No dia 6 de maio, na Escola Naval do Rio de Janeiro, a Academia Brasileira de Ciências (ABC) realizou a cerimônia de posse de seus novos membros, eleitos em um processo de indicação e avaliação por pares realizado ao longo de 2013. Na oportunidade, 24 cientistas foram empossados como membros titulares da ABC. Entre eles, na área de Ciências Físicas, estava o professor Fernando Lázaro de Freire Junior, pesquisador da área de Materiais e ex-presidente da SBPMat.
Tendo em mente a ideia de ser pesquisador, Fernando Lázaro optou, na graduação, pelo Bacharelado em Física na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), formando-se em 1978. Em 1979 começou a lecionar nessa universidade enquanto fazia, na mesma instituição, o mestrado (1979-1981) e o doutorado (1981-1985) em Física. Nesse período da pós-graduação, Fernando Lázaro fez suas primeiras intervenções científicas na área de Materiais por meio de um acelerador de íons, inicialmente utilizado por ele para trabalhos de Física Atômica. Em 1998 foi à Università degli Studi di Padova (Itália) para fazer pós-doutorado, trabalhando com superfícies e interfaces de materiais.
De 2003 a 2008 foi Diretor do Departamento de Física da PUC-Rio. De 2008 a 2012 coordenou a Área de Física e Astronomia da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ). Na Europhysics Letters (publicação da Sociedade Europeia de Física), foi coeditor entre 2006 e 2010 e advisory editor de 2010 a 2013. Na SBPMat, cumpriu dois mandatos consecutivos como presidente, dois como diretor científico e um como diretor financeiro.
Atualmente, Fernando Lázaro é professor titular da PUC-Rio e diretor do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), além de membro do Conselho Superior da FAPERJ e coordenador do INCT de Engenharia de Superfícies. Autor de mais de 170 artigos científicos com mais de 2.500 citações, é bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq – nível 1 A. Entre seus trabalhos mais relevantes, constam vários estudos sobre materiais baseados em carbono: filmes de DLC (diamond-like carbon), nanotubos e, mais recentemente, grafeno.
Segue uma breve entrevista com o pesquisador.
Boletim da SBPMat: – Conte-nos um pouco sobre sua história: o que o levou a se tornar um cientista e a trabalhar na área de Materiais?
Fernando Lázaro Freire Jr.: – Eu sempre gostei de Física e Matemática quando estudante do ensino médio, mas não tinha ideia em 1974, quando fiz a inscrição para o vestibular, que era possível fazer pesquisa no Brasil. Por isso fiz vestibular para Engenharia Elétrica na PUC-Rio e lá tomei conhecimento de que era possível fazer pesquisa em Física no Brasil. Fiz minha transferência para o curso de bacharelado em Física, facilitado porque em 1975 a PUC-Rio já tinha um Ciclo Básico comum a todo o Centro Técnico Científico. Com isso eu não perdi tempo. Estava no segundo ano de graduação. Minha pós-graduação, também na PUC-Rio, foi em Física Atômica, utilizando um acelerador de íons como ferramenta de trabalho. Como esse acelerador é também uma excelente ferramenta para análise de materiais, foi por esse caminho que entrei na área de Materiais.
Boletim da SBPMat: – Quais são, na sua própria avaliação, as suas principais contribuições à área de Materiais?
Fernando Lázaro Freire Jr.: – A minha pesquisa sempre foi feita em colaboração com vários colegas e estudantes e acho que demos uma contribuição importante no estudo de filmes de carbono nanoestruturado (Diamond-like carbon films, DLC), como atestam as publicações com elevado número de citações e convites para palestras convidadas em vários congressos internacionais. Lógico que formar estudantes também tem sido importante, bem como a atuação na área de gestão, na PUC-Rio, CBPF e SBPMat.
Boletim da SBPMat: – Escolha algumas de suas publicações mais destacadas e, se possível, comente-as.
Fernando Lázaro Freire Jr.: – O meu trabalho mais citado é um artigo na Applied Physics Letters em 1992 em coautoria com o Carlos Achete da COPPE/UFRJ e o Dante Franceschini, hoje na UFF, sobre a incorporação de nitrogênio em filmes DLC [Franceschini, D. F. ; Achete, C. A. ; Freire Junior, F. L. Internal Stress Reduction By Nitrogen Incorporation In Hard a-C:H Thin Films. Applied Physics Letters, New York, v. 60, p. 3229-3231, 1992]. Foi publicado na hora certa e tinha um resultado relevante para as aplicações desse material que era a redução da tensão interna do filme (fator importante no descolamento dos filmes dos substratos) sem significativa mudança em sua dureza.
Boletim da SBPMat: – Quais são, na sua opinião, os principais desafios da sua área de pesquisa atual para a Ciência e Engenharia de Materiais?
Fernando Lázaro Freire Jr.: – Eu tenho trabalhado com nanotubos de carbono e grafeno. Para ambos a produção de amostras de boa qualidade de modo controlado e economicamente viável ainda é um grande obstáculo para a utilização desses materiais de modo mais amplo do que o que é verificado até o momento.
Boletim da SBPMat: – Deixe uma mensagem para nossos leitores que estão iniciando suas carreiras de cientistas.
Fernando Lázaro Freire Jr.: – Uma mensagem de estímulo. As condições materiais de trabalho hoje estão muito melhores de quando eu comecei três décadas atrás, o mesmo vale para os salários na academia. Portanto as coisas melhoraram e tendem a continuar melhorando e eu acho viável fazer pesquisa de boa qualidade e de impacto internacional no Brasil.
Está aberta, até 23 de maio, a submissão de resumos para os simpósios da SBPMat, os quais cobrem 19 variadas áreas. Os melhores trabalhos de cada simpósio apresentados por estudantes serão distinguidos com o Prêmio Bernhard Gross e poderão ser publicados em volume especial de periódico de acesso aberto do IOP. Saiba mais.
Deseja nos ajudar a divulgar o XIII Encontro da SBPMat? Pode imprimir, a partir do site do evento, o cartaz ou o folder.
Outras novidades da SBPMat.
– Na mídia internacional: o site de divulgação da área de Materiais Materials Today, ligado à editora Elsevier, publicou nosso “artigo em destaque” do mês de março. Veja.
– Nosso canal no Facebook já tem mais de 1.000 seguidores. Não o conhece? Curta nosso Facebook e acompanhe novidades nacionais e internacionais da pesquisa em Materiais.
