Entrevistas com plenaristas do XIII Encontro da SBPMat: Roberto Dovesi (Universita’ degli Studi di Torino, Itália).

O químico italiano Roberto Dovesi, professor titular da Universitá degli Studi di Torino, onde ele chefia o Grupo de Química Teórica, proferirá uma das palestras plenárias em nosso XIII Encontro da SBPMat. Dovesi falará sobre os cálculos teóricos aplicados aos materiais.

O foco da sua atividade científica é abordar, do ponto de vista da Mecânica Quântica, a Química e Física do Estado Sólido, a Ciência de Materiais e a Ciência de Superfícies. Em particular, sua atividade primária é a implementação de programas de computador ab initio para o estudo da estrutura eletrônica de compostos periódicos.

Dovesi é um dos criadores de CRYSTAL, uma ferramenta computacional para a caracterização de sólidos cristalinos. O projeto CRYSTAL foi iniciado em 1976, e envolveu (e ainda envolve) um grande número de colaboradores de muitos países. A primeira versão do software foi lançada em 1988. Depois vieram mais seis versões. CRYSTAL é hoje um programa licenciado usado em mais de 350 laboratórios no mundo. Nos últimos cinco anos, mais de 30 estudantes de doutorado e pós-doutorado de países europeus visitaram o Grupo de Química Teórica de Torino para serem apresentados aos aspectos formais e ao uso do código CRYSTAL.

Cada ano, o grupo de Dovesi organiza eventos internacionais sobre simulação de sólidos na abordagem da Mecânica Quântica. Um deles foi realizado em 2012 no Brasil. Neste ano quatro cursos foram organizados em Perth (Austrália), Jahnsi (India), Regensburg (Alemanha) e Londres (Inglaterra).

Roberto Dovesi é autor de mais de 250 artigos publicados em periódicos internacionais e de um livro (com Cesare Pisani e Carla Roetti) publicado pela editora Springer em 1989. Desde 1985, ele recebeu mais de 7.000 citações. Seu índice h é de 51.

Segue nossa entrevista com o plenarista.

Boletim da SBPMat: – Compartilhe conosco, muito brevemente, a história do desenvolvimento de CRYSTAL desde a primeira ideia até a comercialização.

Roberto Dovesi:- Em 1970 Cesare Pisani, Carla Roetti e eu decidimos explorar as possibilidades da simulação como um complemento aos experimentos no estudo de sólidos cristalinos.

Nós começamos a desenvolver pequenos códigos baseados na analogia com os códigos que estavam aparecendo na literatura produzida principalmente pelas universidades dos Estados Unidos. Em 1976 nós começamos a implementar códigos para cálculos quânticos ab initio para sólidos, usando ferramentas e metodologias que eram comuns para a comunidade de Química Teórica (em oposto à comunidade de Estado Sólido). Foram 4 anos de estudo muito duro e codificação para se chegar a um primeiro resultado preliminar, a estrutura de bandas do grafite e sua energia total. Oito anos depois, em 1988, CRYSTAL estava maduro o suficiente para ser publicamente distribuído pelo Programa de Intercâmbio de Química Quântica (QCPE, na sigla em inglês). O CRYSTAL foi o primeiro código periódico distribuído publicamente para a comunidade científica.

Nesse meio tempo muitos novos colaboradores de diversos países se juntaram ao grupo (eu gostaria de mencionar ao menos um deles, Vic Saunders, do Daresbury Laboratory, no Reino Unido). Nos anos seguintes diversas novas edições foram distribuídas (1992, 95, 98, 2003, 2006, 2009, 2014), cada uma correspondente às generalizações e extensões do código em diversas direções. A última edição (CRY14) foi distribuída em mais de 200 laboratórios em menos de um ano.

Espectro Raman do piropo.

Boletim da SBPMat: – Por favor, explique para um público amplo o que pode ser feito com o CRYSTAL no campo de Ciência e Engenharia de Materiais.

Roberto Dovesi:- O CRYSTAL pode ser usado para estudar muitas propriedades de estado fundamental de sistemas periódicos em 1 dimensão (nanotubos, polímeros), 2 dimensões (monocamadas, lâminas) e 3 dimensões (cristais); soluções sólidas, moléculas e aglomerados podem ser investigados também. Hartree-Fock e DFT de diversos tipos são os Hamiltonianos disponíveis. Um conjunto muito grande de propriedades pode ser estudado, a lista pode ser encontrada em www.crystal.unito.it.  Uma lista curta inclui propriedades elásticas, piezoelétricas, fotoelásticas, dielétricas, polarizabilidade e tensores de hiperpolarizabilidade, espectro IR e RAMAN, estrutura de bandas eletrônicas e fonônicas.

Boletim da SBPMat: – Escolha algumas de suas principais publicações (3 ou 4) para compartilhá-las com nossos leitores.

Roberto Dovesi:-

1. Raman Spectrum of Pyrope Garnet. A Quantum Mechanical Simulation of Frequencies, Intensities, and Isotope Shifts. Lorenzo Maschio, Bernard Kirtman, Simone Salustro, Claudio M. Zicovich-Wilson, Roberto Orlando and Roberto Dovesi. J. Phys. Chem. A, 2013, 117 (45), pp 11464–11471.

2. Structural, electronic and energetic properties of giant icosahedral fullerenes up to C6000: insights from an ab initiohybrid DFT study. Yves Noel, Marco De La Pierre, Claudio Marcelo Zicovich Wilson, Roberto Orlando, Roberto Dovesi. Phys Chem Chem Phys. 2014, Jun 11; 16(26):13390-401.

3. Symmetry and random sampling of symmetry independent configurations for the simulation of disordered solids. Philippe D’Arco, Sami Mustapha, Matteo Ferrabone, Yves Noël, Marco De La Pierre, Roberto Dovesi. J Phys Condens Matter. 2013 Sep 4; 25(35): 355401.

Boletim da SBPMat: – Conte-nos o que você pretende abordar em sua palestra no XIII Encontro da SBPMat.

Roberto Dovesi:- Eu tentarei demonstrar que atualmente simulações quânticas podem ser ferramentas úteis para complementar os experimentos. O custo menor do hardware e a disponibilidade de códigos computacionais poderosos, precisos e gerais permite executar simulações também para não especialistas. Eu demonstrarei que o número de propriedades disponíveis torna a simulação muito interessante.

Artigo em destaque: Folhas de grafeno gravadas com íons de hélio.

O artigo científico com participação de membros da comunidade brasileira de pesquisa em Materiais em destaque neste mês é:

Archanjo, B.S.; Fragneaud, B.; Cancado, L.G.; Winston, D.; Miao, F.; Achete, C.A.; Medeiros-Ribeiro, G. Graphene nanoribbon superlattices fabricated via He ion lithography. Appl. Phys. Lett. 104, 193114 (2014); http://dx.doi.org/10.1063/1.4878407.

Artigo de divulgação

Folhas de grafeno gravadas com íons de hélio

Em um trabalho coordenado por pesquisadores do Brasil e recentemente publicado na Applied Physics Letters (APL), cientistas gravaram, em cima de folhas de grafeno, padrões periódicos de tamanho nano, utilizando um método novo para essa aplicação, a litografia por feixe de íons de hélio focalizados.

