímeros) – Universidade Caxias do Sul, RS.

Data e horário: 15/10/2020 às 20h.

Através do Zoom (link aqui).

 

UC – Catalão

Título: MINERAÇÃO ESPACIAL (Nome da palestra ainda será definido)

Palestrante: Dr. André Carlos Silva

Data e horário: 23/10/2020 às 15h.

Através do Zoom (link aqui).

 

 

UC – Teresina

Título: INTELIGENCIA ARTIFICIAL E MATERIAIS

Palestrante: Prof. Osvaldo Novais de Oliveira Jr.- Instituto de Física de São  Carlos – USP

Data e horário:

Através do Zoom (link aqui).

 

SBPMat envia carta contra o PL 529/2020 para os parlamentares da ALESP.

No dia 21 de agosto, uma carta assinada pela presidente da SBPMat contra o Projeto de Lei 529/2020 (que retira recursos das universidades paulistas e da FAPESP) foi enviada para todos os deputados da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (ALESP).

Segue o conteúdo da carta:


Rio de Janeiro, 20 de agosto de 2020.

Assunto: Projeto de Lei 529/2020 – ALESP

Prezado(a)s Sr(a)s Deputado(a)s,

A Sociedade Brasileira de Pesquisa em Materiais (SBPMat) vem reiterar os alertas emitidos pela Academia Brasileira de Ciências (http://www.abc.org.br/2020/08/17/abc-envia-carta-aogovernador-de-sp-sobre-rtigo-14-do-pl-529/) e pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (http://jcnoticias.jornaldaciencia.org.br/1-sbpc-divulga-nota-contra-projeto-que-retira-recursos-deinstituicoes-de-pesquisa-de-sao-paulo/) quanto ao Projeto de Lei 529/2020, que retira recursos das universidades estaduais paulistas e de sua principal agência de fomento, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).

O recolhimento de ‘superavit financeiro’ proposto no artigo 14 do PL 529/2020 desconsidera a situação excepcional destas instituições, que mantêm projetos de longo prazo que transcendem o ano fiscal, apesar de sua receita depender de arrecadação tributária do Estado, que varia conforme a atividade econômica. Desta forma, a manutenção de reservas financeiras é imperativa para que estas instituições possam cumprir sua missão perante a sociedade e implantar programas científicos e estratégicos de excelência, que inclusive têm permitido ao país responder rapidamente a situações emergenciais, como a atual crise sanitária.

É importante ainda ressaltar que o caminho da ciência e inovação envolve também a formação de recursos humanos especializados, de longo prazo, que constituem investimento para o futuro da nação. Cortes de recursos, particularmente feitos de forma abrupta e sem participação da comunidade, afetam muitas vezes de forma irremediável atividades de pesquisa científica e tecnológica, desestimulando estudantes e promovendo a fuga de profissionais já formados. Com isso, interrompe-se o processo de geração e transmissão de novos conhecimentos construído ao longo das últimas décadas, e que permitiu grandes avanços econômicos, sociais e culturais a nosso país.

As universidades estaduais paulistas, amparadas pela FAPESP, sempre foram protagonistas nestes avanços. Esperamos contar com sua colaboração para impedir a aprovação do PL 529/2020 em seu formato atual, e assim evitar retrocessos significativos no desenvolvimento científico e tecnológico do Estado de São Paulo, e do Brasil.

Atenciosamente,

Mônica A. Cotta

Presidente da Sociedade Brasileira de Pesquisa em Materiais – SBPMat


Veja o arquivo aqui.

Sócia da SBPMat é distinguida com a categoria de Senior Member da OSA.

Profa. Luciana Kassab
Profa. Luciana Kassab

A professora Luciana Reyes Pires Kassab (Faculdade de Tecnologia de São Paulo/CEETEPS), sócia da SBPMat, foi distinguida com a categoria de Senior Member da OSA (The Optical Society), sociedade científica de abrangência mundial na área de Óptica e Fotônica, fundada nos Estados Unidos em 1916.

Essa distinção da OSA é outorgada a sócios com dez ou mais anos de experiência profissional em Óptica/Fotônica e/ou áreas afins, e com um histórico de realizações que os diferencie de seus pares.

