Pós-doutorado em Polímeros no Centro de Tecnologia em Nanomateriais (CTNano).

Centro de Tecnologia em Nanomateriais – CTNano está selecionando 1 (um) pesquisador(a) em nível de Pós-Doutorado para atuar na frente de pesquisa em Polímeros. O(a) candidato(a) deve ter título de Doutor(a) em uma das seguintes áreas: Química / Engenharia Química / Física / Engenharia de Materiais;

Espera-se que o(a) candidato(a) tenha experiência em processamento/caracterização de termoplásticos e plásticos de engenharia (especialmente UHMWPE). É desejável conhecimento/experiência na operação de misturador interno (HAAKE). Também se espera que o(a) candidato(a) tenha dedicação exclusiva ao projeto e facilidade para trabalho em equipe interdisciplinar.

O(a) candidato(a) selecionado(a) atuará no desenvolvimento de nanocompósitos poliméricos aditivados com nanomateriais (grafeno, óxido de grafeno, nanotubos de carbono ou outros) para aplicações em sistemas de transporte de minérios. O plano de trabalho está inserido em um projeto de pesquisa com empresa da área de mineração.

O CTNano é referência nacional no desenvolvimento de aplicações utilizando nanomateriais de carbono em compósitos poliméricos, cimentícios, sensores e síntese de nanomateriais. Além disso, o CTNano dispõe de infraestrutura completa para a caracterização físico-química dos nanomateriais e nanocompósitos produzidos. Maiores informações sobre o Centro podem ser obtidas em: www.ctnano.com.br. O Centro está localizado no Parque Tecnológico de Belo Horizonte (BHTec), na cidade de Belo Horizonte – MG, e é uma iniciativa dos Departamentos de Física, Química, Microbiologia e da Escola de Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais.

A seleção será feita através da análise eliminatória dos CVs dos(as) candidatos(as). Os(as) aprovados(as) nesta etapa serão chamados(as) para entrevista. Interessados(as) devem enviar CV para: contato@ctnano.com.br com o assunto: “POSDOC Polímeros” até 01/05/2018. Os(as) selecionados(as) serão avisados(as), por email, de sua convocação para entrevista até 15/05/2018.

Gente da comunidade: Entrevista com Vinícius Galhard Grassi, líder de pesquisa em polímeros (Brasil) na Braskem.

ViníciusApenas 8,5 % dos doutores formados no Brasil trabalham em empresas, segundo dados de estudo do CGEE lançado no ano passado. Vinícius Galhard Grassi, gaúcho de Santa Maria, pertence a esse grupo minoritário. Aos 38 anos de idade, Grassi acumula 16 anos de experiência em pesquisa e desenvolvimento (P&D) no meio empresarial, sempre na área de polímeros, tendo atuado em todas as fases do processo de inovação, desde a concepção do produto até a sua consolidação no mercado.

Vinícius Grassi formou-se em Química Industrial pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) em 1999. No ano 2000 iniciou o mestrado em Ciência dos Materiais na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Em 2001, foi contratado pela empresa Innova para trabalhar como químico de polímeros na unidade localizada no polo petroquímico de Triunfo (RS). Em 2002, obteve o título de mestre pela UFRGS com a defesa de sua dissertação sobre a resistência química do poliestireno de alto impacto, trabalho que originou uma família de novos produtos para a Innova. Entre 2010 e 2013, ainda trabalhando na empresa, realizou o doutorado em Química, iniciado na UFRGS e finalizado no Instituto Max Planck de Pesquisa em Polímeros (Alemanha). No doutorado, desenvolveu um trabalho de pesquisa sobre a obtenção e caracterização de um material polimérico que mistura polímeros feitos com matérias-primas renováveis e fósseis.

No início de 2014, depois de ter trabalhado durante 13 anos na Innova, principalmente com polímeros estirênicos, Grassi ingressou à empresa Braskem como coordenador de projetos de P&D. Em novembro de 2015, passou a liderar o grupo de pesquisadores dedicados à caracterização avançada de materiais na empresa. Desde maio de 2016, é líder de pesquisa em polímeros da Braskem no Brasil, trabalhando com polipropileno (PP), polietileno (PE) e acetato-vinilo de etileno (EVA).