Artigo em destaque
Uma equipe de pesquisadores de universidades brasileiras (UFU e UnB) desenvolveu um novo método para sintetizar pontos quânticos. Além de ser barato, reproduzível e eficiente para fabricar os minúsculos cristais semicondutores, o método veio com um bônus: permite o controle da espessura da casca dos pontos quânticos. Promissores para aplicações biotecnológicas, os resultados do trabalho foram publicados no periódico ACS Nano. Veja a matéria de divulgação que preparamos para este boletim.
(Sugira artigos da área de Materiais com participação brasileira publicados em periódicos com alto fator de impacto para ser divulgados nesta seção do boletim: comunicacao@sbpmat.org.br)
Gente da nossa comunidade
Conversamos com o pesquisador Fernando Zawislak, introdutor da área de implantação iônica no Brasil. Mais de 30 anos atrás, Zawislak criou o Laboratório de Implantação Iônica da UFRGS – ainda hoje, o maior da América Latina – que atende as mais diversas áreas do conhecimento por meio da criação de nanoestruturas e da análise de materiais por feixe de íons. O cientista também foi um dos pais do Programa de Pós-Graduação em Ciência de Materiais da federal gaúcha. Na entrevista, o professor emérito nos falou sobre essas contribuições e o que o motivou a fazê-las. Ele também deixou um recado para os mais jovens, aconselhando-os a escolher uma área da qual gostem e um orientador atualizado e serem empreendedores e abertos à multidisciplinaridade. Veja nossa entrevista com Fernando Zawislak.
Professor Edgar Zanotto (UFSCar) recebe distinção da Fundação Parque Tecnológico de São Carlos por suas ações em prol do desenvolvimento da cidade paulista. Notícia.
Professor Victor Pandolfelli (UFSCar) é eleito para o advisory board da Academia Mundial de Cerâmica. Notícia.
Dicas de leitura
Divulgação científica de artigos publicados em periódicos de alto fator de impacto.
– Materiais biomiméticos: inspirada na estrutura do nácar, nova cerâmica consegue tenacidade, resistência e dureza (divulgação de paper da Nature Materials). Aqui.
– Como se fosse concreto armado, grafeno é reforçado com nanotubos de carbono, com uso potencial em telas flexíveis (divulgação de paper da ACS Nano). Aqui.
– Plantas nanobiônicas: nanotubos de carbono aumentam fotossíntese e introduzem funções não naturais em plantas (divulgação de paper da Nature Materials). Aqui.
– Mantos acústicos: dispositivo 3D torna uma região do espaço “invisível ao som” (divulgação de paper da Nature Materials). Aqui.
Novidades dos INCTs (Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia do CNPq) sobre Materiais.
– INCT emMateriais Complexos Funcionais: triboeletrização é componente importante do atrito. Aqui.
– Nanotoxicidade do grafeno e óxido de grafeno: trabalho de pesquisadores brasileiros é capa de revista da ACS. Aqui.
– Sensor desenvolvido no INCT Namitec é usado em floricultura. Aqui.
– Namitec desenvolve sensor de radiação ionizante, que pode evitar interferências em aparelhos de satélites, aviões etc. Aqui.
Oportunidades
– Concurso para professor do IFGW – Unicamp em Física Biológica Experimental. Aqui.
– Vários concursos para professor no IFGW – Unicamp: dispositivos nano-estruturados
Física Experimental de materiais avançados e outros. Aqui.
– Competição BE-Basic para planos de negócios em produção sustentável de produtos de base biológica. Aqui.
Está aberta, até o dia 23 de maio, a submissão de resumos para o XIII Encontro da Sociedade Brasileira de Pesquisa em Materiais (SBPMat). O evento será realizado de 28 de setembro a 2 de outubro em João Pessoa, no Centro de Convenções da cidade, recém-inaugurado.
São aceitos trabalhos de pesquisadores e estudantes do Brasil e do exterior em qualquer uma das áreas dos 19 simpósios do evento, os quais cobrem os mais variados temas da pesquisa em Materiais e suas aplicações. Os simpósios foram selecionados pelo comitê organizador do evento a partir das propostas recebidas numa chamada lançada em outubro do ano passado e direcionada a toda a comunidade científica.
Os melhores trabalhos de cada simpósio (no máximo, um pôster e um oral) apresentados por estudantes de graduação ou pós-graduação serão destacados no final do evento com o Prêmio Bernhard Gross. Os trabalhos premiados poderão fazer parte de um volume especial, dedicado aos melhores trabalhos do XIII Encontro da SBPMat, do periódico de acesso aberto “IOP Conference Series: Materials Science and Engineering”.
Sobre os Encontros da SBPMat
O encontro anual da SBPMat é um tradicional fórum internacional dedicado aos recentes avanços e perspectivas em ciência e tecnologia de Materiais. Nas últimas edições, o evento tem reunido cerca de 1.500 participantes das cinco regiões do Brasil e de dezenas de outros países para apresentação e discussão de trabalhos de pesquisa científica e tecnológica na área de Materiais. O evento conta também com palestras plenárias de pesquisadores mundialmente destacados e com expositores do interesse da comunidade de Materiais.
Lançamos o Programa UC da SBPMat. Estudantes podem formar grupos organizados vinculados à sociedade para realizar palestras e outras atividades de C&T, participar de eventos, realizar intercâmbios etc., contando com um orçamento anual e apoio financeiro. O formulário de solicitação de criação já está disponível. Veja.
Artigo em destaque
Neste mês destacamos um artigo publicado na Nanoscale e realizado por grupos de pesquisa do Brasil com colaboradores da Espanha e da França. Os cientistas montaram sensores baseados em nanobastões de tungstato de prata e avaliaram seu desempenho para detectar ozônio – um gás que, acima de determinada concentração, é nocivo para a saúde. O tungstato de prata se revelou um ótimo material para uso em sensores de ozônio.
(Para sugerir artigos da área de Materiais com participação brasileira publicados em periódicos científicos com alto fator de impacto para ser divulgados nesta seção do boletim, entre em contato: comunicacao@sbpmat.org.br)
Gente da nossa comunidade
Conversamos com o cientista Sergio Mascarenhas, conhecido na nossa comunidade por ter criado, na UFSCar, o primeiro curso de Engenharia de Materiais da América Latina. Mascarenhas fez importantes contribuições à área de Materiais, como seus estudos em cristais iônicos, usados em memórias ópticas. Mas também foi além, e guiado pela ideia de cumprir a função social do cientista, conseguiu realizações que permearam áreas como a Biologia, Medicina e Agropecuária. Com 85 anos, o cientista tem hoje a preocupação de incentivar os jovens a desenvolverem alguns temas de fronteira que considera muito importantes para a humanidade, os sistemas complexos e a biomimética.
