Quantas vocações científicas despertaram, e quantos acidentes domésticos provocaram, os jogos infantis de química experimental, que, até um tempo atrás, não seguiam todas as normas de segurança para brinquedos, hoje obrigatórias? O cientista argentino Galo Juan de Ávila Arturo Soler Illia pertence a esse grupo. Ele conta que seu interesse pela ciência se acendeu (literalmente) com um pequeno incêndio provocado por um jogo de laboratório de Química na casa de seus pais – dois advogados, militantes da Unión Cívica Radical. Esse era o partido, aliás, do avô de Galo Soler Illia, o Presidente Arturo Umberto Illia, que governou a Argentina de 1963 a 1966, até sofrer um golpe de Estado.
Hoje, Galo Soler Illia pode ser considerado um dos pesquisadores mais conhecidos do país vizinho, tanto na comunidade científica (consta entre os 30 cientistas argentinos melhor posicionados no Google Scholar pelas citações a trabalhos de sua autoria, e já recebeu os principais prêmios nacionais de ciência) quanto entre o público leigo (no campo da Nanotecnologia, ele é um divulgador muito ativo e didático presente em todas as mídias, e costuma ser fonte de informações para os jornalistas argentinos).
Galo Soler Illia nasceu em Buenos Aires em 31 de maio de 1970. Fez seus estudos primários numa escola particular construtivista, o Colegio Bayard. Para cursar os estudos secundários ingressou, em 1983, ao Colegio Nacional de Buenos Aires, instituição pública dependente da Universidad de Buenos Aires (UBA), caracterizada, entre outras coisas, pela alta exigência nos estudos, a riqueza das atividades extracurriculares e uma infraestrutura superior à das outras escolas públicas. Em 1988, formou-se pelo colégio com uma especialização em Ciências. Tanto no ensino primário quanto no secundário teve oportunidade de fazer atividades em laboratórios de ciência.
Entre 1989, Soler Illia começou a cursar a graduação em Ciências Químicas na UBA. Durante a graduação, começou a lecionar no Departamento de Química Inorgânica, Analítica e Química Física da UBA e a fazer pesquisa em um grupo de Química de Materiais e também em um laboratório montado na casa de um amigo. Em 1993, ele obteve o diploma de licenciado em Química, tendo uma média nas avaliações das disciplinas de 9,13/ 10. Na Argentina, a licenciatura habilita o diplomado a realizar todo tipo de atividade profissional na área de formação, inclusive docência e atividades de pesquisa, e o prepara para um ingresso a um curso de doutorado sem passar pelo mestrado.
De 1994 a 1998, Soler Illia realizou o doutorado em Química, também na UBA, sob orientação do doutor em Química Miguel Angel Blesa. Através da pesquisa sobre nanopartículas de hidróxidos metálicos mistos, ele gerou conhecimento sobre o complexo mecanismo de formação de partículas, o qual lhe seria muito útil nas pesquisas que realizou como pós-doc e como pesquisador profissional, voltadas à síntese de materiais com alto controle de suas características. Concomitantemente ao doutorado, continuou lecionando, como assistente, na UBA.
Em 1999, foi morar na França, junto a sua esposa, a também química Astrid Grotewold, e permaneceram no país galo até o ano de 2002. Soler Illia fez um pós-doutorado na Université Pierre et Marie Curie (Paris), com supervisão do doutor Clément Sanchez, contando com uma bolsa com duração de 2 anos do CONICET, principal entidade argentina de apoio à ciência e tecnologia. No pós-doc, o argentino desenvolveu métodos para produzir materiais com porosidade altamente controlada. Desse período, resultaram os artigos de Soler Illia mais citados até o momento, com mais de 1.800 citações em um dos papers, segundo o Google Scholar. No final do período francês, Soler Illia também trabalhou em aplicações de filmes finos mesoporosos para o centro de pesquisa e desenvolvimento da empresa Saint Gobain.
Galo Soler Illia voltou à Argentina no início de 2003, num período em que o país saía de uma enorme instabilidade política que provocou a passagem de 5 pessoas diferentes pela Presidência da República em apenas 11 dias. Além disso, o país ainda estava sob os efeitos da grave crise econômica que tivera seu ápice em 2001. Entretanto, rapidamente, Soler Illia conseguiu ingressar à carreira de pesquisador do CONICET trabalhando na Comisión Nacional de Energia Atómica (CNEA) e, sem perder tempo, fundou o Grupo Química de Nanomateriales, que, até hoje, atua no projeto e obtenção de materiais nanoestruturados. Em 2004, o cientista se tornou, por concurso, professor da UBA, do departamento em que fizera seus estudos de grado e doutorado.
No início de 2015, Soler Illia se tornou diretor do Instituto de Nanosistemas (INS) da Universidad Nacional de San Martín, localizada na área metropolitana de Buenos Aires. O INS se define como um espaço de pesquisa, desenvolvimento e criação interdisciplinar em nanociência e nanotecnologia, cujo objetivo final é resolver problemas prioritários da indústria e da sociedade em geral. No instituto, Soler Illia conta com uma equipe científica multidisciplinar de 4 pesquisadores (mais 4 em 2017), 6 estudantes de pós-graduação e pós-docs e 1 técnico de laboratório, além de uma equipe de gestão formada por 6 profissionais.
Atualmente, além de diretor do INS, Galo Soler Illia é pesquisador principal do CONICET e professor associado da UBA. É membro de conselhos assessores na Fundación Argentina de Nanotecnología (FAN) e no Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (Brasil), e membro do conselho editorial do Journal of Sol-Gel Science and Technology (Springer). Além disso, o cientista tem uma coluna de divulgação científica sobre Nanotecnologia no programa televisivo “Científicos Industria Argentina”, que vai ao ar uma vez por semana no canal público argentino. Finalmente, Soler Illia acaba de ser nomeado, neste mês de novembro, membro do Conselho Presidencial Argentina 2030, integrado por intelectuais de diversos campos para assessorar o presidente da Argentina, Mauricio Macri.
Soler Illia, cujo índice h é de 44, possui uma produção de mais de 120 artigos publicados em periódicos científicos internacionais, com cerca de 11 mil citações, segundo o Google Scholar. Já orientou 7 teses de doutorado concluídas e é autor de 2 livros de divulgação sobre nanotecnologia. Também é autor de 4 pedidos de patentes.
Seu trabalho foi reconhecido com uma série de prêmios à ciência, tecnologia, inovação e divulgação científica, entre eles os principais da Argentina, como o Prêmio Houssay 2006 e 2009, da secretaria e depois ministério de ciência e tecnologia argentino; o Prêmio KONEX 2013, da fundação homônima, e o Premio Innovar 2011 e 2016, do Ministerio de Ciencia, Tecnología e Innovação Productiva. Também recebeu distinções da Academia Nacional de Ciencias Exactas, da FAN, da Asociación Argentina de Investigacão Fisicoquímica, do CONICET, das empresa BGH e Dupont, entre outras entidades. Em maio deste ano, Galo Soler Illia foi designado acadêmico titular da Academia Nacional de Ciencias Exactas, Físicas y Naturales, passando a compor um seleto grupo de apenas 36 cientistas.
Segue uma entrevista com o cientista argentino.
Boletim da SBPMat: – Conte-nos o que o levou a se tornar um cientista e a trabalhar no campo dos materiais.
Galo Soler Illia: – Sempre gostei de Química. Comecei com 5 anos, quando ganhei um jogo de Química e, fazendo um experimento, queimei a mesa de jantar da casa dos meus país. Depois, em meus estudos de nível secundário fui um pouco “nerd”, dedicando-me a escrever software para as aulas de Física do meu colégio. Escrever código despertou em mim uma curiosidade por saber como funcionavam as coisas e como os problemas podiam ser resolvidos. Aprendi muitíssimo. Perto do final do ensino secundário, decidi estudar Química, pois achei que era um curso muito versátil e maravilhoso que tinha grandes possibilidades em muitos campos. Nessa época, eu estava muito interessado na Biotecnologia, que era uma área nova. Mas na época em que comecei meus estudos de graduação na Universidade de Buenos Aires (UBA), a área de Química de Materiais começava a surgir. Ainda aluno, comecei a lecionar como ajudante no Departamento de Química Inorgânica, Analítica e Química Física da Faculdade de Ciências Exatas e Naturais, inspirado pelo exemplo de professores jovens e entusiastas que estavam voltando do exterior e geravam uma atmosfera de trabalho e exigência. Junto a meus melhores amigos, instalamos um laboratório em um quarto no terraço da casa de um deles. Ali crescíamos cristais e planejávamos síntese de moléculas. Como passávamos o dia todo na universidade e tínhamos algum tempo libre, eu achei um lugar para trabalhar, sem receber bolsa nem salário, em um grupo de Química de Materiais que acabava de começar. Tudo foi muito rápido e, quase sem perceber, finalizei meus estudos de graduação e iniciei o doutorado, fabricando micropartículas para catalizadores. Foi uma época muito linda da minha vida, da qual conservo minha curiosidade inata, minha vontade de explorar e construir matéria e um maravilhoso grupo de amigos, que se tornaram destacados colegas disseminados pelo mundo todo.
Boletim da SBPMat: – Quais são, na sua própria avaliação, as suas principais contribuições à área de Materiais, considerando todos os aspectos da atividade científica?
Galo Soler Illia: – Sempre me interessou construir materiais, o trabalho do químico de unir átomo com átomo, de fabricar novas arquiteturas. Centrei-me em compreender os fenômenos fisicoquímicos que ocorrem na produção de um material. Quando a gente conhece e compreende esses processos, passa de simplesmente “preparar” um material a poder projetá-lo e sintetizá-lo, por mais complexo que seja. E a gente pode aproveitar as propriedades dos elementos químicos a seu favor para obter as propriedades que a gente deseja. Vou dar três exemplos. Na minha tese, estudei a precipitação e agregação de nanopartículas de hidróxidos metálicos mistos, precursores de catalisadores. Descobrimos um mundo muito interessante e pudemos contribuir na compreensão da complexidade por trás de um mecanismo dinâmico de formação de partículas: a influência dos efeitos estruturais no formato das partículas, a importância da coordenação dos metais na formação de uma fase mista, a evolução da carga superficial e seu efeito na estabilidade de um coloide e muito mais, que me serviu futuramente como base sólida para minha pesquisa. Tive a sorte de poder trabalhar com Miguel Blesa, Alberto Regazzoni y Roberto Candal, três excelentes Mestres que me guiaram, estimularam e corrigiram.
Na minha segunda etapa, trabalhei em Paris, no laboratório de Clément Sanchez, e, usando o que tinha aprendido, pude desenvolver métodos para produzir materiais com porosidade altamente controlada, conhecidos como materiais mesoporosos organizados. Novamente, interessei-me pelos mecanismos de formação do material, que são complexos, pois demandam o controle do crescimento de pequenas espécies inorgânicas e sua automontagem com micelas. É uma pequena sinfonia físico-química, que é necessário aprender a tocar. Tivemos que usar, desenvolver e combinar técnicas de caracterização muito variadas para poder compreender quais fenômenos estavam ocorrendo e como eles controlavam a formação e organização dos sistemas de poros, a estabilidade e cristalinidade dos materiais, que são, entre outras, as variáveis importantes no desempenho final desses sólidos.