Além de ter desenvolvido, junto a seus colaboradores, uma série de produtos para a Innova e a Braskem (veja entrevista), Vinícius Grassi é autor de 8 artigos publicados em revistas indexadas e de 9 pedidos de patente (um deles, depositado nos Estados Unidos). Duas dessas patentes foram distinguidas com prêmios da Petrobrás e da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim).

Segue uma entrevista com o pesquisador.

Boletim da SBPMat: – Conte-nos o que o levou a estudar Química e Materiais e a trabalhar em P&D no meio empresarial.

Vinícius Galhard Grassi: – O interesse e prazer em estudar Química, certamente catalisado por bons professores no ensino médio. Desde a graduação eu me interessava por polímeros, mas me graduei em uma universidade (UFSM) que disponibilizava somente uma disciplina em polímeros, e ainda de forma eletiva. Decidi fazer um mestrado em Engenharia de Materiais na UFRGS para me aprofundar em polímeros, e desde o início quis direcionar para um tema de interesse da indústria. Fazer P&D em meio empresarial é um desafio de colocar em prática a ciência para gerar uma vida melhor às pessoas e a sociedade como um todo, e gerar lucro para as empresas. Também permite o desenvolvimento de algumas competências típicas do meio empresarial que refletem em nossa própria vida pessoal.

Boletim da SBPMat: – Você fez o doutorado enquanto trabalhava na Innova. Desenvolveu um trabalho do interesse da empresa? Se sim, o desenvolvimento chegou a virar inovação?

Vinícius Galhard Grassi: – Sim, iniciei e conclui enquanto trabalhava na Innova, em um tema de interesse da empresa, mas com alto conteúdo científico. O doutorado (iniciado na UFRGS e concluído no Max Planck for Polymer Research na Alemanha) gerou uma patente que ainda não foi explorada comercialmente, pois precisa de um trabalho continuado de aumento de escala.

Boletim da SBPMat: – Na sua opinião, quais são seus trabalhos de P&D em Materiais mais importantes? Gostaríamos que na resposta fosse além da enumeração de resultados e nos descrevesse brevemente esses trabalhos, relatando se viraram inovações e o impacto que tiveram no mercado.

Vinícius Galhard Grassi: – O trabalho de mestrado gerou uma nova família de produtos para a Innova que representa um faturamento muito significativo da empresa e está protegido por patente já concedida. Estes produtos estão presentes especialmente nos refrigeradores produzidos no Brasil. Na Braskem estou liderando a área de Pesquisa em Polímeros no Brasil, e os principais resultados recentes da equipe foram o lançamento de uma tecnologia proprietária de grades de PP para produção de espumas, que foram lançados na Feira K em 2016 na Alemanha (a saber, a maior Feira mundial de plásticos), que já estão sendo comercializados no Brasil e nos EUA. Os produtos atendem aplicações das principais montadoras de automóveis, além de outras aplicações industriais. Esta equipe também desenvolveu a tecnologia do EVA Rubber, que hoje é usada em diversos calçados, dando leveza, durabilidade e conforto, trazendo competitividade à indústria brasileira, além de um processo de produção de solados com menor consumo de energia e geração de resíduos. Ou seja, ganhos de sustentabilidade para a cadeia.

Boletim da SBPMat: – Quais foram os principais desafios ou dificuldades que você enfrentou em seu trabalho de P&D em empresas?

Vinícius Galhard Grassi: – Eu percebo vários momentos críticos durante um projeto de P&D. 1) Selecionar as melhores ideias em termos de potencial de mercado e que sejam passíveis de geração de patente (no caso de projetos de pesquisa). Não adianta colocar recursos em ideias ruins. 2) Gerar resultados consistentes de uma forma ágil, com base científica sólida, alocando os recursos e competências certas. Se é para falhar, que seja rápido, mas obviamente ter persistência quando você realmente acredita no projeto. 3) Aumento de escala: acho esta a etapa crítica, muitos projetos falham no scale up, pois pequenos detalhes tornam-se significantes quando a escala é maior. É também uma etapa que só se justifica quando algum cliente está realmente interessado no projeto, pois a alocação de recursos e investimentos em geral são significativos.

Boletim da SBPMat: – Você é coautor/ autor de artigos e de patentes. Comente o que significam os artigos e as patentes para você no contexto do trabalho em empresas.

Vinícius Galhard Grassi: – Os artigos fortalecem a veia científica e representam a contribuição individual ao progresso da ciência através do compartilhamento de conhecimento. E as patentes são um ativo valioso que o pesquisador cria para a empresa. Dá poderes à empresa de ser a dona de uma tecnologia e fortalece sua estratégia tecnológica.