Mais informações sobre a distinção: https://www.osa.org/en-us/membership/distinguished_honorary/senior/criteria/

Veja a lista dos “2020 OSA Senior Members”: https://www.osa.org/en-us/membership/distinguished_honorary/senior/2020_osa_senior_members/

Episódios de websérie sobre ciência brasileira têm estreia exclusiva para os canais da SBPMat.

vs__cards-rs-----SBPMat---16-07-20--teaser--01 (1)HPC Spotlight é o nome da websérie sobre ciência brasileira que mostra alguns desafios e realizações de cientistas do Brasil, por meio de suas histórias científicas, profissionais e pessoais, contadas em episódios de cerca de 10 minutos. Idealizada pela Versatus HPC, empresa brasileira de computação de alto desempenho, e realizada junto à Ibirá Filmes, a websérie apresenta atualmente sua segunda temporada, focada em cientistas de Minas Gerais.

A parceria da SBPMat com a Versatus traz ao público dos canais da SBPMat a possibilidade de assistir aos episódios relacionados com a área de materiais em primeira mão, antes da estreia oficial. Os lançamentos ocorrem nas quartas-feiras, no fim da tarde, nos canais da SBPMat nas mídias sociais.

Como surgiu a websérie

A ideia de fazer esta inovadora websérie surgiu na equipe da Versatus depois de quase uma década de convivência com cientistas de instituições brasileiras. “Conhecemos alguns dos muitos desafios que precisam enfrentar diariamente. Barreiras quanto a submissões, financiamentos, verbas, prazos e até mesmo quanto à valorização das suas pesquisas”, diz Cecília Scigliano, da Versatus. “Ao caminhar lado a lado com cientistas e pesquisadores para garantir que tenham a solução tecnológica mais adequada para sua pesquisa, conhecemos seus objetivos, avanços, descobertas e conclusões… e ficamos cada vez mais fascinados por esse universo!”, completa.

Acompanhe o lançamento dos próximos episódios, nas quartas-feiras, no final da tarde, em:

Veja episódios anteriores da HPC Spotlight: https://www.hpcspotlight.com.br

Primeiro mês do Programa Lives & Webinars da SBPMat.

sbpmat-Lives-logo_1500pxAo longo do mês de junho, cinco webinários técnicos foram realizados na plataforma Zoom, com transmissão ao vivo pelo Facebook da SBPMat, dentro do programa Lives & Webinars, organizado pela SBPMat com parceria de empresas de instrumentação.

Até o final de agosto, mais 12 webinários serão oferecidos. A programação inclui uma diversidade de assuntos, desde fundamentos e aplicações de técnicas amplamente usadas pela comunidade de pesquisa em Materiais, até a apresentação de instrumentos de última geração e de ferramentas digitais para ensino na área de Materiais.

Os seminários online já realizados contaram com plateias de até 500 participantes. “Ficamos felizes ao constatar que muitas pessoas, principalmente jovens, estão usando este tempo da pandemia para aprender e se aperfeiçoar”, diz a professora Mônica Cotta, presidente da SBPMat, que tem participado de todos os seminários.

Programação, informações e inscrições (gratuitas): https://www.sbpmat.org.br/pt/lives-webinars/

Assista às gravações dos webinários realizados em junho:

  • “Micro-XRF aplicado a Ciências dos Materiais” (Essencis e Bruker). Veja aqui.
  • “Microscopias FTIR, Raman e Eletrônica de Transmissão para Análise de Materiais” (Thermo Fisher). Veja aqui.
  • “Técnicas de magnetometria para a pesquisa em nanopartículas magnéticas” (Quantum Design). Veja aqui.
  • “3D optical profilometry for material science applications” (Sensofar e Analítica). Veja aqui.
  • “Crossbeam laser – Enabling New Microscopy Workflows Through Gentle Large-Volume Material Removal” (Zeiss). Veja aqui.

 

Cientista em destaque: Edson Roberto Leite.