Na minha terceira etapa, de volta à Argentina, estabeleci um grupo de pesquisa na Comisión Nacional de Energía Atómica, em Buenos Aires, e me dediquei a construir arquiteturas mais complexas, baseadas em tudo que tinha aprendido. Minhas melhores contribuições nesse sentido se referem ao uso das forças e interações na nanoescala para fabricar nanocompósitos muito variados com propriedades ópticas e catalíticas projetadas e surpreendentes. Tudo isso demandou a criação de novos laboratórios, a formação de recursos humanos e a transferência de ciência básica a tecnologias. Particularmente, nos últimos anos temos trabalhado com empresas e aspiramos a gerar nanotecnologia na Argentina, estendendo os conhecimentos do nosso laboratório à sociedade.
Boletim da SBPMat: – Conte-nos um pouquinho sobre sua interação com o Brasil. Você vem frequentemente ao país para colaborações, eventos, uso de labs, seminários? Tem trabalhos realizados com grupos do Brasil ou em laboratórios brasileiros?
Galo Soler Illia: – Retornei à Argentina em 2003 e, imediatamente, tive como referencia o que estava se gestando no Brasil. Desde aquela época, comecei a desenvolver projetos no Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS), que é um farol para todos aqueles que trabalhamos em Materiais na América Latina. A interação com o pessoal do síncrotron foi muito importante para podermos caracterizar nossos materiais, e é impressionante ver como as instalações têm melhorado nestes anos. Faz poucos meses, tive a oportunidade de conhecer o prédio do Sirius, que é simplesmente impressionante, e será referência mundial. Também tive a oportunidade de conhecer diversas universidades proferindo cursos e colaborando na formação de graduandos e estudantes de pós-graduação. Além disso, geramos a Escola de Síntese de Materiais, que fazemos em Buenos Aires, e que terá sua oitava edição em 2017. Essa escola foi idealizada para gerar uma comunidade de cientistas latino-americanos com competências na síntese racional de materiais. Começamos com muitos estudantes brasileiros, graças ao apoio da Sociedade Argentino-Brasileira de Nanotecnologia, que depois, infelizmente, parou de funcionar. É muito belo ver como os estudantes de ambos os países trabalham juntos nos laboratórios e discutem e apresentam seus trabalhos em “portunhol”. A partir dessa escola, e com ajuda de vários colegas, estão surgindo redes de colaboração que, sem dúvida, vão nos proporcionar a base tecnológica para fazermos empreendimentos conjuntos de maior porte. Viajo várias vezes por ano ao Brasil e sempre admiro a força do país para impulsionar o desenvolvimento tecnológico local. Espero que, passados estes momentos de dificuldades, possamos continuar crescendo em conjunto.
Boletim da SBPMat: – Sempre convidamos os entrevistados desta seção do boletim a deixarem uma mensagem para os leitores que estão iniciando suas carreiras científicas. O que você diria a esses cientistas juniores?
Galo Soler Illia: – Olhando para atrás, posso fazer três recomendações aos jovens cientistas. Uma é que nunca percam sua imaginação e sua capacidade de se fazerem perguntas; a segunda é que trabalhem duro para encontrar as respostas, e a terceira é que aproveitem as surpresas. Às vezes, a gente está treinado para desenvolver um caminho e uma estratégia e a gente foca no rigor de demonstrar e formalizar o que a gente encontra. Porém, é essencial saber que esse caminho que a gente traça é cheio de cantinhos interessantes, e que, às vezes, um aspecto que não levávamos em consideração nos abre um panorama novo e inexplorado. Dizia Newton que a gente, enquanto científico, é às vezes como uma criança que na praia acha uma concha mais bonita do que outras e é feliz, mas, perante a gente, estende-se o enorme oceano da verdade. Meu conselho é: busquemos incessantemente nossas conchas, curtamos com elas e aproximemo-nos da compreensão das maravilhas do nosso universo. E tenhamos sempre em conta que desenvolver ciência em nosso continente é um belo desafio que vai agregar riqueza a nossos países e bem-estar a nossos irmãos.
Um acordo de cooperação assinado pela SBPMat e a sociedade de pesquisa em Materiais da Europa (E-MRS) promove a colaboração científica entre pesquisadores do Brasil e da Europa e, em particular, incentiva a participação de membros da SBPMat nos eventos da E-MRS e de membros da E-MRS nos encontros da SBPMat.
“Segundo o acordo, sócios da SBPMat podem ser organizadores de simpósios do Encontro da E-MRS, função bastante prestigiosa para qualquer pesquisador, recebendo para tanto inclusive incentivo financeiro”, detalha o professor Osvaldo Novais de Oliveira Junior, presidente da SBPMat. “Além disso, estudantes e pós-doutorandos sócios da SBPMat podem a cada ano concorrer a apoio para apresentação de trabalho no Encontro da E-MRS na Europa”, completa.
O acordo foi assinado em Campinas (SP) no dia 29 de outubro deste ano, durante o encerramento do XV Encontro da SBPMat, pelo presidente da SBPMat e pelo professor Rodrigo Martins, que representou a sociedade europeia enquanto ex-presidente da mesma.
O primeiro laboratório do Brasil dedicado ao estudo dos materiais vítreos completa 40 anos neste mês de dezembro de 2016. Esse laboratório, que iniciou suas atividades com apenas um forninho tipo mufla de até 1.100 °C, hoje possui 18 fornos, 4 dois quais chegam aos 1.750 °C, e mais três dezenas de equipamentos de fabricação e caracterização de vidros distribuídos em 500 m2. O aniversariante em questão é o LaMaV (Laboratório de Materiais Vítreos), do DEMa (Departamento de Engenharia de Materiais) da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).
No 40º aniversário do LaMaV, a equipe se manifesta plenamente satisfeita com suas realizações [veja box ao lado]. O trabalho pioneiro do laboratório foi essencial na geração, disseminação e aplicação no país do conhecimento científico sobre vidros, tanto no meio acadêmico quanto na indústria. “Formamos aproximadamente uma centena de mestres, doutores e pós-docs, que hoje trabalham como professores e pesquisadores em instituições importantes como a USP, UFSCar, ITA, UEPG, UEMa, UFBa, PUC, IPT, CEFET, UFF, UNESP, UFLavras, UFABC, CTA, UNIOESTE e outras no Brasil e exterior, e em inúmeras empresas. Este é um legado importantíssimo! ”, destaca Edgar Dutra Zanotto, um dos fundadores da SBPMat e da revista Materials Research, que fundou o LaMaV e o lidera até o presente.
Mas os esforços e resultados do LaMaV vão além das fronteiras nacionais e se caracterizam por sua internacionalidade. O laboratório já recebeu estudantes e professores visitantes de dezenas de países. Sua equipe trouxe ao Brasil os mais importantes congressos internacionais sobre vidros, participa dos conselhos editoriais de quase todas as principais revistas científicas especializadas em materiais vítreos e recebeu 7 dos mais prestigiosos prêmios e honrarias internacionais da área – além de mais de 20 prêmios nacionais, incluindo o prêmio Almirante Álvaro Alberto*. As pesquisas do grupo, principalmente aquelas sobre nucleação e cristalização de vidros e vitrocerâmicas, são mundialmente reconhecidas. “Significativa fração dos pesquisadores ativos desta área já ouviu falar, assistiu uma palestra ou leu um artigo ou patente resultante das nossas pesquisas. Certamente colocamos a cidade de São Carlos e o Brasil no mapa mundial da pesquisa em vidros! ”, diz Zanotto.
Atualmente, o LaMaV atua intensamente nos temas de cristalização de vidros, processos de relaxação estrutural e de tensões residuais, vitrocerâmicas, biomateriais, além de propriedades mecânicas, reológicas, elétricas e bioquímicas dos materiais vítreos. “Hoje temos um ótimo laboratório e um excelente financiamento, principalmente da FAPESP, mas também da Capes, CNPq e algumas empresas. Entretanto, a enorme burocracia das agências de fomento relativa à aquisição de materiais e equipamentos e na prestação de contas, as incertezas relativas ao futuro das universidades (por exemplo, PEC 55 e outras), aliadas à escassez de secretárias, técnicos e engenheiros (lab managers) que auxiliem na organização e manutenção dos laboratórios, sempre foram e continuam sendo empecilhos formidáveis”, pondera Zanotto.
A história
Tudo começou em 15 de dezembro de 1976, quando Zanotto foi contratado como professor auxiliar pelo DEMa-UFSCar com o intuito principal de iniciar o trabalho de pesquisa sobre vidros no departamento. Em 1970, tinha sido lançado o primeiro curso do Brasil (e da América Latina) de graduação em Engenharia de Materiais e, dois anos depois, o DEMa tinha sido criado. Em 1976, o departamento já contava com grupos de pesquisa em metais, polímeros e cerâmicas, mas ninguém trabalhava ainda com vidros, lembra Zanotto, atualmente professor titular do DEMa-UFSCar. “A criação do LaMaV foi uma consequência natural do estabelecimento do curso de graduação em Engenharia de Materiais na UFSCar”, diz o professor.
Nesse fim de 1976, Edgar Zanotto era um engenheiro de materiais recém-formado (pela própria UFSCar), que acabara de concluir um trabalho de iniciação científica sob a orientação do professor visitante Osgood James Whittemore, da Universidade de Washington (EUA), pesquisador da área de materiais cerâmicos. “Minha pesquisa de IC, realizada naquele ano, focalizou a durabilidade química (lixiviação) de vidros candidatos ao encapsulamento de resíduos radioativos”, relata Zanotto. “E, pasme, este assunto ainda é “quente”! ”, completa.
Assim que foi contratado, Zanotto criou o LaMaV. Os primeiros experimentos, realizados pelo próprio Zanotto, consistiam em fundir vidros de baixo ponto de fusão, usando o forno tipo mufla e um cadinho (recipiente que pode ser usado em altas temperaturas) de platina, emprestado do laboratório de análises químicas da universidade.
Em 1977, o fundador do LaMaV iniciou o mestrado em Física no Instituto de Física e Química de São Carlos (IFQSC) da USP, sob a orientação do professor Aldo Craievich, que era, provavelmente, o único cientista atuante na área de vidros antes de 1976. De fato, ele é o autor dos dois primeiros artigos científicos sobre vidros assinados por pesquisadores de instituições brasileiras, ambos publicados em 1975. Durante o mestrado, Zanotto produzia vidros e os tratava termicamente (para gerar cristalização) no LaMaV, fazia averiguação por microscopia no laboratório de metalurgia do DEMa, e caracterizava os vidros por DRX e SAXS no IFQSC da USP. Em um ano e meio de mestrado, Zanotto terminou seu trabalho de pesquisa e defendeu a dissertação. No mesmo ano, ele iniciou o doutorado, também na área de vidros, na Universidade de Sheffield (Reino Unido), com orientação do famoso professor Peter James. Em 1982, Zanotto voltava ao LaMaV com doutorado defendido.
“Nos 10-15 anos iniciais, o trabalho isolado, a inexperiência e as incertezas e dificuldades associadas ao financiamento inconstante das pesquisas, mais o reduzido espaço físico e pouca infra laboratorial atrapalharam as nossas atividades”, relata Zanotto. Cerca de uma década depois da criação do laboratório, foi contratado o segundo professor do grupo, Oscar Peitl Filho, ex-orientado de mestrado e doutorado de Zanotto. Alguns anos depois, Ana Candida Martins Rodrigues se tornou a terceira professora da equipe do LaMaV. Finalmente, em 2013, Marcello Andreeta foi contratado. “Hoje somos 4 professores, 1 técnico, 1 assistente administrativa e cerca de 30 alunos de pesquisa e post-docs, 7 de outros países”, diz Zanotto.
