Cientistas alertam sobre a necessidade de valorizar investimentos em ciência, tecnologia e inovação para a retomada do crescimento econômico
A diretoria e o conselho da Sociedade Brasileira de Pesquisa em Materiais (SBPMat) vêm a público exortar o Congresso Nacional a manter, no orçamento de 2017, os investimentos em Ciência, Tecnologia e Inovação (CTI) nos níveis dos últimos anos, antes dos cortes drásticos que ocorreram nos anos de 2015 e 2016. Temos ciência do esforço conjunto da sociedade para o ajuste das contas públicas, mas é inadmissível que os cortes em CTI sejam tão mais vultosos do que têm sido a queda de arrecadação e a queda no produto interno bruto.
São igualmente preocupantes os cortes em educação superior e no Sistema Nacional de Pós-Graduação, evidenciados pela interrupção ou diminuição de programas da CAPES. São estes programas que garantem um processo continuado de formação qualificada, alavancando a necessária massa crítica de capital humano para que o desenvolvimento científico e tecnológico alcançado possa, efetivamente, impactar na inovação industrial, aumentar o valor agregado da produção nacional, e garantir o bem-estar econômico e social das gerações futuras.
Num país como o Brasil, que ainda não alcançou maturidade em ciência e tecnologia para colocá-lo entre as nações desenvolvidas, a contribuição da CTI por vezes passa despercebida. Pode-se não atentar para os imensos ganhos de produção em áreas como agricultura e pecuária, na extração e beneficiamento mineral, os quais garantem superávits em nossa balança comercial. Também pode-se não notar a excelência da medicina e da tecnologia digital, que beneficiam diretamente no dia-a-dia da população.
Nossa área específica, a de pesquisa e novas soluções em materiais, é essencial para o futuro do Brasil como nação soberana e menos susceptível a interesse de outros países. Somos os maiores produtores de quartzo e de nióbio no mundo, e estamos entre os maiores em terras raras e outros minérios estratégicos de imenso valor comercial. Nossa biodiversidade oferece um número incontável de novos materiais orgânicos, que poderão ser aplicados em saúde e em segmentos industriais como os de energia e eletrônica.
Sabemos que os efeitos dos cortes em CTI serão devastadores. Além de frearem o avanço contínuo das últimas décadas, com risco de sucateamento de laboratórios e desperdício do valor já investido, os cortes efetuados inviabilizam a tecnologia nacional e a formação de recursos humanos vitais para promover o desenvolvimento sustentável.
Enganam-se aqueles que avaliam que cortes em CTI e educação de nível superior têm pouco impacto para a vida do cidadão comum. No curto prazo, tais cortes afetam mais visivelmente as comunidades acadêmicas estruturadas nos grandes centros do Brasil. Porém, são os estratos socioeconômicos menos favorecidos que serão os mais afetados no médio e longo prazos. Esses estratos não têm acesso ao material importado, ao tratamento médico e formação no exterior, dos quais somente as elites podem se valer. São estes os que mais padecerão, se o Brasil continuar com uma política de governo tênue e não regular, que pode tornar inviável o sistema de ciência, tecnologia e inovação, construído arduamente nas últimas décadas.