Prof Edson Roberto Leite
Prof Edson Roberto Leite

Lembranças muito agradáveis marcam a história de Edson Roberto Leite com a ciência: o livro sobre foguetes na infância no interior de São Paulo, a oportunidade de utilizar um microscópio excepcional durante o período sabático nos Estados Unidos, a descoberta de um mecanismo de crescimento de nanocristais no Laboratório Nacional de Luz Síncrotron…

Também fazem parte dessas belas memórias, vários momentos que ele viveu junto a seu tutor e pai científico, o professor José Arana Varela, proeminente cientista brasileiro da área de materiais falecido em 2016. Arana Varela foi homenageado pela SBPMat com a criação, em 2019, de um prêmio que leva seu nome, e que distingue anualmente um pesquisador de destaque do Brasil, o qual profere uma palestra plenária no evento anual da Sociedade. Na sua primeira edição, a distinção foi concedida, justamente, a Edson Roberto Leite, professor da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e diretor científico do Laboratório Nacional de Nanotecnologia (LNNano-CNPEM). Leite também é editor para América Latina do Journal of Nanoparticle Research (Springer).

Edson Roberto Leite formou-se em Engenharia de Materiais pela UFSCar em 1988. Na dúvida entre seguir uma carreira na indústria ou na academia, tentou, inicialmente, conciliar ambas.  Depois de formado, trabalhou na área de pesquisa e desenvolvimento da 3M, enquanto fazia o mestrado e iniciava o doutorado, ambos em Ciência e Engenharia de Materiais na UFSCar. Em 1992, saiu da empresa para poder se dedicar melhor ao doutorado, numa decisão que, segundo ele conta, não agradou o sogro, preocupado com o sustento da família que já contava com dois filhos. Entretanto, ao longo dos anos, os resultados dessa decisão foram muito positivos. Em 1994, pouco depois de defender o doutorado, Leite tornou-se professor do Departamento de Química da UFSCar e iniciou uma carreira de pesquisador em materiais que resultaria não apenas frutífera, como também prazerosa.

Coautor de mais de 400 artigos científicos publicados com mais de 19 mil citações, hoje Leite possui um índice h de 72 (Google Scholar). O cientista também é editor de três livros relacionados a materiais para energia e coautor de um livro sobre o processo de nucleação e crescimento em nanocristais. Leite recebeu vários prêmios, incluindo o Scopus Prize da Elsevier/ CAPES (2006), pela excelência do conjunto da sua produção científica, e a John Simon Guggenheim Memorial Foundation Fellowship (2009), outorgada a cientistas com excepcional capacidade em pesquisa. Em 2012, Edson Leite foi eleito membro da World Academy of Ceramics e da Academia de Ciências do Estado de São Paulo. Em 2014, foi um dos coordenadores do Spring Meeting da Materials Research Society, realizado em San Frascisco (EUA). Em 2019 foi eleito membro titular da Academia Brasileira de Ciências (ABC).

Leia nossa entrevista e saiba mais sobre este cientista, suas principais contribuições e suas lembranças sobre o professor Arana Varela.

Boletim da SBPMat: Na escola, você tinha mais afinidade com disciplinas de ciências, certo? Você se lembra como nasceu esse gosto pela ciência? 

Edson Roberto Leite: A história de uma pessoa tem sempre a versão pessoal e a versão das pessoas que conviveram com ela. Vou passar a minha visão de como ocorreu.

Na escola sempre tive muita afinidade por Ciências e História. Algo marcante para mim foi quando estava no terceiro ano do ensino primário (atualmente ensino fundamental) e meu pai me levou na Biblioteca Municipal de Araras para tirar o cartão de associado e assim poder ter acessos aos livros. O primeiro livro que retirei foi sobre foguetes. Sempre adorei a conquista do espaço e a ciência por trás dos momentos históricos fundamentais. É importante salientar que o homem tinha chegado à lua apenas alguns anos antes, a energia nuclear era vista como a solução energética mundial e os semicondutores estavam apenas iniciando.

Além desta lembrança gostosa, tinha outros incentivos, inclusive um desenho animado muito legal que era Jonny Quest. Este desenho animado, além de aventuras, tinha muito de ficção científica, e o pai do Jonny (Dr. Benton Quest) era um cientista renomado e com um excelente laboratório de pesquisa na própria casa.

A minha infância então foi sempre marcada por uma forte influência das disciplinas de ciência. Acho que isso me levou facilmente me definir por Engenharia. No início minha idéia era de me tornar um engenheiro mecânico, porém durante meu cursinho preparatório para o vestibular conheci a Engenharia de Materiais, na UFSCar. Prestei no meio do ano de 1983 e passei. A partir daí já sabia o que eu queria e o que eu gostava.