O ano de 2013 foi um marco na história do LaMaV, devido à aprovação e início de atividades do CeRTEV (Center for Research, Technology and Education in Vitreous Materials), um CEPID da FAPESP. Dirigido por Zanotto, o CeRTEV reúne o LaMaV (sede do centro) e outros laboratórios da UFSCar, USP e UNESP, para realizar pesquisa, desenvolvimento e atividades de educação na área de materiais vítreos, contando com financiamento da FAPESP até 2024. “Com o CeRTEV, estabelecemos um dos maiores grupos de pesquisa acadêmicos deste planeta sobre vidros, com infraestrutura de nível internacional, 14 professores e cerca de 60 alunos de pesquisa! “, comemora Zanotto.
“Apenas divagando, se eu pudesse retornar a dezembro de 1976, com a experiência acumulada nesses 40 anos, acho que faria tudo novamente, mas mais eficientemente! ”, expressa o fundador do LaMaV.
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*Veja também nossa entrevista com o professor Edgar Dutra Zanotto, realizada em abril de 2013, na ocasião do Prêmio Almirante Álvaro Alberto, aqui.
O artigo científico com participação de membros da comunidade brasileira de pesquisa em Materiais em destaque neste mês é: One material, multiple functions: graphene/Ni(OH)2 thin films applied in batteries, electrochromism and sensors. Eduardo G. C. Neiva, Marcela M. Oliveira, Márcio F. Bergamini, Luiz H. Marcolino Jr & Aldo J. G. Zarbin. Scientific Reports 6, 33806 (2016). doi:10.1038/srep33806. Link para o artigo: http://www.nature.com/articles/srep33806
Muita ciência e uma dose de acaso para chegar à receita de um nanocompósito multifuncional
Artigo recentemente publicado no periódico científico Scientific Reports, do grupo Nature, reporta um estudo realizado em universidades do estado do Paraná (Brasil) sobre um material baseado no hidróxido de níquel Ni(OH)2 – composto de grande interesse tecnológico [ver box ao lado]. A equipe de autores desenvolveu um método inovador para fabricar um material formado por grafeno e nanopartículas de hidróxido de níquel, fez filmes finos com esse material e demonstrou a eficiência desses filmes quando usados como eletrodos de baterias recarregáveis, sensores de glicerol e materiais eletrocrômicos.
O trabalho foi realizado dentro da pesquisa de doutorado de Eduardo Guilherme Cividini Neiva, sob orientação do professor Aldo José Gorgatti Zarbin, no Programa de Pós-Graduação em Química da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Neiva começou a realizar trabalhos de pesquisa sobre nanopartículas de níquel na graduação, orientado pelo professor Zarbin. No mestrado, ainda com Zarbin, o estudante desenvolveu uma rota de preparação de nanopartículas de níquel metálico para aplicações eletroquímicas. Finalizado o mestrado, Neiva e Zarbin se propuseram a dar continuidade à pesquisa no doutorado de Neiva, incluindo o grafeno na preparação das nanopartículas de níquel metálico para obter nanocompósitos de níquel e grafeno com propriedades diferenciadas. “A maior parte dos meus interesses científicos estão voltados na preparação de materiais com nanoestruturas de carbono, como nanotubos e grafeno”, contextualiza o professor Zarbin, que assina o artigo da Scientific Reports como autor correspondente.
Os primeiros trabalhos no laboratório já surpreenderam a dupla. Na presença do óxido de grafeno (usado como precursor do grafeno na preparação do material), o processo tomava um rumo diferente. Nesse momento, Neiva e Zarbin enxergaram o potencial dessas particularidades: se bem compreendidas, poderiam ser controladas e utilizadas para preparar nanocompósitos, não apenas de níquel metálico, mas também de hidróxido de níquel, o que abriria novas possibilidades de aplicação. “Há uma frase que gosto muito, do Louis Pasteur, que se aplica perfeitamente nesse caso: “o acaso favorece as mentes bem preparadas””, diz Zarbin.
Partindo dessa base, orientando e orientador criaram um processo simples e direto para fabricação de nanocompósitos de grafeno e hidróxido de níquel. Nesse processo inovador, ambos os componentes são sintetizados em conjunto, em uma única reação de apenas uma etapa. Usando essa técnica, Neiva fabricou os nanocompósitos. Amostras de hidróxido de níquel puro também foram produzidas, para poder compará-las com os nanocompósitos.
As amostras foram estudadas por meio de uma série de técnicas: difração de raios X, espectroscopia Raman, espectroscopia no infravermelho com transformada de Fourier (FT-IR), termogravimetria, microscopia eletrônica de varredura com emissão de campo (FEG-MEV), e também por meio de imagens de microscopia eletrônica de transmissão (TEM) realizadas pela professora Marcela Mohallem Oliveira, da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR). A comparação entre os dois materiais foi favorável ao nanocompósito. “O grafeno teve papel fundamental na estabilização das partículas em escala nanométrica, no aumento da estabilidade química e eletroquímica das nanopartículas, e no aumento da condutividade do material, fundamental para uma melhora nas aplicações desejadas”, comenta Aldo Zarbin.
A etapa seguinte consistiu no processamento dos nanocompósitos e das nanopartículas de hidróxido de níquel puro para obter filmes finos, formato que possibilita seu uso nas aplicações desejadas. “Depositar materiais na forma de filmes, recobrindo diferentes superfícies, é um desafio tecnológico imenso, que se torna maior e mais desafiador quando se trata de materiais multicomponentes e materiais insolúveis, infusíveis e intratáveis (todas características do material reportado nesse artigo)”, explica Zarbin.
Para superar esse desafio, Neiva utilizou uma rota de processamento, chamada de método interfacial líquido/líquido, desenvolvida em 2010 pelo grupo de pesquisa liderado por Zarbin, o Grupo de Química de Materiais da UFPR. Essa rota, além de ser simples e barata, afirma o professor Zarbin, permite depositar materiais complexos na forma de filmes homogêneos e transparentes sobre vários tipos de materiais, incluindo plásticos. “Essa rota se baseia na alta energia existente na interface de dois líquidos imiscíveis (água e óleo, por exemplo), onde o material é inicialmente estabilizado para minimizar essa energia, possibilitando sua posterior transferência para substratos de interesse”, detalha o cientista.
Com os nanocompósitos, Neiva obteve filmes finos transparentes de cerca de 100 a 500 nm de espessura, com nanopartículas de cerca de 5 nm de diâmetro homogeneamente distribuídas sobre as folhas de grafeno. O hidróxido de níquel puro, diferentemente, gerou filmes formados por nanopartículas esféricas porosas de 30 a 80 nm de diâmetro, distribuídas de modo heterogêneo, formando aglomerados em algumas regiões.
Na fase final do trabalho, os filmes depositados sobre vidro e ITO (óxido de índio e estanho), foram testados em três aplicações, nas quais o nanocompósito teve desempenho superior ao hidróxido de níquel puro. Enquanto material para eletrodos de baterias alcalinas recarregáveis, o nanocompósito apresentou alta energia e alta potência – dois pontos positivos que não é fácil encontrar num mesmo material. O nanocompósito também demonstrou uma boa performance como sensor eletroquímico. De fato, experimentos idealizados pelos professores Márcio Bergamini e Luiz Marcolino Jr, também da UFPR, mostraram que o nanocompósito é um sensor sensível de glicerol (composto conhecido comercialmente como glicerina e usado em várias indústrias). Finalmente, o nanocompósito agiu como eficiente material eletrocrômico. Com essas características, os filmes do grupo da UFPR têm chances sair do laboratório e fazer parte de produtos inovadores. “Isso depende de parceiros que se interessem em escalonar o método e testar em dispositivos reais”, diz Zarbin.
Por enquanto, além de artigos científicos como o publicado na revista Scientific Reports, o trabalho gerou várias patentes, tanto sobre o método de deposição dos filmes finos quanto sobre suas aplicações em sensores de gases, eletrodos transparentes, dispositivos fotovoltaicos e catalisadores. “E já desenvolvemos uma bateria flexível, que só foi possível graças à técnica de deposição de filmes que desenvolvemos”, complementa o professor Zarbin.
O trabalho, que foi desenvolvido dentro dos projetos macro “INCT de nanomateriais de carbono” e “Núcleo de Excelência em Nanoquímica e Nanomateriais”, contou com financiamento das agências federais Capes e CNPq, e da Fundação Araucária, de apoio ao desenvolvimento científico e tecnológico do estado do Paraná.
XV B-MRS Meeting/ XV Encontro da SBPMat Campinas (SP), Brasil, 25 a 29 de setembro de 2016
Em números
– Quase 1.800 inscrições.
– 95% do Brasil (das 5 regiões do país e de 23 estados, com São Paulo à frente, com 30% do total de inscritos).
– 23 países representados.
– 62% estudantes: 42% de pós-graduação e 20% de graduação.
– Mais de 2.000 trabalhos apresentados (80% pôsteres), dentro de 20 simpósios e 2 workshops.
– 9 países representados na organização dos simpósios e workshops.
– 8 palestras plenárias, 3 painéis de discussão, 2 tutoriais e 12 palestras técnicas de empresas.
– 12 salas para apresentações orais simultâneas.
– 43 expositores.
– 18 prêmios outorgados a estudantes.
Recados da organização
Publicação de manuscritos. Artigos baseados em trabalhos apresentados no encontro e submetidos a determinadas revistas do IOP (veja lista no link), se aprovados após revisão convencional, serão destacados numa coleção online dedicada à SBPMat/B-MRS. A submissão permanecerá aberta por mais alguns meses (cerca de 6). Instruções e outras infos: http://sbpmat.org.br/en/publicacao-de-trabalhos-do-xv-encontro-da-sbpmat/
Relato multimídia. Saiba ou relembre como foram as diversas sessões do evento, por meio de um relato permeado de fotos, vídeos e arquivos de apresentações, no novo site da SBPMat. Aqui.
Fotos. Veja o álbum com as fotografias do evento e baixe suas favoritas, no Google Fotos. Aqui.
Apresentações. Acesse todos os arquivos de plenárias, painéis de discussão e encerramento que foram cedidos por seus autores, no Slideshare da SBPMat. Aqui.
Vídeos. Assista a todos os breves depoimentos de organizadores e participantes sobre o evento, no YouTube da SBPMat. Aqui.
Oportunidades
INCTs: 100 propostas, dentre as recomendadas em maio deste ano, serão cofinanciadas por entes federais e estaduais. Aqui.
Inscrições para o Programa Bolsas de Verão CNPEM. Aqui.
Pós-doutorado no IPEN em eletrocerâmicas com bolsa FAPESP. Aqui.
Seleção para professor do Departamento de Física da PUC-Rio (Física da Matéria Condensada). Aqui.
Concurso para professor da UFRRJ (materiais metálicos). Aqui.
Concurso para professor de Física na Universidade Federal da Grande Dourados (MS). Aqui.
O amplo e variado leque de atividades do programa foi sem dúvida um dos destaques da décima quinta edição do evento anual da Sociedade Brasileira de Pesquisa em Materiais, o XV B-MRS Meeting. O comitê organizador do evento, liderado pelas professoras Ana Flávia Nogueira (IQ-Unicamp) e Mônica Alonso Cotta (IFGW-Unicamp), imaginou e viabilizou um programa técnico composto por tutoriais, visita a laboratórios, palestras plenárias, painéis de discussão, apresentações orais, sessões de pôsteres, palestras de empresas e exposição de estandes.
Chairlady do evento Mônica Cotta: diversidade de temas e formatos ao longo de jornadas de 11 horas.
A proposta foi aceita maciçamente e com entusiasmo pelos participantes do evento, que lotaram auditórios, corredores e área de expositores do centro de convenções Expo D. Pedro, na cidade de Campinas (SP), para conhecer, apresentar e discutir recentes avanços e perspectivas da Ciência e Engenharia de Materiais entre 25 e 29 de setembro deste ano. O número de inscritos (cerca de 1.800) superou as expectativas da organização, dado o atual contexto brasileiro de escassez de recursos.