A equipe de cientistas envolvida no trabalho se valeu de um microscópio HIM, do inglês helium ion microscope, para bombardear o grafeno com esses íons e, dessa maneira, gravar linhas paralelas de 1mm de comprimento e apenas 5 nm de largura, definindo, entre elas, fitas de 20 nm de largura (nanofitas).

Além de ser rápido e simples, o método se revelou muito preciso: gerou defeitos pontuais menores do que outras técnicas similares e preservou significativamente a estrutura atómica das nanofitas definidas.

O novo método amplia as possibilidades de aplicação do grafeno, que, vale lembrar, é um material plano (de apenas um átomo de altura) formado por átomos de carbono densamente compactados, e que se destaca por poder ser utilizado em escala nano e por sua altíssima resistência, ótima condução da eletricidade e do calor, transparência e flexibilidade, entre outras propriedades.

“A escrita direta em grafeno, utilizando o feixe de íons focalizados, permite a fabricação rápida de diferentes dipositivos”, diz Braulio Archanjo, pesquisador do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) e primeiro autor do artigo da APL. Como exemplo, Archanjo cita a possibilidade de fabricar em grafeno puro, num futuro próximo, as chamadas “junções PN”, estruturas atualmente fabricadas basicamente em silício, as quais compõem dispositivos semicondutores, como díodos e transistores, amplamente usados na produção de eletrônicos.

Imagem topográfica (em 3 dimensões) da superfície do grafeno sobre SiO2, coletada em um microscópio de força atômica.

A história do trabalho

No contexto de trabalhos sobre metrologia do grafeno realizados nos últimos anos no Inmetro, relata Archanjo, surgiu a ideia de se fabricar, de maneira controlada, padrões periódicos de “defeitos”, como as linhas paralelas do trabalho da APL. Em 2012, uma equipe do Inmetro, em colaboração com pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), publicou um trabalho sobre padrões periódicos gravados em grafeno utilizando um feixe de íons de gálio por meio de um equipamento de FIB, do inglês focused ion beam.

Posteriormente, em uma reunião de Archanjo com os professores Carlos Achete, ligado à Universidade Federal do Rio de Janerio (UFRJ) e ao Inmetro, e Gilberto Medeiros, ligado à UFMG e ao laboratório de pesquisa e desenvolvimento da Hewlett-Packard (HP Labs), foi planejado um segundo trabalho em que se usaria, em vez do equipamento de FIB, um HIM, cuja resolução é até dez vezes superior, mas que não existe ainda em território brasileiro.

Então, Archanjo passou três semanas no Vale do Silício, nos Estados Unidos, utilizando o HIM do HP Labs para fazer litografia em amostras de grafeno produzidas no Inmetro. “Juntamos a expertise que temos aqui a respeito de defeitos em grafeno, com a expertise dos pesquisadores do HP Labs em utilizar um microscópio de feixe de íons de hélio focalizado”, resume o pesquisador do Inmetro.

Quando ele voltou ao Brasil com várias amostras de grafeno com padrões periódicos gravados, a equipe deu início ao estudo dessas amostras por microscopia de força atômica e espectroscopia Raman, desenvolvido no próprio Inmetro. “Esta etapa do trabalho foi realizada juntamente com os professores Benjamin Fragneaud, da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e Luiz Gustavo Cançado, da UFMG”, conta Archanjo.

HIM: proximamente no Brasil

No primeiro semestre de 2015, anuncia Archanjo, o Brasil deve ter seu primeiro microscópio de íons de hélio. “A experiência que ganhamos realizando o estudo no HP Labs nos permitirá instalá-lo e utilizá-lo”, diz o pesquisador. O equipamento estará disponível para os pesquisadores brasileiros interessados em utilizá-lo dentro do Núcleo de Laboratórios Multiusuário de Microscopia do Inmetro.

Feito no Brasil: incorporação de nanoestruturas de prata em produtos de higiene bucal elimina 99% das bactérias e fungos.

Crédito: Divulgação/CDMF

Pesquisa de incorporação da prata com propriedades bactericidas em superfícies desenvolvida pelo CDMF, um dos CEPIDs da FAPESP, é aplicada em escovas de dente.

A OralGift, empresa com 12 anos de experiência na área de higiene bucal, em parceria com o Centro de Desenvolvimento de Materiais Funcionais (CDMF), e a NANOX Tecnologia, lançou uma nova linha de produtos com a tecnologia NanoxClean. Fabricados com nanoestruturas de prata incorporadas à matéria prima, os produtos têm uma superfície protegida da ação de microrganismos e bactérias.

Os pesquisadores responsáveis pelo trabalho explicam que os ambientes úmidos, especialmente os banheiros, apresentam uma grande quantidade de bactérias e fungos. Quando as escovas de dente são deixadas expostas, a possibilidade de contaminação é alta.

A tecnologia de incorporação de nanoestruturas de prata elimina 99% das bactérias e fungos que se acumulam na porta e suporte de escovas de dente, estojos que são utilizados para guardar essas escovas e nos higienizadores de língua.

O diretor do CDMF, professor Elson Longo, explica a importância da parceria entre o desenvolvimento em pesquisa na universidade com a inovação em escala industrial das empresas. “A Nanox é uma empresa de primeiro mundo em inovação e com alta tecnologia. Ela desenvolve produtos baseados em nanotecnologia, principalmente na área da saúde. Esta inovação lançada no mercado é mais um exemplo de criatividade na transformação do conhecimento em riqueza para o país”.

Sobre o CDMF

O Centro de Desenvolvimento de Materiais Funcionais (CDMF), é um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) apoiados pela FAPESP, e o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia dos Materiais em Nanotecnologia (INCTMN/CNPq), com participação da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Universidade de São Paulo (USP) e do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen). Perfil no Facebook: https://www.facebook.com/INCTMNCMDMC

NANOX

A NANOX Tecnologia tem sede em São Carlos e nasceu de um projeto desenvolvido por três jovens estudantes da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). O trabalho foi aperfeiçoado durante a pós-graduação no Instituto de Química da Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus Araraquara.

A empresa foi uma das primeiras no setor de nanotecnologia do Brasil e hoje é considerada a maior da área no país, sendo a primeira empresa nacional a exportar nanotecnologia.

Fonte da notícia

Fernanda Vilela – Assessora de Comunicação do Centro de Desenvolvimento de Materiais Funcionais (CDMF).
(16) 9 8178-2748
(16) 3351-8214
fernandavilela@liec.ufscar.br

Entrevistas com plenaristas do XIII Encontro da SBPMat: Jean-Marie Dubois (Institut Jean-Lamour, França).

Jean-Marei Dubois (esquerda)e o Prêmio Nobel Dan Shechtman (direita) celebrando o 70º aniversário de Shechtman dois anos antes de ele ter recebido o Nobel. Ambos usam a mesma gravata, decorada com um mosaico de Penrose, um exemplo típico de aperiodicidade no desenho e na pintura.