Porém, uma dúvida ainda existia, ir para a área acadêmica ou ir para a indústria (meu pai era funcionário da Nestlé em Araras e o setor industrial sempre me chamou a atenção). Durante a graduação, fui morar na república do Celso V. Santilli (hoje um importante pesquisador na área de Materiais, Professor do IQ-UNESP-Araraquara) e ele me levou a fazer a iniciação científica com os professores Elson Longo e José Arana Varela. Foi aí que aprendi o que era ciência e meu gosto pela área acadêmica cresceu. Já em 1984 tive a primeira bolsa de IC da FAPESP com orientação do Prof. Varela (que era professor convidado do departamento de Engenharia de Materiais (DEMa) da UFSCar). Em 1988 me formei, entrei para o mestrado do DEMa-UFSCar e fui trabalhar como engenheiro de desenvolvimento na 3M do Brasil, em Sumaré, SP. Meu diretor na 3M era o engenheiro Aloysio Pizarro e ele me liberou para o mestrado (que defendi em 1990 com orientação do Prof. Elson) e para o doutorado (iniciado em 1990). No ano de 1992, vi que seria impossível conciliar a área de pesquisa e minhas atividades na 3M, então saí da 3M para me dedicar inteiramente a pesquisa acadêmica, voltando para São Carlos. Terminei o doutorado em 1993 com orientação do Prof. José A. Varela. Em janeiro de 1994, ingressei como professor adjunto no departamento de Química da UFSCar e ingressei ao LIEC (Laboratório Interdisciplinar de Eletroquímica e Cerâmica), fundado pelo Elson, Varela e Bulhões (Prof. Luís Otávio S. Bulhões). Voltei para a casa que me introduziu para a ciência.

Essas foram as minhas influências…

Boletim da SBPMat: Quais são, na sua própria avaliação, as suas principais contribuições à área de Materiais? 

Edson Roberto Leite: Desde a IC venho trabalhando principalmente com materiais inorgânicos, mais especificamente materiais cerâmicos. Assim, vou relatar as contribuições que acho mais importantes, segundo meu ponto de vista (na verdade pode ser que sejam as contribuições que eu mais gostei de trabalhar).

Desde 1994 venho trabalhando basicamente com química e físico-química de materiais e atuei em várias áreas, entre elas: síntese química de óxidos cerâmicos, síntese de nanopartículas com tamanho e morfologia controlada, crescimento de nanocristais, propriedades elétricas de óxidos cerâmicos, materiais para aplicação em dispositivos de energia alternativa e microscopia eletrônica de transmissão (TEM). Durante esse período, sempre desenvolvendo os trabalhos em colaboração com os professores Elson Longo e José A. Varela, no LIEC do DQ-UFSCar. Dentre estas diferentes áreas vou destacar minhas contribuições em crescimento de nanocristais e os trabalhos em energia alternativa.

No ano de 1998, ou seja, 4 anos após minha contratação, fui fazer um período sabático nos EUA, no grupo do Prof. Martin P. Harmer, em Lehigh University (Betlehem, PA). Nesse meu sabático, trabalhei na conversão de cerâmicas policristalinas em cerâmicas monocristalinas, usando o crescimento controlado de grãos. Foi um ano maravilhoso e minhas recordações daquele período são vivas na minha memória. Ainda lembro do cheiro do laboratório e das amizades vivenciadas. Do ponto de vista profissional, o trabalho me chamou a atenção para o processo de crescimento de cristais orientados no estado sólido. Minha contribuição ao projeto foi caracterizar o processo de crescimento usando técnicas avançadas de microscopia eletrônica de transmissão.  Nessa época tive a oportunidade de operar o microscópio eletrônico de transmissão analítico VG-603. Foram produzidos poucos microscópios iguais a esse, e me lembro até hoje as palavras do coordenador do laboratório de microscopia de Lehigh, Dr. Dave Ackland dizendo que: “poucos pesquisadores no mundo tiveram a honra de operar este equipamento”. Voltando ao Brasil em 1999, me dediquei muito à microscopia e, com a ajuda do recém-criado Laboratório de Microscopia Eletrônica do LNLS (idealizado em 1997 pelo Dr. Daniel Ugarte), comecei a estudar o processo de crescimento de nanocristais em solução coloidal. Rapidamente identifiquei, para nanocristais de SnO2, um mecanismo de crescimento recém descrito na literatura, conhecido como “Oriented Attachment” (OA). O primeiro artigo que publicamos sobre esse mecanismo de crescimento de nanocristais foi em 2003. Nesse período consegui criar um grupo de estudantes de mestrado e doutorado de alto nível (hoje esses estudantes são pesquisadores e professores), o que possibilitou explorar muito esse mecanismo de crescimento. Na realidade, nós publicamos, quase que simultaneamente com grupos americanos, o primeiro modelo cinético para descrever esse processo de crescimento, e logo depois publicamos dois artigos importantes, sendo um relacionado com o crescimento de nanocristais anisotrópicos e outro correlacionando o processo OA com um processo de polimerização. Ambos artigos considerados pioneiros na área. O reconhecimento internacional na área veio com o convite para publicar dois artigos de revisão (um na Nanoscale e outro na CrysEngComm), sendo um deles inclusive em colaboração com os maiores especialistas internacionais na área de cinética de crescimento de nanocristais por OA.