Iniciamos uma série de entrevistas com ex-presidentes da SBPMat sobre a atuação das sucessivas diretorias da nossa Sociedade. Na entrevista com Guillermo Solórzano, leia quais foram as principais ações, dificuldades e pendências da diretoria fundadora (2001-2003), os destaques dos primeiros encontros da SBPMat e mais. Aqui.
Dicas de leitura
Divulgação científica de artigos publicados em periódicos de alto fator de impacto.
Nanopartículas de platina e níquel erodidas por dentro formam nanoestrutura com design otimizado para eletrocatálise (divulgação de paper da Science). Aqui.
Membranas de grafeno dessalinizam a água em escala subnanométrica (divulgação de paper da Science). Aqui.
Além de gerar eletricidade a partir do sol, material baseado em perovskita emite luz de várias cores (divulgação de paper da Nature Materials). Aqui.
Nova técnica de fabricação de membranas de grafeno para filtros monocamada e multicamada (divulgação de paper da Nano Letters). Aqui.
Novo biomaterial: gel se contrai na temperatura do corpo humano e leva células-tronco a iniciar a formação de dentes (divulgação de paper da Advanced Materials). Aqui.
Sistema de liberação de fármacos para pacientes com glaucoma: nanodiamantes em lentes de contato (divulgação de paper da ACS Nano). Aqui.
Bactérias em cristal líquido interagem e formam um novo material aplicável em Biomedicina. Veja texto e vídeo (divulgação de artigo dos Proceedings of the National Academy of Sciences). Aqui.
Novidades dos INCTs (Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia do CNPq) sobre Materiais.
Compostos metálicos desenvolvidos no INCT Redoxoma demonstram potencial ação antitumoral e antiparasitária. Aqui.
Livros, apresentações, material mutimídia etc.
Resenha de livro sobre nanomateriais e Engenharia de Tecidos. Aqui.
Oportunidades
Pós-doc nos Estados Unidos em perovskita ou semicondutores orgânicos via Ciência Sem Fronteiras. Aqui.
Pós-doc em materiais multiferroicos e dispositivos funcionais na Universidade Estadual de Maringá (PR). Aqui.
Pós-doc em materiais para aplicação em fotônica na Universidade Estadual de Maringá (PR). Aqui.
Próximos eventos da área
VI Curso do Método Rietveld de Refinamento de Estrutura. Aqui.
Ivan Guillermo Sólorzano-Naranjo presidiu a primeira diretoria da Sociedade Brasileira de Pesquisa em Materiais (SBPMat), composta também pelos diretores Fernando Lázaro Freire Júnior (PUC-Rio), José Arana Varela (UNESP), Roberto Cerrini Villas Bôas (CETEM), Elisa Maria Baggio Saitovich (CBPF) e Moni Behar (UFRGS).
Essa diretoria fundadora foi instituída durante a Assembleia Geral de Constituição da SBPMat, no dia 26 de junho de 2001 no Auditório do RioDatacentro da PUC-Rio, com mandato até 2003.
Nascido no Equador, Solórzano desenvolveu sua formação e carreira científica em vários lugares do mundo. Cursou Engenharia Mecânica na Escuela Politécnica Nacional em Quito, Equador, Engenharia Metalúrgica na Université Catholique de Louvain, na Bélgica, e gradou-se pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) no Brasil. Realizou seu mestrado em Engenharia Metalúrgica e de Materiais também na PUC-Rio e doutorou-se em Ciência de Materiais pela McMaster University, no Canadá. Desenvolveu pesquisas de pós-doutorado no Max-Planck Institute – campus Sttutgart, na Alemanha, e foi professor visitante no Institut National Politechnique de Grenoble (França), no Massachusetts Institute of Technology (MIT) e na Stanford University (EUA). É professor no Departamento de Engenharia de Materiais da PUC-Rio.
Liderou, junto com Edgar Zanotto, o processo de criação da SBPMat, foi presidente do Inter American Committee of Societies For Electron Microscopy (CIASEM) e da Sociedade Brasileira de Microscopia e Microanálise (SBMM) e chairman do International Committee da Materials Research Society (MRS). É membro de diversas comissões executivas internacionais como o International Federation of Microscopy Societies ( IFSM), assim como de comitês editoriais de revistas científicas internacionais, como a Materials Characterization (Elsevier) Journal of Materials Science (Springer) e Microscopy and Microanalysis (Cambridge University Press).
Segue uma entrevista com este ex-presidente da SBPMat sobre a atuação da primeira diretoria da nossa sociedade.
1. Relacione as principais ações realizadas durante seu mandato como presidente da SBPMat.
– Realizamos, com sucesso, o congresso inaugural (o I Encontro da SBPMat), assim como o II Encontro da SBPMat no ano subsequente.
– Estabelecemos um formato para o evento anual, baseado nos simpósios e inédito no país, o qual se mantém até agora.
– Registramos oficialmente a SBPMat.
– Filiamos a SBPMat à International Union of Material Research Societies (IUMRS).
– Inauguramos, desde o primeiro encontro, a colaboração com a Materials Research Society (MRS), dos Estados Unidos, e com a E-MRS, da Europa, a qual tem se mantido e fortalecido no tempo.
– Instituímos a figura de “sócios fundadores” com mais de 350 sócios que receberam os certificados respectivos e iniciamos uma campanha de filiação à SBPMat de membros profissionais e estudantes, atingindo mais 600 sócios regulares no segundo ano. No terceiro Encontro, já sob a presidência do professor Elson Longo, em Foz do Iguaçu, houve uma explosão no número de participantes, com mais de mil pesquisadores e estudantes.
– Na assembleia da IUMRS, postulamos a SBPMat como instituição anfitrioa para sediar, no Rio de Janeiro, o subsequente International Congress on Advanced Materials (ICAM). O ICAM 2009 se realizou com sucesso no Rio de Janeiro sob a minha coordenação.
– Deixamos dinheiro no caixa da sociedade, uns 80 mil reais.
2. Relacione as principais dificuldades enfrentadas no período na direção da SBPMat.
Foi um desafio levar adiante a consolidação da SBPMat devido a nossa falta de recursos e pequena infraestrutura; tinha apenas a minha secretária “part-time” para me ajudar com a comunicação e tarefas administrativas que iam surgindo, e a ajuda dos meus alunos (um deles fez a primeira home page da SBPMat ), mas foi também uma época de muito entusiasmo em que recebi todo o apoio da comunidade brasileira de pesquisadores, muito motivados em cristalizar esta empreitada. As agencias financiadoras, CNPq, Capes, FAPERJ, FAPESP, reconheceram a importância desta iniciativa e prestaram seu apoio desde o primeiro encontro. Nada a reclamar, considero um privilegio termos tido esta experiência de fundar uma sociedade científica nacional e interdisciplinar no Brasil…
3. O que gostaria de ter feito, mas ficou pendente?
Uma das coisas que eu propus, mas não saíram do papel, foi a formação de comitês ou comissões executivas de atividades específicas de importância para a consolidação y crescimento da Sociedade: comissão de assuntos acadêmicos; comissão de relação com o setor industrial; comissão de publicações, comissão de relações internacionais, comissão de prêmios y distinções… Cada comitê ou comissão deveria ter um responsável ou coordenador (chairman) com uma gestão com período de vigência, apresentar relatórios periódicos (geralmente na ocasião do Encontro da SBPMat) etc.
