Da ideia à inovação: Kevlar, a força de uma descoberta científica.

Tecido de poliaramida.
Tecido de poliaramida.

O que têm em comum os coletes à prova de balas que protegem policiais e militares ao redor do mudo, as cordas que seguraram a nave Pathfinder na sua descida à superfície de Marte, e as luvas usadas por operários da indústria metalmecânica?

A resposta é Kevlar®, uma fibra sintética polimérica de alta durabilidade que combina alta resistência e baixo peso (é cinco vezes mais resistente do que o aço por módulo de peso). A fibra pode ser usada como matéria prima de cordas e tecidos flexíveis e confortáveis, ou adicionada a outros materiais para reforçá-los. O Kevlar® gera produtos capazes de resistir às mais diversas agressões, desde estilhaços e facadas até tiros de arma de fogo. Também resistente a condições extremas de temperatura e pressão, a fibra já esteve no deserto, na montanha, na Antártida, no fundo do mar e no espaço.

A história desse material começa, é claro, com uma descoberta científica, realizada em 1965 em um dos laboratórios da empresa DuPont por Stephanie Louise Kwolek, bacharel em química, sem doutorado e única representante do sexo feminino no laboratório. A competência e a paixão de Stephanie encontraram nesse lugar e nesse momento um ambiente propício para se expressarem, e renderam bons resultados, não apenas para a empresa, mas também para a humanidade como um todo.

Dos passeios no bosque aos laboratórios da DuPont

Stephanie Louise Kwolek.
Stephanie Louise Kwolek.

Stephanie Kwolek nasceu em 31 de julho de 1923 nos Estados Unidos, filha de um casal de imigrantes poloneses. Junto aos pais e ao irmão, mais novo, ela viveu sua infância em New Kensington, uma pequena cidade a 30 km de Pittsburg, na Pensilvânia, num entorno de bosques que costumava percorrer junto ao pai enquanto tentavam descobrir animais e identificar espécies vegetais, cujas folhas colavam e classificavam num caderno. Falecido quando a menina tinha apenas 10 anos, o pai foi o principal responsável por desenvolver nela uma forte curiosidade e gosto pela experimentação. Já com a mãe, que até a morte do pai passava muito tempo dentro de casa frente à máquina de costurar (depois começou a trabalhar na indústria para sustentar a família), Stephanie desenvolveu a criatividade e o gosto pela moda. A menina adorava fazer roupas de papel para suas bonecas, também de papel.

Depois de fantasiar com uma carreira como designer de moda, Stephanie Kwolek descobriu que queria ser médica. Entretanto, como o curso de Medicina era muito caro, ela foi estudar Ciências na Carnegie Mellon University, em Pittsburg. Mais precisamente, ela frequentou o Margaret Morrison Carnegie College, que era a faculdade destinada às mulheres dentro dessa universidade. Nos anos universitários, além de ter um ótimo desempenho acadêmico, Stephanie reuniu experiência de laboratório, fazendo trabalhos para a universidade e para empresas durantes suas férias de verão.

Formada em 1946, aos 23 anos, com um “major” em Química e um “minor” em Biologia, Stephanie foi em seguida procurar um emprego na área, pensando em trabalhar por alguns anos até reunir o dinheiro para começar o curso de Medicina. Rapidamente, Stephanie foi contratada pela empresa DuPont – já famosa naquela época pela invenção do nylon, primeira fibra sintética da história, entre outros produtos. Assim, a jovem se mudou para Buffalo, no estado de Nova Iorque, para trabalhar como química no Departamento de Raiom, que mais tarde se transformaria no Laboratório de Pesquisa Pioneira em Fibras Têxteis, onde lidou com síntese de novas poliamidas e poliésteres.

Em 1950, o laboratório foi transferido para o principal “canteiro de invenções” da empresa, a chamada Estação Experimental, localizada em Wilmington, no estado de Delaware, aonde Stephanie se mudou para contribuir com a equipe que tentaria desenvolver novos métodos de produção de polímeros, realizados a baixas temperaturas, para criar fibras com a maior resistência possível.

Paixão pelo laboratório

Nesse momento, Stephanie já tinha trocado o sonho de ser médica pela paixão de ser cientista. Fascinava-a o fato de ter cada dia um novo desafio e aprender todo dia algo novo. Além disso, o ambiente de trabalho naquele laboratório da DuPont era muito positivo para ela.

Para começar, o emprego era estável e havia uma certa liberdade para escolher os temas de pesquisa, dentro de uma lista que o diretor elaborava com base nos objetivos da empresa. (Stephanie sempre gostava de participar de dois projetos de forma simultânea, de preferência um mais fundamental e outro mais aplicado). Para desenvolver suas pesquisas, Stephanie podia trabalhar de forma independente, seguindo seus próprios planos, e sem a pressão de gerar resultados econômicos imediatos. Precisava, apenas, ter bom senso para saber quando parar determinado projeto que não daria frutos econômicos no médio prazo. Essa possibilidade de pesquisa independente e não orientada era importante não apenas para satisfazer a natureza criativa e curiosa da pesquisadora, mas também porque ela estava trabalhando em linhas de pesquisa bastante novas, ainda carentes de pesquisa fundamental, a qual precisava ser feita dentro dos laboratórios da empresa.

Além disso, havia ótimos equipamentos e muitas oportunidades para troca de ideias com os colegas. Finalmente, Stephanie podia publicar seus resultados em artigos ou livros, depois de os textos passarem pela revisão de profissionais de vários setores da empresa, que verificavam se a publicação daqueles dados poderia prejudicar os negócios. Para Stephanie, a escrita de artigos era um momento importante de seu trabalho, no qual as ideias ficavam mais organizadas e os resultados eram submetidos a exames minuciosos.

quote 2Na visão dela, o conjunto de boas condições de trabalho gerava um meio propício para descobertas científicas capazes de gerar inovações radicais (novos materiais ou moléculas e novos processos de síntese) capazes de posicionar a empresa na vanguarda do mercado. Tal como aconteceu com o Kevlar®.

A descoberta que gerou o Kevlar®

Na década de 1960, o Laboratório de Pesquisa Pioneira em Fibras Têxteis se envolveu na busca por uma fibra que fosse muito resistente, porém também muito leve. Um dos objetivos da DuPont era oferecer ao mercado um material que substituísse o aço como aditivo da borracha na fabricação de pneus, de modo a tornar os pneus mais leves e assim diminuir o uso de combustível, já que se esperava um período de escassez de petróleo nos anos seguintes.

Depois de experimentar com dezenas de polímeros diferentes, o laboratório decidiu começar a trabalhar com o grupo das poliaramidas, ou poliamidas aromáticas, as quais eram promissoras quanto às propriedades, mas também eram famosas entre os pesquisadores pela dificuldade de se lidar com elas no laboratório. Principalmente, as poliaramidas eram difíceis de se dissolver, devido à rigidez de suas moléculas em forma de bastão, diferente da flexibilidade de muitas outras moléculas de polímeros.

Persistente, além de competente, Stephanie Kwolek foi escalada para participar do desafio. Ou, melhor, dos desafios, no plural, que surgiam diariamente em cada uma das etapas envolvidas: a escolha e síntese dos compostos que reagiriam para formar o polímero (os quais, na época, não existiam prontos para venda), o método de polimerização e, não menos importante, a dissolução do polímero obtido. De fato, para formar a fibra polimérica desejada pela DuPont, era necessário fiar o polímero. Para isso, o laboratório dispunha de um equipamento muito simples, chamado spinneret, no qual uma solução polimérica é forçada a passar através de pequenos orifícios. Na etapa posterior, tira-se o solvente e se obtém as fibras.

Nessa etapa do desenvolvimento encontrava-se Stephanie, fazendo testes com diferentes compostos para dissolver as difíceis poliaramidas, quando olhou para sua recém-preparada solução polimérica e notou, a olho nu, que ela era essencialmente diferente de todas as outras que já tinha visto. A nova solução era opaca e fluída, e não transparente e viscosa como se esperava. Além disso, quando mexida, ficava opalescente (com reflexos nas cores do arco-íris).

Em vez de jogá-la no ralo da pia, ela se entusiasmou e a levou até o spinneret para fazer o teste da fiação. Achando que o aspecto leitoso se devia à presença de partículas em suspensão que poderiam entupir os buracos do spinneret, o técnico do equipamento negou-se a fazer o teste. A fiação foi feita alguns dias mais tarde, depois de Stephanie provar cientificamente que não havia partículas na solução. E o resultado foi maravilhoso. As fibras de poliaramida obtidas com a receita desenvolvida por Stephanie eram muito mais resistentes do que o nylon, e também mais resistentes do que o aço, porém muito mais leves. Assim que confirmou os resultados da caracterização do novo material, a cientista apresentou sua descoberta a seus superiores, que aderiram a seu entusiasmo.

Mas qual é a explicação para a super resistência das fibras de poliaramida? É a seguinte. Stephanie Kwolek conseguiu domar uma poliaramida e com ela preparar uma solução polimérica de macromoléculas rígidas. Durante o processo de fiação, essas moléculas permaneceram totalmente esticadas e se alinharam de forma ordenada. O resultado foi uma fibra com uma estrutura muito organizada, da qual surgem as propriedades excepcionais.

quote 1A solução que ela tinha colocado no spinneret, descobriria mais tarde a cientista, podia ser classificada como uma solução cristalina líquida. A partir dessa descoberta, várias novas fibras de alto desempenho foram criadas com base em soluções cristalinas líquidas, principalmente o Kevlar®.