Em energia alternativa, comecei a trabalhar já em 2004, quando ajudei a organizar um simpósio sobre o tema no MRS Spring Meeting de San Francisco. Após isso, investimos nessa área e, com um novo grupo de estudantes brilhantes, conseguimos resultados fantásticos, entre 2007 e 2016, relativos ao desenvolvimento de fotoanodos de hematita para promover a foto-eletrólise da água, visando a produção de hidrogênio. Desenvolvemos um processo de fabricação de eletrodos baseado na deposição coloidal de nanocristais. Isso possibilitou as publicações de mais alto impacto da minha carreira, em jornais como o JACS e Energy Environ. Sci. Nesse mesmo período desenvolvemos um método de síntese de MoS2 (material 2D), combinando método sol-gel não hidrolítico e reação em microondas. Isso resultou novamente em materiais excelentes para eletrocatálise e para supercapacitores. Essa pesquisa também possibilitou publicações em jornais de alto impacto, tais como Chem. Comm e Advanced Energy Materials. Sem dúvida, este time de alunos nos colocou no estado da arte de desenvolvimento de materiais para energia alternativa.

Gostaria de destacar somente mais uma contribuição importante, que foi no estudo do processo de combustão em fornos de fusão de vidro, realizado com financiamento da White Martins/Praxair. Neste trabalho, realizado com o Prof. Carlos Paskocimas (atualmente na UFRN) e os Prof. Elson e Varela, caracterizamos a taxa de corrosão dos fornos e propusemos soluções tecnológicas para inibir esta corrosão. Este trabalho foi um sucesso na época e fomos convidados a apresentar os resultados na Corning Glass e na Praxair nos Estados Unidos.

Boletim da SBPMat: Você foi distinguido na primeira edição do prêmio José Arana Varela da SBPMat, que homenageia esse proeminente cientista brasileiro (falecido em 2016), ex-presidente da SBPMat.  O professor Varela foi seu orientador de doutorado e seu coautor em muitos artigos publicados. Você poderia compartilhar conosco alguma lembrança sobre o professor Varela e comentar a parceria científica que se desenvolveu entre vocês ao longo do tempo?  Fique à vontade para deixar também algum comentário mais pessoal.

Edson Roberto Leite: Como comentei acima, fui apresentado aos professores Varela e Elson durante a minha graduação e o Prof. Varela foi meu orientador de IC e de doutorado. Na verdade, fui o primeiro aluno de doutorado formado pelo Varela, isso em 1993. Ser o primeiro a ganhar este prêmio é uma honra, que me deixou muito feliz. Além de ter sido meu orientador, Prof. Varela foi um tutor e quase um pai, me ensinando e me introduzindo na comunidade científica nacional e internacional. Foi com ele que fiz minha primeira viagem ao exterior, em 1993, onde ele me apresentou os grandes nomes da Cerâmica internacional no congresso americano da American Ceramic Society. Foi nesta oportunidade que conheci o Prof. Gary Messing e Prof. Harmer. Me lembro dele me apresentar o famoso Prof. W.D. Kingery, o pai da Cerâmica moderna. Foi o Varela que me incentivou a ser membro da World Academy of Ceramics. Foram várias viagens, abrindo novas frentes de trabalho e novas áreas de pesquisa. Como tutor e orientador ele sabia me chamar a atenção e indicar meus erros. Me lembro, já mais recentemente, em um MRS Fall meeting em Boston (USA), uma longa discussão que tivemos onde ele sem titubear me “puxou a orelha” e me orientou nos problemas futuros que teria como líder de grupo na área de Química de Materiais. Sei que fui um aluno rebelde na visão dele, mas tenho certeza que ele se orgulhou da formação que me deu. A morte prematura dele me pegou de surpresa e sinto muito sua falta. Sinto falta das nossas discussões, das nossas conversas e principalmente de seus conselhos e orientações.