Ana Flávia Nogueira, chairlady: agradecimentos e satisfação com os resultados obtidos num contexto difícil.
As diversas apresentações e as interações ao longo do evento ocorreram principalmente em idioma inglês, porém os mais diversos sotaques puderam ser ouvidos. De fato, o evento contou com participantes de 23 países dos continentes americano, europeu e asiático. A internacionalização também esteve presente na organização do encontro, por meio de coordenadores de simpósios da Alemanha, Canadá, Espanha, Estados Unidos, Finlândia, França, Portugal e Suécia, além, é claro, do Brasil.
Nas diversas sessões, foram abordados avanços e perspectivas relativos a diversos tipos de materiais (nanomateriais, biomateriais, materiais bidimensionais, superfícies e interfaces, materiais orgânicos eletrônicos, eletrocerâmicas, metais avançados, nanocelulose, semicondutores e supercondutores, entre outros). Não apenas pesquisa, mas também tecnologia e inovação em Materiais estiveram presentes ao longo das apresentações e discussões, abrangendo métodos para descoberta de novos materiais, processos de fabricação, estudos sobre estrutura e propriedades dos materiais e técnicas experimentais e teóricas para realizá-los. Abundaram também as referências às aplicações dos materiais em segmentos como energia, saúde, transporte, embalagens, eletrônica e fotônica, entre outros, inclusive mediante apresentação de casos em que a pesquisa e o desenvolvimento geraram inovação. Nesses momentos, ficou evidenciada a forte relação da pesquisa em Materiais com o crescimento econômico dos países, com a melhoria da qualidade de vida das pessoas e com a preservação dos recursos naturais do planeta.
Osvaldo N. de Oliveira Jr, presidente da SBPMat: conexão da pesquisa em Materiais com a sociedade está mais forte que nunca.
Aliás, a sustentabilidade orientou os organizadores do evento na opção por não imprimir os livros programas nesta edição do encontro. Em vez disso, os participantes contaram com uma boa conexão à Internet e um aplicativo que podia ser baixado em dispositivos móveis a partir de um código QR na entrada do centro de convenções ou, ainda, nas lojas virtuais de Google e Apple. O app também incluiu um leitor de código QR por meio do qual os participantes podiam obter rapidamente os resumos dos trabalhos apresentados nas sessões de pôsteres.
O XV B-MRS Meeting contou com apoio das agências de financiamento Capes, CNPq e Fapesp, além de outras entidades, e com patrocínio das empresas expositoras.
TUTORIAIS E VISITA AO CNPEM NO DOMINGO À TARDE
A intensiva programação começou no domingo 25 de setembro à tarde, antes mesmo da abertura do evento, com dois tutoriais. Durante cerca de 3 horas, mais de 200 participantes aprenderam sobre pesquisa de alto impacto, em particular, publicação de artigos científicos, com as dicas do professor Valtencir Zucolotto (IFSC-USP). Autor de mais de 140 papers publicados em periódicos internacionais, com mais de 4.000 citações segundo o Google Scholar, Zucolotto desenvolveu e ministra cursos nesse tema no Brasil e no exterior.
Em paralelo, em outra sala do centro de convenções, cerca de 30 participantes debruçados sobre seus laptops recebiam um treinamento teórico-prático em simulações computacionais, guiados pelos professores Pedro Autreto (UFABC) e Ricardo Paupitz (UNESP).
Enquanto os tutoriais ocorriam no Expo D. Pedro, a uns 10 quilômetros dali, um terceiro grupo de participantes do XV B-MRS Meeting, composto por pesquisadores seniores do Brasil e do exterior, visitou os laboratórios multiusuário de luz síncrotron, nanotecnologia e biociências, abertos à comunidade científica mundial, que compõem o Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM). O grupo também percorreu as obras do Sirius, que será a segunda fonte de luz síncrotron de quarta geração do mundo quando for inaugurada, antes do final da década.
ABERTURA, HOMENAGENS E COQUETEL NO DOMINGO À NOITE
No fim da tarde, às 19:30 horas, cerca de 700 pessoas ocupavam a sala maior do centro de convenções para participar da sessão de abertura oficial do evento. “Encontros como este são comemorações daquilo que cientistas e tecnólogos podem fazer pelo mundo, pela humanidade”, disse o presidente da SBPMat, abrindo formalmente o XV B-MRS Meeting, pouco depois das 19:30 horas desse mesmo domingo. No palco, além do professor Novais de Oliveira, compunham a mesa as chairladies do evento, e, representando a International Union of Materials Research Societies (IUMRS) enquanto segundo vice-presidente, o professor Roberto Mendonça Faria (IFSC-USP). Os membros da mesa agradeceram os organizadores e apoiadores, desejaram um bom evento aos participantes e deram algumas informações sobre o evento.
Na sequência, na mesma sala, ocorreram homenagens a dois cientistas que, além de terem participado ativamente da história da SBPMat, desenvolveram trabalhos de impacto internacional no campo dos Materiais. O primeiro homenageado foi o professor José Arana Varela, falecido em maio passado aos 72 anos. Varela, que deixou importantes contribuições na área de materiais cerâmicos (eletrocerâmicas, filmes finos, cerâmicas nanoestruturadas, aplicações como sensores e varístores, entre outras), foi um dos fundadores e presidentes da SBPMat. Um ex-aluno e amigo de Varela, o professor Edson Roberto Leite (UFSCar) proferiu uma apresentação sobre a carreira científica do ex-orientador, destacando seu pioneirismo, sua articulação e reconhecimento internacional e seu sucesso na colaboração com empresas. Com ajuda de slides recheados de fotografias, Leite destacou também “o maior legado de Varela: os amigos e ex-alunos que continuam seu trabalho”. De fato, no dia seguinte, vários desses ex-alunos – amigos reunidos em um dos simpósios do evento (“X Brazilian Electroceramics Symposium – In Honor to Prof. Dr. Jose Arana Varela”) também fizeram uma homenagem ao mestre, que foi professor da UNESP.
Antes de passar à outra homenagem da abertura do evento, o professor Novais de Oliveira Junior tomou a palavra para anunciar que a SBPMat lançaria em breve seu novo site e mostrou uma versão demo do mesmo. Uma das propostas do site é dar destaque a imagens científicas produzidas pela comunidade de Materiais, colocando-as como plano de fundo em todas suas páginas, explicou o presidente da sociedade, que logo convidou os presentes a enviarem suas imagens.
A segunda homenagem da noite foi uma distinção que a SBPMat outorga anualmente a cientistas de trajetória destacada, aos quais se solicita que profiram uma palestra (a Palestra Memorial “Joaquim da Costa Ribeiro”). Nesta oportunidade, o cientista eleito foi o professor Aldo Craievich (IF-USP). Argentino, Craievich desenvolveu sua carreira de pesquisador principalmente no Brasil e na França. Além de ter feito relevantes contribuições ao estudo de estruturas e transformações estruturais de sólidos, o cientista foi um dos protagonistas do projeto, construção e funcionamento do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS), localizado no CNPEM, cujos recursos para pesquisa têm impactado a comunidade de Materiais internacional – principalmente a latino-americana. Craievich também participou do processo de criação da SBPMat desde o início.
Na sua palestra memorial sobre caracterização avançada de materiais, o professor Craievich chamou a atenção para uma limitação de uma das técnicas mais utilizadas para determinar a estrutura dos materiais, a difração de raios X. Numa perspectiva histórica, o homenageado comentou as importantes descobertas conseguidas ao longo de mais de 100 anos de uso da difração de raios X. Entretanto, os resultados obtidos por meio dessa técnica, explicou Craievich, mostram apenas a média de muitos dados captados em diversos locais da amostra e em momentos sucessivos. Por isso, a difração de raios X não consegue descrever situações que estão fora da média, mas têm grande influência nas propriedades dos materiais: os defeitos do material e as configurações formadas por átomos em movimento por curtíssimos instantes. Essas limitações, comentou Craievich, começaram a ser superadas com o uso de fontes de raios X de quarta geração (por exemplo, fontes sincrotron como o Sirius) e de quinta geração (como o laser de elétrons livres). No final de uma apresentação muito abundante em referências científicas, o professor utilizou uma história em quadrinhos do famoso autor argentino Quino para instigar os futuros usuários de fontes avançadas de raios X a inovarem nos experimentos, e compartilhou por meio de fotos algumas lembranças pessoais. Veja aqui a apresentação de Aldo Craievich.
Por volta das 20:45 horas, finalizadas as homenagens e as apresentações, do outro lado das portas da grande sala, música, comida e bebida aguardavam o público. A música ficou por conta do grupo Bate Lata, composto por crianças e adolescentes ligados a um programa de inclusão sociocultural por meio da música. Os jovens músicos cantaram e tocaram versões de músicas brasileiras populares muito conhecidas, usando alguns instrumentos tradicionais e outros fabricados por eles mesmos a partir de sucata (varal de roupa, tambor de óleo). O cardápio do coquetel (caldo de feijão, coxinhas, croquetes, cerveja gelada e refrigerantes) completou o clima de bar paulista. A confraternização propiciou muitos encontros e reencontros, que prenunciaram o clima de interação e camaradagem que reinaria até o final do evento.
SESSÕES ORAIS E PÔSTERES (SIMPÓSIOS) E EXPOSITORES.
Entre e a segunda e a quinta-feira, mais de 2.000 trabalhos foram apresentados por seus autores (desde estudantes de graduação até pesquisadores seniores), dentro dos 20 simpósios temáticos, em forma de pôsteres, apresentações orais e palestras convidadas. Público numeroso e muita discussão caracterizaram tanto as sessões orais quanto as de pôsteres.
A programação do evento incluiu também 2 workshops, compostos principalmente por palestras convidadas. Um deles foi totalmente organizado por estudantes dos University Chapters da SBPMat. No outro, discutiu-se desenvolvimento sustentável de materiais com aplicações em áreas de impacto social.
A presença de expositores foi recorde na história dos encontros da sociedade: foram 43 empresas e instituições divulgando seus produtos e serviços (a maioria, instrumentos científicos) em estandes e em 12 palestras técnicas.
PAINEIS DE DISCUSSÃO NO HORÁRIO DO ALMOÇO
No horário habitualmente destinado ao almoço, das 12:00 às 14:00 horas, foi possível, nesta edição do evento, alimentar o corpo e, ao mesmo tempo, nutrir o intelecto com as discussões que ocorreram nos painéis de discussão.
Na segunda-feira, a sessão, organizada pela campanha “Research in Germany” do governo alemão, que também patrocinou os lanches, foi voltada à apresentação de oportunidades de pesquisa na Alemanha. Cerca de 80 participantes, sentados ao redor de mesas redondas, assistiram a apresentações da agência alemã de intercâmbio acadêmico (DAAD), do Research in Germany e de pesquisadores que trabalham ou trabalharam em instituições da Alemanha. Inicialmente, foi apresentado o panorama do robusto sistema de ensino e pesquisa da Alemanha (milhares de instituições diversas para fazer pesquisa, cerca de 2,5 a 2,8% do PIB investido em P&D, 600 mil pessoas trabalhando nesse segmento), no qual vem crescendo o número de pesquisadores estrangeiros na última década – número que já supera os 50 mil. Também foram mostradas diversas opções de bolsas e outros recursos que podem ser utilizados por acadêmicos do Brasil de todos os níveis de formação para desenvolver projetos de pesquisa na Alemanha, bem como links onde encontrar mais informações. Finalmente, pesquisadores da Alemanha falaram brevemente sobre suas instituições e grupos de pesquisa (em materiais avançados, materiais para eletrônica e optoeletrônica e medicina/biomateriais). O “Science Lunch”, como se denominou esta sessão, finalizou num formato muito participativo: público e oradores conversando, quiçá sobre possíveis colaborações, sentados às mesas redondas. Seis arquivos das apresentações desta sessão estão disponíveis no Slideshare da SBPMat.