Desenvolvimento do produto e do mercado

O desenvolvimento do produto Kevlar®, iniciado imediatamente depois da descoberta de Stephanie em 1965, levou vários anos dentro da DuPont, e envolveu uma equipe interdisciplinar sem a participação direta de Stephanie, que permaneceu no laboratório em busca de novas descobertas. O processo incluiu o desenvolvimento da fórmula química final e ajustes no equipamento de fiação. A adaptação à escala industrial levou em conta questões de ordem econômica, prática e ecológica. Além disso, a partir de 1972, um plano de marketing para o Kevlar® foi desenhado e colocado em prática, baseado em parcerias com potenciais clientes para customizar o produto conforme a aplicação desejada, gerando toda uma família de fibras.

Dessa maneira, foi em 1982 que o produto foi de fato comercializado, dezessete anos e centenas de milhões de dólares depois da descoberta científica inicial. A partir de então, a família Kevlar® tem conquistado dezenas de mercados por meio de centenas de produtos, como botas de bombeiros, revestimentos de carros blindados, raquetes e componentes de barcos, aviões e automóveis, por citar apenas alguns exemplos além dos mencionados no início desta matéria

Quanto à Stephanie Kwolek, ela continuou trabalhando na DuPont até sua aposentadoria, em 1986. Ganhou vários prêmios e distinções pelo seu trabalho com as soluções cristalinas líquidas. Virou um ícone feminino da descoberta científica e “a cara” do Kevlar®. Dedicou-se a incentivar meninas a trabalharem em pesquisa, além de prestar assessoria à DuPont depois de sair da empresa. Faleceu aos 90 anos de idade, em junho de 2014, em Wilmington.


Algumas referências:

  • Stephanie L. Kwolek, interview by Raymond C. Ferguson in Sharpley, Delaware, 4 May 1986 (Philadelphia: Chemical Heritage Foundation, Oral History Transcript # 0028). Disponível aqui.
  • Stephanie L. Kwolek, interview by Bernadette Bensaude-Vincent at Wilmington Delaware, 21 March 1998 (Philadelphia: Chemical Heritage Foundation, Oral History Transcript #0168).
  • Women in Chemistry: Stephanie Kwolek. Canal no YouTube do Science History Institute. Disponível aqui.
  • The Kevlar Story – an Advanced Materials Case Study. David Tanner, James A. Fitzgerald, and Brian R. Phillips. Angew. Chem. Int. Ed. Engl. Adv. Mater. 28 (1989) No. 5.
  • Kevlar Technical Guide. Disponível aqui.

Da ideia ao mercado: Nanotecnologia para o bem-estar.

Nanomed-_logo

Uma combinação de espírito empreendedor, nascido na infância, e formação científica, desenvolvida na etapa universitária, levou Amanda Luizetto dos Santos a criar a Nanomed dois anos depois de concluir seu doutorado. “A fundação da Nanomed foi algo natural, sempre quis empreender, apenas precisei de um tempo para amadurecer o conceito como imaginava”, comenta.

Quando era uma criança, Amanda costumava montar uma banca na rua para vender seus desenhos. “Desde pequena o empreendedorismo roubou meu coração”, diz ela. O tempo passou e as brincadeiras foram se tornando um objetivo de vida. No final da graduação em Farmácia, cursada na PUC-Campinas, ela participou de uma iniciativa do Sebrae para formar jovens empreendedores, na qual abriu, manteve e encerrou (com saldo positivo, esclarece) uma empresa de velas de decoração. “Essa experiência foi muito enriquecedora e, de fato, reavivou meu interesse pelo mundo do empreendedorismo”, relembra.

Da graduação, Amanda pulou direto para o doutorado em Química Analítica, realizado no Instituto de Química de São Carlos (USP), no qual lidou com pesquisa em óleos essenciais. O doutorado incluiu um estágio científico nos Estados Unidos, na Cleveland State University. Depois, trabalhando junto à indústria de cosméticos, Amanda notou a demanda desse mercado por inovação e conseguiu conceber uma primeira versão da empresa. “Encontrei o que buscava desde pequena”, ela diz.

Localizada em São Carlos (SP), a Nanomed se dedica a desenvolver e comercializar nanossistemas sempre inovadores, pensados para resolver desafios específicos de segmentos da indústria como o cosmético e o de saúde e bem-estar. Um exemplo de tecnologia da Nanomed é o das nanocápsulas que protegem substâncias de interesse (moléculas hidratantes para a pele, aromatizantes usados em remédios, repelentes de insetos), as transportam em doses mínimas e as entregam no local desejado. As nanocápsulas e demais nanopartículas da Nanomed, reforça Amanda, passam por avaliações científicas para conferir se apresentam toxicidade com relação a tecidos vivos e ao meio ambiente.

Além de desenvolver nanossistemas para outras empresas, a startup está construindo seu portfólio de produtos. Os primeiros produtos próprios, duas linhas de cosméticos baseados em nanotecnologia, entrarão no mercado (via e-commerce) em breve. E, entre final deste ano e início do próximo, será a vez do lançamento de produtos dos segmentos de alimentos e saneantes.

A Nanomed foi formalmente criada em 2012 após a aprovação de um projeto no programa PIPE da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). O PIPE apoia a pesquisa científica e tecnológica em pequenas empresas do estado de São Paulo. Pouco depois da criação, a Nanomed incubou-se no Parque Tecnológico de São Carlos (ParqTec), onde permaneceu até sua graduação, em 2017.

Desde o início, a startup tem se dedicado à pesquisa e desenvolvimento (P&D) de suas tecnologias e produtos e, simultaneamente, tem aproveitado a sua capacidade de realizar análises e ensaios para prestar serviços, principalmente a empresas dos ramos cosmético e farmacêutico. Graças à prestação de serviços, a Nanomed hoje é autossustentável, conta Amanda, que atua como CEO da empresa. “Contudo, o lucro ainda vem sendo reinvestido”, diz ela.

Para suas atividades de P&D e prestação de serviços, a Nanomed conta com equipamentos na sede da empresa, alguns deles adquiridos em projetos apoiados pela Fapesp e pelas agências federais Finep e CNPq. Além disso, a startup contrata ensaios específicos em laboratórios de universidades e outros parceiros.

Atualmente, atuam na Nanomed quinze pessoas – sócios, colaboradores, bolsistas e consultores. A maior parte da equipe é composta por mestres e doutores, formados em Farmácia, Química, Engenharia e Física, que trabalham no desenvolvimento de produtos e na prestação de serviços. A startup também conta com profissionais que atuam nas áreas jurídica e administrativa.

Sócia fundadora da Nanomed: Amanda Luizetto dos Santos.
Sócia fundadora da Nanomed: Amanda Luizetto dos Santos.

Veja nossa entrevista com Amanda Luizetto dos Santos, sócia-fundadora e CEO da Nanomed.

Boletim da SBPMat: – Quais foram os fatores mais importantes no sentido de viabilizar a criação e desenvolvimento da startup?

Amanda Luizetto dos Santos: – Os fatores fundamentais para a viabilização da Nanomed foram o apoio da Fapesp e do ParqTec. A Fapesp desde o começo da Nanomed é um pilar fundamental nos desenvolvimentos de tecnologia e produtos, através do financiamento de projetos inovadores e de alto risco. O ParqTec, que é a incubadora mais antiga da América Latina e está situada em São Carlos (SP), foi muito importante pois possibilitou a imersão no ambiente do empreendedorismo inovador, além de dar suporte na construção do negócio.

Boletim da SBPMat: – Quais foram, para você, os momentos mais importantes na história da startup?

Amanda Luizetto dos Santos: – O momento mais importante foi participar de uma reunião no parlatório da Anvisa para defender um produto cosmético grau 2 desenvolvido pela Nanomed e, que será lançado e comercializado ainda este ano.

[Nota da reportagem: produtos grau 2 são aqueles produtos de higiene pessoal ou cosmética cujas características exigem comprovação de segurança e/ou eficácia, bem como informações sobre modo e restrições de uso]

Boletim da SBPMat: – Quais foram as principais dificuldades enfrentadas até momento pela startup?

Amanda Luizetto dos Santos: – A principal dificuldade, ainda encontrada, é a morosidade e a burocracia regulatória que está atrelada ao fato de trabalharmos na área de saúde.

Boletim da SBPMat: – Qual é, na sua visão, a principal contribuição da startup para a sociedade?

Amanda Luizetto dos Santos: – A principal contribuição é oferecer produtos seguros e inovadores para sociedade e contribuir para a qualidade de vida da população.

Boletim da SBPMat: – Qual é sua meta/ seu sonho para a startup?

Amanda Luizetto dos Santos: – A meta da Nanomed é deixar as pessoas felizes e satisfeitas, oferecendo ao mercado nacional e internacional uma linha de produtos inovadores e de alta performance.