O cientista francês Jean-Marie Dubois, doutor em Física pelo Instituto Nacional Politécnico de Lorraine (França), é diretor distinto de pesquisa do Centro Nacional de Pesquisa Científica, CNRS (França), onde preside um comitê dedicado à química dos materiais, nanomateriais e processamento.  Ele é ex-diretor do Instituto Jean Lamour em Nancy (França), um importante instituto de pesquisa na área de Materiais.

Seu currículo demonstra uma trajetória científica internacional. Dubois possui doutorados honorários (Doutor Honoris Causa) da Universidade do Estado de Iowa (EUA) e da Universidade Federal da Paraíba (Brasil), já foi agraciado como membro internacional do Churchill College, pela Universidade de Cambridge (Reino Unido), e é um professor convidado permanente da Universidade Tecnológica de Dalian (China). Recentemente, foi eleito como membro honorário do Instituto Jožef Stefan, em Ljubljana (Eslovênia). Também é membro da Academia de Ciências de Lorraine (França).

Além disso, Dubois é o autor de mais de 250 artigos científicos, publicados em revistas arbitradas, 14 patentes internacionais e 7 livros. Seus trabalhos foram citados mais de 5400 vezes (índice H = 39).

Confira nossa entrevista com o palestrante.

Boletim da SBPMat: – Em sua opinião, quais são as suas principais contribuições para a área de Ciência e Engenharia de Materiais? E quais seriam as suas contribuições científico-tecnológicas com mais impacto social?

Peça de 20 x 20 x 30 cm, usada por um fabricante de carros francês, produzida com um material feito com um polímero reforçado com pó quasicristalino. A peça pode ser fabricada por manufatura aditiva sem restrições quanto à complexidade do formato.

Jean-Marie Dubois: Minha primeira contribuição visando um impacto social foi a descoberta dos vidros metálicos baseados em alumínio, os quais seriam bons candidatos ao papel de ligas leves úteis para a indústria aeronáutica. Eu os patenteei em 1982, listando um número de exemplos favoráveis e, como é a regra para uma patente, também contraexemplos.  Um desses compostos foi, na verdade, um quasicristal estável, desenvolvido no Japão alguns anos depois. Baseado nessa descoberta, eu fui o primeiro a patentear alguns nichos para a aplicação dos quasicristais, compostos intermetálicos baseados em alumínio que não apresentam uma ordem periódica como os cristais convencionais. A descoberta dos quasicristais ocorreu já em 1982, mas só foi divulgada na literatura especializada em 1984, enquanto a minha primeira patente ligada a esses materiais foi registrada em 1988. A partir daí, eu me esforcei em descobrir, patentear e produzir novas pesquisas, em diferentes campos da física dos quasicristais, incluindo condutividade térmica, adesão e atrito, resistência à corrosão, etc.

Minha liderança nesse segmento da Ciência de Materiais foi reconhecida pela comunidade internacional através da criação do “Prêmio Internacional Jean-Marie Dubois”, dado a cada três anos como reconhecimento por pesquisas importantes e sustentáveis, focadas em qualquer aspecto dos quasicristais, que tenham sido realizadas nos últimos 10 anos antes da premiação. No total, eu detenho 14 patentes internacionais, com mais de 25 extensões. Fui responsável por algumas dezenas de contratos de colaboração com a indústria, incluindo diversos contratos financiados pelas Comissões Europeias com, em média, meia dúzia de parceiros industriais, e a mesma quantidade de parceiros acadêmicos. O último exemplo foi a chamada Network of Excellence (Rede de Excelência), que estabeleceu a área de Ligas Metálicas Complexas na Europa com 20 instituições associadas, de 12 países europeus, e aproximadamente 400 cientistas envolvidos.

Boletim da SBPMat: – Escolha algumas das suas principais publicações (por volta de 3 ou 4) para compartilhá-las com o nosso público.

1) Useful Quasicrystals; J.M. DUBOIS, World Scientific, Singapour (2005), 470 pages.

2) Complex Metallic Alloys, Fundamentals and Applications; Eds. J.M. DUBOIS and E. BELIN-FERRÉ, Wiley (Weinheim, 2010), 409 p.

3) Topological instabilities in metallic lattices and glass formation; J.M. DUBOIS, J. Less Common Metals 145 (1988), 309-326.

4) The applied physics of quasicrystals; J.M. DUBOIS, Scripta Physica, T49 (1993) 17-23.

5) Properties and applications of complex metallic alloys, J.M. DUBOIS, Chem. Soc. Rev., 41 (2012) 6760-6777.

Boletim da SBPMat: – Por favor, nos dê uma prévia da sua palestra plenária no Encontro da SBPMat. O que o senhor pretende abordar?

Jean-Marie Dubois: – Minha palestra será uma homenagem ao descobridor dos quasicristais, que recebeu o Prêmio Nobel de Química em 2011 por essa descoberta que levou a comunidade científica a rever todo o seu conhecimento sobre a matéria condensada ordenada. Membros da SBPMat já estão familiarizados com um cristal, um sólido periodicamente ordenado. O que eu quero é apresentá-los a outro tipo de ordem para os sólidos, não periódica, que leva a propriedades sem precedentes. Ligas com esse tipo de ordem são muito particulares, e eu as chamo de ligas push-pull  (empurra- puxa).  Então, eu pretendo demonstrar que esse tipo de ordem não se restringe a ligas metálicas, mas também pode ser encontrado na matéria mole, como polímeros, óxidos, nanoestruturas artificiais e mesmo em desenhos artísticos em antigos mosaicos islâmicos. A palestra, então, será uma visão geral para não especialistas sobre quasicristais e compostos intermetálicos complexos.

Boletim SBPMat – edição 22 – junho 2014.

 

Edição nº 22 – Junho de 2014

Saudações, .

XIII Encontro da SBPMat: João Pessoa – 28/9 a 2/10

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– Nosso encontro anual registra, nesta edição, um recorde de submissões, com mais de 2.100 trabalhos recebidos.

– Os autores serão notificados do aceite /necessidade de modificação/ rejeição até o dia 15/07.

– De 15/07 até 08/08 os autores podem enviar os resumos estendidos para participar do Prêmio Bernhard Gross.

– As inscrições com desconto vão até 15/08.

Saiba mais.

–  23 empresas e instituições já escolheram participar como expositores em nosso Encontro. Se a sua organização também deseja fazer parte, entre em contato com rose@metallum.com.br.

Artigo em destaque 

Engenheiros de materiais se uniram a químicos e engenheiros de alimentos com o objetivo de desenvolver filmes antimicrobianos para embalar alimentos. Formulados a partir de pectina (polímero natural), polpa de mamão e um componente da canela em emulsão, os filmes são comestíveis. A equipe também estudou como os diversos “ingredientes” e o tamanho (nano) das partículas da emulsão mudaram as propriedades mecânicas e antimicrobianas dos filmes. O estudo, liderado por grupos de pesquisa da Embrapa e da Universidade Federal de Viçosa e realizado integralmente no Brasil, foi publicado no periódico Food Hydrocolloids.

Veja a matéria de divulgação que preparamos para esta edição.