A questão da escrita e publicação científica, que tinha sido abordada no domingo à tarde, foi retomada na terça-feira, no horário do almoço. A sessão, chamada “Meet the editors” consistiu num painel de discussão que reuniu editores-chefes e um diretor de revistas científicas da área para falar sobre publicação de artigos científicos. Os painelistas foram: Ifor Samuel (editor-chefe da Synthetic Metals, da editora Elsevier, primeiro periódico dedicado à eletrônica orgânica), Paul Weiss (editor-chefe da ACS Nano, da editora da American Chemical Society, fator de impacto 13,334), Susan Sinnott (editora-chefe da Computational Materials Science, da Elsevier) e Tim Smith (diretor na editora do Institute of Physics, IOP). Enquanto o público, formado por cerca de 80 pessoas, degustava os salgados, doces, sucos e frutas oferecidos pelo IOP, os editores apresentaram brevemente os periódicos que chefiam e Tim Smith falava sobre o conjunto de publicações da IOP Publishing na área de Materiais. Smith comentou que esse grupo de revistas registrou um aumento de 560% nos downloads de artigos feitos a partir do Brasil nos últimos 10 anos. Ele também anunciou que a IOP Publishing realizará um projeto-piloto (experimental) de revisão por pares em modo duplo cego de janeiro a dezembro de 2017, como opção para autores da revista Materials Research Express. Nessa modalidade, os nomes e filiações dos autores são retirados dos artigos antes de enviá-los aos revisores. O projeto, contou Smith, será realizado em resposta a demandas de setores das comunidades de Materiais e Biociências. Um dos temas centrais das falas dos painelistas foi o das dicas para autores que desejam ter seus artigos publicados (veja no box abaixo). No final da sessão, os painelistas responderam às diversas indagações do público.
Na discussão da quarta-feira, o assunto foi a contribuição da pesquisa em Materiais à geração de inovações tecnológicas e de competitividade nas empresas. O tema foi abordado por meio da apresentação de casos brasileiros em que inovações são geradas a partir de projetos de pesquisa e desenvolvimento realizados em colaboração por universidade e empresas industriais. O painel foi coordenado por um estudioso da inovação tecnológica, o professor Ruy Quadros (Instituto de Geociências, Departamento de Política Científica e Tecnológica, Unicamp). Quadros abriu a sessão comentando que, nos últimos 15 anos, num processo lento e contínuo, as empresas no Brasil têm ficado mais inovadoras. Porém, disse o professor, os recursos para inovação (inclusive os culturais) nas empresas ainda são incipientes, daí o importante papel da pesquisa pública no processo. Em seguida, o líder de gestão da inovação da Mahle, André Ferrarese, mestre em Engenharia Mecânica pela USP, apresentou a empresa: uma multinacional fornecedora de sistemas do segmento automotivo, que possui 11 centros de tecnologia no mundo (com 1.950 funcionários), dos quais, um se encontra no Brasil, na cidade de Jundiaí (SP). Para lançar uma média de 4 novos produtos por ano, a empresa inicia o processo de inovação com cerca de 130 novas ideias, as quais se transformam em 23 projetos. Ao longo do processo, a Mahle colabora com diversos atores internacionais: institutos de pesquisa, universidades, fornecedores… Ferrarese apresentou, em particular, o caso brasileiro de um consórcio no qual a Mahle participa, dedicado à pesquisa pré-competitiva (fase de geração de conhecimento e desenvolvimento de tecnologia, anterior ao desenvolvimento de produtos). O Tribo-Flex (nome do consórcio que alude a seu tema de estudo, a Tribologia dos motores flex) reúne empresas do ramo automotivo, inclusive concorrentes diretas como Fiat, Renault e Volkswagen, instituições de pesquisa e a Fapesp. O objetivo é gerar e disseminar conhecimento científico sobre temas de interesse das empresas. No contexto do consórcio, foram realizados estudos experimentais e teóricos, testes, cursos, apresentações em eventos científicos, publicação de artigos… As origens do consórcio, contou Ferrarese, remontam ao ano 2009, quando, num contexto de crise internacional, alguns funcionários da Mahle aproveitaram a redução de jornada que lhes foi imposta para frequentarem uma vez por semana a universidade. A convivência entre pessoas da indústria e da academia transformou-se em troca de desafios, depois em propostas e finalmente em projetos que já apresentam resultados significativos na redução do atrito entre componentes dos motores, além de estarem formando mestres e doutores que poderão fazer a ponte entre indústria e academia com eficiência. Veja aqui a apresentação.
A segunda empresa representada no painel foi a Braskem, também multinacional, porém nascida no Brasil em 2002. Maior petroquímica das Américas e líder mundial na produção de biopolímeros, a empresa conta com mais de 300 pessoas trabalhando na área de inovação, orientadas por um conselho internacional de cientistas especialistas em áreas relevantes para a empresa, e já gerou mais de 900 patentes. Vinícius Galhard Grassi, líder de Ciência de Polímeros na empresa, com mestrado em Engenharia de Materiais e doutorado em Química pela UFRGS, defendeu no painel do XV B-MRS Meeting que tanto a universidade quanto a empresa são necessárias para que aconteça a inovação. “Cada um faz sua parte”, disse ele, mostrando num slide a participação de cada ator nos diversos estágios dentro das etapas do processo de inovação (descoberta, pesquisa básica e aplicada, desenvolvimento de produto e produção). Empresas precisam visar ao lucro e não podem, apenas, fomentar a ciência, acrescentou Grassi. Assim, competências e recursos que seria muito oneroso ter internamente, como serviços de caracterização avançada e conhecimento de fronteira, são contratados da universidade, onde já existem. Grassi também apresentou uma série de projetos de inovações da Braskem em diversos estágios de desenvolvimento: plásticos que se autoconsertam, embalagens poliméricas inteligentes e uma nova resina de polipropileno para produção de espumas, que acaba de ser lançada após 10 anos de projeto.
A terceira e última apresentação do painel de discussão foi a do professor Milton Mori, diretor executivo da agência Inova Unicamp. Mori contou um pouco da história e dos resultados da agência, que se dedica a identificar e promover oportunidades de estímulo à inovação e ao empreendedorismo. A agência oferece auxílio a pesquisadores nas parcerias com empresas, apoio no processo de patenteamento de invenções e na sua divulgação e licenciamento, cursos, premiações e competições, e administra o Parque Científico e Tecnológico da Unicamp. Fundada em 2003, a Inova conta com um portfólio de mais de mil patentes (sendo 13% das tecnologias de coautores da Unicamp e de empresas). Mori também destacou as empresas filhas da Unicamp (como outra maneira de transformar conhecimento gerado na universidade em inovação), as quais, atualmente, geram cerca de 22 mil empregos, segundo os cálculos da Inova.
FESTA
Na noite da quarta-feira, cerca de 200 participantes do encontro congregaram num contexto diferente: a festa do evento. O local escolhido foi o Rudá, um bar e casa de dança que costuma ser frequentado por estudantes – tribo que abunda em Campinas e, particularmente, em Barão Geraldo, que sedia várias instituições de ensino superior.
Os participantes do encontro começaram a chegar pouco depois das 21:00 horas, mas a festa começou mesmo só depois da chegada do presidente da SBPMat, pouco antes das 23:00 horas. De fato, o professor Osvaldo Novais de Oliveira Junior mostrou que sua expertise não é apenas em ciência, mas também em festas. Assim que o professor conversou com o DJ, a festa se animou e várias pessoas “caíram no forró”.
A festa foi prestigiada principalmente por estudantes do encontro, mas alguns professores, inclusive palestrantes de plenárias, também marcaram presença.
PALESTRAS PLENÁRIAS
Um dos destaques do evento foram suas sete palestras plenárias, nas quais cientistas que são expoentes internacionais em seus temas de pesquisa discorreram sobre temas que estão na fronteira do conhecimento, abrangendo desde pesquisa básica até produtos que já estão no mercado. Para satisfação de plenaristas e organizadores do evento, todas as plenárias foram assistidas por auditórios cheios, compostos por cerca de 600 pessoas.
A primeira plenária do evento foi proferida na segunda-feira a partir das 8:30 horas pela professora Elvira Fortunato, diretora do Centro de Investigação de Materiais (CENIMAT) da Universidade de Nova Lisboa (Portugal). Entre muitos prêmios importantes, a professora recebeu, neste ano, o prêmio Blaise Pascal Medal for Materials Science a Academia Europeia das Ciências (EURASC). A palestra da pesquisadora portuguesa se centrou em dois materiais para transístores, alternativos ao silício (normalmente usado tanto como semicondutor quanto como isolante), mais amigáveis com o meio ambiente e com algumas vantagens adicionais. Em primeiro lugar, Fortunato referiu-se aos óxidos metálicos, como o IGZO e o ZTO. Além de apresentarem um excelente desempenho como semicondutores, explicou a pesquisadora, esses materiais oferecem alta transparência – muito almejada para uso em displays -, entre outras vantagens. Óxidos metálicos já fazem parte de protótipos de telas que estão no mercado e, ao mesmo tempo, continuam sendo objeto de estudo para diminuir seu custo de fabricação. O segundo material alternativo apresentado pela palestrante foi nada menos do que o papel, com o qual ela desenvolveu o premiado transístor de papel, onde a celulose funciona não apenas como suporte, mas também como isolante. Flexível, leve, reciclável e barato, o Paper-e® abre inúmeras possibilidades de aplicação, desde biossensores fabricados numa impressora comum até embalagens eletrônicas inteligentes que, conectadas à chamada “internet das coisas”, atualizam automaticamente as informações que exibem. Para tornar o processo de fabricação do papel mais verde e mais rápido, o grupo do CENIMAT conta com a ajuda de bactérias. Trabalhando em vinagre durante dois ou três dias, elas produzem uma nanocelulose que pode ter propriedades diferenciadas com relação à celulose vegetal, como a almejada transparência. Veja aqui a apresentação de Elvira Fortunato.