Boletim da SBPMat: – Deixe uma mensagem para nossos leitores do boletim e seguidores das redes sociais que avaliam a possibilidade de criar uma startup.

Amanda Luizetto dos Santos: – Acredito que precisamos ser realistas quando pensamos no futuro, em especial quando fala-se de abrir um negócio próprio. Aquela máxima de que empreender é não ter patrão não existe, na verdade, você tem milhares de patrões, como cliente, colaborador, governo, entre muitos outros. Então, empreender é sinônimo de trabalhar muito e, em todos setores do negócio (todos mesmo!). Criar uma startup e mantê-la viva exige muito trabalho (mas muito), dedicação, resiliência e cabeça fria.

O universo do empreendedorismo é uma adrenalina constante, particularmente acho viciante, ao mesmo tempo que traz satisfação imensa ao ver as coisas se concretizando, o frio na barriga é inevitável. Eu, ainda não sei se feliz ou infelizmente, não vivo sem.

Da ideia à inovação: O fio de vidro que conectou o mundo (parte 2).

Veja nossa matéria sobre a primeira parte desta história.

E aqui estamos de volta à história do desenvolvimento das fibras ópticas.

No final da década de 1950, fibras ópticas curtas já eram produzidas industrialmente e usadas em alguns segmentos, principalmente em medicina para inspecionar o interior do corpo humano por meio de endoscópios.

Neste figura sobre o espectro eletromagnético, podem ser comparados os diversos tipos de radiação que existem. Fonte https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Espectro_EM_pt.svg.
Nesta figura sobre o espectro eletromagnético, podem ser comparados os diversos tipos de radiação eletromagnética que existem. Fonte https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Espectro_EM_pt.svg.

No âmbito das telecomunicações, a transmissão de informações por meio de fios de cobre e de ondas de rádio estava estabelecida e continuava avançando. O primeiro cabo transatlântico de fios de cobre foi instalado em 1956, e o primeiro satélite de telecomunicações, que usava ondas de rádio, foi lançado dois anos depois.  Entretanto, o crescente uso do telefone e da televisão estavam gerando uma urgente demanda por aumentar a capacidade de transmitir informações.

Empresas de telecomunicações da Europa e Estados Unidos começaram a buscar soluções em seus laboratórios de pesquisa. A maior parte das pesquisas focava, principalmente, no uso das ondas de rádio de comprimento mais curto e das micro-ondas, mas não considerava as ondas da chamada “região óptica”, formada principalmente pela luz visível. Todavia, era nas ondas de luz visível que podia ser encontrado o maior potencial para as comunicações. Para se ter uma ideia, essas ondas podem carregar dezenas de milhares de vezes mais informação do que as ondas de rádio, por exemplo.

A aparição em cena do laser puxou um pouco a história para o lado das telecomunicações ópticas. Inventado em 1960, em um centro de pesquisa de uma empresa aeroespacial dos Estados Unidos, o laser foi ganhando novas e melhores versões ao longo da década. Com a sua capacidade de emitir luz em forma de feixes muito estreitos que se conservam por grandes distâncias, o laser podia ser um ótimo parceiro da fibra óptica.

Entretanto, a fibra óptica era deixada de lado devido à sua enorme atenuação – redução de intensidade do sinal de luz entre dois pontos, a qual se mede em decibéis perdidos por quilômetro percorrido (dB/km). De fato, usando as fibras ópticas disponíveis naquele momento, apenas 1% da luz injetada na fibra permanecia nela 20 metros adiante. Perante essa baixíssima eficiência, outras formas de guiar a luz começaram a ser propostas e testadas por alguns grupos, enquanto outros pesquisadores continuavam investindo esforços e recursos em guias de ondas de rádio ou micro-ondas.

Os poucos grupos que apostavam na fibra óptica ou em guias de ondas ópticas similares (filmes finos, por exemplo) no início da década de 1960 estavam localizados na STL (centro de pesquisa da empresa britânica de telecomunicações STC); na CSF (forte grupo empresarial francês atuante em áreas como telecomunicações, defesa, materiais e eletrônica); nos laboratórios Bell (laboratório estadunidense de pesquisa industrial na época ligado à companhia de telecomunicações AT&T), e na universidade japonesa de Tohuku.

Charles Kao, provavelmente em 1966. Fonte https://www.youtube.com/watch?v=2-5sScP_fiw
Charles Kao, provavelmente em 1966. Fonte https://www.youtube.com/watch?v=2-5sScP_fiw

No grupo da STL, trabalhava Charles K. Kao, quem ganharia o Premio Nobel de Física em 2009 em reconhecimento a seus trabalhos com fibra óptica. Nascido em Xangai (China), Kao cursou o final do ensino secundário em um colégio britânico de Hong-Kong e foi morar na Inglaterra em busca de estudos universitários em eletrônica e comunicações, áreas que lhe apaixonavam. Formou-se em Engenharia Elétrica pela University of London em 1957, e logo começou a trabalhar para a STC, até receber e aceitar uma proposta de fazer doutorado empresarial no braço de pesquisa da empresa, o STL. Ali ajudou o pesquisador Antoni E. Karbowiak em seus estudos sobre diversos guias de onda, até que o Karbowiak saiu da STL para assumir uma cadeira de professor. Nesse momento, Kao se dedicou na STL ao projeto no qual ele mais acreditava, o do desenvolvimento de fibras compostas por núcleo e revestimento para serem usadas em telecomunicações como guias de ondas de luz visível.

Kao contou então com a ajuda de seu colega, o jovem engenheiro George Hockham, para desenvolver seus estudos sobre fibra óptica. Juntos se dedicaram a entender as causas das perdas de luz na fibra, para saber se elas poderiam ser eliminadas ou diminuídas ou se, pelo contrário, tentar baixar a atenuação era encarar uma batalha perdida. Enquanto Hockham estudava as imperfeições no formato ou tamanho das fibras, Kao se concentrava nas características do material, em particular sua estrutura e as impurezas e defeitos presentes nela. Os resultados dos estudos da dupla foram publicados em junho de 1966 nos IEEE Proceedings [K.C. Kao and G.A. Hockham, “Dielectric-Fibre Surface Waveguides for optical frequencies”. Proc. IEE, 113, 1151 (1996)].

Esse artigo pode ser considerado um marco na história da fibra óptica, por ser o primeiro que reportou as causas das perdas de luz na fibra óptica e que mostrou o caminho a seguir e a meta a alcançar para conseguir uma fibra apta ao uso em telecomunicações.

Com base nas características dos emissores (laser) e detectores de luz existentes, Kao e seu coautor afirmavam que, para poder usar as fibras em telecomunicações ópticas, era necessário baixar sua atenuação até chegar aos 20 dB/km. A meta era muito desafiadora, pois nas fibras disponíveis no momento a luz atenuava 20 dB… a cada 20 metros!  Isso na melhor das hipóteses. Contudo, ao mostrar que as principais causas das perdas de luz nas fibras ópticas estavam relacionadas à presença de impurezas no material, que absorviam ou espalhavam a luz e a desviavam da sua rota, o artigo apontou um caminho para diminuir a atenuação: o uso de vidros mais puros.

Representação do corte frontal de uma fibra óptica (na qual proporções não foram consideradas) com as duas partes principais da fibra: o núcleo, com índice de refração n1, e o revestimento, com índice de refração menor (n2).
Representação do corte frontal de uma fibra óptica (na qual proporções não foram consideradas) com as duas partes principais da fibra: o núcleo, com índice de refração n1, e o revestimento, com índice de refração menor (n2). Fonte https://pt.wikipedia.org/wiki/Fibra_%C3%B3ptica#/media/File:Optical_fiber.svg

O artigo concluía que fibras cilíndricas compostas por um núcleo e um revestimento, ambos feitos de materiais vítreos com índices de refração levemente diferentes (maior no núcleo), poderiam ser meios de transmissão de informação muito melhores do que os existentes na época, além de mais baratos. Nessas fibras, a informação viajaria codificada em sinais de luz que percorreriam o núcleo, enquanto o revestimento garantiria que a luz permaneça no núcleo mesmo nas curvas.

Depois disso, Charles Kao continuou se dedicando à fibra óptica, investindo seu tempo não apenas na pesquisa, mas também na divulgação. De fato, ele proferiu palestras sobre seus estudos e sobre o potencial da fibra óptica em diversos laboratórios e empresas do mundo. Além disso, a STL divulgou um press release destacando as possibilidades da fibra óptica no campo das comunicações, o qual teve pouca repercussão na imprensa.

Em paralelo, junto a novos colaboradores, Kao fez uma série de experimentos com diversos vidros e outros materiais e mostrou, entre outros resultados, que no vidro denominado sílica fundida pura, a atenuação podia chegar a apenas 5 dB/km. O resultado era animador, mas transformar em uma fibra óptica esse material feito de dióxido de silício (SiO2) puro era outra história. Devido à sua pureza, esse vidro só podia ser fundido a altíssimas temperaturas, superiores a 1.500 °C. Além disso, depois de fundido, sua viscosidade dificultava a sua transformação em qualquer produto. Finalmente, o índice de refração da sílica fundida era extremamente baixo. Desse modo, utilizá-la para fabricar o núcleo da fibra, se por um lado seria vantajoso em termos de pureza, por outro lado seria complicadíssimo, não apenas pela dificuldade de processar o material, mas também pela impossibilidade de achar um material com índice de refração menor para o revestimento.