Além disso, como o Brasil é grande, seria necessário ter seções regionais da SBPMat com diretorias devidamente instituídas e regulamentadas pelos estatutos da SBPMat. O papel destas regionais seria basicamente promover os mesmos objetivos gerais da SBPMat, mas em caráter regional e local, sempre alinhados com as diretrizes da Sociedade (através da Diretoria e Conselho) e assim contribuindo ao seu fortalecimento com maior impacto na comunidade cientifica e na sociedade Brasileira.
Tudo isto dá agilidade à Sociedade e aumenta a participação dos membros da nossa comunidade. É importante aumentar a participação efetiva dos sócios, particularmente dos jovens. Temos uma boa geração de talentos com vontade participar e deveriam ser convidados a participar da Sociedade.
4. O que você destacaria dos dois encontros da SBPMat organizados e ocorridos durante sua gestão?
– O I Encontro da SBPMat contou com a participação das MRS americana e europeia e da International Union of Materials Societies (IUMRS). Todos os presidentes dessas entidades vieram ao encontro, que teve cerca de 400 participantes, cinco simpósios, presença de autoridades nacionais. Do ponto de vista internacional teve ótima representatividade e visibilidade.
– Instituímos a obrigatoriedade do inglês como idioma oficial nos Encontros da SBPMat. Isto tem atraído a participação de pesquisadores do exterior de maneira crescente.
– Reforçamos o caráter interdisciplinar da Sociedade, refletido nos simpósios, onde cada simpósio deveria ter co-chairs de diferentes setores do conhecimento (isto é, Física, Engenharias, Química etc.), incentivando a presença de colegas do exterior, e um comitê organizador envolvendo cientistas do setor acadêmico, de centros de pesquisa e da indústria. Este modelo vem se mantendo com sucesso.
– Tanto no primeiro como segundo encontros da SBPMat tivemos como co-chairs de simpósios distinguidos cientistas internacionais , como o presidente da MRS (na época, Alex King) e o Presidente da E-MRS (na época, Giovanni Marletta).
5. Gostaria de deixar alguma mensagem para nossos leitores sobre o processo eleitoral da nossa SBPMat? (importância de participar das eleições enquanto eleitores ou candidatos etc.)
– Considero importante estabelecer e difundir um programa ou processo claro de eleição para presidente da SBPMat com dois candidatos excelentes com trajetória de participação na SBPMat, identificados por um search committee, em que a comunidade participe efetivamente da escolha, da eleição. Idem para os diretores. Não deveríamos ter mais candidato único para presidente, ou chapa única, nem reeleição, pois isso elimina esta participação da comunidade e desmotiva a sua participação na SBPMat. Vejam o exemplo do MRS onde o mandato é de um ano e sem reeleição.
– Cronograma de eleição que permita conhecer os resultados da eleição do presidente , diretoria e conselho na ocasião do Encontro da SBPMat. Assim a participação do presidente eleito já nesse encontro deve facilitar a transição com a nova diretoria.
(Não deixe de dar uma olhada nas instruções para autores)
Nova diretoria da SBPMat.
Foram realizadas a solenidade de posse da nova diretoria e dos novos conselheiros e também a primeira reunião da equipe. Saiba mais.
Conheça os novos membros e suas atribuições. Aqui.
Artigo em destaque
Uma equipe de três cientistas conseguiu fazer a identificação de defeitos de dimensão atômica presentes em filmes finos de óxido de zinco, por meio de um interessante experimento, o qual aproveitou a capacidade luminescente desse material. Inicialmente, preparam filmes com diversas quantidades e tipos de defeitos e, sistematicamente, foram excitando as amostras, medindo a luminescência emitida e relacionando essas medidas aos defeitos introduzidos. O experimento foi concebido e realizado por um pesquisador brasileiro, usando um fóton-microscópio de tunelamento da Alemanha. Os resultados do trabalho foram publicados no periódico The Journal of Physical Chemistry Letters.
(Para sugerir artigos da área de Materiais com participação brasileira publicados em periódicos científicos com alto fator de impacto para ser divulgados nesta seção do boletim, entre em contato: comunicacao@sbpmat.org.br)
História da pesquisa em Materiais
Apresentamos a segunda parte da história da Área de Materiais da CAPES, acompanhada de uma entrevista com o professor Carlos Graeff, coordenador da área no período 2009-2014, sobre a evolução dos cursos de pós-graduação em Materiais no Brasil, o Qualis da área e os desafios para os proximos anos, entre outros assuntos. Aqui.
Gente da nossa comunidade
Entrevistado por ocasião do prêmio Bridge Building Award da American Ceramic Society, o professor José Arana Varela contou como chegou à Ciência de Materiais e falou sobre suas mais importantes contribuições à área de materiais cerâmicos e seus principais colaboradores. O professor também deixou uma mensagem para nossos leitores em início de carreira. Aqui.
Dicas de leitura
Divulgação científica de artigos publicados em periódicos de alto fator de impacto.
Cientistas usam soluções de nanopartículas como adesivos para colar géis e tecidos biológicos (divulgação de paper daNature). Aqui.
Sanduíche em pão de grafeno: nova técnica para preparar biomoléculas para o microscópio eletrônico (divulgação de paper da Advanced Materials). Aqui.
Eletrônica Orgânica: desenvolvido o transistor polimérico mais rápido. É transparente e a base de benzotiofeno (divulgação de paper da Nature Communications). Aqui.
Pela primeira vez, nanomotores viajam dentro de células vivas (texto, imagens e vídeos) (divulgação de paper da Angewandte Chemie International). Aqui.
Novidades dos INCTs (Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia do CNPq) sobre Materiais.
Técnica desenvolvida no Namitec com potencial aplicação em paineis fotovoltaicos: litografia de nanoimpressão térmica. Aqui.
Divulgação do INCT dos Materiais em Nanotecnologia: tungstato de prata como sensor de gás ozônio. Aqui.
Sensor de hidrogênio muito sensível desenvolvido no Namitec está pronto para ser utilizado. Aqui.
Livros, apresentações, material mutimídia etc.