Você pode sugerir artigos da área de Materiais com significativa participação brasileira publicados em periódicos com alto fator de impacto para ser divulgados na seção “Artigo em destaque” do boletim: comunicacao@sbpmat.org.br.

Gente da nossa comunidade 

Na ocasião de sua posse como membro do advisory board da Academia Mundial de Cerâmicas, entrevistamos o professor Victor Carlos Pandolfelli (DEMa – UFSCar). Ele nos contou como construiu sua carreira profissional em cima dos pilares do ensino, pesquisa e parceria industrial, guiado pelo princípio da “pesquisa básica inspirada no uso“. Pandolfelli falou sobre a criação dos novos materiais do futuro em laboratórios com computadores de alta velocidade de processamento e em impressoras 3D. Para concluir, deixou sugestões para os leitores em início de carreira, que estão enfrentando um mundo de competição acirrada, e disse: não cofundam o Facebook com o mundo real.

Veja nossa entrevista com Victor Carlos Pandolfelli.

Também entrevistamos o pesquisador do IPEN Reginaldo Muccillo, membro recém-empossado da Academia Mundial de Cerâmicas. Ele nos falou um pouco sobre sua trajetória e contribuições à área e sobre os desafios da ciência dos materiais cerâmicos.

Veja nossa entrevista com Reginaldo Muccillo.

Novidades da SBPMat

A SBPMat esteve presente no encontro de primavera da Sociedade Europeia de Pesquisa em Materiais, a E-MRS, realizado na França no final de maio. Nosso presidente, o professor Roberto Faria, foi um dos chairs do evento, e membros da diretoria organizaram o simpósio em eletrônica orgânica, que contou com significativa participação do Brasil. Saiba mais.

Dicas de leitura

Divulgação científica de artigos publicados em periódicos de alto fator de impacto.– Aplicando um campo elétrico, é possível mudar a estrutura e propriedades eletrônicas do grafeno tricamada (divulgação de paper da Nature Materials). Aqui.– Avanços na compreensão da supercondutividade de alguns materiais pela via das interações magnéticas (divulgação de paper da Nature Communications). Aqui.

– TGCN: o membro recém-nascido da família do grafeno  tem potencial para uso em transistores (divulgação de paper da Angewandte Chemie). Aqui.

– Cientistas fabricam agregados de nanopartículas plasmônicas capazes de matar células cancerígenas (divulgação de paper de Advanced Functional Materials). Aqui.
Novidades dos INCTs (Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia do CNPq) sobre Materiais.

– Site do Institute of Physics (IOP) destaca recentes investimentos brasileiros na área de Materiais e pesquisas de ponta desenvolvidas no país. Aqui.
No mercado, ou quase.

– Cabo supercondutor de 1 km, resfriado com nitrogênio líquido, é instalado na Alemanha para ser testado por dois anos. Aqui.

– Grafeno: mais de 11 mil patentes no mundo, com a China na liderança, e fabricantes de grafeno no Reino Unido. Aqui.

Oportunidades

– Concurso para professor do Instituto de Química da Unicamp (Campinas,SP) em Síntese Inorgânica. Aqui.– Inscrições abertas para mestrado profissional em materiais e catálise da Univap (São José dos Campos, SP). Aqui.

Próximos eventos da área

 2º Workshop Adesão Microbiana e Superfícies. Aqui.– 13th European Vacuum Conference + 7th European Topical Conference on Hard Coatings + 9th Iberian Vacuum Meeting. Aqui.– 19th International Conference on Ion Beam Modification of Materials. Aqui.

– XIII Encontro da SBPMat. Aqui.

– International Symposium on Crystallography – 100 years of History. Aqui.

– Congresso Brasileiro de Engenharia Biomédica (CBEB). Aqui.

 MM&FGM 2014 – 13th International Symposium on Multiscale, Multifunctional and Functionally Graded Materials. Aqui.

– X Brazilian Symposium on Glass and Related Materials (X-BraSGlass). Aqui.

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XIII Encontro da SBPMat: recorde de submissões, com mais de 2.100 resumos enviados.

O XIII Encontro da SBPMat, que será realizado em João Pessoa de 28 de setembro a 2 de outubro, registra mais de 2.100 trabalhos submetidos – um recorde na história dos encontros anuais da Sociedade.

Entre os 19 simpósios do evento deste ano, os que receberam mais submissões, contando com mais de 200, foram o simpósio N, dedicado à Engenharia de Superfícies; o M, sobre nanomateriais para nanomedicina, e o B, de materiais cerâmicos e metálicos obtidos por métodos químicos.

O prazo de submissão de resumos encerrou no dia 13 de junho. Até o dia 15 de julho, os autores dos trabalhos submetidos receberão a notificação de aprovação, necessidade de modificação ou rejeição.

Prêmio Bernhard Gross
Entre os trabalhos aceitos, aqueles submetidos por autores que são estudantes de graduação ou pós-graduação poderão concorrer ao Prêmio Bernhard Gross. Por meio desse prêmio, o comitê do XIII Encontro da SBPMat distinguirá os melhores trabalhos de cada simpósio (no máximo, um oral e um pôster) apresentados por estudantes. Os trabalhos vencedores poderão ser publicados em um volume especial, dedicado ao XIII Encontro da SBPMat, do periódico de acesso aberto “IOP Conference Series: Materials Science and Engineering”, sem custo para os autores. Para participar do prêmio, os autores, após serem notificados da aprovação, deverão submeter um resumo estendido, conforme as instruções e o modelo que constam no site do evento.

Sobre o evento
O encontro anual da SBPMat é um tradicional fórum internacional dedicado aos recentes avanços e perspectivas em ciência e tecnologia de Materiais. Nas últimas edições, o evento tem reunido cerca de 1.500 participantes das cinco regiões do Brasil e de dezenas de outros países para apresentação e discussão de trabalhos de pesquisa científica e tecnológica na área de Materiais. O evento conta também com palestras plenárias de pesquisadores mundialmente destacados e com expositores do interesse da comunidade de Materiais.

Agenda

  • Notificações de aceite: até 15 de julho
  • Ressubmissão de trabalhos após notificação de necessidade de modificação: até 10 de julho
  • Submissão de resumos estendidos para o Prêmio Bernhard Gross: de 15 de julho até 08 de agosto. SUBMISSÃO DE RESUMO ESTENDIDO PRORROGADA ATÉ 15 DE AGOSTO.

Gente da nossa comunidade: Entrevista com Victor Carlos Pandolfelli.

Victor Carlos Pandolfelli, professor titular do Departamento de Engenharia de Materiais da Universidade Federal de São Carlos (DEMa – UFSCar), foi empossado como membro do advisory board  da World Academy of Ceramics (WAC) em cerimônia realizada no dia 11 de junho em Montecatini Termi (Itália), durante a International Conference on Modern Materials and Technologies (CIMTEC). Na ocasião também foi realizada a primeira reunião do advisory board. Eleito para o mandato 2014 – 2018, Pandolfelli é um dos dois representantes das Américas no período, junto a um pesquisador dos Estados Unidos.