Boletim da SBPMat: – Deixe uma mensagem aos jovens da comunidade de Materiais que desejam trabalhar com P&D no meio empresarial.

Vinícius Galhard Grassi: – Como em tudo na vida, há vantagens e desvantagens em trabalhar com P&D no meio empresarial. A pressão por prazos e resultados é constante, faz parte do dia-a-dia. Mas isto cria senso de urgência e foco no que é prioritário e de fato cria valor. O prazer de ver uma tecnologia ser escalada e chegar ao mercado é incrível e justifica todo o esforço. E conhecer e interagir com muitas pessoas competentes, que te ensinam e te fazem crescer como profissional, com reflexos na vida pessoal. Especialmente na Braskem, é uma oportunidade ímpar de crescimento. A terra lá é muito fértil, se a semente for boa e bem tratada, ela cresce mesmo!

Gente da nossa comunidade: entrevista com o pesquisador Roberto Mendonça Faria.

O entrevistado desta edição do Boletim da Sociedade Brasileira de Pesquisa em Materiais (SBPMat) é o professor Roberto Mendonça Faria, que acaba de entregar a presidência da SBPMat depois de 4 anos de mandato (mas promete permanecer ativo na sociedade).

Roberto Mendonça Faria nasceu em Adamantina, uma pequena cidade localizada no oeste do estado de São Paulo, em maio de 1952. No início dos estudos secundários, já orientado para as Exatas e estimulado por um bom professor de Física, ele começou a olhar a ciência como possível profissão. Em 1976, Faria concluía o bacharelado em Física na Universidade de São Paulo (USP).

No mesmo ano, ainda apaixonado por essa área na qual a humanidade estava dando grandes passos no caminho do conhecimento, Faria iniciou sua carreira acadêmica. Começou a lecionar em cursos de graduação da USP e entrou no curso de mestrado em Física dessa universidade. Ali, orientado pelo professor Bernhard Gross, pioneiro da pesquisa em Materiais no Brasil, aprendeu os pilares da atividade científica e desenvolveu um fascínio por desvendar mistérios dos materiais (no caso a condutividade induzida por radiação no polímero conhecido como Teflon). Logo após a obtenção do diploma de mestre, em 1980, começou o curso de doutorado em Física da USP, mais uma vez contando com o professor Gross como orientador. Em 1984, defendeu sua tese sobre absorção dielétrica e condutividade induzida por radiação no polímero PVDF.

Em 1985 começou a dar aulas em cursos de pós-graduação da USP. Entre 1987 e 1989, permaneceu na França em estágio de pós-doutorado na Université Montpellier 2. Em 1990, obteve o título de livre-docente pela USP, em concurso público, após defender uma tese sobre transições de fase em copolímeros ferroelétricos. Em 1999, tornou-se professor titular do Instituto de Física de São Carlos (IFSC) da USP, onde ocupou diversos cargos de gestão ao longo dos anos, como a chefia do departamento de Física e Ciência dos Materiais (1994-1996), a coordenação do programa de pós-graduação em Física (1997-1998) e a direção geral do IFSC (2002 – 2006).

Roberto Faria também foi coordenador de dois projetos de grande porte em nível nacional. O primeiro foi o Instituto Multidisciplinar de Materiais Poliméricos do Milênio, um dos 17 projetos selecionados dentro do Programa Institutos do Milênio do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT). Esse instituto reuniu cerca de 140 pesquisadores de 17 instituições das cinco regiões do país e vigorou entre 2002 e 2008. O segundo projeto deu continuidade a um dos focos de pesquisa do primeiro, o estudo dos polímeros eletrônicos e suas aplicações. Iniciado em 2009, o Instituto Nacional de Eletrônica Orgânica foi aprovado e estabelecido no contexto do programa Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCTs) do MCT.

Indo além das fronteiras da sua área de atuação científica, Faria foi coordenador, entre 2010 e 2014, do polo de São Carlos do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP, órgão destinado à pesquisa e discussão abrangente e interdisciplinar de questões fundamentais da ciência e da cultura. Além disso, no contexto de seu interesse em contribuir com o desenvolvimento econômico do país por meio da pesquisa, coordenou a realização do livro “Ciência, Tecnologia e Inovação para um Brasil competitivo”, publicado em 2012.