Resenha do livro “Fundamental Principles of Polymeric Materials” – para iniciantes em ciência e tecnologia de polímeros. Aqui.
Oportunidades
Concurso na USP Ribeirão Preto: Física Experimental aplicada a Medicina e Biologia ou Instrumentação Biomédica. Aqui.
Concurso para professor adjunto na UFPE em Engenharia de Reabilitação. Aqui.
Próximos eventos da área
VI Curso do Método Rietveld de Refinamento de Estrutura. Aqui.
Pouco mais de quatro meses após a criação da Área de Materiais da CAPES, com o professor Lívio Amaral como coordenador pro tempore, ocorria, em 12 e 13 de junho de 2008, o primeiro encontro dos programas de pós-graduação da nova área. O evento teve lugar na sede da CAPES em Brasília. A pauta incluiu, basicamente, as apresentações dos dez programas já vinculados à Área de Materiais (os da UCS, UFC, UFPE, UFRGS, UFRN, UFSC, UNESP – Bauru, UNESP – Ilha Solteira, USP-Lorena e USP São Carlos), reuniões com algumas diretorias da CAPES e apresentações de novos programas (os da FATEC, FEEVALE, UFMT e UFSCar- Sorocaba). Alguns programas vinculados a outras áreas da CAPES (os da UFVSF, UFPR e UFS) também foram convidados para avaliarem uma possível mudança de área. No final do evento, houve uma discussão sobre a elaboração do chamado “documento de área”.
A elaboração desse documento foi finalizada no segundo encontro dos programas de pós-graduação da área, que ocorreu nos dias 5 e 6 de março de 2009 na PUC-Rio. Nessa oportunidade, a reunião foi convocada pelo professor Lívio Amaral em conjunto com a SBPMat, na época presidida pelo professor Fernando Lázaro Freire Junior. A pauta incluiu uma apresentação da SBPMat e grupos de trabalho sobre a elaboração do documento de área, o qualis da área e a ficha de avaliação dos programas de pós-graduação. O documento trazia, entre outras informações, um breve histórico da área de pesquisa e o detalhamento da ficha de avaliação, propondo e discutindo indicadores para os quesitos e itens de avaliação.
Em abril de 2009, o professor Lívio Amaral deixou a coordenação da Área de Materiais para assumir a Diretoria de Avaliação da CAPES. Sobre as ações realizadas durante sua gestão, que durou um ano e dois meses, o professor Amaral comenta que “o período foi levado essencialmente em identificar quais seriam os programas de pós-graduação da área; a partir disto, tentar consolidar o que poderia ser a “Área de Materiais” e exprimir a construção desta área ao conjunto das demais, de modo que a mesma pudesse ser entendida pela comunidade”. Por outro lado, Amaral lamenta não ter conseguido estimular, tanto em programas existentes quanto em novas iniciativas “a imperiosa necessidade de termos muito mais pesquisa e formação de recursos humanos em Biomateriais”, subárea na qual, de acordo com o professor, a situação do país ainda é bastante crítica. “Basta ir a uma reunião da MRS, seja a americana ou a européia, que é fácil constatar que, mais e mais, existe pesquisa em Biomateriais”, ilustra Amaral.
O professor Carlos Graeff, coordenador da Área de Materiais da CAPES, em palestra no IFSC-USP em novembro de 2013. Foto cedida por Carlos Graeff.
No dia 12 de agosto de 2009, o presidente da CAPES, professor Jorge Guimarães, divulgava por meio da portaria 097 que o professor Carlos Frederico de Oliveira Graeff fora designado para exercer a função de coordenador da Área de Materiais até 2010, completando o triênio iniciado por Lívio Amaral. Graeff ainda permanece na coordenação da área até junho de 2014, por ter sido designado coordenador por mais um triênio.
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ANEXO 1: Entrevista com o professor Carlos Graeff, coordenador da Área de Materiais da CAPES no período 2009 – 2014.
Boletim da SBPMat: – Poderia resumir a evolução quantitativa e qualitativa dos cursos de pós-graduação em Materiais no Brasil desde a criação da área de Materiais na Capes?
Carlos Graeff: – A área foi criada em 2008 com a adesão de 10 programas. Hoje somos 29; ou seja, crescemos 290% em 6 anos. Esses são os dados quantitativos, mas o mais importante é que a área diversificou-se. Trata-se de uma área multidisciplinar, e nos novos programas, novas fronteiras do conhecimento foram abarcadas com interfaces nas áreas biológicas e médicas, além de agronegócios, para citar alguns casos. Além disso, outra característica importante desta evolução foi a expansão de regiões atendidas com programas de pós-graduação, em especial locais ainda carentes de programas de ensino superior nas regiões Centro-Oeste e Nordeste do Brasil.
Boletim da SBPMat: – O que você destacaria quanto às ações realizadas e os fatos ocorridos durante sua gestão como coordenador da área de Materiais da Capes?
O professor Carlos Graeff, coordenador da Área de Materiais da CAPES, em palestra no IFSC-USP em novembro de 2013. Foto cedida por Carlos Graeff.
Carlos Graeff: – A marca principal de nossa gestão foi a transparência. Fizemos uma série de reuniões com os coordenadores e, como a área é ainda relativamente pequena, pudemos tomar uma série de decisões de forma coletiva, relativas, principalmente, à avaliação. No que diz respeito aos cursos novos, procuramos convidar sempre novos membros nos comitês de análise. Esta medida, além de proporcionar um julgamento justo dos pedidos ao trazer especialistas nas áreas de atuação do futuro programa, melhora o conhecimento dos programas já existentes sobre o funcionamento da CAPES. Outra consequência é uma maior participação dos docentes dos diversos programas no funcionamento da área. Uma questão recorrente é a falta de conhecimento que a comunidade tem da CAPES; ao trazer um número representativo de docentes nos processos avaliativos, a tendência é um estreitamento do relacionamento da comunidade científica com a CAPES. Espero que esta entrevista possa contribuir neste sentido.
Além da atuação nesta interface com os programas de pós-graduação, sou membro titular do Conselho Técnico-Científico da Educação Superior (CTC-ES) da CAPES. No CTC-ES liderei um grupo de trabalho no tema “produtos técnicos”. Existe uma crescente demanda por uma interação mais forte entre a academia e a sociedade de maneira geral, ou seja, por desenvolvimento de pesquisas aplicadas ou desenvolvimento tecnológico. Na realidade, a criação das áreas de Materiais e Biotecnologia tiveram como uma das inspirações justamente a tentativa desta aproximação. No entanto, do ponto de vista da avaliação dos programas que trabalham nesta interface e, especialmente, na modalidade de mestrado profissional, existe uma carência por instrumentos que possam mensurar e qualificar os produtos gerados por esses programas. Estou mencionando a produção de patentes, protótipos etc.. Portanto é fundamental que o sucesso da CAPES em bem avaliar a produção intelectual (no caso de Materiais, basicamente artigos em periódicos científicos) também se estenda à produção técnica. As discussões foram muito produtivas e esperamos que em breve isso se reflita tanto na etapa da coleta de informações como na avaliação das mesmas pela CAPES.