Graduado em Engenharia de Materiais pelo DEMa – UFSCar (1979), Victor Carlos Pandolfelli vem pesquisando temas da área de materiais cerâmicos desde os tempos de seu mestrado, defendido em 1984 no DEMa-UFSCar. Foi também nessa área a pesquisa de seu doutorado na University of Leeds (Reino Unido), concluído em 1989, e do estágio de pós-doutorado realizado de 1996 a 1997 na École Polytechnique de Montreal, no Canadá.

Pandolfelli é membro titular da Academia Brasileira de Ciências e fellow da American Ceramic Society, além de membro da WAC. Participa ou participou do comitê editorial das revistas Interceram, Refractories Manual e Refractories World Forum (Alemanha), Materials Research, Revista Cerâmica e Journal of Materials Research and Technology (Brasil), China’s Refractories (China), Cerámica y Vidrio (Espanha), Refractory Applications, Refractories Applications Transactions e American Ceramic Society Bulletin (EUA), e Ceramics International (Itália).

É professor visitante da Wuhan University of Science and Technology (China) e coordenador latino-americano da Federation for International Refractories Research and Education (FIRE) uma organização que envolve universidades em diferentes países e empresas líderes na área de refratários. Desde 1993, coordena o Laboratório ALCOA (Aluminum Company of America) na UFSCar.

Bolsista de produtividade em pesquisa do CNPq – nível 1 A, é coautor de mais de 400 trabalhos publicados em revistas com árbitro, um livro e oito patentes depositadas. Orientou 50 mestrados e 16 doutorados. Muitos trabalhos desenvolvidos por ele ou com sua orientação foram distinguidos em premiações promovidas por entidades como a German Ceramic Society (Alemanha), Technical Association of Refractories of Japan, American Ceramic Society, Petrobras, Confederação Nacional das Indústrias, Associação Brasileira de Alumínio, Associação Brasileira de Cerâmica, Alcoa Aluminio S.A., Magnesita S.A. e ABM, entre outras. Em suas atividades profissionais, interagiu com 380 colaboradores em coautorias de trabalhos científicos.

Segue nossa entrevista com o pesquisador.

Conte-nos um pouco sobre sua história: o que o levou a se tornar um cientista e a trabalhar na área de materiais cerâmicos?

O primeiro aspecto que gostaria de ressaltar é que a vida é feita por escolhas que muitas vezes não são bem lógicas nem planejadas. Na verdade eu fiz Engenharia de Materiais e, a princípio, pensava em trabalhar na área de metais, mas durante meu estágio curricular em uma empresa durante a graduação, tive que atender uma demanda em materiais cerâmicos. Sendo assim, me formei tanto com especialidade em metais quanto em materiais cerâmicos. Em uma época em que a indústria oferecia mais empregos e melhores salários, desconsiderei este cenário e resolvi fazer mestrado em cerâmica no recém-criado programa de Engenharia de Materiais da UFSCar. Logo depois que eu entrei no mestrado, surgiu um concurso de professor na UFSCar. Eu prestei, fui aprovado e aí a minha vida se tornou realmente dedicada a materiais cerâmicos.

O ponto de virada profissional em termos de avanços aconteceu com o doutorado e pós-doutorado no exterior, quando a rede de contatos aumentou tremendamente, assim como a visibilidade do trabalho que estava coordenando. Outro aspecto que colaborou muito é que, desde o início, eu me empenhei em fazer projetos com empresas, os quais me ensinaram a fazer uma pesquisa que eu considero “pesquisa básica inspirada no uso”. Com isso, pude conciliar muito bem os fundamentos aprendidos e desenvolvidos na universidade com as necessidades da indústria, e também criar oportunidades para que os alunos pudessem realizar estágios e a gerar empregos.

Essa “pesquisa básica inspirada no uso” é uma via de duas mãos que estão continuamente interagindo entre si para criar uma ponte sólida entre a universidade e  a indústria. Nós, pesquisadores, precisamos entender as necessidades da indústria e usar as ferramentas que temos na universidade em pesquisa e fundamentação para podermos auxiliar a empresa a resolver problemas reais. Muitas vezes, é através de um problema real que nós somos motivados a entender os fundamentos, e a partir desses,  visualizarmos novas oportunidades de aplicação e geração de tecnologia.

Esse caminho que escolhi possibilitou que hoje eu participe da Federação Internacional de Materiais Cerâmicos para Alta Temperatura, a FIRE, que é uma organização sem fins lucrativos que reúne onze universidades ao redor do mundo e dezessete empresas do setor. O objetivo da FIRE é investir na formação de alunos em nível de mestrado e doutorado, dando suporte financeiro para que eles passem de seis meses a um ano em universidades ou empresas filiadas e, dessa maneira, tenham uma vivência internacional e possam aplicar ou complementar seus conhecimentos na área.

Sendo assim, a minha vida como pesquisador de materiais cerâmicos começou mais acidentalmente, e hoje, na verdade, ela é em engenharia de sistemas complexos, visto que, atualmente, nenhum material é apenas definido por uma única área de atuação.

Quais são, na sua própria avaliação, as suas principais contribuições à área de Materiais?

Desde que me tornei professor universitário, meu projeto na área profissional sempre foi estabelecer três pilares, os quais se retroalimentam e são os fundamentos de tudo que eu faço: o ensino, a pesquisa e a parceria industrial. Esse ciclo é vital para que, através do ensino, eu tenha contato com os bons alunos, tenha oportunidade de convida-los para realizar pesquisas e que possam posteriormente servir a indústria nacional e internacional ou a academia. Só através de uma boa parceria que nós detectamos as necessidades da indústria e podemos ilustrar nosso ensino por meio da aplicação dos fundamentos, de forma que não fiquem áridos e possam ser recheados com as necessidades da indústria.

Na parte de ensino, com certeza a formação de pessoas que estão na área acadêmica e industrial desenvolvendo ótimos trabalhos seria o ponto fundamental da minha contribuição na educação. Como diz a tradição, um bom professor é avaliado pelo número de pessoas que formou e são melhores que ele. Felizmente, hoje tenho alunos que estão muito bem empregados, tanto na área de pesquisa, quanto na de ensino, quanto nas empresas – o que mostra que a contribuição gerou frutos.

Na parte de pesquisa, o aspecto principal na minha auto-avaliação foi a seleção de uma área complexa para ser desenvolvida, com grande oportunidade de aprofundar e testar os conhecimentos. Quando eu fiz meu doutorado em cerâmicas avançadas senti, ao voltar ao Brasil, muita dificuldade em tornar esse assunto uma área de pesquisa. No entanto, os conhecimentos embutidos poderiam ser facilmente transportados para outras necessidades do país. Foi ali que eu visualizei que o que eu tinha aprendido poderia ser muito útil para a indústria de aço, metalurgia, alumínio e materiais para alta temperatura. Então, eu  adaptei os conhecimentos para a realidade local em vez de tentar trazer o estudo internacional para uma aplicação direta no Brasil em cerâmicas avançadas, a qual até hoje tem um mercado incipiente. Dentro desse cenário, a minha pesquisa procurou entender as etapas do ciclo produtivo dos materiais para alta temperatura. Eu defini uma estratégia de, a cada quatro ou cinco anos, me dedicar a um dos tópicos que envolve o ciclo produtivo e de entendimento desses materiais. Isso fez que, ao longo de mais de 20 anos trabalhando na área, tivesse conhecimento de todo o ciclo, e não apenas de informações coletadas da literatura. Como resultado, estamos escrevendo um livro que será publicado até o final do ano em inglês por uma editora alemã, recheado com os resultados das pesquisas que nós realizamos envolvendo desde as matérias primas, processamento, até as propriedades e as simulações, dando uma visão muito clara e profunda da engenharia de microestruturas em materiais cerâmicos para alta temperatura.

