O artigo científico de membros da comunidade brasileira de pesquisa em Materiais em destaque neste mês é:
Liang Feng, Ye-Long Xu, William S. Fegadolli, Ming-Hui Lu, José E. B. Oliveira, Vilson R. Almeida, Yan-Feng Chen & Axel Scherer. Experimental demonstration of a unidirectional reflectionless parity-time metamaterial at optical frequencies. Nature Materials, 2013, 12 (2), pp 108–113. DOI:10.1038/nmat3495.
Texto de divulgação: Estrada de sentido único para a luz.
A capa da Nature Materials de fevereiro destacou o artigo.
Em sua edição de fevereiro, a revista científica Nature Materials, cujo fator de impacto está acima dos 32 pontos, destacou na capa uma pesquisa que contou com a participação de três pesquisadores brasileiros. O título estampado na capa da revista, “One-way road for light” (estrada de sentido único para a luz), alude a uma propriedade demonstrada pelos autores do artigo por meio de um dispositivo fabricado por eles: a capacidade de refletir a luz em uma única direção.
Em termos gerais, o dispositivo é um guia de ondas que possibilita a transmissão da luz em ambos os sentidos de propagação (para frente e para trás), mas impede a reflexão em apenas um dos sentidos contrários à propagação. Esse efeito de reflexão unidirecional também pode ser compreendido como invisibilidade unidirecional. “Uma vez que o dispositivo não possibilita a reflexão da luz em uma direção, ele pode ser considerado invisível nessa direção”, explica William Fegadolli, um dos autores brasileiros do artigo.
Essa propriedade vinha sendo buscada por grupos de pesquisa do mundo. Alguns trabalhos publicados chegaram a propor estruturas para conseguir a unidirecionalidade, mas a pesquisa destacada na capa da Nature Materials se diferencia de artigos anteriores em várias questões. Uma das mais importantes é o fato de que a equipe de pesquisadores demonstrou experimentalmente o efeito, fabricando um dispositivo e colocando-o em funcionamento. “Os trabalhos anteriormente publicados eram condições teóricas que combinavam ganhos e perdas para construir estruturas unidirecionais, fato que tornava tais estruturas muito difíceis de serem construídas devido à complexidade necessária dos materiais requeridos e à incompatibilidade dos processos de fabricação disponíveis para tal demonstração”, diz Fegadolli.
Já no trabalho publicado em fevereiro na Nature Materials, os materiais e procedimentos usados não apenas viabilizam a fabricação do dispositivo como também são totalmente compatíveis com a tecnologia CMOS (complementary metal–oxide–semiconductor) utilizada na fabricação de circuitos integrados (chips), que estão presentes em computadores e eletrônicos.
Com essas características, a pesquisa ganha uma relevância especial na área de fotônica em silício, que busca substituir interconexões elétricas por interconexões ópticas em circuitos integrados, os quais são fabricados em grande parte com silício. Com essa substituição, pretende-se reduzir o consumo de energia dissipada e aumentar a velocidade de processamento da informação. Nesse contexto, Fegadolli avalia os resultados apresentados no artigo como “uma demonstração de conceito embrionária que pode permitir a construção de blocos essenciais para a demonstração de computação puramente óptica em plataforma de silício”.
A demonstração experimental
O dispositivo consiste num guia de ondas de silício de 800 por 220 nanometros, tamanho compatível com seu uso em microchips, que possui, periodicamente, pequenas estruturas de germânio, cromo e silício devidamente projetadas em sua superfície. O guia de ondas está inserido numa plataforma de dióxido de silício.
Imagens do dispositivo fabricado antes da deposição de oxido de silício (a) estrutura periódica completa e (b) visão magnificada destacando suas dimensões longitudinais.
Para a demonstração experimental do efeito de reflexão unidirecional, a equipe se inspirou em conceitos da teoria quântica de campos, mais precisamente na condição de “parity-time”, que combina simetrias de reversão de paridade e de reversão temporal. No dispositivo em questão, explica Fegadolli, “a unidirecionalidade da reflexão é obtida devido a uma condição particular onde as simetrias de reversão de paridade e de tempo geram um ponto excepcional que quebra a simetria de propagação eletromagnética em estruturas periódicas”.
A equipe de trabalho
William Fegadolli acabou de defender sua tese de doutorado sobre síntese de dispositivos ópticos integrados em silício no Programa de Pós-Graduação em Engenharia Eletrônica e Computação do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA). Grande parte do trabalho publicado na Nature Materials foi desenvolvida durante o estágio de doutorado-sanduíche de Fegadolli no California Institute of Technology (Caltech), no Grupo de Nanofabricação coordenado pelo professor Axel Scherer.
Além de Fegadolli e de Scherer, participaram como autores do artigo o Coronel Aviador Vilson Rosa de Almeida (orientador de doutorado de Fegadolli, professor colaborador do ITA e diretor do Instituto de Estudos Avançados – IEAv ), o professor do ITA José Edimar Oliveira (co-orientador do doutorado), mais um pesquisador do Grupo de Nanofabricação e três cientistas da Universidade de Nanjing (China).
Elson Longo da Silva: o próximo homenageado com a palestra memorial da SBPMat.
Desde 2011, a SBPMat outorga, anualmente, uma distinção a um pesquisador de carreira destacada na área de Materiais, quem profere uma palestra durante o encontro anual da sociedade. O nome desse ato é “Memorial Lecture Joaquim Costa Ribeiro”, em homenagem a esse pioneiro da pesquisa experimental em Materiais no Brasil.