Nesse momento, alguns laboratórios de empresas da Alemanha, Estados Unidos, França, Reino Unido e Japão decidiram enfrentar o desafio de desenvolver a fibra óptica de baixa atenuação. Perante a dificuldade de lidar com a sílica fundida, a maioria desistiu desse material e tentou fazer fibras ópticas com outros vidros, retirando-lhes as impurezas. Por sua vez, outros grupos desistiram de fazer fibras ópticas de baixa atenuação ao ouvir especialistas em vidro que afirmavam que seria impossível retirar as impurezas que estavam incomodando.

Apenas um desses grupos fez escolhas diferentes, o da empresa Corning, nos Estados Unidos. Fundada em 1851, a firma sempre trabalhou com vidros, mas, longe de se estancar na produção de produtos de baixo valor agregado, ela protagonizou o desenvolvimento de muitas inovações, a começar pela bola de vidro da lâmpada incandescente de Thomas Edison. No início da década de 1930, foi na Corning que o químico Franklin Hyde criou o método de hidrólise de chama que viabilizou a fabricação e processamento de sílica pura. Nesse método, em vez de se fundir cristais de dióxido de silício, parte-se de um composto líquido baseado em silício que, aquecido em cima de uma chama, acaba gerando um pó que se pode ser depositado formando camadas de sílica.

Peter Schultz, Donald Keck e Robert Maurer, e fibras ópticas. Fonte: http://ethw.org/File:Corning_Fiber-optic_Inventors_3.jpg
Peter Schultz, Donald Keck e Robert Maurer, e fibras ópticas. Fonte: http://ethw.org/File:Corning_Fiber-optic_Inventors_3.jpg

Em 1966, a Corning incumbiu o físico Robert Maurer de pesquisar e desenvolver fibras ópticas de menos de 20 dB/km de atenuação para uso em comunicações ópticas. Em 1968, mais dois cientistas tinham se somado a Maurer nesse projeto:  Peter Schultz, doutor em Ciência do Vidro, e Donald Keck, doutor em Física.

O trio trabalhou duro em ideias que eram opostas àquelas que os demais grupos do mundo estavam seguindo. Na escolha do material, o grupo da Corning optou por usar o vidro mais puro e acrescentar impurezas quando necessário, em vez de retirar impurezas de vidros menos nobres até chegar à atenuação desejada. Os cientistas da Corning usaram, então, a sílica fundida pura para o revestimento da fibra óptica, o qual precisava de um material com índice de refração menor, e a sílica com pequeníssimas quantidades de titânio no núcleo, de modo a aumentar o índice de refração apenas o necessário e diminuir a pureza o mínimo possível.

Para o método de fabricação da fibra, o grupo da Corning também seguiu um caminho próprio, baseado no método que Hyde tinha desenvolvido mais de trinta anos atrás. O trio fabricou um tubo de sílica pura e depositou a sílica dopada dentro dele. Com essa fibra, cerca de quatro anos depois do início do projeto de desenvolvimento da fibra óptica de baixa atenuação, o grupo da Corning obteve a primeira medida de atenuação menor que 20 dB/km. Estava desenvolvida a primeira fibra óptica de baixa atenuação!

Em maio de 1970, a equipe depositou duas patentes revelando, respectivamente, a composição e o método de fabricação dessa fibra e, depois disso, começou a divulgar os resultados.

Em 1971, a Corning decidiu que o projeto poderia passar da fase de pesquisa à de desenvolvimento, na qual engenheiros trabalharam para tornar a fabricação adequada à escala industrial, para deixar a fibra mais resistente (a primeira fibra era mais frágil do que o desejável) e para finalizar o desenvolvimento junto a empresas que tinham interesse em comprar a fibra. Enquanto isso acontecia, a equipe de pesquisa continuou explorando, com bons resultados, novas possibilidades para obter melhores fibras ópticas. Depois disso, Maurer, Schultz e Keck se viram obrigados a dedicar uma grande parte do tempo deles a litígios judiciais relacionados às patentes da fibra óptica, que foram outorgadas à Corning em 1972 e 1973.

No início da década de 1970, a fibra óptica ainda não era uma inovação propriamente dita. De fato, a inserção dessa tecnologia no mercado demorou mais de 10 anos para acontecer. Essa parte da história, também interessante, não será abordada aqui, mas alguns marcos podem ser citados. Em 1975, no Reino Unido, as primeiras fibras ópticas não-experimentais foram instaladas. Em 1976, a Corning inaugurou a sua primeira fábrica industrial de fibras ópticas. Em 1983, nos Estados Unidos, foi instalada a primeira rede nacional de telefonia baseada em fibras ópticas. Em 1988, o primeiro cabo transatlântico de fibras ópticas foi instalado.

Atualmente, com bilhões de quilômetros de fibra óptica instalados, as telecomunicações no planeta Terra, principalmente via Internet, dependem fortemente desses finos fios de vidro ou plástico. Com relação a outras tecnologias, a fibra óptica mantém o primeiro lugar em velocidade de transmissão de dados, com imensas quantidades de informação podendo ser transmitidas em 1 segundo entre pontos distantes do planeta. Com relação às ondas de rádio que predominavam nas comunicações ópticas 60 anos atrás, essa capacidade aumentou nada menos que um milhão de vezes. Valeu a pena o esforço de todos os envolvidos na história, não é mesmo?

 


Para saber mais

Da ideia à inovação: Uma invenção biomimética que virou metonímia.

Adivinha.

O que é, o que é?

É talvez o mais conhecido dentre os produtos biomiméticos (isto é, produtos desenvolvidos pelo ser humano imitando seres vivos que foram “desenvolvidos” pela natureza ao longo de muitos milhões de anos).

É um caso de invenção que virou inovação (entrou no mercado) e, depois de algum tempo, teve enorme aceitação entre os consumidores. Seu uso se espalhou pelo planeta Terra (em terra firme, água e ar) e chegou até a Lua.

É uma invenção que foi a semente de uma companhia multinacional que hoje comercializa milhares de produtos.

Você não adivinhou? Vai mais uma pista.

A palavra popularmente usada para designar este produto corresponde, na verdade, a uma marca registrada, e não ao objeto em si. É um caso de metonímia, parecido ao dos “cotonetes ®” (o nome correto neste caso seria “hastes flexíveis com pontas de algodão”).

Já sabe de qual invenção estamos falando? Ainda não? Então, leia atentamente a história desta invenção.

Frutos de uma planta do gênero Arctium, similares àqueles que inspiraram a invenção. Créditos: https://en.wikipedia.org/wiki/Bur#/media/File:Burdock_Hooks.jpg
Frutos de uma planta do gênero Arctium, similares àqueles que inspiraram a invenção. Créditos: https://en.wikipedia.org/wiki/Bur#/media/File:Burdock_Hooks.jpg

Tudo começou em 1941, nos Alpes suíços. George de Mestral, um engenheiro eletrônico suíço de trinta e poucos anos, estava de volta de um passeio pela montanha com seu cachorro, retirando os carrapichos que tinham grudado no pelo do cão e na roupa dele durante a caminhada. Essas bolinhas revestidas de espinhos são os frutos de algumas famílias de plantas, e sua capacidade de aderirem ao pelo de animais é uma vantagem dessas espécies, pois ajuda a dispersar as sementes que estão dentro do fruto.

Conta a história que, nesse momento, Mestral se perguntou por que os carrapichos grudavam e decidiu observá-los com um microscópio que havia na casa dele. O engenheiro percebeu então que a fixação ocorria entre dois elementos: por um lado, minúsculos laços formados na pelagem emaranhada do cachorro ou na superfície dos tecidos; por outro, as pontas dos pequenos espinhos dos carrapichos, as quais tinham forma de gancho. Esses “ganchinhos” flexíveis enredavam-se nos lacinhos e só se desprendiam ao afastar com certa força ambos os elementos (ganchos e laços). Com olhar biomimético e espírito inventor (Mestral apresentou sua primeira patente aos 12 anos), ele enxergou nesse sistema natural de fixação reversível, um modelo para desenvolver artificialmente um produto muito útil.

Já adivinhou qual é a invenção? Se sim ou se não, veja como continua a história.

Figura contida na patente US2717437A, representando o método para produzir o tecido com ganchos nas pontas dos fios.
Figura contida na patente US2717437A, representando o método para produzir o tecido com ganchos nas pontas dos fios.

Durante alguns anos, George de Mestral enfrentou o desafio de criar um protótipo desse sistema de minúsculos ganchos e laços. O problema principal era desenvolver um método que permitisse fabricar de modo simples uma faixa de tecido na qual se erguesse, perpendicularmente, uma boa concentração de ganchinhos flexíveis.