Na área de parcerias industriais, que é o terceiro pilar, diria que não tem forma de se fazer engenharia só no laboratório. Precisamos saber como o mercado atua, precisamos aprender a colocar prazos, a expor o conhecimento ao teste industrial, entender que o material é apenas um item do todo. Isso, eu devo muito às minhas parcerias industriais que sempre me acompanharam, desde que eu terminei o doutorado. Nós temos parcerias que já duram 24 anos contínuos, como é o caso da Alcoa alumínio, na qual várias pessoas foram formadas em nível de mestrado e doutorado, sendo alguns  funcionários da empresa. Várias outras indústrias nacionais e internacionais também contribuíram para gerar este ambiente de pesquisa básica inspirada no uso. Temos fortes parcerias com a Petrobras, com a Magnesita, que é uma empresa para cerâmicas para alta temperatura, com a FIRE, etc. Dessa forma, grande parte dos recursos  e oportunidades do grupo hoje são provenientes de parcerias industriais ou de federações que trabalham nessa ponte empresa-universidade.

Quais são, na sua opinião, os principais desafios atuais para a Ciência e Engenharia de Materiais?

Eu ressaltaria dois grandes desafios. Um seria o projeto  “genoma dos materiais”. Com a necessidade de reduzir os tempos e custos de pesquisa, cada vez mais é necessário criar uma base de conhecimento que possa por meio de simulações minimizar o tempo de experimentação laboratorial e chegar o mais rápido possível ao resultado desejado.  Esse “genoma dos materiais” consistiria em detectar o seu DNA e tentar,  associando ferramentas computacionais, chegar cada vez mais rápido ao conceito de novos materiais ainda não imaginados pela tecnologia atual. Então eu visualizo que o laboratório de materiais do futuro terá menos equipamentos, equipes multidisciplinares e mais computadores de alta velocidade de processamento, os quais darão uma ideia mais objetiva do que fazer no laboratório para se chegar aos novos materiais.

Outro grande desafio é a impressão 3D, que compõe a classe conhecida como additive manufacturing, a qual tem despontado com uma força tremenda, visto que as empresas têm percebido que o custo da mão de obra nos países em desenvolvimento já está muito caro. Numa primeira instância, as indústrias em países desenvolvidos começaram a perceber que os produtos manufaturados ficariam não competitivos se fabricados em outros locais. Então, numa primeira onda, levaram a produção para países em desenvolvimento. Mas ao longo do tempo o ambiente mudou, e em países como a China e o Brasil a mão de obra está começando a ficar muito cara. Associado a isto a legislação que rege a exportação e as suas respectivas taxas só agravam este cenário. Então, países como Alemanha e Estados Unidos estão voltando a produzir em casa utilizando um processo totalmente automatizado por meio da impressão 3D, que se assemelha a uma impressora comum, só que, ao invés de imprimir X Y, imprime X Y Z e, ao invés de usar tinta, usa materiais. Esta impressão 3D está simplesmente revolucionando todo o mercado visto que hoje já é possível se ter uma impressora de materiais em casa e fazer o build yourself de joias, brinquedos, etc . Adicionalmente, já se está fazendo a parte de implantes, utilizando as próprias células-tronco como elemento para criação dos órgãos em impressão 3D.

Com essa técnica, associada ao primeiro item que citei, a simulação, teremos novos materiais, incapazes de serem produzidos pelo processamento tradicional. Essa ideia que estou colocando para você foi a que eu levei para a minha primeira reunião do advisory board da WAC. Ela foi tão bem recebida pelo comitê que se tornou o tema do fórum fechado aos membros da academia daqui a dois anos, que congregará os melhores pesquisadores e empresas do mundo que estão se dedicando a essa área.

Outro ponto interessante para complementar é que nós estamos vivenciando o momento da Engenharia de Sistemas Complexos. Não se fala mais em área de especialização. O que nós precisamos mais do que nunca é a soma do conhecimento das diversas áreas. Por exemplo, nessa área de materiais impressos tridimensionalmente, não basta apenas ter o equipamento. Nós precisamos ter programadores de computação, engenheiros mecânicos, de produção, de materiais, químicos, físicos, biólogos, gestores, todos trabalhando em sintonia, pois não estamos mais falando de conhecimentos que uma única pessoa seja capaz de deter.

Na sua avaliação, de que maneira você construiu o reconhecimento da comunidade internacional de pesquisa em cerâmica explicitado, por exemplo, na sua eleição como membro do advisory board da WAC?

Eu acrescentaria ao que já foi dito que toda conquista é um trabalho em equipe. São 34 anos de trabalho intenso em parcerias nacionais e internacionais, com indústrias e agências de fomento. Acredito que a formula padrão para se conseguir alguma coisa é: trabalho em equipe, persistência, se associar ao que há de melhor e se expor nacional e internacionalmente.

Deixe uma mensagem para nossos leitores que estão iniciando suas carreiras de cientistas.

Minha resposta terá componentes tradicionais e outros não tão convencionais. A sugestão tradicional é amplamente conhecida: energia e dedicação, trabalho e suor. A parte não tradicional é não confundir as oportunidades que se tem hoje com as facilidades da vida. A vida não é fácil. A vida profissional é cheia de desafios e as oportunidades atuais vêm tornar a competição ainda mais acirrada. Agora a competição é global. Em qualquer lugar do mundo pode se fazer o que eu estou desenvolvendo no meu laboratório. Adicionalmente, todo jovem deve ficar muito atento que as empresas e as agências de financiamento vão buscar quem possa fazer melhor, da forma mais rápida e barata trazendo maior retorno para a sociedade.

Um ponto que eu gostaria de enfatizar é que o mundo real não é o Facebook, e que as conquistas são obtidas por muitas batalhas e muitas derrotas. Não existe esse universo virtual em que estamos sempre com pessoas famosas, desfrutando de vitórias e participando de festas.

Outro aspecto é que, devido às muitas oportunidades que se tem hoje, o jovem pega uma já olhando para outra, e não faz bem nenhuma delas. Em vez de se prender a um galho, está sempre pensando em pular para outro. Tem que tomar muito cuidado. Faça ao menos uma atividade bem feita de cada vez. Se estiver fazendo o mestrado, tenha uma boa produtividade, gere uma cadeia de relacionamentos e depois mude de assunto, se for o caso. As comunidades científicas não são tão grandes como a gente pensa.  Precisamos fazer, desde o princípio, um trabalho muito bom, de muita qualidade e com muito respeito ao grupo no qual se participa. O mundo dá volta muito rápido e, num futuro não distante, essas mesmas pessoas vão lhe abrir ou fechar as portas. Na vida profissional, até certo degrau, nós podemos subir pelas próprias competências, mas depois precisamos fortemente da inserção da comunidade nacional e internacional. Aí pode ser que eu precise das pessoas que eu deixei uma má impressão.