Boletim da SBPMat: – Comente sobre o Qualis da área.
Carlos Graeff: – Uma das discussões realizadas dentro da área foi como gerar um Qualis que atendesse a multidisciplinaridade. O Qualis é um instrumento muito debatido na comunidade acadêmica de forma geral, mas em especial nas áreas mais dinâmicas do conhecimento, pois sua função é das mais importantes, qualificar o principal produto intelectual gerado pelos programas de pós graduação, os artigos científicos. A forma de qualificar atualmente mais utilizada faz uso do fator de impacto. No entanto, o fator de impacto reflete o tamanho e a dinâmica das diferentes comunidades acadêmicas. Por exemplo, quando comparamos os fatores de impacto médios da área de engenharia com aqueles das áreas de ciências naturais (Física, Química, Biologia), os mesmos são inferiores. Não queremos entrar no debate das razões desta diferença que é mais marcante ainda se entrarmos, por exemplo, no campo das humanidades. Mas a diferença existe, e, portanto, devemos levar isso em consideração para não gerarmos distorções na avaliação, por exemplo, de uma pós-graduação com forte viés em pesquisa em Engenharia de Materiais contra outra em Química de Materiais. Nossa proposta, portanto, separa os periódicos em grandes grupos: Ciência dos Materiais, Engenharia de Materiais e áreas correlatas. Com isso procuramos justiça ao comparar os artigos gerados por grupos de engenheiros ou físicos que atuem na área de Materiais. Evidentemente, nossa proposta precisa de ajustes, mas creio que demos um passo importante nesta direção.
Boletim da SBPMat: – Na sua opinião, quais são os desafios que a área tem para os próximos anos?
Carlos Graeff: – O Brasil passa por um momento importante em que sua indústria sofre a concorrência cada vez mais forte devido à maior abertura de nosso mercado e sua integração com a economia mundial. Um caminho importante é a sofisticação de nossos produtos e processos, e a área de Materiais tem muito a contribuir para uma indústria mais forte e competitiva. Para não me alongar, a Nanotecnologia que esta cada vez mais em evidência, e há uma expectativa de que possa gerar uma série de novos produtos é tema fundamentalmente da área de Materiais. Portanto a CAPES, e a SBPMat, têm papel importante neste tema. Ações nesta direção estão sendo discutidas tanto na CAPES quanto na SBPMat. Além das grandes questões nacionais, a área ainda tem espaço para crescer. Existe entre outros, por exemplo, o enorme e urgente desafio de criarmos um programa de pós-graduação na região Norte, única região ainda sem oferta de programas de pós-graduação na área de Materiais.
Boletim da SBPMat: – Fique à vontade para outros comentários.
Carlos Graeff: – Fico honrado pela generosa oferta do professor Lívio Amaral de conduzir a implantação da área de Materiais na CAPES. Aprendi muito e pude acompanhar as mudanças que a CAPES sofreu nos últimos anos com foco na melhoria do nosso sistema de pós-graduação. Teremos em breve mudanças significativas no processo de avaliação, entre elas a introdução de um novo instrumento de coleta e apoio à avaliação chamado de Plataforma Sucupira. Essas iniciativas foram conduzidas com entusiasmo e competência pelos professores Lívio Amaral e Jorge Guimarães. Portanto gostaria de encerrar com um agradecimento a ambos.
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ANEXO 2: O “bê-a-ba” da Área de Materiais da CAPES.
As principais incumbências das áreas da CAPES são: avaliar e promover a criação de novos programas de pós-graduação; avaliar os programas existentes sugerindo sua nota; avaliar pedidos de auxílio como estágios no exterior para discentes e docentes e pedidos de financiamento para organização de eventos no país e analisar pedidos para participar de eventos fora do país. Além disso, os coordenadores são a mais importante interface entre a comunidade acadêmica e a CAPES.
A Área de Materiais é composta pelo coordenador e dois coordenadores adjuntos. O cargo do segundo coordenador adjunto foi criado recentemente, em meados de 2013, para acompanhar mais detalhadamente os programas de mestrado profissional. Além disso, na Diretoria de Avaliação da CAPES existe um ou mais técnicos que auxiliam a Coordenação de Área com os procedimentos internos e interfaces da CAPES com a comunidade.
Os coordenadores de área são escolhidos pela presidência da CAPES após consulta aos programas de pós-graduação e às sociedades técnico-científicas ligadas à área.
O artigo científico com participação de membros da comunidade brasileira de pesquisa em Materiais em destaque neste mês é:
Fernando Stavale, Niklas Nilius, and Hans-Joachim Freund. STM Luminescence Spectroscopy of Intrinsic Defects in ZnO(0001̅) Thin Films. J. Phys. Chem. Lett., 2013, 4 (22), pp 3972–3976. DOI: 10.1021/jz401823c.
Texto de divulgação: Medidas de luminescência para identificar defeitos de filmes finos de óxido de zinco.
O óxido de zinco (ZnO) é um material muito presente na vida cotidiana. Pode ser encontrado em parafusos, em protetores solares,em catalisadores para a síntese de metanol e em dispositivos optoeletrônicos sofisticados, como telas flexíveis para computadores, citando apenas alguns exemplos. Entretanto, para viabilizar algumas aplicações promissoras, como transistores e novos dispositivos, é importante controlar as propriedades elétricas desse semicondutor, as quais estão relacionadas com defeitos pontuais na sua estrutura atômica.
Nesse contexto, três cientistas ligados a instituições da Alemanha e do Brasil realizaram uma identificação dos defeitos pontuais de filmes de óxido de zinco por meio de uma abordagem original, aproveitando a capacidade luminescente (emissão de luz não provocada pelo aquecimento do material) do óxido de zinco. Os pesquisadores prepararam filmes finos de óxido de zinco com diferentes tipos e quantidades de defeitos pontuais. Sistematicamente, os cientistas foram medindo a luminescência de cada um dos filmes e, dessa maneira, conseguiram relacionar picos nas medidas de emissão com diversos tipos de defeitos na rede cristalina. Os resultados do trabalho foram publicados no periódico The Journal of Physical Chemistry Letters (JPCL).