Parece que o processo não foi nada fácil, e que Mestral sofreu para encontrar gente que o ajudasse a produzir tal tecido. Contudo, em 1952, ele depositou um pedido de patente no escritório de patentes dos Estados Unidos sobre um tecido desse tipo e a forma de fabricá-lo. No documento, Mestral apresentou um “tecido tipo veludo”, pois era coberto, assim como o veludo, de um denso “bosque” de fios empinados. Entretanto, diferentemente do veludo, no novo tecido os fios eram de nylon (material que tinha sido recentemente criado), e uma boa parte dos fios tinha pontas em forma de gancho. O processo de fabricação proposto na patente era similar ao do veludo tradicional, usando um tear, só que com alguns truques adicionais para formatar os ganchos nas pontas dos fios de nylon.

Concedida em 1955, essa parece ser a primeira de uma série de patentes do engenheiro suíço em torno da invenção que é a resposta da nossa adivinha.

Em seguida, Mestral fundou uma empresa para fabricar e comercializar o produto. Contudo, o sistema de fabricação que tinha proposto na patente não era completamente mecanizado e não lhe permitia uma produção em escala industrial. O acabamento para gerar os ganchos era manual… e  muito trabalhoso. O engenheiro teve que esperar cerca de 20 anos desde seu “heureca!” para obter um tear capaz de produzir em massa o tecido com os ganchinhos.

Ao acasalar o tecido com os ganchinhos com outro tecido coberto por um emaranhado de lacinhos, Mestral obteve um produto para fixação reversível, com mil e uma utilidades, e com potencial para revolucionar o mercado dos zíperes e botões.

No início, o sistema inventado por Mestral não tinha uma aparência muito atraente. Porém, aos pouquinhos, ele foi ganhando visibilidade (de colunas em jornais até filmes futuristas) e sendo adotado por diversos segmentos. No final da década de 1960, por exemplo, a invenção começou a ser utilizada por fabricantes de calçado esportivo, substituindo os cadarços, e se destacou no programa espacial da NASA “Apollo” como sistema para fixar pequenos objetos às paredes das naves espaciais, impedindo que ficassem flutuando.

Atualmente, o produto está super disseminado. Ele ajuda a resolver pequenos problemas do dia-a-dia em escritórios, lojas, residências, hospitais, laboratórios, passarelas, escolas…

Precisa de mais uma pista para adivinhar qual é a invenção? Aqui vai. É a última:

Em 1956, George de Mestral obteve o registro de marca para sua empresa. O nome inventado pelo suíço é a união de duas palavras em francês (idioma predominante na região da Suíça onde ele nasceu e morreu): “velours” (veludo) e “crochet” (gancho).

Não precisamos dizer o nome desta invenção, não é mesmo? Até porque é proibido. “Velcro” designa hoje a empresa multinacional que comercializa esse e outros produtos similares, e é também a marca registrada usada para todos os produtos da empresa, e não apenas para o “fixador de gancho e laço”. Vá explicar isso para as crianças, que gostam tanto do V________, principalmente nos tênis…

Imagem de microscópio mostrando como os ganchos se enredam nos laços nesta invenção. Créditos: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Micrograph_of_hook_and_loop_fastener,(Velcro_like).jpg
Imagem de microscópio mostrando como os ganchos se enredam nos laços nesta invenção. Créditos: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Micrograph_of_hook_and_loop_fastener,(Velcro_like).jpg

 

Gente da nossa comunidade: entrevista com o pesquisador Fernando Galembeck.

Em Fernando Galembeck, professor colaborador na Unicamp e diretor do Laboratório Nacional de Nanotecnologia (LNNano) de 2011 a 2015, o interesse por pesquisa começou a se manifestar na adolescência, quando, trabalhando no laboratório farmacêutico do pai, percebeu a importância econômica que os novos produtos, resultantes de esforços de pesquisa científica, tinham na empresa. Hoje com 72 anos, Fernando Galembeck, olhando para sua própria trajetória científica, pode contar várias histórias nas quais o conhecimento gerado por ele junto a seus colaboradores, além de ser comunicado por meio de artigos científicos, teses e livros, plasmou-se em patentes licenciadas e produtos criados ou aprimorados.

Galembeck gradou-se em Química em 1964 pela Universidade de São Paulo (USP). Após a graduação, permaneceu na USP trabalhando como professor (1965-1980) e, simultaneamente, fazendo o doutorado em Química (1965-1970) com um trabalho de pesquisa sobre dissociação de uma ligação metal-metal. Depois do doutorado, realizou estágios de pós-doutorado nos Estados Unidos, nas universidades do Colorado na cidade de Denver (1972-3) e da Califórnia na cidade de Davis (1974), trabalhando na área de Físico-Química de sistemas biológicos. Em 1976, de volta à USP, teve a oportunidade de criar um laboratório de coloides e superfícies no Instituto de Química. A partir desse momento, Galembeck foi se envolvendo cada vez mais com o desenvolvimento de novos materiais, especialmente os poliméricos, e seus processos de fabricação.  

Em 1980, ingressou como docente na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), onde se tornou professor titular em 1988, cargo no qual permaneceu até sua aposentadoria em 2011. Na UNICAMP ocupou cargos de gestão, notadamente o de vice-reitor da universidade, além de diretor do Instituto de Química e coordenador do seu programa de pós-graduação. Em julho de 2011 assumiu a direção do recém-criado LNNano, no Centro Nacional de Pesquisas em Energia e Materiais (CNPEM).

Ao longo de sua carreira, exerceu funções dirigentes na Academia Brasileira de Ciências (ABC), Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCT), Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), Sociedade Brasileira de Química (SBQ), Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência e Sociedade Brasileira de Microscopia e Microanálise (SBMM), entre outras entidades.

Bolsista de produtividade de nível 1A no CNPq, Galembeck é autor de cerca de 250 artigos científicos publicados em periódicos internacionais com revisão por pares, os quais contam com mais de 2.300 citações, além de 29 patentes depositadas e mais de 20 livros e capítulos de livros. Orientou quase 80 trabalhos de mestrado e doutorado

Recebeu numerosos prêmios e distinções, entre eles o Prêmio Anísio Teixeira, da CAPES, em 2011; o Telesio-Galilei Gold Metal 2011, da Telesio-Galilei Academy of Science (TGAS); o Prêmio Almirante Álvaro Alberto de Ciência e Tecnologia 2006, do CNPq e Fundação Conrado Wessel; o Troféu José Pelúcio Ferreira, da Finep, em 2006; a Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico, em 2000, e a Comenda Nacional do Mérito Científico, em 1995, ambos da Presidência da República. Também recebeu uma série de reconhecimentos de empresas e associações científicas e empresariais, como a CPFL, Petrobrás, Union Carbide do Brasil, Associação Brasileira dos Fabricantes de Tintas, Associação Brasileira da Indústria Química, Sindicato da Indústria de Produtos Químicos para fins Industriais do Estado do Rio de Janeiro, Associação Brasileira de Polímeros, Sociedade Brasileira de Química (que criou o Prêmio Fernando Galembeck de Inovação Tecnológica), Sindicato dos Engenheiros no Estado de São Paulo e da Electrostatic Society of America.

Segue uma entrevista com o cientista.

Boletim da SBPMat: – Conte-nos o que o levou a se tornar um cientista e a trabalhar em temas da área de Materiais.

Fernando Galembeck: – Meu interesse por atividade de pesquisa começou na minha adolescência quando eu percebi a importância do conhecimento novo, da descoberta. Eu percebi isso porque trabalhava, depois das aulas, no laboratório farmacêutico do meu pai e eu via a importância que tinham os produtos mais novos, os mais recentes. Eu via também como pesava economicamente para o laboratório o fato de depender de produtos importados que não eram fabricados no Brasil e que no país não havia competência para faze-los. Aí percebi o valor do conhecimento novo, a importância que tinha e o significado econômico e estratégico das descobertas.

Isso se incrementou quando eu fiz o curso de Química. Eu fui fazer o curso de Química porque um professor meu no colégio sugeriu que eu procurasse uma carreira ligada à pesquisa. Ele deve ter percebido alguma inclinação, alguma tendência minha. E eu fiz o curso de Química na Faculdade de Filosofia, num ambiente em que a atividade de pesquisa era muito forte. Por causa disso eu resolvi fazer o doutorado na USP. Naquela época não havia ainda cursos de pós-graduação regulares no Brasil. O orientador com quem eu defendi a tese, que foi o professor Pawel Krumholz, era um pesquisador muito bom e também tinha feito uma carreira muito importante trabalhando em empresa. Ele foi diretor industrial da Orquima, uma empresa muito importante na época. Isso aumentou meu interesse por pesquisa.

Trabalhei em Química por alguns anos e meu interesse por materiais veio de uma situação curiosa. Eu estava praticamente me formando, nas férias do meu último ano da graduação. Estava num apartamento, depois do almoço, descansando. Lembro-me de ter olhado as paredes do apartamento e percebido que, com tudo que eu tinha aprendido no curso de Química, eu não tinha muito a dizer sobre as coisas que eu enxergava: a tinta, os revestimentos etc. Aquilo era Química, mas também era Materiais, e naquela época não havia no curso de Química muito interesse por materiais. De fato, materiais se tornaram muito importantes em Química por causa dos plásticos e borrachas, principalmente, que nessa época ainda não tinham a importância que têm hoje. Estou falando de 1964, aproximadamente.