Gente da nossa comunidade: Entrevista com Reginaldo Muccillo.

Os novos membros da World Academy of Ceramics, durante a cerimônia de posse. O prof. Muccillo é o primeiro a partir da direita. (Foto cedida pelo prof. Muccillo)

Na manhã de 9 de junho, no distrito italiano de Montecatini Terme, o pesquisador da área de Materiais Reginaldo Muccillo, diretor administrativo da nossa SBPMat de 2012 a 2013, tomou posse como membro da World Academy of Ceramics (WAC). A WAC é uma entidade de caráter internacional com sede na Itália, dedicada a promover o progresso da área de cerâmicas e fomentar a compreensão do impacto social a das interações culturais da ciência, tecnologia, história e arte no campo das cerâmicas.

Reginaldo Muccillo foi um dos dezessete eleitos no 15º processo de eleição de acadêmicos da WAC, que reconhece o mérito de pessoas que fizeram contribuições significativas à área de cerâmicas. Único brasileiro desta eleição, Muccillo dividiu a cerimônia de posse com pesquisadores e outros profissionais da China, Espanha, Estados Unidos, Finlândia, Itália, Japão, Polônia, Portugal e Suécia. A formalidade ocorreu durante a sessão de abertura da International Conference on Modern Materials and Technologies (CIMTEC).

Pesquisador do Centro de Ciência e Tecnologia de Materiais do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN), Reginaldo Muccillo possui graduação, mestrado e doutorado em Física pela Universidade de São Paulo (USP). Realizou estágios de pesquisa no exterior durante o doutorado, no National Research Council em Ottawa (Canadá), e no pós-doutorado, no Max Planck Institut fuer Festkoerperforschung em Stuttgart (Alemanha) e no Institut National Politechnique de Grenoble (França). Foi (co) coordenador de sete edições do Simpósio Brasileiro de Eletrocerâmica, do VII Encontro da Sociedade Brasileira de Pesquisa em Materiais (2008) e da 6th International Conference on Electroceramics (ICE 2013). É editor principal da revista Cerâmica, órgão oficial da Associação Brasileira de Cerâmica (ABCeram), há 15 anos. É bolsista de produtividade em pesquisa do CNPq – nível 1A.

Segue uma breve entrevista com o cientista.

Conte-nos um pouco sobre sua história: o que o levou a se tornar um cientista e a trabalhar na área de materiais cerâmicos?

Já na graduação, abandonei o curso de Engenharia na Escola Politécnica da USP para cursar somente Física. Bolsista de iniciação científica na área de Física Nuclear, convivi com pesquisadores de renome no Instituto de Física (IF) da USP, que efetivamente me influenciaram a seguir carreira científica. Após a graduação, fui para o IPEN para fazer mestrado em Física do Estado Sólido. Terminado o Mestrado, fui para o Canadá para o trabalho de doutorado sanduíche (que não existia na época). Na volta ao IPEN, após defender o doutorado no IFUSP, comecei a desenvolver pesquisa com materiais cerâmicos, mudando de Física do Estado Sólido para Ciência e Engenharia de Materiais.

Quais são, na sua própria avaliação, as suas principais contribuições à área de Materiais?

Trabalhando em um Instituto de pesquisas, pude dedicar todo meu tempo no trabalho de pesquisa, na busca de recursos em órgãos de fomento (FAPESP e CNPq) para infraestrutura de laboratório (sou um pesquisador experimental dedicado à montagem e coleta de dados em equipamentos, análise de dados, redação de artigos para submissão em periódicos indexados e arbitrados), treinamento e formação de pessoal, organização de eventos, edição de periódico científico, interação com o setor produtivo (meu campo de pesquisa permite, alem de desenvolver pesquisa fundamental na área de Ciência dos Materiais, visualizar aplicações em dispositivos de interesse em vários segmentos industriais).

Quais são, na sua opinião, os principais desafios de seus temas de pesquisa atuais para a Ciência e Engenharia de Materiais?

Explicação, modelagem e equacionamento teórico de vários fenômenos físicos e químicos que ocorrem em Ciência dos Materiais Cerâmicos.

Na sua avaliação, de que maneira você construiu o reconhecimento da comunidade internacional de pesquisa em cerâmica expresso na sua eleição como acadêmico da WAC?

Com o desenvolvimento de trabalhos de pesquisa, a formação de pessoal (iniciação científica, mestrado, doutorado e pós-docs), a montagem de laboratórios para uso da comunidade científica (multi-usuários), a edição de periódico (revista Cerâmica) na área de materiais cerâmicos, a pesquisa em materiais para sensores e para produção alternativa de energia e, mais recentemente, em flash sintering.

Artigo em destaque: Mamão e canela, ingredientes de filmes antimicrobianos para embalar alimentos.

O artigo científico com participação de membros da comunidade brasileira de pesquisa em Materiais em destaque neste mês é:

Caio G. Otoni, Márcia R. de Moura, Fauze A. Aouada, Geany P. Camilloto, Renato S. Cruz, Marcos V. Lorevice, Nilda de F.F. Soares, Luiz H.C. Mattoso. Antimicrobial and physical-mechanical properties of pectin/papaya puree/cinnamaldehyde nanoemulsion edible composite films. Food Hydrocolloids. Volume 41, December 2014, Pages 188–194. DOI: 10.1016/j.foodhyd.2014.04.013.

Mamão e canela: ingredientes de filmes antimicrobianos para embalar alimentos.

Mamão e componentes da canela foram utilizados na fórmula dos filmes comestíveis antimicrobianos. À direita, um dos filmes. Crédito da foto: Flávio Anselmo Faria Ubiali – Núcleo de Comunicação Organizacional, Embrapa Instrumentação.

As embalagens comestíveis são filmes que podem ser ingeridos sem causar danos à saúde. Podem ser usados para cobrir alimentos no intuito de protegê-los, melhorar seu aspecto ou proporcionar alguma textura ou sabor. Filmes desse tipo já estão presentes no mercado substituindo tecidos animais em embutidos cárneos ou algas no sushi, por citar apenas alguns exemplos.

Além de ser interessantes do ponto de vista ambiental porque podem utilizar resíduos de frutas e hortaliças na sua composição, eles se tornam mais atrativos quando são dotados de propriedades antimicrobianas, pois permitem reduzir a quantidade de conservantes nos alimentos que recobrem.

No Brasil, uma equipe multidisciplinar composta por engenheiros de materiais, químicos e engenheiros de alimentos desenvolveu, a partir de fontes renováveis (pectina, mamão e óleo essencial de canela), filmes comestíveis com propriedades antimicrobianas.