Boletim da SBPMat: Por favor, deixe uma mensagem para nossos leitores mais jovens que estão iniciando uma carreira de cientistas ou estão avaliando essa possibilidade.

Edson Roberto Leite: Não sou bom com as palavras, meus alunos e ex-alunos sabem que sou muito direto. Nunca me preocupei em planejar minha carreira, tudo foi acontecendo seguindo meus instintos. O que sou hoje se deve muito a meus estudantes e ao apoio de dois pais científicos, os professores Elson e Varela. O meu trabalho não é um trabalho, é um hobby. Assim minha mensagem é: Para atingir o sucesso em uma carreira científica é preciso gostar muito do que você faz.  

Prof. Osvaldo Novais de Oliveira Junior (IFSC-USP) assina texto sobre ciência brasileira publicado em coluna da Folha de São Paulo.

Prof. Osvaldo Novais de Oliveira Junior
Prof. Osvaldo Novais de Oliveira Junior

O professor Osvaldo Novais de Oliveira Junior (IFSC-USP), sócio e ex-presidente da SBPMat, é autor de texto publicado na Folha de São Paulo, no blog Darwin e Deus (coluna do jornalista de ciência Reinaldo José Lopes) sobre o sucesso e impacto da ciência brasileira. No texto, o professor descreve três tipos de conhecimento resultantes da ciência e destaca a importância de se aumentar a quantidade de cientistas e de profissionais treinados em ambientes de pesquisa para poder atender as demandas da população brasileira.

Veja aqui o texto na coluna de Reinaldo José Lopes.

Segue a íntegra do texto do ex-presidente da SBPMat:


A maior prova do sucesso da ciência brasileira está no Palácio do Planalto. Não fosse pela excelência da medicina brasileira, resultado de décadas de trabalho científico, o presidente da República hoje seria outro.

Sem a competência dos médicos de Juiz de Fora que atenderam prontamente o então candidato após o episódio da facada, bem como dos médicos em São Paulo que realizaram as demais cirurgias, o Presidente Bolsonaro, ainda que sobrevivesse, não teria se recuperado tão rapidamente a ponto de já estar trabalhando normalmente pouco tempo depois do atentado.

A conexão entre fatos que alteram os rumos do País e a ciência brasileira não me parece ter sido feita ainda. Provavelmente porque não se analisou em detalhe o impacto das diferentes formas de conhecimento que a ciência cria.

Fazer ciência gera conhecimentos de três tipos. O mais visível e tangível é o conhecimento que gera, num prazo relativamente curto, tecnologia e soluções para a humanidade. É o conhecimento transferido de cientistas para inovadores de tecnologia, o que no Século XXI tem sido feito majoritariamente pelas grandes potências tecnológicas, ou seja, os Estados Unidos, a China e outros países asiáticos, e alguns países da Europa. Aqui, o termo majoritário é essencial, pois não basta ter ciência e tecnologia de qualidade, a transferência de conhecimento só ocorre efetivamente quando há volume de pesquisas, produtos e soluções.

Os dois outros tipos de conhecimentos são menos visíveis para a sociedade em geral. Um é o conhecimento oriundo da curiosidade e perseverança dos humanos em entender como funciona o universo, sem preocupação se haverá alguma aplicação prática. Muitas vezes, a aplicação até existe, mas só vai ficar evidente muito tempo depois de o conhecimento ter sido gerado. O exemplo talvez mais emblemático para os dias de hoje é a teoria da Relatividade de Einstein. Ela foi criada com uma concepção abstrata, incompreensível mesmo para cientistas da época, para explicar fenômenos da natureza que não tinham correlação com o cotidiano das pessoas.