Bem, aí comecei a trabalhar em Físico-Química, depois trabalhei um pouco numa área mais voltada à Bioquímica, a Físico-Química Biológica, e, em 1976, recebi uma tarefa do Departamento na USP, que era a de instalar um laboratório de coloides e superfícies. Um dos primeiros projetos foi de modificação de superfície de plásticos, no caso, o teflon. E aí eu percebi que uma grande parte da Química de coloides e superfícies existia por causa de Materiais, porque ela se prestava para criar e desenvolver novos materiais. A partir daí eu fui me envolvendo cada vez mais com materiais, principalmente com polímeros, um pouco menos, com cerâmicos e, menos ainda, com metais.

Boletim da SBPMat: – Quais são, na sua própria avaliação, as suas principais contribuições à área de Materiais? Considere na sua resposta todos os aspectos da sua atividade profissional, inclusive os casos de transferência de conhecimento à indústria.

Fernando Galembeck: – Eu vou falar mais ou menos seguindo a história. Eu acho que o primeiro resultado importante na área de Materiais foi justamente uma técnica voltada à modificação de superfície de teflon, que é um material no qual é muito difícil alguma coisa grudar. Tanto que tem a expressão do “político teflon”, que é aquele em que nada que se joga gruda. Só que, em determinadas situações, a gente quer conseguir adesão no teflon, que determinada coisa grude. E por um caminho um pouco complicado, eu acabei percebendo que eu já sabia fazer uma modificação de teflon, mas que eu nunca tinha percebido que era importante. Eu conhecia o fenômeno; tinha observado ele durante minha defesa de tese. Eu sabia que acontecia uma transformação do teflon. Mas foi quando estava visitando um laboratório da Unilever em 1976, conversando com um pesquisador, que eu percebi que havia gente se esforçando para modificar a superfície do teflon e conseguir adesão. Aí, juntando o problema com a solução, logo que voltei ao Brasil tentei verificar se aquilo que eu tinha observado anteriormente realmente serviria, e deu certo. Isso deu origem à minha primeira publicação sozinho e a meu primeiro pedido de patente, numa época em que praticamente não se falava em patentes no Brasil, principalmente no ambiente universitário. Eu fiquei muito entusiasmado com o seguinte: fui procurado por empresas que tinham interesse em aproveitar aquilo que eu tinha feito; uma no próprio teflon, outra em outro polímero. Então eu me senti muito bem, porque tinha uma descoberta, tinha uma patente e tinha empresas que, pelo menos, queriam saber o que era para ver a possibilidade de utilizá-la. E mais uma coisa, logo depois da publicação do artigo eu recebi um convite para participar de um congresso nos Estados Unidos que abordava justamente a questão de modificação de superfícies. Superfícies de polímeros, de plásticos e borrachas, foi um assunto com o qual fiquei envolvido praticamente durante todo o resto da minha vida, até agora.

Eu vou mencionar um segundo fato, que até o momento não teve consequências do mesmo tipo. Eu descobri um método que permite fazer uma caracterização e uma separação de partículas muito pequenas. Foi um trabalho bastante interessante. Isso foi publicado, também gerou um depósito de patente, mas não teve uma consequência prática. Recentemente surgiram problemas ligados com nanopartículas, que é um assunto muito importante hoje em Materiais, e que representam uma possibilidade de aplicação daquilo que eu fiz há mais de 30 anos. O nome da técnica é osmossedimentação.

Em seguida veio um trabalho que fiz trabalhando em projetos junto com a Pirelli cabos. Com essa história de superfícies e polímeros acho que eu tinha me tornado mais ou menos conhecido e fui procurado pela Pirelli, que me contratou como consultor e também contratou projetos que fiz na Unicamp. Um resultado desses projetos, que eu acho mais importante, foi o desenvolvimento de um isolante para tensões elétricas muito altas. Esse não foi um trabalho só meu, mas sim de uma equipe bastante grande, da qual fiz parte. Tinha várias pessoas da Pirelli e várias na Unicamp. O resultado desse projeto foi que a Pirelli brasileira conseguiu ser contratada para fornecer os cabos de alta tensão do Eurotúnel, ainda nos anos 80. Eu acho que esse foi um caso bem importante que teve um produto e significou um resultado econômico importante. Aqui eu quero insistir que isso foi feito no Brasil, por uma equipe brasileira. A empresa não era brasileira, mas a equipe estava aqui.

Depois teve vários trabalhos feitos com nanopartículas, numa época em que a gente nem as chamava de nanopartículas; chamávamo-las de partículas finas ou simplesmente de partículas coloidais pequenas. O primeiro trabalho que eu publiquei sobre nanopartículas foi em 1978. Teve outras coisas feitas em seguida que, no fim, acabaram desaguando num trabalho sobre fosfato de alumínio, que deu origem a teses feitas no laboratório e publicações, e também foi licenciado por uma empresa chamada Amorphic Solutions, do grupo Bunge, que explora, basicamente, fosfato de alumínio. O assunto começou em meu laboratório, ficou no laboratório por vários anos, depois uma empresa do grupo Bunge aqui no Brasil se interessou, passou a participar, nós colaboramos. Isso se tornou um projeto bastante grande de desenvolvimento. A Bunge depois achou inviável tocar o projeto no Brasil e hoje está lá nos Estados Unidos. Eu acho uma pena que esteja lá, mas aí teve outras questões envolvidas, inclusive de desentendimento com a Unicamp, que é a titular das patentes. Se olhar a página da Amorphic Solutions na Internet você poderá ver várias aplicações do produto. Pelo que percebo, atualmente estão enfatizando o uso como material anticorrosivo para proteção de aço.

Mais ou menos na mesma época, num trabalho ligado também a nanopartículas, teve o desenvolvimento de nanocompósitos de borracha natural com argilas. Isso foi licenciado por uma empresa brasileira chamada Orbys, que lançou um produto chamado Imbrik, que é um produto que a empresa fornece, por exemplo, para fazer rolos de borracha para fabricação de papel.

Outro caso de produto. Eu tinha feito um projeto com a Oxiteno, que fabrica matérias primas para látex, os tensoativos. Ela queria ter uma ideia de quanto se consegue mudar o látex mudando o tensoativo. Eu fiz um projeto com eles, que considero um dos mais interessantes daqueles em que estive envolvido. O resultado foi que percebemos que, mudando um pouco o tensoativo, nós mudávamos muito o látex. Esses látex são usados em tintas, adesivos, resinas. Então a gente via que tinham uma variabilidade enorme. Esse trabalho foi divulgado, foi publicado. Não deu patente porque foi um trabalho de entendimento. Então, uma outra empresa, a Indústrias Químicas Taubaté (IQT) me procurou para fazer um látex catiônico, mas por um caminho novo. Látex catiônicos em geral são feitos com sais de amônio quaternários, os quais têm algumas restrições ambientais. A empresa queria uma alternativa que não tivesse essas restrições. No fim do projeto nós fizemos os látex catiônicos sem as restrições ambientais e a IQT colocou o produto no mercado.

Teve outro caso, que também foi muito interessante, apesar de que acabou morrendo. Aqui no Brasil havia uma grande fabricante de polietileno tereftalato, o PET, que é usado para muitas coisas, inclusive para garrafas. Eles souberam do trabalho que eu tinha feito com nanocompósitos, aquele da Orbys que eu mencionei, e me procuraram querendo fazer nanocompósitos do PET. Nós tivemos que procurar escapar daquilo que já estava patenteado no exterior e conseguimos um caminho totalmente novo. A empresa chamava-se Rhodia-Ster, e hoje ela faz parte de uma outra empresa, italiana, chamada Mossi e Ghisolfi. A empresa se entusiasmou e acabou patenteando isso no Brasil, e, em seguida depois, no exterior. Numa certa altura, eles resolveram que iam tocar o trabalho internamente, e o fizeram durante alguns anos. Um dia o meu contato na empresa me telefonou para me dizer o seguinte: “Olha, nós estávamos trabalhando com duas tecnologias; uma era essa aí com a Unicamp e a outra, em outro país. As duas estão funcionando, mas agora a empresa chegou num ponto em que optou por completar o desenvolvimento de uma”. Quando chegam na fase final de um desenvolvimento de materiais, os custos dos projetos ficam muito altos. Tem que usar grandes quantidades de materiais, fazer muitos testes com clientes. Então, a empresa decidiu tocar uma, que infelizmente não era aquela na qual eu tinha trabalhado. No fim das contas, foi um pouco frustrante, mas acho que foi interessante porque durante esse tempo todo, a empresa apostou bastante no caminho que a gente tinha iniciado aqui. Além disso, cada projeto desses significa recursos para o laboratório, significa dinheiro para contratar gente, empregos etc. Então, esses projetos acaba dando muitos benefícios, mesmo quando não chegam até o fim.