“Neste estudo, crescemos filmes ultrafinos de óxido de zinco de alta qualidade e alteramos a quantidade de defeitos pontuais utilizando desorção térmica, foto-desorção induzida por laser e redução por tratamentos em atmosfera controlada de hidrogênio”, detalha Fernando Stavale, pesquisador do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF)que assina o artigo como primeiro autor.
A técnica de caracterização
Para realizar os experimentos, os cientistas utilizaram um microscópio de varredura por tunelamento (STM, na sigla em inglês) em ultra-vácuo com algumas particularidades destinadas à gerar a luminescência, coletar os fótons emitidos e obter as medidas (os espectros) de luminescência. Com essa configuração, o STM é chamado de fóton-microscópio de tunelamento. De acordo com Stavale, um dos grandes expoentes no desenvolvimento e aplicação dessa técnica é o professor Niklas Nilius, autor para correspondência do artigo do JPCL com quem Stavale trabalhou diretamente durante três anos em seu pós-doutorado no Instituto Fritz-Haber da Sociedade Max-Planck, em Berlim, mais precisamente no departamento de Física Química liderado pelo professor Hans-Joachim Freund, último autor do artigo do JPCL. “O fóton-microscópio de tunelamento tem sido empregado de forma pioneira na caracterização de óxidos metálicos no departamento dirigido pelo professor Freund”, comenta Stavale. “A técnica ainda é pouco utilizada no Brasil e é parte fundamental dos projetos que desenvolvo atualmente no meu grupo de pesquisa no CBPF, localizado no Rio de Janeiro”, finaliza.
Uma característica fundamental do fóton-microscópio de tunelamento é a utilização dos elétrons emitidos pela ponta do STM para excitar as amostras e, no caso do óxido de zinco, gerar a luminescência desejada. Esse fenômeno de emissão de luz gerada pelo impacto de elétrons sobre o material é chamado de catôdo-luminescência.
Esquema do experimento, no qual pode ser observada, na foto, a ponta do microscópio de tunelamento excitando o filme de óxido de zinco. O gráfico inserido mostra um espectro de câtodo-luminescência do óxido. Ao fundo, a imagem de microscopia de tunelamento de um filme de óxido de zinco com espessura de 20 camadas (~5 nm),mostra degraus monoatômicos e defeitos pontuais contidos na superfície do filme. As vacâncias de oxigênio e zinco, defeitos pontuais, correspondem às áreas indicadas pelas setas. As áreas escuras com forma hexagonal correspondem a regiões onde o filme é descontínuo com profundidade de até 8 camadas atômicas.
Esse trabalho sistemático permitiu aos cientistas afirmar que alguns picos dos espectros de luminescência do óxido de zinco são devidos a defeitos como vacâncias de oxigênio e de zinco (pontos da rede cristalina nos quais, no lugar dos átomos de oxigênio ou zinco que seriam esperados, existem “vagas”). “Esses defeitos pontuais estão relacionados às propriedades elétricas geralmente observadas no óxido de zinco, como dopagem do tipo-n”, acrescenta Stavale.
O contexto do trabalho
Os experimentos do artigo no JPCL foram concebidos e realizados pelo brasileiro Fernando Stavale em 2012 durante seu último ano de pós-doutorado no grupo do professor Nilius, no no Instituto Fritz-Haber da Sociedade Max-Planck. Stavale chegou a esse grupo em 2010 com uma bolsa da Fundação Humboldt, da Alemanha. “Em um período de três anos investigamos pela primeira vez o papel de diversos dopantes, como cromo, európio e lítio em óxidos de magnésio e zinco, combinando filmes ultrafinos crescidos em ultra-alto vácuo com microscopia de tunelamento e catôdo-luminescência local”, conta Stavale sobre seus estudos do pós-doutorado.
A interpretação dos resultados e a redação do artigo do JPCL foram realizados em 2013, quando Fernando Stavale já havia assumido seu cargo de pesquisador no CBPF e Niklas Nilius, sua posição de professor na Universidade de Oldenburgo, na Alemanha.
Professor Arana Varela (à esquerda) recebendo o prêmio. Foto cedida pela American Ceramic Society.
No dia 27 de janeiro passado, em Daytona Beach (Florida, Estados Unidos), durante a 38ª edição da International Conference and Exposition on Advanced Ceramics and Composites, o prêmio Bridge Building Award da American Ceramic Society foi outorgado pela primeira vez a um brasileiro, o professor José AranaVarela, presidente da nossa SBPMat de 2010 a 2011. A honraria distingue, anualmente, pessoas de fora dos Estados Unidos que tenham feito contribuições notáveis na área das cerâmicas de engenharia.
Formado em Física pela USP em 1968, Arana Varela fez o mestrado, também em Física, no Instituto Tecnológico de Aeronáutica, obtendo o título de mestre em 1975. Realizou seu doutorado de 1977 a 1981 na University of Washington (Estados Unidos), com pesquisa na área de materiais cerâmicos.
Atualmente, Arana Varela é professor titular da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP) e diretor-presidente do Conselho Técnico-Administrativo da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), além de membro do Conselho Superior de Inovação e Competitividade da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP). O professor Arana Varela também é membro titular da Academia Brasileira de Ciências (ABC), entre outras sociedades, e membro do corpo editorial das revistas Ceramics International, Science of Sintering, Cerâmica e Materials Research. Além disso, coordena a divisão de inovação do Centro Multidisciplinar de Desenvolvimento de Materiais Cerâmicos, um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPIDs) da Fapesp.
Seus artigos científicos reúnem mais de 6.500 citações. Só nos últimos treze anos, foi autor de mais de 500 artigos publicados em revistas internacionais. Até o momento, orientou ou coorientou 30 trabalhos de mestrado e mais de 40 de doutorado.
Ao longo da sua carreira, recebeu mais de vinte prêmios de entidades como a American Ceramic Society, Sociedad Española de Cerámica y Vidrio, CNPq, Associação Brasileira de Metalurgia e Materiais e Associação Brasileira de Cerâmica.
Segue uma minientrevista com o pesquisador.
Boletim da SBPMat: – Conte-nos um pouco sobre sua história: quais foram as oportunidades e escolhas que o levaram a se tornar um pesquisador da área de materiais cerâmicos?
José Arana Varela: – A nossa escolha em ser um cientista de materiais começou durante o curso de mestrado no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) em 1972. Neste período (em 1975) conheci o professor O. J. Whittemore da Universidade de Washington em Seattle, durante a sua visita de um ano junto a Universidade Federal de São Carlos. Como a minha pesquisa em mestrado era relacionada com a Físico-química da decomposição térmica do talco, uma matéria prima cerâmica, o professor Whittemore se interessou pela pesquisa e fez uma série de considerações em processamento cerâmico (a sua especialidade). Daí nasceu o convite para fazer o doutorado em Seattle (período de 1977 a 1981).