Até onde sei, Einstein nunca aventou a possibilidade de uma aplicação direta para a sua teoria. Pois bem, a Teoria da Relatividade é hoje essencial para os sistemas de posicionamento (GPS). Sem levar em conta a Teoria da Relatividade, a determinação da posição de uma pessoa ou objeto na Terra estaria errada por cerca de 10 km com os erros acumulados em uma semana de funcionamento do GPS. Em suma, sem Teoria da Relatividade não existiria o GPS e tampouco os sistemas de navegação que utilizamos no nosso cotidiano.

O terceiro tipo de conhecimento tem tão pouca visibilidade que se confunde com o resultado de formação universitária. É o conhecimento que não leva diretamente a novas tecnologias, mas serve para absorver e adaptar tecnologias, desenvolver soluções locais e permitir um funcionamento de alto nível dos sistemas que dependem de tecnologia. Este tipo de conhecimento é incorporado pelos profissionais qualificados formados nas universidades de pesquisa.

O que nem sempre é compreendido é que profissionais com esse nível de habilidade e competência só podem ser treinados em ambiente em que se faz ciência. Em medicina, para ficar no exemplo inicial, a incorporação e o aprimoramento de novas tecnologias são normalmente feitos por médicos com formação sofisticada, com pós-graduação e participação ativa em programas de pesquisa conduzidos em universidades de excelência.

Para aqueles que consideram esse terceiro tipo de conhecimento pouco relevante, ressalto que os países com melhor qualidade de vida e maiores índices de desenvolvimento não estão na lista dos que geram mais tecnologia. Refiro-me aos países escandinavos e outros como a Suíça e Luxemburgo que, pelo tamanho de sua população, não têm porte para gerar muita tecnologia – comparativamente aos países maiores produtores de tecnologia. Entretanto, sem qualquer exceção, todos esses países com alta qualidade de vida têm alta densidade na geração de conhecimento do terceiro tipo, com ciência de excelência.

E o Brasil? Nosso país tem exemplos marcantes de geração de conhecimento do primeiro tipo, com ciência proporcionando tecnologia competitiva mundialmente em setores como o aeronáutico, a extração de petróleo em águas profundas e o agronegócio. Outros setores têm criado tecnologias relevantes, ainda que com menor impacto econômico.

Infelizmente, a despeito da qualidade da ciência realizada nesses setores, a densidade é baixa e geramos muito pouca tecnologia quando se consideram as dimensões do País e sua população. Isso se explica pelo tamanho reduzido de nosso sistema científico. A despeito do grande avanço nas últimas décadas, o número de cientistas por habitante ainda é muito menor do que o de países desenvolvidos. Nesse quesito, o Brasil não aparece na lista dos 20 países mais bem colocados.

Uma situação semelhante ocorre no conhecimento orientado ao desenvolvimento de soluções locais, que classifiquei como de terceiro tipo. O Brasil forma profissionais excelentes em suas universidades de pesquisa, que por sua vez incorporam novas tecnologias e criam soluções para a sociedade em muitas áreas. Disso resulta a excelência do País em áreas como medicina e saúde, engenharia, agricultura e pecuária, e em muitas outras.

Novamente, temos o problema da densidade: o número de profissionais formados, e sua atuação na geração de conhecimento, são insuficientes para beneficiar toda a população do Brasil. Esta insuficiência está na raiz da nossa desigualdade, pois a produtividade no trabalho, extremamente baixa, depende essencialmente de um bom funcionamento de tecnologias que demandam conhecimento desse terceiro tipo, em que a oferta de profissionais capacitados é insuficiente.

Resumindo, o problema no Brasil não é de baixa qualidade da ciência que se realiza aqui, mas da baixa densidade de cientistas e profissionais com formação adequada para atender as demandas da sociedade. Além de trazer a percepção errônea de falta de qualidade, a baixa densidade de fato dificulta (quando não impede) que um País atinja excelência em tópicos que requerem esforços concentrados de grande monta. Não é por outra razão que o Brasil é competitivo em tecnologias, como as já mencionadas, em que há densidade de pesquisadores formados a partir de políticas públicas iniciadas há décadas.