Agora, pulando alguns pedaços, vou chegar no último resultado, que é bem recente, de depois que eu sai da Unicamp e vim para o CNPEM. Um objetivo do CNPEM é o aproveitamento de materiais de fonte renovável para fazer materiais avançados. Tem toda uma filosofia por trás disso, relacionada ao esgotamento de recursos naturais, à sustentabilidade… Nós temos trabalhado bastante para conseguir fazer coisas novas com materiais derivados da biomassa, e o principal interesse está na celulose. Ela é o polímero mais abundante do mundo, mas é um polímero muito difícil de trabalhar. Você não consegue processar celulose como processa polietileno, por exemplo. Uma de nossas metas tem sido procurar formas de plastificar a celulose; ou seja, trabalhar a celulose da forma mais parecida possível àquela que usamos para trabalhar com polímeros sintéticos. Um resultado recente dentro dessa ideia é que nós conseguimos fazer adesivos de celulose em que o único polímero é a própria celulose, o que é uma coisa nova. Foi depositado um pedido de patente no começo do ano, nós estamos submetendo isso agora para publicação e pretendemos trabalhar com empresas interessadas no assunto. Já estamos discutindo um projeto para uma aplicação específica dessa celulose modificada, com uma empresa.

Esse é o caso mais recente. No meio do caminho, vários outros projetos foram feitos com empresas, em questões do interesse das empresas. Revestir uma coisa, colar outra, modificar um polímero para conseguir um certo resultado. Mas essas foram respostas a demandas das empresas, não foram pesquisas iniciadas no laboratório.

Boletim da SBPMat: – Deixe uma mensagem para nossos leitores que estão iniciando suas carreiras de cientistas.

Fernando Galembeck: – Em primeiro lugar, em qualquer carreira que a pessoa escolher, ela tem que ter uma dose de paixão. Não importa se a pessoa vai trabalhar no mercado financeiro, em saúde ou o que quer que ela vá fazer; antes de mais nada, o que manda é o gosto. A pessoa querer fazer uma carreira porque ela vai dar dinheiro, porque vai dar status… Eu acho que é ruim escolher assim. Se a pessoa fizer as coisas com gosto, com interesse, o dinheiro, o prestígio, o status virão por outros caminhos. O objetivo é que a pessoa faça uma coisa que a deixe feliz, que se sinta bem fazendo-a, que a deixe realizada. Isso vale não só para a carreira científica, mas para qualquer outra carreira também. Na científica, é fundamental.

Outra coisa é que tem que estar preparado para o trabalho duro. Não existe caminho fácil. Eu conheço pessoas jovens que procuram muito a grande sacada que vai lhes trazer sucesso com relativamente pouco trabalho. Bom, eu acho melhor não esperarem isso. Pode até acontecer, mas esperar isso é mais ou menos a mesma coisa do que esperar ganhar a Mega-Sena para ficar rico.

Eu já tenho mais de 70 anos, então já vi muita gente e muita coisa acontecer. Algo que me chama a atenção é como jovens que pareciam muito promissores acabam não dando muito certo. Francamente, eu penso que uma coisa que não é boa é um jovem dar certo muito cedo, porque eu tenho a impressão de que ele acostuma com a ideia de que sempre vai dar certo. E o problema é que não tem nada, nem ninguém, nem nenhuma empresa que sempre dê muito certo. Sempre vai ter o momento do fracasso, o momento da frustação. Se a pessoa está preparada para isso, quando chega o momento, ela supera, enquanto outros são destruídos – não conseguem superar. Por isso tem que ter cuidado para não se iludir com o sucesso, achar que, porque deu certo uma vez, sempre dará certo. Tem que estar preparado para lutar.

Quando eu fiz faculdade, pensar em fazer pesquisa parecia uma coisa muito estranha, coisa de maluco. As pessoas não sabiam muito bem o que era isso nem por que uma pessoa iria fazer isso. Tinha gente que dizia que a pesquisa era como um sacerdócio. Eu trabalhei sempre com pesquisa, associada com ensino, associada com consultoria e, sem que eu nunca tenha procurado ficar rico, consegui ter uma situação econômica que eu acho que é muito confortável. Mas eu insisto, meu objetivo era fazer o desenvolvimento, fazer o material, não o dinheiro que eu iria ganhar. O dinheiro veio, ele vem. Então, eu sugiro que as pessoas focalizem o trabalho, os resultados e a contribuição que o trabalho delas pode dar para outras pessoas, para o ambiente, para a comunidade, para o país, para o conhecimento. O resto virá por acréscimo.

Resumindo, a minha mensagem é: trabalhem seriamente, dedicadamente e com paixão.

Finalmente, eu gostaria de dizer que acho que o trabalho de pesquisa, o trabalho de desenvolvimento ajuda muito a pessoa a crescer como pessoa. Ele afasta a pessoa de algumas ideias que não são muito proveitosas e bota a pessoa dentro de atitudes que são importantes e realmente ajudam. Uma vez um estudante perguntou para Galileu: “Mestre, o que é o método?”. A resposta de Galileu foi: “O método é a dúvida”. Eu acho que isso é muito importante em atividade de pesquisa, a qual, em Materiais, em particular, é especialmente interessante porque o resultado final é uma coisa que a gente pega na mão. Na atividade de pesquisa a pessoa tem que estar o tempo todo se perguntando: “Eu estou pensando isto, mas será que estou pensando certo?”, ou “Fulano escreveu aquilo, mas qual é a base do que ele escreveu?”. Essa é uma atitude muito diferente da atitude dogmática, que é comum no domínio da política e da religião, e muito diferente da atitude da pessoa que tem que enganar, como o advogado do mafioso ou do traficante. O pesquisador tem que se comprometer com a verdade. Claro que também existem pessoas que se dizem pesquisadores e promovem a desinformação. Alguns anos atrás, falava-se de uma coisa chamada de “Bush science”, expressão que remete ao presidente Bush. A “Bush science” eram os argumentos criados por pessoas que ganhavam dinheiro como cientistas, mas que produziam argumentos para dar sustentação às políticas de Bush. Ou seja, o problema existe em ciência também, mas aí voltamos àquilo que falei no início. A pessoa não pode entrar nisto porque vai ganhar dinheiro, vai ter prestígio ou vai ser convidado para jantar com o presidente; ela tem que entrar nisto pelo interesse que ela tem pelo próprio assunto.

Feito no Brasil: incorporação de nanoestruturas de prata em produtos de higiene bucal elimina 99% das bactérias e fungos.

Crédito: Divulgação/CDMF

Pesquisa de incorporação da prata com propriedades bactericidas em superfícies desenvolvida pelo CDMF, um dos CEPIDs da FAPESP, é aplicada em escovas de dente.

A OralGift, empresa com 12 anos de experiência na área de higiene bucal, em parceria com o Centro de Desenvolvimento de Materiais Funcionais (CDMF), e a NANOX Tecnologia, lançou uma nova linha de produtos com a tecnologia NanoxClean. Fabricados com nanoestruturas de prata incorporadas à matéria prima, os produtos têm uma superfície protegida da ação de microrganismos e bactérias.

Os pesquisadores responsáveis pelo trabalho explicam que os ambientes úmidos, especialmente os banheiros, apresentam uma grande quantidade de bactérias e fungos. Quando as escovas de dente são deixadas expostas, a possibilidade de contaminação é alta.

A tecnologia de incorporação de nanoestruturas de prata elimina 99% das bactérias e fungos que se acumulam na porta e suporte de escovas de dente, estojos que são utilizados para guardar essas escovas e nos higienizadores de língua.

O diretor do CDMF, professor Elson Longo, explica a importância da parceria entre o desenvolvimento em pesquisa na universidade com a inovação em escala industrial das empresas. “A Nanox é uma empresa de primeiro mundo em inovação e com alta tecnologia. Ela desenvolve produtos baseados em nanotecnologia, principalmente na área da saúde. Esta inovação lançada no mercado é mais um exemplo de criatividade na transformação do conhecimento em riqueza para o país”.

Sobre o CDMF

O Centro de Desenvolvimento de Materiais Funcionais (CDMF), é um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) apoiados pela FAPESP, e o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia dos Materiais em Nanotecnologia (INCTMN/CNPq), com participação da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Universidade de São Paulo (USP) e do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen). Perfil no Facebook: https://www.facebook.com/INCTMNCMDMC

NANOX

A NANOX Tecnologia tem sede em São Carlos e nasceu de um projeto desenvolvido por três jovens estudantes da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). O trabalho foi aperfeiçoado durante a pós-graduação no Instituto de Química da Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus Araraquara.

A empresa foi uma das primeiras no setor de nanotecnologia do Brasil e hoje é considerada a maior da área no país, sendo a primeira empresa nacional a exportar nanotecnologia.

Fonte da notícia

Fernanda Vilela – Assessora de Comunicação do Centro de Desenvolvimento de Materiais Funcionais (CDMF).
(16) 9 8178-2748
(16) 3351-8214
fernandavilela@liec.ufscar.br

XII Encontro da SBPMat: mesa redonda sobre pesquisa e inovação em Materiais.

Na segunda-feira dia 30 de setembro, o XII Encontro contará com uma mesa redonda sobre pesquisa e inovação na área de Materiais. A partir das 18h20, os sete membros da mesa, provenientes do Brasil e do exterior, apresentarão brevemente suas experiências de PD&I desenvolvidas enquanto empreendedores, profissionais de empresas ou pesquisadores de instituições de pesquisa. Em seguida, a discussão será aberta ao público.