Boletim da SBPMat: – Na sua própria avaliação, quais são as suas principais contribuições à ciência e à tecnologia de Materiais? Em particular, comente suas principais contribuições à área das cerâmicas de engenharia (engineering ceramics), foco do Bridge Building Award.
José Arana Varela: – Como o tema principal de nossa tese de doutorado estava relacionado com os modelos de sinterização, fizemos um estudo básico sobre o efeito de variáveis como vapor de água e taxa de aquecimento na densificação e microestrutura da cerâmica de óxido de magnésio. Fizemos um modelo para levar em conta o rearranjo estrutural no processo de sinterização.
Considerando a evolução da aplicação de materiais cerâmicos na microeletrônica, devido a funcionalidade desses materiais, iniciamos no década de 1990 a linha de eletrocerâmicas. A funcionalidade escolhida inicialmente foi a variação da resistividade com o campo elétrico (varistores cerâmicos) devido a sua aplicação, principalmente, como para-raios e como protetor de circuitos elétricos. Após entender e contribuir no sistema varistor com base no óxido de zinco (ZnO), propusemos mudar o sistema considerando outro óxido semicondutor (óxido de estanho). Nesse caso, desenvolvemos ao longo dos anos um varistor de óxido de estanho com propriedades muito superiores ao tradicional varistor de ZnO.
Outras contribuições estão relacionadas com o desenvolvimento de filmes finos de cerâmicas com estrutura perovskitas visando otimizar as suas propriedades dielétricas, piezoelétricas e ferroelétricas utilizando-se deposição química. Avançamos muito no conhecimento da deposição química que chamamos de métodos de precursores poliméricos. Uma das aplicações desses filmes corresponde à fabricação de memórias ferroelétricas. Com isto nossos alunos trabalharam em caracterização de filmes finos com propriedades ferroelétricas em alguns sistemas como o titanato de bario, titanato zirconato de chumbo, bem como miobatos e tantalatos de estrôncio. Foi nestes sistemas que foi proposta pelo grupo do professor Carlos Paz de Araujo, na Universidade do Colorado, uma patente em memórias ferroelétricas, licenciada à Panasonic.
A contribuição mais recente tem sido em sensores com estrutura nanométrica em colaboração com o grupo do professor Harry Tuller do MIT. Os resultados recentes, muito promissores, mostraram uma sensibilidade gigante em nanosensores com base em monóxido de estanho. Salienta-se que foi depositada recentemente nos Estados Unidos uma patente relacionada com este estudo.
Boletim da SBPMat: – “Bridge building”, construindo pontes. Compartilhe conosco uma retrospectiva sobre as principais pontes construídas ao longo da sua carreira e as pontes que ainda gostaria de construir.
José Arana Varela: – As nossas pontes têm sido construídas desde a finalização de nosso doutorado na Universidade de Washington. Continuei colaborando com o professor Whittemore durante uma década e comecei outros relacionamentos com o professor Gary Messing na Penn State University e depois com o professor Richard Bradt na Universidade do Alabama.
Concomitantemente, na Europa tivemos projetos conjuntos com o professor João Baptista da Universidade de Aveiro, Portugal e com o doutor José Fernandez do Instituto de cerâmica e Vidro de Madrid no tema de eletrocerâmicas. Iniciamos colaborações com grupos da França em Bordeaux (professor Marc Onillon), bem como de André Perrin da Universidade de Rennes. Seguiu-se com colaborações, com o grupo do professor Paolo Nanni da Universidade de Genoa, concomitantemente com o grupo do professor Danilo Suvorov do Instituto Josef Stephan da Eslovênia e o professor Harry Tuller do MIT em Boston.
Boletim da SBPMat: – Gostaria de deixar alguma mensagem para nossos leitores que estão construindo suas carreiras de pesquisadores em Materiais, seja na academia ou na indústria?
José Arana Varela: – A Ciência de Materiais é fundamental para o desenvolvimento de tecnologias úteis para resolver os grandes problemas da sociedade. O grande avanço no conhecimento de materiais cerâmicos, principalmente para a sua aplicação em produção de energia, comunicação, controle ambiental etc, tem ocorrido nos últimos 20 anos devido, principalmente, ao aumento das colaborações entre os pesquisadores de várias partes do mundo. A Ciência de Materiais deixou de ser polarizada entre os Estados Unidos e a Europa (Alemanha, Inglaterra e França) e conta com contribuições de outros atores localizados na Ásia, e com certeza, no Brasil. O conhecimento fundamental dos mecanismos de transporte de massa e de cargas, bem como da estrutura dos materiais em escala nanométrica é fundamental para novos desenvolvimentos e avanço da tecnologia.
No dia 14 de fevereiro deste ano às 10 horas ocorreu a solenidade de posse da sétima diretoria da nossa Sociedade Brasileira de Pesquisa em Materiais (SBPMat), com mandato de dois anos a partir de janeiro de 2014. Junto à diretoria, também tomaram posse quatro novos conselheiros titulares e um conselheiro suplente, cujo mandato vai até 2018. A cerimônia foi realizada no Golden Park Hotel Viracopos, na cidade de Campinas (SP). A nova diretoria e os novos conselheiros foram eleitos pelo processo de votação realizado no final de 2013.
Nova diretoria no dia da posse. A partir da esquerda, Rodrigo Bianchi, Marco Cremona, André Pasa, Ieda Garcia dos Santos, Julio Sambrano, Maria Aparecida Zaghete e Roberto Faria (presidente).
Primeira reunião.
A primeira reunião da nova diretoria junto com o conselho foi realizada no mesmo dia, às 14 horas.
Na reunião foram definidos nomes da diretoria e conselho para comporem as comissões da SBPMat. Para a comissão de eventos, foram indicados os nomes dosprofessores Marco Cremona, Iêda Maria Garcia dos Santos e José Alberto Giacometti; para a comissão do Boletim da SBPMat, os professores Fernando Lázaro Freire Junior, André Avelino Pasa e José Antonio Eiras, e para a comissão das seções universitárias (university chapters), os professores Rodrigo Fernando Bianchi, Antonio José Felix de Carvalho, Iêda Maria Garcia dos Santos, Maria Aparecida Zaghete e Waldemar Augusto de Almeida Macedo. Como responsáveis pela elaboração do documento “Materials Science Impact” junto ao Institute of Physics, foram escolhidos os professores Roberto Mendonça Faria, Marco Cremona e Julio Ricardo Sambrano. Vale destacar que é possível a inclusão nas comissões de outros sócios da SBPMat, além desses integrantes iniciais.
Durante a reunião, também foram definidas as atribuições dos diretores científicos.