A plenária da tarde da segunda-feira, proferida pelo professor Lei Jiang (do Instituto Técnico de Física e Química da Academia Chinesa de Ciências), versou principalmente sobre estados extremos de molhabilidade, como a superhidrofobicidade, uma área em que o número de publicações cresceu radicalmente na última década. Jiang começou sua fala com uma introdução sobre seu modo de fazer pesquisa, que pode se resumir a aprender da natureza, observando-a e extraindo dela princípios simples (descoberta) para depois imitá-la (invenção) e, finalmente, transferir esse conhecimento à indústria. Com ajuda de microscópios e outros equipamentos relativamente simples, Jiang e seus colaboradores têm analisado a estrutura, em diversas resoluções micro e nanoscópicas, de superfícies de plantas e animais naturais que, em contato com água ou óleo, apresentam propriedades interessantes para o ser humano. Exemplos: os olhos antinévoa dos mosquitos, as folhas de arroz e de lótus que não se molham nem sujam, as asas da borboleta nas quais a água flui apenas em determinadas direções, as teias de aranha e os cactos que coletam e armazenam água com eficiência, as escamas de peixes com comportamento superoleofóbico debaixo da água. Inspirado nessas estruturas, Jiang projeta e desenvolve materiais (polímeros, filmes finos cerâmicos, hidrogéis, cristais fotônicos, entre outros) e dispositivos muito úteis (sistemas para coleta de água, para purificação de água ou para geração de eletricidade, entre muitos outros). Essas descobertas e invenções já renderam à Jiang e equipe uma coleção de patentes e de publicações em periódicos com alto fator de impacto, como Nature, Nature Materials, Angewandte Chemie, Advanced Materials, Accounts of Chemical Research, Small e Journal of the American Chemical Society, entre outros. Além disso, várias das invenções já circulam na sociedade, fora dos laboratórios, como as gravatas e lenços chineses hidro e oleofóbicos, que permanecem sempre limpos; os vidros instalados em prédios públicos de Pequim que se limpam sozinhos graças a sua superfície superhidrofílica; sistemas de separação água-óleo que percorrem os mares do mundo em mais de 700 navios, e até um sistema de impressão inovador, já utilizado para imprimir jornais, baseado em materiais com molhabilidade especial. Nos países em desenvolvimento, a pesquisa, inclusive a básica, deve cumprir um papel no crescimento econômico, disse Jiang na palestra, referenciando um artigo sobre o assunto do físico brasileiro José Goldemberg, publicado na Science em 1998. Durante a palestra, o cientista chinês se referiu ainda a um princípio observado na natureza em diversas obras filosóficas orientais e ocidentais ao longo da história da humanidade (dialética, ying yang, i ching), o dos sistemas binários cujos elementos cooperam entre si. Para que essa interação ocorra, dando lugar a um novo fenômeno, disse Jiang, os elementos devem se encontrar a uma distância determinada, a distância de cooperação, a qual deve ser considerada no design de materiais inteligentes.
Na terça-feira, o programa do evento começou com a palestra plenária sobre modelagem computacional em escalas nano e atômica da professora Susan Sinnot, chefe do departamento de Ciência e Engenharia de Materiais da Penn State University (EUA) e editora-chefe do periódico Computational Materials Science (Elsevier). Ao longo da apresentação, Sinnott relacionou os métodos disponíveis e compartilhou exemplos de seu uso em pesquisas sobre fases MAX, superligas baseadas em níquel, interfaces cobre-óxido de silício e deformação de metais. A palestra mostrou que os métodos computacionais ajudam a explicar o comportamento experimental dos materiais, conseguem fazer predições sobre suas propriedades, auxiliam na descoberta de novos materiais, são fundamentais para projetar materiais “sob medida” para determinadas aplicações e, ainda, indicam os melhores caminhos para fabricá-los. No final da palestra, a professora Sinnott relacionou algumas limitações a superar para aprimorar a ciência computacional de materiais e ampliar seu uso, não apenas no meio acadêmico, como também na indústria. Por exemplo, tornar as barras de erro mais precisas e mais padronizadas, e conseguir uma maior integração de processamento, caracterização e simulação de materiais. Veja aqui a apresentação de Susan Sinnott.
Um cientista brasileiro, professor da UFMG e dono de um dos índices H mais altos do Brasil (75) foi o plenarista da tarde da terça-feira. Ado Jorio falou sobre uma das suas especialidades, a caracterização de nanoestruturas de carbono por técnicas ópticas (principalmente espectroscopia Raman), as quais, simplificou Jorio, consistem em jogar luz na matéria e medir o que acontece nessa interação. Nessas técnicas, a luz seria a sonda que, em contato com a matéria, a investiga. Porém, o comprimento de onda da luz é de, no mínimo, centenas de nanômetros maior do que o objeto de estudo. Essa característica limita a pesquisa… ou apresenta oportunidades para ir além. Ao longo da apresentação, o professor Jorio mostrou uma série de resultados obtidos, a partir do início deste século, no estudo de nanoestruturas de carbono, muitos deles conseguidos mediante o aprimoramento da instrumentação. Depois de compartilhar dicas para poder espionar a minúscula intimidade das estruturas de carbono por meio de técnicas ópticas, Jorio comentou uma interessante ramificação de seu trabalho de pesquisa. Ele tem participado de estudos sobre a “terra preta de índio”, encontrado na Amazônia brasileira, cuja terra é geralmente muito pobre. Esse solo, porém, apresenta altíssima fertilidade, graças à presença de materiais de carbono, que permaneceram estáveis por centenas de anos. Usando técnicas de caracterização do campo da nanociência, Jorio e seus colaboradores encontraram particularidades no tamanho dos grãos desses materiais de carbono. Esses resultados podem ajudar a desenvolver em laboratório uma nova terra preta que pode ser usada não apenas na agricultura, mas também como forma de armazenar carbono sequestrado da atmosfera, onde seu excesso é responsável pelo aquecimento global. Veja aqui a apresentação de Ado Jorio.
Na manhã da quarta-feira, a sala das plenárias recebeu o público com uma bela fotografia de uma aurora boreal no céu de St. Andrews (Escócia) projetada nos telões. A imagem antecipava, de alguma maneira, que o palestrante, Ifor Samuel, era professor da antiquíssima Universidade de St. Andrews (fundada em 1.413) e que a palestra teria bastante a ver com luz, especificamente com o uso que o ser humano faz dela por meio de dispositivos optoeletrônicos. A Optoeletrônica, disse Samuel, é uma área que aproveita a capacidade de alguns materiais de converter elétrons em luz e luz em eletricidade, para criar dispositivos. Na Optoeletrônica Orgânica, a base desses dispositivos são os polímeros conjugados, materiais orgânicos que podem conduzir eletricidade. A descoberta e desenvolvimento desses polímeros, comentou Samuel, foi objeto do Prêmio Nobel de Química do ano 2000. Semicondutores orgânicos apresentam interessantes características comparados com os convencionais. São flexíveis e leves, são fabricados por meio de processos simples e baratos, suas propriedades podem ser ajustadas mudando sua estrutura e, além disso, emitem luz. Com essas características, encontram numerosas aplicações, algumas das quais já estão no mercado. Uma das mais conhecidas é a tela flexível de OLED, mas muitas outras existem ou mais ainda estão por vir. Na plenária, Samuel apresentou algumas novas aplicações desses materiais, desenvolvidas no Centro de Semicondutores Orgânicos da Universidade de St. Andrews, que ele mesmo dirige. Na área de Biologia e Medicina, o professor Samuel mostrou, por exemplo, um pequeno dispositivo emissor de luz, fino, vestível e descartável, que permite o tratamento ambulatorial de câncer de pele por terapia fotodinâmica. O dispositivo já foi testado em pacientes, com excelentes resultados tanto em termos da cura das lesões quanto no conforto do tratamento. No segmento das comunicações, Samuel enumerou uma série de dispositivos para transmissão de dados por LiFi (um tipo de WiFi que utiliza a parte da luz visível do espectro eletromagnético para transmitir informação a alta velocidade). No campo dos sensores, mostrou lasers poliméricos que detectam explosivos com eficiência. Muitos dos desenvolvimentos de Samuel e seus colaboradores geram patentes, as quais são majoritariamente licenciadas a empresas. Veja aqui a apresentação de Ifor Samuel.
O palestrante da quarta-feira à tarde foi Paul Weiss, Distinguished Professor dos departamentos de Química e Bioquímica e de Materiais da UCLA (EUA) e editor-chefe e fundador da revista científica ACS Nano. Durante a palestra, foi possível apreciar as habilidades desenvolvidas por Weiss, seu grupo de pesquisa e colaboradores para fazer pesquisa experimental com moléculas, visando tanto a compreender sua estrutura e função quanto a controlá-las. Paul Weiss, químico por formação, compartilhou com a audiência uma série de experimentos, nos quais moléculas foram isoladas individualmente, deslocadas, colocadas em ambientes controlados, estimuladas com luz, modificadas, medidas e incentivadas a formarem estruturas automontadas com funções específicas. Essas conquistas científicas ocorreram graças ao conhecimento e à expertise desenvolvidos ao longo de anos de trabalho e de centenas ou milhares de medições realizadas em instrumentos aprimorados pelo grupo. Conhecimento e expertise que também estão auxiliando Paul Weiss a levar adiante um projeto de estudo das funções e disfunções do cérebro junto a uma série de colaboradores – inclusive sua esposa Anne Andrews, responsável por convencê-lo a dedicar esforços a uma abordagem nano e química da neurociência.
Assim como em todas as outras, na última palestra plenária do evento ficou claramente exposta a conexão da pesquisa em Materiais com as necessidades da sociedade. Neste caso, o tema da plenária foram as células solares, dispositivos que produzem eletricidade a partir da luz solar, que é uma fonte de energia renovável, limpa, segura e praticamente inesgotável. O palestrante foi Anders Hagfeldt (um dos cientistas mais citados do mundo, com um índice H de 103), professor da EPFL (Suíça). Existem diversas tecnologias em diferentes estágios de desenvolvimento na área de células solares, e elas se diferenciam, principalmente, pelo material responsável por liberar elétrons em resposta à absorção de fótons. Na plenária, Hagfeldt se referiu a duas tecnologias que ainda estão em fase de pesquisa: as células solares de perovskita (PSCs) e as sensibilizadas por corante (DSSCs). O cientista falou um pouco sobre a história do desenvolvimento de ambas as tecnologias. No caso da DSSCs, a primeira célula solar com boa eficiência na conversão de luz em eletricidade foi realizada em 1991 e atingiu a marca de 7,1%. Hoje, 15 anos mais tarde, a tinta usada ainda é a mesma (não se conseguiu substituí-la) e a eficiência alcançou 14,3%. Esse valor é similar ao do ponto de partida, 4 anos atrás, das PSCs, que hoje alcançam 22,1% de eficiência, porém ainda não apresentam estabilidade. Se, por um lado, as DSSCs não podem substituir tecnologias concorrentes devido a sua baixa eficiência, por outro, sugeriu Hagfeldt, elas poderão se apropriar de alguns nichos onde fazem diferença devido a suas cores, baixo custo e fácil fabricação. De fato, essa foi a tecnologia escolhida para compor kits para fabricação caseira de células solares, distribuídos em escolas secundárias da Suécia, país de origem de Hagfeldt. O palestrante mostrou ainda uma série de tentativas, algumas delas, muito bem-sucedidas, de aumentar eficiência e estabilidade das células solares a partir de inovações na fabricação e composição dos materiais, na estrutura do dispositivo e na combinação de diversos materiais. Veja aqui a apresentação de Anders Hagfeldt.
ENCERRAMENTO NA QUINTA-FEIRA AO MEIO-DIA
A sessão de encerramento da décima quinta edição do encontro anual da SBPMat começou no dia 29 por volta do meio-dia com algumas palavras e slides da professora Mônica Cotta. A chairlady destacou as salas cheias de público, a programação em tempo integral, a alta participação e interação do público e o bom número de participantes – apesar de Campinas não ser um lugar turístico, brincou. Depois de agradecer a todos que colaboraram na organização (equipe da SBPMat, estudantes voluntários) e a todos que participaram do evento, ela lembrou que o próximo encontro da SBPMat será em Gramado (RS) e anunciou que o chairman será o professor Daniel Weibel, da UFRGS.
Na sequência, o professor Osvaldo Novais de Oliveira Junior, representando a SBPMat, e o professor Rodrigo Martins, representando a European Materials Research Society (E-MRS) enquanto ex-presidente, firmaram um acordo de cooperação entre ambas as sociedades, destinado a promover a colaboração científica entre pesquisadores do Brasil e da Europa e, em particular, incentivar a participação de membros da SBPMat nos eventos da E-MRS e de membros das E-MRS nos encontros da SBPMat, tanto como participantes quanto como coordenadores de simpósio.