Tenho a expectativa de que nossos governantes, em todos os níveis, percebam os benefícios diretos e indiretos de um sistema científico robusto e de qualidade. Nem que seja para sua sobrevivência na eventualidade de precisarem de atendimento de saúde adequado. Porém, principalmente para realizar o sonho de transformar o Brasil em um país menos desigual.


 

Artigos da comunidade de materiais nos Anais da Academia Brasileira de Ciências.

AABCSete artigos sobre temas da área de materiais fazem parte do mais recente volume dos Anais da Academia Brasileira de Ciências (AABC). Este é o resultado da chamada de artigos realizada em 2018 pelos AABC em parceria com a SBPMat, com a temática “Materials Sciences for a Better Future”. “Esta foi uma grande oportunidade para se comemorar o sucesso das pesquisas na área de Materiais no Brasil”, diz o professor Frank Crespilho, editor associado dos AABC. Para participar da chamada, os autores submeteram seus trabalhos por meio do site da revista no SciELO.

A AABC publica artigos científicos de todas as áreas do conhecimento, e trabalhos de Ciência e Tecnologia de Materiais são bem-vindos em todas as edições. As publicações dos AABC não têm custo para os autores e podem ser acessadas livremente. Mais informações para autores podem ser encontradas em http://www.scielo.br/revistas/aabc/iinstruc.htm.

De acordo com o presidente da SBPMat, professor Osvaldo Novais de Oliveira Junior, a importância crescente da pesquisa em materiais tem se revelado em grandes avanços tecnológicos em todas as áreas. Nesse contexto, a SBPMat tem desempenhado o papel de congregar estudantes e pesquisadores do Brasil, e seus colaboradores de outros países. “A parceria com a Academia Brasileira de Ciências é um marco importante dessa atuação da SBPMat, consolidada com essa série de artigos publicados nos Anais da Academia Brasileira de Ciências”, afirma o presidente da SBPMat. “A qualidade dos artigos e variedade de tópicos nessa edição dos Anais são representativas da pujança da comunidade de pesquisadores em materiais no Brasil”, completa.

Os artigos publicados podem ser acessados sem custo (acesso aberto) no volume 91, número 4 dos Anais da Academia Brasileira de Ciências. Segue a lista de artigos em temas da área de Materiais publicados nesse número da revista:

XIX B-MRS Meeting recebe 49 propostas de simpósios de 18 países diferentes.

logo 19 encontroQuarenta e nove (49) propostas foram submetidas pela comunidade científica internacional dentro da chamada de simpósios do XIX B-MRS Meeting + IUMRS ICEM. A quantidade de submissões é uma das maiores na história dos eventos da SBPMat. “Recebemos propostas de 18 países diferentes”, diz o professor Gustavo Dalpian, chair do evento.

O comitê organizador já está trabalhando na análise das propostas, de modo a resolver casos de sobreposição temática e garantir a adequação dos simpósios à estrutura do evento. Quando necessário, o comitê entrará em contato com os autores das propostas. A lista final de simpósios será divulgada assim que possível no site do evento, no site da SBPMat, Boletim da SBPMat e mídias sociais. Em fevereiro de 2020, será aberta a chamada de trabalhos (resumos) para apresentação oral e de pôster dentro dos simpósios.

Sobre o evento

O evento, que será realizado de 30 de agosto a 3 de setembro de 2020 no Hotel Rafain Palace, em Foz do Iguaçu (PR, Brasil), reunirá a décima nona edição do encontro anual da SBPMat e a décima sétima edição da conferência internacional sobre materiais eletrônicos organizada bienalmente pela IUMRS.

Além das apresentações dos simpósios, a programação incluirá palestras plenárias de cientistas de destaque internacional, tais como Alex Zunger (University of Colorado Boulder, EUA), Edson Leite (LNNano, Brazil), Hideo Hosono (Tokyo Institute of Technology, Japão), John Rogers (Northwestern University, EUA), Luisa Torsi (Università degli Studi di Bari “A. Moro”, Itália) e Tao Deng (Shanghai Jiaotong University, China).

O evento é coordenado pelos professores Gustavo Martini Dalpian (UFABC) na coordenação geral, Carlos Cesar Bof Bufon (LNNANO) na coordenação de programa e Flavio Leandro de Souza (UFABC) como secretário geral. No comitê internacional, o evento conta com cientistas da América, Ásia, Europa e Oceania.