Mesa redonda

Título: “Ciência, engenharia e comercialização de dispositivos industriais, eletrônicos e biomédicos”
Quando: 30 de setembro (segunda-feira) das 18h20 às 19h30.
Onde: Convention Center, Campos do Jordão (SP), no XII Encontro da SBPMat.
Apresentadores/debatedores:

  • Orlando Auciello (presidente da Materials Research Society – cofundador das empresas Advanced Diamond Technologies e Original Biomedical Implants – professor da Universidade de Texas em Dallas)
  • José Arana Varela (CEO da Fapesp – professor da Unesp)
  • Carlos Paz de Araujo (cofundador das empresas Ramtron, líder em semicondutores ferroelétricos, e Symetrix Corporation, dedicada à pesquisa em materiais avançados e processos para a indústria de semicondutores – detentor de mais de 500 patentes – professor na Universidade de Colorado – Colorado Springs)
  • Elson Longo (coordenador do Centro Multidisciplinar para o Desenvolvimento de Materiais Cerâmicos e do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia dos Materiais em Nanotecnologia – professor da Unesp)
  • Vladimir Trava-Airoldi (pesquisador do INPE e da empresa CVD Vale – vencedor de dois Prêmios FINEP de Inovação)
  • Luiz Gustavo Pagotto Simões (presidente da Nanox, empresa brasileira exportadora de antimicrobianos para embalagens de alimento)
  • Fábio Lopes Pinto (engenheiro da Companhia Siderúrgica Nacional)

Edital Inova AeroDefesa, da Finep, tem oportunidades para Materiais.

A Finep está divulgando seu plano Inova AeroDefesa, cujo edital atualmente aberto tem como papel fomentar as indústrias e centros de pesquisa aeroespacial, aeronáutica, de defesa, segurança e materiais especiais com até R$ 2,9 bilhões, em créditos reembolsáveis a juros subsidiados pelo Estado e recursos não-reembolsáveis (subvenção econômica).

A parte de materiais com foco nas aplicações de aeroespacial, defesa e segurança também está incluída neste edital nos seguintes temas:

“Linha 4: Materiais Especiais
– Materiais para Aplicações Diversas: fibras de carbono e compósitos; ligas metálicas para altas temperaturas e outros materiais;

– Materiais para Aplicações na Indústria de Defesa: resinas para propelentes sólidos; materiais absorvedores de radiação eletromagnética; blindagens e proteção balística; e outros para aplicações em defesa, aeronáuticas e espaciais.

– Ligas Metálicas para Aplicações Especiais: aços maraging M300 e M350; componentes de aços e ligas especiais para gerador de vapor; tubos extrudados de parede grossa de ligas de alumínio; superligas à base de níquel e aços inoxidáveis especiais.”

O prazo para envio de carta de manifestação de interesse vence no dia 01/07/2013.

Edital:
http://download.finep.gov.br/chamadas/inova_aerodefesa/editais/EDITALINOVAAERODEFESA.pdf

Plenárias do XII Encontro da SBPMat: palestra sobre memórias avançadas não voláteis de Carlos A. Paz de Araujo (University of Colorado, Colorado Springs e Simetrix corporation – EUA).

O pesquisador, inventor, professor e empresário Carlos Paz de Araujo nasceu no Brasil, na cidade de Natal (RN). Realizou seus estudos superiores em Engenharia Elétrica na Universidade de Notre Dame, nos Estados Unidos. Ao concluir seu doutorado em 1982, ainda na Universidade de Notre Dame, iniciou sua carreira de professor na Universidade de Colorado – Colorado Springs (UCCS), onde permanece até hoje.

Em 1984 foi um dos fundadores da empresa Ramtron – atualmente líder em semicondutores ferroelétricos para diversas aplicações. Em 1986 cofundou a empresa Symetrix Corporation, dedicada à pesquisa em materiais avançados e processos para a indústria de semicondutores. Hoje, Paz de Araujo é chairman executivo da companhia.

O palestrante é detentor de centenas de patentes concedidas nos Estados Unidos e outros países, sendo cerca de 200 delas sobre materiais para FRAM (ferroelectric random access memory).

Paz de Araujo participou de 25 projetos de licenciamento e colaboração com entidades da indústria e do governo, como, por exemplo, Panasonic, Delphi, Harris, Hughes Aircraft, Siemens, Sony, Epson, Ramtron Corporation, STMicroelectronics, IMEC, Micron, Raytheon, NASA e Hynix.

Em 2006 foi distinguido com o prêmio Daniel E. Noble da IEEE, por meio do qual a maior associação profissional do mundo, a IEEE, destaca contribuições notáveis em tecnologias emergentes. Paz de Araujo foi selecionado por suas contribuições fundamentais à área de memórias FRAM e à sua comercialização.

O seu constante trabalho de desenvolvimento de tecnologias e transferência ao mercado resultou em 1,5 bilhão de dispositivos comercializados em diversos países e utilizados em telefones celulares, leitores de DVD, computadores e cartões inteligentes, entre outros produtos.

No XII Encontro da SBPMat, Carlos Paz de Araujo proferirá uma palestra plenária na qual revisará o estado da arte em memórias não voláteis – memórias que conservam a informação armazenada mesmo estando desligadas da fonte de energia, como, por exemplo, as ROM, FLASH e as próprias FRAM. Memórias de tipo FRAM têm significativas vantagens com relação aos outros tipos de memórias não voláteis no que diz respeito a sua alta durabilidade, capacidade de ser regravadas, baixo consumo de energia e velocidade de gravação, entre outras características.

As memórias não voláteis constituem um dos temas mais estudados desde final dos anos 1960 e são atualmente objeto de vigorosa pesquisa e desenvolvimento. O tema ainda apresenta muitos desafios à área de Materiais.

Na palestra, Paz de Araujo também comentará oportunidades de pesquisa, desenvolvimento e comercialização desses dispositivos.

Veja resumo da palestra.
Veja o mini CV do palestrante.

XI Encontro da SBPMat: discussões sobre ciência, tecnologia e inovação em Materiais.

De 23 a 27 deste mês, a bela Florianópolis (SC) receberá um grande número de pessoas atuantes na área de Materiais, provenientes de diversos estados brasileiros e de outros 25 países para participar do XI Encontro da SBPMat no resort Costão do Santinho.

O encontro da comunidade da pesquisa em Materiais vai ocorrer em hotel da praia do Santinho, em Florianópolis. Crédito da foto: Vani Lemos.

“Além de simpósios voltados para o aprofundamento da Ciência dos Materiais, foi dada especial atenção à inclusão de simpósios com foco em Engenharia de Materiais e Inovação”, resume o chairman do evento, Aloisio Nelmo Klein, professor da Universidade Federal de Santa Catarina.

A programação desta décima primeira edição do evento segue o formato dos encontros anteriores, baseado em simpósios temáticos. O conjunto dos 16 simpósios contempla, neste ano, temas como nanotecnologia para aplicações diversas, biomateriais, materiais para eletrônica avançada e novidades em técnicas de fabricação e análise de desempenho de materiais avançados.  Entre apresentações orais, pôsteres e palestras convidadas (invited lectures), os simpósios reúnem 1.818 trabalhos.

O evento conta também com seis palestras plenárias de pesquisadores dos Estados Unidos (do MIT, NASA e Argonne National Laboratory), França (do MINATEC micro and nanotechnologies innovation campus e École des Mines) e Alemanha (Fraunhofer Institute).

Na área dos expositores, haverá mais de 30 estandes de empresas e instituições com propostas relevantes para a comunidade de Materiais.

Expectativas

“A minha expectativa é que o encontro, além da tradicional discussão sobre os avanços nos aspectos científicos e tecnológicos na área de Materiais, cresça a discussão sobre a necessidade urgente de se dar passos bem maiores em inovação no Brasil”, diz o professor Klein. “Somos uma comunidade de pesquisa que já se destaca na produção de artigos científicos a nível internacional. Precisamos agora envidar maiores esforços na conversão da ciência em tecnologia e inovação”, acrescenta.

Nesse sentido, esta edição do Encontro da SBPMat incluirá uma mesa redonda que debaterá o tema “ciência, tecnologia e inovação para um Brasil competititvo” e terá a participação de representantes  da ANPEI (Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Inovadoras), a empresa Embraco,  Fapesc (Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina), Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, e SBPMat. Essa mesa redonda está programada para o dia 25 de Setembro, às 18 horas.

Participantes

O evento já conta com mais de 1.500 inscritos, entre estudantes de graduação e pós-graduação e cientistas formados em Física, Química, Biologia e Engenharias.  “Essa diversidade de áreas do conhecimento reflete a multidisciplinaridade e a interação interdisciplinar da área de Materiais”, diz Klein.

Quanto às origens dos inscritos, esta edição do encontro agregou a China, Coreia, Índia e Japão à já tradicional participação de pesquisadores da América Latina, Europa e Estados Unidos.

E você, já fez sua inscrição?

As inscrições pelo site ainda estão abertas: http://www.sbpmat.org.br/11encontro/registration/

Aproveite agora e evite filas no local do encontro.

 

Conteúdos relacionados:

Veja fotografias do X Encontro, realizado em 2011 em Gramado, em nosso Facebook: http://www.facebook.com/SBPMat

Veja a programação do XI Encontro da SBPMat: http://www.eventweb.com.br/xisbpmat/home-event/choose-schedule-type.php

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