Nos últimos anos, Faria tem tido ativa participação em entidades científicas internacionais da área de Materiais. Em 2014, foi um dos coordenadores gerais do evento “Spring Meeting of the European Material Research Society – 2014“, realizado na cidade francesa de Lille. Em 2015, foi eleito segundo vice-presidente da International Union of Materials Research Societies(IUMRS).

Faria é membro da Academia de Ciência do Estado de São Paulo e da Academia Brasileira de Ciências, e pertence ao conselho editorial da revista “Materials Science – Poland”. Em 40 anos de pesquisa científica em materiais poliméricos, particularmente aqueles com atividade eletrônica e suas aplicações em dispositivos, o professor Faria produziu cerca de 180 artigos publicados em periódicos indexados, contando com cerca de 2.000 citações, e orientou 47 dissertações de mestrado e teses de doutorado.

Segue uma entrevista com o pesquisador.

Boletim da SBPMat: – Conte-nos o que o levou a se tornar um cientista e a trabalhar na área de Materiais.

Roberto Mendonça Faria: – Antes do de cursar o Científico, atual Ensino Médio, imaginava seguir a área das Exatas (como na época eram chamadas as Engenharias, a Física, a Química, a Matemática, etc.), porém não tinha nenhuma pretensão de fazer uma carreira científica, muito menos de ser um cientista. Contudo, já no primeiro ano do Científico comecei a mudar de ideia, estimulado por um excelente professor de Física, Roberto Stark. Formei-me em Física e logo tive a sorte de ter sido guiado por dois grandes mestres: o professor Bernhard Gross e o professor Guilherme Fontes Leal Ferreira. Como todo recém-formado em física da minha época, eu era apaixonado pelos extraordinários avanços experimentais e teóricos da física do século XX. Porém, meu primeiro trabalho de investigação foi sobre um tema aparentemente modesto: a interação da radiação ionizante com filmes finos de polímeros isolantes. Sob a orientação do professor Gross aprendi definitivamente como abordar um problema científico e também a manejar o rigor metodológico necessário para desvendar os efeitos e fenômenos que surgiam dos experimentos realizados. Esses primeiros anos de pesquisa foram de crucial importância para minha carreira. Nunca mais perdi o fascínio em desvendar as propriedades e os enigmas da matéria condensada, e fico feliz porque a Ciência e a Engenharia dos Materiais é de muita importância para o desenvolvimento do Brasil.

Boletim da SBPMat: – Quais são, na sua própria avaliação, as suas principais contribuições à área de Materiais?

Roberto Mendonça Faria: – Há diferentes maneiras de se medir as contribuições ao avanço do conhecimento científico e tecnológico. A visão mais objetiva e mais seguida internacionalmente é a bibliométrica conduzida pelo Journal of Citation Reports (JCR) da Thomson Reuters. Essa métrica tem muitos méritos, mas é exageradamente numerológica. Outro fato que pesa nas avaliações científicas vem do pragmatismo do mundo atual. Hoje exige-se que os trabalhos científicos estejam voltados a aplicações específicas. Nesse contexto, as pesquisas que envolvem estudos mais fundamentais tendem a perder a visibilidade que merecem. Ou seja, trabalhos científicos de grande valor muitas vezes são pouco citados. Uma análise da minha produção a partir da JCR pode levar à conclusão de que minhas contribuições mais relevantes estão ligadas a aplicações, mas eu particularmente acho que as minhas maiores contribuições estão mais relacionadas a trabalhos fundamentais nas áreas de transição de fase de polímeros ferroelétricos e de mecanismos de transporte elétricos em polímeros eletrônicos.

Uma das áreas interessantes que tenho trabalhado nos últimos anos é a de células solares orgânicas. Junto com meu grupo de pesquisa, creio que demos uma contribuição significativa à compreensão de fenômenos envolvendo o transporte de portadores elétricos no interior da célula. Publicamos dois trabalhos de 2013 para cá nos quais desenvolvemos uma equação analítica que governa a curva de corrente elétrica em função da voltagem de uma célula solar quando sob iluminação. Essa equação analítica vale muito bem em casos especiais, e explicou muitos dos efeitos optoeletrônicos dos dispositivos que construímos e medimos em nossos laboratórios. Um dos trabalhos foi publicado na revista Applied Physics Letters, em 2013, e o outro na Solar Energy Materials and Solar Cells, em 2015.