O evento finalizou em clima de celebração, com a entrega dos prêmios para estudantes autores dos melhores trabalhos do evento. A professora Ana Flavia Nogueira entregou treze prêmios Bernhard Gross, outorgados pela SBPMat à melhor contribuição de cada simpósio. Depois, a professora Cátia Ornelas (Unicamp), chair da divisão brasileira (Brazil chapter) da American Chemical Society (ACS), entregou as distinções da ACS aos cinco melhores trabalhos dentre os vencedores do prêmio Bernhard Gross. Esses estudantes ganharam um prêmio em dinheiro, patrocinado pela ACS, além do certificado. Em seguida, a professora Elvira Fortunato, representando a E-MRS, anunciou os vencedores do prêmio oferecido por essa sociedade aos melhores trabalhos do simpósio B (materiais de nanocelulose). Finalmente, os professores Roberto Faria e Rodrigo Martins, representando a IUMRS enquanto segundo vice-presidente e coordenador de comissão, respectivamente, entregaram os prêmios outorgados por essa entidade aos autores dos melhores pôsteres do evento relacionados ao uso sustentável de matérias primas do Brasil. Além de receberem troféu e certificado, os três ganhadores foram premiados com isenção na inscrição do próximo evento da IUMRS, e o primeiro colocado receberá ainda auxílio para financiar a estadia. Veja aqui a lista completa dos ganhadores dos prêmios.
ATÉ GRAMADO NO XVI B-MRS MEETING! (10 A 14 DE SETEMBRO DE 2017)
Há 100 anos, o pioneiro da tecnologia de vidros Willian Ernest Stephens Turner (1881 – 1963) fundou o Department of Glass Technology na Universidade de Sheffield (Reino Unido) e a Society of Glass Technology (SGT). Esse centenário foi comemorado em Sheffield de 4 a 8 de setembro com um evento internacional denominado SGT100.
Um dos destaques da programação do evento foi a Turner Memorial Lecture, instituída há quase 50 anos pela Universidade de Sheffield, que figura entre as 100 “top universities” em alguns rankings e possui 5 prêmios Nobel entre seus ex-alunos e professores. Dentre os palestrantes anteriores da Turner Memorial Lecture, listam-se Sir Harry Kroto, ex-aluno de Sheffield e Prêmio Nobel de química pela descoberta dos fullerenos; Sir Alastair Pilkinton, inventor do processo float, que é utilizado mundialmente, inclusive no Brasil, na fabricação de vidro plano; Larry L. Hench, inventor dos biovidros; John D. Machenzie, fundador do Journal of Non-Crystalline Solids, entre outros. Neste ano, a Turner Memorial Lecture, em sua 19ª edição, foi proferida pela primeira vez por um brasileiro, o professor Edgar Dutra Zanotto (DEMa-UFSCar), que foi um dos fundadores da SBPMat.
Zanotto foi convidado devido a suas inovadoras pesquisas sobre nucleação e cristalização de vidros. Ele ocupa o topo no ranking mundial da base de dados Scopus com as palavras-chave principais de sua linha de pesquisa: “crystal and nucleation and glass” com cerca de 80 artigos científicos indexados na Scopus nesse tema publicados nos últimos 35 anos.
Em sua aula, intitulada “Glass myths and marvels“, Zanotto discorreu durante 60 minutos para uma eclética plateia de aproximadamente 350 participantes, incluindo autoridades da Universidade de Sheffield e também muitos especialistas em vidros de 28 nacionalidades, participantes do SGT100. Nessa palestra ele abordou questões polêmicas, tais como: o que é o vidro, formas criativas de reciclar o vidro, propriedades inusitadas de vidros, se as vidraças das catedrais medievais estão escorrendo, se é possível trincar um vidro no grito, e o que originou a famosa imagem da Virgem Maria numa janela em Ferraz de Vasconcelos (SP). No final houve uma animada sessão de perguntas e respostas que durou mais 30 minutos.
SociedadeBrasileira de Pesquisa em Materiais (SBPMat)
Brazil – Materials Research Society (B-MRS)
NEWSLETTER – SPECIAL ISSUE Getting prepared for the XV B-MRS Meeting!
Meeting overview
International and interdisciplinary, the annual meeting of the B-MRS (SBPMat) is dedicated to the presentation and discussion of scientific and technological advances in the field of materials.
The 15th edition of the meeting will be held in September, 25 to 29, in the city of Campinas (State of São Paulo), at the Expo D. Pedro convention center.
Technical presentations: about 2,000 abstracts have been accepted.
Participants: more than 1,500 registrations, from 20 different countries (up to the moment).
Exhibition: 43 stands.
Technical program: 8 plenary lectures (including memorial lecture) + 20 thematic symposia with oral and poster sessions and invited lectures + 2 workshops + 2 tutorials + 3 discussion panels.
Scope: nanomaterials, biomaterials, surfaces, organic electronic materials, electroceramics, advanced metals, nanocellulose, experimental and computational techniques for materials study, materials performance under extreme conditions. Materials applications in the segments of energy, healthcare, transportation, neurosciences, electronics and photonics, among others. Also, RD&I, startup ventures, scientific writing and publishing, international collaboration, ethical issues.
We are looking forward to see you in Campinas! See message from the conference chairladies, Prof. Ana Flávia Nogueira (Unicamp, Institute of Chemistry) and Prof. Mônica Alonso Cotta (Unicamp, “Gleb Wataghin” Institute of Physics), here.
Useful information
Accommodation and tickets. See the list of the travel agency Follow Up with hotels, hostels, guesthouses, flights and travel information. Here.
Poster printing service. See options to print your poster at the convention center. Here.
Venue.See videoof the city of Campinas and folder about the Expo D. Pedro convention center.
How to get there.See map.Transfer to the venue will be available for Vitória hotels guests.For public transportation to venue, search bus options, or download the app with real-time info about buses.
Food, parking and services. Expo D. Pedro convention center is adjacent to one of the largest shopping centers in Latin America, which has big range of food, services, shopping and leisure options. The convention center holds some cafés that will be open during the event. Parking at the convention center is available at R$ 8 (12 hours).
Program. Short program and full program (symposium by symposium) are available on the website. Here.
Vacation packages. The Follow Up website also suggests tour packages for before and after the event. Here.
Publication of contributions: The papers presented at the XV B-MRS Meeting may be submitted by their authors to peer review for publication in IOP scientific journals. More info.
Registration. Registration for the event is still open. Here.
Special activities: free registration is required
Tutorial “Hands-on tutorial on simulations using Reactive ForceFields: overview and applications”. Sunday (25/09) from 14h00 to 17h00. Free registration in the registration form of the meeting, where activities can be selected. If you have already filled out the meeting registration form, but you have not selected the activity, log in again and modify your registration. Know more about this tutorial.
Tutorial “School of Scientists: Scientific Writing Tutorial”. Sunday (25/09) from 14h00 to 17h00.Free registration in the registration form of the meeting, where activities can be selected. If you have already filled out the meeting registration form, but you have not selected the activity, log in again and modify your registration. Know more about this tutorial.
Discussion panel “Science Lunch: Research in Germany”. Monday (26/09) from 12h00 to 14h00. This session will bring together scientists and funding agencies from Germany to discuss research opportunities in that country. Limited availability. An informal lunch will be offered to participants. Learn more and complete your registration free of charge. Here.
Discussion panel “Meet the Editors”. Tuesday (27/09) from 12h00 to 14h00. This round table will host Ifor Samuel (editor-in-chief of Synthetic Metals), Paul Weiss (editor-in-chief of ACS Nano), Susan Sinnott (editor-in-chief of Computational Materials Science), and Tim Smith (IOP Publishing director) who will discuss scientific publication. Limited availability. Lunch boxes sponsored by IOP will be offered to participants. Free registration in the registration form of the meeting, where activities can be selected. If you have already filled out the meeting registration form, but you have not selected the activity, log in again and modify your registration.
Discussion panel “Materials Research and Innovation”. Wednesday (28/09) from 12h00 to 14h00. This panel will bring together representatives of companies Mahle and Braskem and innovation agency Inova-Unicamp, who will present cases of university-industry collaboration for R&D in Brazil and discuss the role of materials research in innovation. Limited availability. Lunch boxes sponsored by IOP will be offered to participants. Free registration in the registration form of the meeting, where activities can be selected. If you have already filled out the meeting registration form, but you have not selected the activity, log in again and modify your registration.
Social Program Highlights
During the Opening Ceremony, starting onSunday (25/09) at 19h00, B-MRS will homage Prof. José Arana Varela, past president of the society and one its founders. Prof. Varela passed away on May, this year.
After the Opening Ceremony, by 19h30, B-MRS will bestowed the Memorial Lecture “Joaquim da Costa Ribeiro” on Prof. Aldo Craievich. This recognition is annually granted to researchers with outstanding work in materials science and technology, and it pays homage to Prof. Joaquim da Costa Ribeiro, a pioneer in experimental research in materials in Brazil. Prof. Aldo Craievich will deliver a lecture about advanced characterization of materials.
After the Memorial Lecture, by 20h30, don´t miss the Welcome Cocktail that will feature a very special and sustainable percussion performance.
The Students Awards Ceremony will be held during the Closing Session, on Thursday (29/09) from 12h00 to 14h00. B-MRS will bestow the tradicional “Bernhard Gross Award”, which highlights the best works in each symposium, and honors Bernhard Gross, a pioneer of materials science in Brazil. The American Chemical Society (ACS) and the European Materials Research Society (E-MRS ) will also confer awards. The winners have to be present at the Closing Ceremony in order to receive the prizes.
Plenary Lectures
Paper and metal oxides are some of the materials that Professor Elvira Fortunato (New University of Lisbon, Portugal) uses to develop electronic devices, which, besides producing low environmental impact, promise to make our many everyday objects become electronic, revolutionizing our lives. Learn more about these innovations and the trajectory of its inventor, who will deliver a plenary lecture on green electronics, on Monday (26/09) at 8h30. See interview.
Plants and animals are important sources of knowledge and inspiration for Professor Lei Jiang and his group. In their laboratories at the Technical Institute of Physics and Chemistry in Beijing (China), they develop smart materials, e.g., interfaces that switch between superhydrophilicity and superhydrophobicity. The findings of professor Lei Jiang, in addition to generating publications that received tens of thousands of citations, yielded products which are already widely used. Learn more about this scientist, his way of doing science, his discoveries and his scientific and also philosophical concept of binary cooperative complementary materials, which he will discuss in a plenary lecture on Monday (26/09) at 16h45. See interview.
Imagine yourself inserting in a computer the material properties you desire for a specific application and obtaining the project of the most appropriate material. This is a promise of computational materials science, an issue whose recent advances will be discussed by Professor Susan Sinnott on Tuesday (27/09) at 8h30. Sinnott heads the Department of Materials Science and Engineering at Pennsylvania State University (USA). She is editor-in-chief of the journal Computational Materials Science. Her scientific production includes important contributions to the development of simulation tools for heterogeneous material systems at the atomic scale. See interview.
On Tuesday (27/09) at 16h45, physicist Ado Jorio de Vasconcelos (Professor at the Brazilian Federal University of Minas Gerais, UFMG) will deliver a plenary lecture on the use of Raman spectroscopy for the study of carbon nanostructures. Jorio is an expert in the application of optics in nanostructure studies. In 2001, he became the first researcher to use an optical technique to study carbon nanotubes individually. He holds an H index of 74, one of the highest in Brazil, and is the author of approximately 200 publications with over 30,000 citations. See interview.
Organic semiconductors do not mystify Professor Ifor Samuel, leader and founder of a research group and a R&D center on this subject at the University of St Andrews (Scotland). In his daily routine, Prof. Samuel not only strives to thoroughly understand these materials, but also to find new applications for them in different fields, from dermatologic medicine to the detection of explosives. In addition to hundreds of articles, he has several patents which have been licensed to companies. On Wednesday (28/09) at 8h30, he will deliver a plenary lecture on optoelectronics based on organic semiconductors. See interview.