O trabalho foi desenvolvido em três etapas principais. A primeira foi realizada no Laboratório Nacional de Nanotecnologia para o Agronegócio da unidade de Instrumentação da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) e consistiu na obtenção e caracterização de nanoemulsões de cinamaldeído, componente majoritário do óleo essencial de canela. Por meio de agitação mecânica praticada de forma controlada em diversas velocidades, os pesquisadores obtiveram emulsões com partículas de cinamaldeído de diferentes tamanhos, de 40 a 270 nm de diâmetro.

Na segunda etapa, conduzida também na Embrapa Instrumentação, os pesquisadores fabricaram os filmes baseados em pectina (polímero natural presente em tecidos vegetais e conhecido por seu poder geleificante) e adicionados de polpa de mamão e das emulsões produzidas. Finalmente, a equipe realizou a caracterização dos filmes. Suas propriedades mecânicas e antimicrobianas foram analisadas no Laboratório de Embalagens da Universidade Federal de Viçosa (UFV, MG) e suas propriedades de barreira à umidade, avaliadas na Embrapa Instrumentação. Também participaram do trabalho professores da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS, BA) e da Universidade Estadual de São Paulo (UNESP, SP) que estavam em período de pós-doutorado nos laboratórios da Embrapa e da UFV.

Os resultados do estudo foram publicados recentemente no periódico Food Hydrocolloids.

Os filmes

A incorporação da nanoemulsão de cinamaldeído aos filmes inibiu o crescimento das quatro bactérias patógenas testadas pela equipe de pesquisadores (Escherichia coli, Salmonella enterica, Listeria monocytogenes e Staphylococcus aureus).

“O resultado mais interessante é que a redução do tamanho das partículas da nanoemulsão notoriamente potencializou a atividade inibitória dos filmes”, destaca o primeiro autor do paper, Caio Otoni, estudante de Mestrado em Ciência e Engenharia de Materiais na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). “Isto pode impactar a utilização de embalagens poliméricas com finalidades antimicrobianas para uso em alimentos, dado que a mesma segurança alimentar garantida pela embalagem ativa pode ser atingida usando-se menores teores de conservantes, se encapsulados em partículas menores, o que é vantajoso para fabricantes (menor custo de produção) e consumidores (ingestão de menor carga de conservante)”, completa Otoni, que desenvolveu o trabalho, junto aos outros sete autores, durante um de seus estágios de iniciação científica enquanto cursava Engenharia de Alimentos na UFV.

Além de conferir as propriedades antibacterianas aos filmes, a nanoemulsão tornou-os menos permeáveis à umidade e menos plásticos (mais rígidos e menos capazes de se esticarem). Já a polpa de mamão teve o efeito inverso no que diz respeito a essas características.

Os autores Luiz Henrique Capparelli Mattoso, Marcos Vinicius Lorevice e Caio Gomide Otoni (da esquerda para a direita) na planta piloto da Embrapa Instrumentação, em São Carlos (SP). Crédito da foto: Flávio Anselmo Faria Ubiali – Núcleo de Comunicação Organizacional, Embrapa Instrumentação.

Encontro da E-MRS na França: organização da SBPMat e participação brasileira em simpósio de eletrônica orgânica.

A SBPMat participou da organização do Encontro de Primavera da Sociedade Europeia de Pesquisa em Materiais (E-MRS, na sigla em inglês), realizado de 26 a 30 de maio em Lille (França). O presidente da SBPMat, professor Roberto Mendonça Faria (IFSC-USP) foi um dos cinco coordenadores gerais do evento (chairs), junto a quatro cientistas da Europa.

Além disso, a SBPMat apoiou um dos 30 simpósios do evento, o DD “Functional materials and devices for organic electronics, o qual também contou com apoio do INCT INEO (Instituto Nacional de Eletrônica Orgânica). O simpósio teve significativa participação brasileira. Os organizadores foram os professores Marco Cremona (PUC-Rio), diretor financeiro da SBPMat, Rodrigo Bianchi (UFOP), diretor científico da sociedade, Carlos Graeff (UNESP), ex-diretor científico da SBPMat, um cientista da Alemanha e outro da Itália.

“O simpósio foi um sucesso, tanto no que diz respeito aos pesquisadores convidados, todos de alto gabarito e líderes na área de atuação, quanto no nível dos trabalhos apresentados e temas abordados, todos atuais na área de eletrônica orgânica”, resume o professor Cremona. “Além disso, o simpósio contribuiu para fortalecer a imagem do Brasil nesta área e começar novas colaborações, além de fortalecer aquelas já existentes”, completa.

Dedicado ao tema da eletrônica orgânica, o simpósio incluiu apresentações orais, pôsteres e 23 palestras convidadas em sessões sobre dispositivos orgânicos emissores de luz, transistores orgânicos, dispositivos flexíveis, sensores, células solares orgânicas, dispositivos bioeletrônicos, grafeno e outros filmes condutores transparentes. Outras sessões abordaram a relação nanoestrutura-função em dispositivos orgânicos avançados e a modelagem, simulação, métodos de caracterização e novos horizontes de materiais e dispositivos orgânicos.  “Os tópicos foram bem balanceados em pesquisas básicas e aplicadas na área de eletrônica orgânica, incluindo dispositivos eletrônicos e biosensores”, comenta o professor Bianchi.

Durante os quatro dias do simpósio, foram apresentados mais de 140 trabalhos de pesquisadores de países da União Europeia, Coreia, Japão, Brasil, Estados Unidos, Rússia, Estados Unidos, Austrália, entre outros países.  “As apresentações do Simpósio DD trouxeram ao E-MRS palestras de alto impacto com importante participação de pesquisadores brasileiros, mostrando que o país e a SBPMat tem atuado em áreas de impacto científico e de fronteira de conhecimento”, completa. De fato, o Brasil participou com cerca de 20 trabalhos no simpósio e duas palestras convidadas.

Prêmio do simpósio

O simpósio contou também com a premiação dos três melhores pôsteres e dois trabalhos apresentados na forma oral:

Orais:

  • Jean Nicolas Tisserant, ETH Zürich, D-AGRL Food and Soft Materials (Zürich, Switzerland). “Growth and Alignment of Thin Film Organic Single Crystals from Dewetting Patterns”, Empa.
  • Daniele Sette, CEA, LETI, DCOS (Grenoble, France). “Influence of the Annealing Temperature on the Properties of Inkjet Printed Porous Silver Layers”.

Pôsteres:

  • Anshuma Pathak, TU Munich, Molecular electronics (Munich, Germany),
  • Structural and Electrical Study of Organophosphonate SAMs on AlOx/Al”.
  • Jung-Hung Chang, National Taiwan University, Graduate Institute of Photonics and Optoelectronics (Tapiei, Taiwan), “All–solution processed transparent organic light emitting diodes with graphene as top cathodes”.
  • Lidiya Leshanskaya, Institute for Problems of Chemical Physics, Kinetics and Catalysis, Academician Semenov (Moscow, Russia), “Origin of the advanced charge transport properties of indigo thin films: influence of the dielectric on the crystal structure of the semiconductor”.