Por outro lado, sempre me dediquei a montar laboratórios de pesquisa e a formar recursos humanos. Venho também contribuindo com vários programas de pós-graduação, direta e indiretamente, e tenho me dedicado há mais de vinte anos ao fortalecimento da área de Eletrônica Orgânica no país, sobretudo na formação de uma rede de pesquisa nessa área: o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Eletrônica Orgânica. Procuro sempre que possível incentivar projetos de parcerias com a iniciativa privada e com institutos de pesquisa que visam projetos aplicados. Na área de políticas públicas creio que minha participação maior foi a de coordenar o documento da CAPES com a SBPC, denominado “Ciência, Tecnologia e Inovação para um Brasil Competitivo” que contribuiu à criação da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (EMBRAPII).

Boletim da SBPMat: – Você acaba de concluir seu mandato como presidente da SBPMat, função que exerceu durante 4 anos. Compartilhe com nossos leitores uma análise dos resultados conseguidos pelas diretorias que você presidiu.

Roberto Mendonça Faria: – A SBPMat é uma sociedade relativamente nova, mas tem uma missão importante a realizar em prol do desenvolvimento do país. O Brasil dispõe de uma riqueza extraordinária que a ele é oferecida pela natureza. Porém, o país pouco se aproveita dessa riqueza porque coloca pouco conhecimento sobre seus recursos naturais. Houve uma revolução na agricultura depois que o país resolveu colocar conhecimento sobre essa dádiva que a natureza lhe ofereceu. Hoje o agronegócio é um dos pilares, talvez o mais forte, da nossa economia. Temos que fazer o mesmo com as matérias-primas que abundam em nosso território. A publicação “Science Impact – A special report on materials science in Brazil”, em parceria com o Institute of Physics (IOP) , foi um dos projetos que deu certo e que me gratificou muito. Esse tipo de iniciativa ajuda a criar consciência de que o Brasil tem vocação natural para ser líder em vários segmentos relacionados a Materiais, e gerar muito mais riqueza do que gera atualmente.

Outra valiosa contribuição que as duas gestões anteriores da SBPMat deram à Ciência e Engenharia de Materiais no Brasil foi a consolidação e internacionalização definitiva do encontro anual, que sempre é realizado no final de setembro.

Não posso deixar de destacar que a criação do Boletim Eletrônico bilíngue foi uma realização que deu certo, principalmente pela competência com que vem sendo produzido.

Boletim da SBPMat: – Você acaba de assumir, por dois anos, a segunda vice-presidência da IUMRS. Comente seus planos, expectativas…

Roberto Mendonça Faria: – Estou iniciando essa atividade. Meus planos são, em primeiro lugar, inserir cada vez mais a Ciência dos Materiais brasileira no cenário internacional. Ao mesmo tempo, pretendo usar o apoio da IUMRS para estimular a pesquisa de materiais em outros países da América Latina. O Brasil e a América Latina têm muitos problemas que são oriundos de suas economias ainda deficientes. Tenho convicção de que pesquisas em áreas de materiais são instrumentos valiosos para melhorar as condições de vida dessas populações. Hoje, como membro do Conselho da SBPMat, quero, com o auxílio da IUMRS, levar essa discussão não só no Brasil, mas em vários países da América Latina.

Boletim da SBPMat: – Deixe uma mensagem para os leitores que estão iniciando suas carreiras científicas.

Roberto Mendonça Faria: Deixei para registrar aqui que uma das realizações (ainda em andamento) que traz orgulho à nossa gestão foi a criação do programa University Chapters . Vou pedir ao Conselho que me permita trabalhar em conjunto com o professor Rodrigo F. Bianchi dentro desse programa. Não tenho dúvidas de que quanto mais pesquisadores formarmos, mais o Brasil ganhará com isso.

Acredito que o trabalho junto aos jovens que estão iniciando a atividade científica é um dos mais valiosos para um pesquisador sênior. Temos o dever de mostrar aos jovens o quanto é importante para o país o trabalho de “fabricar conhecimento”, sobretudo nas áreas científicas e tecnológicas. Não há ainda um só exemplo de país que tenha erradicado a pobreza sem que tenha desenvolvido uma educação forte e uma ciência e tecnologia competitiva. Portanto, fica aos jovens a mensagem de acreditarem no seu trabalho e de procurar sempre realizá-lo da forma mais competente possível.