By exploring the limits of miniaturization, the nanoscientist Paul Weiss (UCLA , USA) and his team developed innovative instruments and techniques, as well as the ability to manipulate molecules. In this way, they have already set up and operated the smallest motors and switches in the world. On Wednesday (28/09) at 16h45, Professor Weiss, who is founder and editor-in-chief of ACS Nano, will talk about function at the nanoscale. Learn more about some of the major contributions of Paul Weiss to nanoscience and about the secrets of the impact of the journal he leads. See interview.
60 years ago, solar cells were only found in artificial satellites. Today, they are part of the energy matrix of many countries and, in the near future, maybe they will provide electricity to consumer electronics, among other applications. On Thursday (29/09) at 10h45, Professor Anders Hagfeldt (EPFL , Switzerland) will discuss recent scientific advances in two technologies, very promising for solar cells: those based on perovskite and dyes. Know more about solar cells and about Prof. Hagfeldt, who appears in several rankings due to his 47,000 citations and H index of 103. See interview.
Cientistas alertam sobre a necessidade de valorizar investimentos em ciência, tecnologia e inovação para a retomada do crescimento econômico
A diretoria e o conselho da Sociedade Brasileira de Pesquisa em Materiais (SBPMat) vêm a público exortar o Congresso Nacional a manter, no orçamento de 2017, os investimentos em Ciência, Tecnologia e Inovação (CTI) nos níveis dos últimos anos, antes dos cortes drásticos que ocorreram nos anos de 2015 e 2016. Temos ciência do esforço conjunto da sociedade para o ajuste das contas públicas, mas é inadmissível que os cortes em CTI sejam tão mais vultosos do que têm sido a queda de arrecadação e a queda no produto interno bruto.
São igualmente preocupantes os cortes em educação superior e no Sistema Nacional de Pós-Graduação, evidenciados pela interrupção ou diminuição de programas da CAPES. São estes programas que garantem um processo continuado de formação qualificada, alavancando a necessária massa crítica de capital humano para que o desenvolvimento científico e tecnológico alcançado possa, efetivamente, impactar na inovação industrial, aumentar o valor agregado da produção nacional, e garantir o bem-estar econômico e social das gerações futuras.
Num país como o Brasil, que ainda não alcançou maturidade em ciência e tecnologia para colocá-lo entre as nações desenvolvidas, a contribuição da CTI por vezes passa despercebida. Pode-se não atentar para os imensos ganhos de produção em áreas como agricultura e pecuária, na extração e beneficiamento mineral, os quais garantem superávits em nossa balança comercial. Também pode-se não notar a excelência da medicina e da tecnologia digital, que beneficiam diretamente no dia-a-dia da população.
Nossa área específica, a de pesquisa e novas soluções em materiais, é essencial para o futuro do Brasil como nação soberana e menos susceptível a interesse de outros países. Somos os maiores produtores de quartzo e de nióbio no mundo, e estamos entre os maiores em terras raras e outros minérios estratégicos de imenso valor comercial. Nossa biodiversidade oferece um número incontável de novos materiais orgânicos, que poderão ser aplicados em saúde e em segmentos industriais como os de energia e eletrônica.
Sabemos que os efeitos dos cortes em CTI serão devastadores. Além de frearem o avanço contínuo das últimas décadas, com risco de sucateamento de laboratórios e desperdício do valor já investido, os cortes efetuados inviabilizam a tecnologia nacional e a formação de recursos humanos vitais para promover o desenvolvimento sustentável.
Enganam-se aqueles que avaliam que cortes em CTI e educação de nível superior têm pouco impacto para a vida do cidadão comum. No curto prazo, tais cortes afetam mais visivelmente as comunidades acadêmicas estruturadas nos grandes centros do Brasil. Porém, são os estratos socioeconômicos menos favorecidos que serão os mais afetados no médio e longo prazos. Esses estratos não têm acesso ao material importado, ao tratamento médico e formação no exterior, dos quais somente as elites podem se valer. São estes os que mais padecerão, se o Brasil continuar com uma política de governo tênue e não regular, que pode tornar inviável o sistema de ciência, tecnologia e inovação, construído arduamente nas últimas décadas.
XV Encontro da SBPMat/ XV Brazil-MRS Meeting - Campinas (SP) 25-29/09/2016
Resumos aceitos: 1.909.
Inscrições. Estão abertas as inscrições para participar do evento. Encerra hoje o período para inscrições com desconto. Aqui.
Prêmios. Graduandos e pós-graduandos que tiveram trabalhos aprovados nos simpósios do evento ainda podem submeter resumos estendidos para concorrerem aos prêmios para estudantes. O prazo foi prorrogado até 06/09. Apenas um arquivo pode ser submetido e, após submissão, edições no resumo estendido não são permitidas. Além do Bernhard Gross Award, haverá neste ano um prêmio da ACS (American Chemical Society). Os prêmios só serão outorgados aos vencedores se eles estiverem na cerimônia de encerramento (29/09, das 11h45 às 14h00). Saiba mais nas instruções para autores.
Programa. Está disponível no site nas versões resumida e completa (simpósio por simpósio). Aqui.
Sessões especiais – Science Lunch “Research in Germany”, 26/09, das 12h00 às 14h00. Reunirá cientistas e agências de fomento da Alemanha para falar com o público sobre oportunidades de pesquisa desse país. Vagas limitadas. Saiba mais e faça sua inscrição gratuita.
Sessões especiais – Meet the Editors, 27/09, das 12h00 às 14h00. A mesa redonda “Meet the editors” reunirá Paul Weiss (editor-chefe da ACS Nano), Susan Sinnott (editora-chefe da Computational Materials Science), Ifor Samuel (editor-chefe da Synthetic Metals) e Tim Smith (diretor na IOP Publishing) para falar com o público sobre publicação científica. Vagas limitadas. Inscrições gratuitas no ato da inscrição ao encontro. Aqueles que já efetuaram a inscrição ao evento e desejam participar desta atividade devem clicar em “alterar atividades” e selecioná-la.
Sessões especiais – Materials Research and Innovation, 28/09, das 12h00 às 14h00. Este painel reunirá representantes da Mahle, Braskem e Inova-Unicamp, que apresentarão casos de colaboração universidade – empresa para P&D no Brasil e discutirão o papel da pesquisa em materiais na inovação. Vagas limitadas. Inscrições gratuitas no ato da inscrição ao encontro. Aqueles que já efetuaram a inscrição ao evento e desejam participar desta atividade devem clicar em “alterar atividades” e selecioná-la.
Tutoriais: Dois tutoriais serão oferecidos no dia 25/09 das 14h00 às 17h00 aos inscritos no evento, sem custo adicional. Um deles é sobre simulações computacionais de sistemas de átomos usando Reactive Force Fields (teoria e prática). O segundo, organizado pelo prof. Valtencir Zucolotto, abordará capacidades necessárias para fazer ciência de alto impacto, inclusive escrita científica. Reserve sua vaga no momento da inscrição. Se você já efetuou a inscrição ao evento e deseja participar de um dos tutoriais, clique em “alterar atividades” e selecione o tutorial.
Publicação de contribuições apresentadas: Os trabalhos apresentados no XV Encontro da SBPMat poderão ser submetidos por seus autores a avaliação por pares para publicação em periódicos científicos do IOP. Saiba mais.
Plenárias: Veja os resumos das palestras plenárias e palestra memorial do nosso evento e os CVs dos cientistas que vão proferi-las. Aqui.
Expositores: Haverá 43 estandes de empresas e instituições.
Hospedagem e passagens: Lista da agência de turismo Follow Up com hotéis, albergues, pousadas e formulário para reserva de vôos. Aqui.
Pacotes turísticos: O site da Follow Up também sugere opções de pacotes turísticos para antes e depois do evento. Aqui.
Local do evento: Veja vídeo sobre a cidade de Campinas e folder sobre o centro de convenções Expo D. Pedro.
Organizadores: Coordenam esta edição do evento as professoras da Unicamp Ana Flávia Nogueira (Instituto de Química) e Mônica Alonso Cotta (Instituto de Física “Gleb Wataghin”). Saiba quem são os membros da comissão local e veja fotos dos organizadores, aqui.
Notícias da SBPMat
A SBPMat tem a satisfação de anunciar que o XVI Encontro da SBPMat/ XVI Brazil-MRS Meeting será realizado em Gramado (RS) de 24 a 28 10 a 14 de setembro de 2017.
Artigo em destaque
Um estudo desenvolvido no Brasil por meio de simulações computacionais mostrou que um defeito na rede de átomos de nanofitas de bismuto (bidimensionais) gera estados condutores em regiões das nanofitas que deveriam ser isolantes. O trabalho faz uma importante contribuição ao estudo de uma família de materiais recentemente descoberta, a dos isolantes topológicos, e foi publicado na revista científica Nano Letters. Veja nossa matéria de divulgação.
Gente da nossa comunidade
O professor Victor Carlos Pandolfelli (DEMa-UFSCar) foi escolhido e assumiu como um dos editores-chefes do periódico científico Ceramics International (Elsevier). Saiba mais.
Entrevistas com palestrantes do XV Brazil-MRS Meeting/Encontro da SBPMat
Inserir num computador as propriedades necessárias para determinada aplicação e obter o projeto do material mais adequado a ela é uma das tentadoras promessas da Ciência Computacional de Materiais. Esse campo de pesquisa terá seu lugar nas palestras plenárias do XV Brazil-MRS Meeting/Encontro da SBPMat, principalmente na palestra de Susan Sinnott, professora e diretora do Departamento de Ciência e Engenharia de Materiais da Pennsylvania State University (EUA) e editora-chefe do periódico Computational Materials Science. Dentro da produção científica de Sinnott, que conta com mais de 10 mil citações, há importantes contribuições ao desenvolvimento de ferramentas de simulação, em escala atómica, de sistemas de materiais heterogêneos. Veja nossa entrevista com Susan Sinnott
Pesquisa com participação brasileira avança na compreensão do ruído magnético, que gera imperfeições em aplicações dos materiais magnéticos (divulgação de paper do periódico Physical Review Letters). Aqui.
Oportunidades
Oportunidades para pesquisadores no Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS). Aqui.
Concurso para professor da UFPA: Materiais, Processos e Bioprocessos. Aqui.
Concurso para professor no Programa de Engenharia de Nanotecnologia da COPPE. Aqui.
Concurso para professor do DEMa-UFSCar em materiais cerâmicos. Aqui.
Pós-doutorado no programa de pós-graduação em Física da UFSC. Aqui.
Pós-doutorado em Bioeletroquímica no IQSC – USP. Aqui.
Próximos eventos da área
XV Encontro da SBPMat. Campinas, SP (Brasil). 25 a 29 de setembro de 2016. Site.
Aerospace Technology 2016. Estocolomo (Suécia). 11 a 12 de outubro de 2016. Site.
AutoOrg 2016. 5 th Meeting on self-assembly structures in solutions and at interfaces. Florianópolis, SC (Brasil). 2 a 4 de novembro de 2016. Site.
I Simpósio Nacional de Nanobiotecnologia; II Workshop de Nanobiotecnologia da UFMG – Avanços & Aplicações. Belo Horizonte, MG (Brasil). 1 a 2 de dezembro de 2016. Site.
Você pode divulgar novidades, oportunidades, eventos ou dicas de leitura da área de Materiais, e sugerir papers, pessoas e temas para as seções do boletim. Escreva para comunicacao@sbpmat.org.br.