Neste ano, o pesquisador honrado será o professor Elson Longo, que ministrará sua palestra na abertura do evento, no dia 29 de setembro, no Convention Center de Campos do Jordão (SP). O professor Longo foi um dos fundadores da SBPMat e um de seus primeiros presidentes.
A honraria já foi outorgada, em anos anteriores, aos professores Sergio Machado Rezende e Sergio Mascarenhas Oliveira.
Um grupo de pesquisadores da Unicamp observou variações periódicas no formato de nanofios semicondutores e explicou de que maneira elas estão relacionadas a instabilidades no crescimento dos nanofios. A pesquisa foi totalmente desenvolvida em Campinas (SP) e foi publicada na Nano Letters.
Conversamos sobre materiais complexos biomiméticos (inspirados na natureza) com André Studart, engenheiro e cientista de Materiais brasileiro, fundador e coordenador do Laboratório de Materiais Complexos do ETH, na Suíça.
One-way road for light:artigo de capa da Nature Materials tem participação de pesquisadores do IEAv e do ITA (Publicado no boletim Agência Fapesp). Aqui.
Materiais luminescentes: UnB desenvolve marcadores para perícia criminal mais eficientes do que as técnicas atuais (Publicado no jornal Correio Braziliense). Aqui.
Vidros luminescentes: pesquisadores do INCT de Fotônica conseguem gerar luz branca em vidros germanatos dopados com íons de holmio, itérbio e túlio (Divulgação do INCT de Fotônica). Aqui.
Uso de casca de soja em compósitos: nanocristais reforçam polímeros sem deixá-los opacos (Publicado na revista Pesquisa Fapesp). Aqui.
Avanços nacionais na purificação do silício para uso em células solares (Publicado no portal NEI de informações para a indústria). Aqui.
Brasil terá em 2017 reator nuclear multipropósito, possibilitando a caracterização de materiais por feixe de nêutrons (Publicado no site da Finep). Aqui.
Empresa brasileira de materiais spin-off da Unesp exporta nanotecnologia e é contemplada em programa do MIT (Publicado em site de notícias de Araraquara). Aqui.
Carro elétrico brasileiro terá bateria de sódio desenvolvida no país (Publicado no site da Finep). Aqui.
Novidades do exterior
O mistério da supercondutividade em altas temperaturas: novo método experimental permite descartar hipótese das CDWs (com base em paper da Nature Materials). Aqui.
Desgaste em nanoescala: observação ao vivo usando MET determina a causa do desgaste e quantifica os átomos perdidos (com base em paper da Nature Nanotechnology). Aqui.
Novo método de fabricação de filmes ferroelétricos resulta em propriedades elétricas excepcionais (com base em paper da Advanced Materials). Aqui.
A chave para produzir grafeno de qualidade controlada para aplicações tecnológicas: usar lâminas de cobre como base (com base em paper da ACS Nano). Aqui.
Um gel polimérico que cresce e aumenta o tamanho de seus poros com a ação da luz (com base em paper da Angewandte Chemie). Aqui.
Supercondutores: sob campos magnéticos intensos a supercondutividade pode, sim, ser mantida ao imobilizar os vórtices (com base em paper da Nature Communications). Aqui.
Európio e titânio combinados geram novo material com efeito magnetoelétrico gigante (com base em paper da Nature Communications). Aqui.
Micro supercapacitores de grafeno fabricados com um gravador de DVD; veja texto e curto vídeo premiado (com base em paper da Nature Communications). Aqui.
Gente da nossa comunidade
José Arana Varela, ex-presidente da SBPMat, recebe prêmio internacional na área de cerâmicas. Aqui.
Oportunidades para a comunidade de Materiais
Bolsas e outros benefícios para doutorado sanduíche e pós-doc na Suécia, África do Sul e EUA. O edital contempla a área de Materiais nos temas de interesse. Aqui.
Bolsas e outros e benefícios para candidatos com excelente qualificação para fazer doutorado na Alemanha em várias modalidades. Aqui.
O professor José Arana Varela, presidente do Conselho Técnico-Administrativo da FAPESP, coordenador da Divisão de Pesquisa do INCT dos Materiais em Nanotecnologia e ex-presidente da SBPMat, foi homenageado na sessão de abertura da “37th International Conference and Expo on Advanced Ceramics and Composites” no dia 28 de Janeiro de 2013 em Daytona Beach, Flórida, Estados Unidos.
Na ocasião o professor Varela recebeu o 2013 Global Star Award das mãos do presidente da American Ceramic Society, Dr. Richard K. Brow. O prêmio reconhece “relevantes contribuições” à área de pesquisa, segundo a American Ceramic Society (Acers), promotora do evento e mais importante instituição do gênero no mundo.
Homenageamos nesta edição o cientista alemão Bernhard Gross, um dos pioneiros da pesquisa em Materiais no Brasil.Veja a matéria sobre seus trabalhos com eletretos, campo no qual Gross desenvolveu a primeira teoria, possibilitando aplicações industriais como os microfones de eletretos.Veja o texto sobre a obra científica de Gross, que também incluiu aportes internacionalmente significativos em temas como raios cósmicos, materiais dielétricos, efeitos da radiação em materiais.
Artigos científicos em destaque
Artigo sobre a influência da morfologia do óxido cúprico em suas propriedades sensoras, publicado na Advanced Functional Materials, tem participação de grupo de pesquisa do Instituto de Química da UNESP. O artigo traz contribuições inovadoras ao desenvolvimento de sensores de alto desempenho para detecção de gases.Veja a matéria de divulgação que preparamos para este boletim.
Entrevista
Conversamos com o ganhador do Prêmio Capes de Tese na área de Materiais, Cesar Aguzzoli. Ele nos contou sobre sua trajetória na pesquisa e como desenvolveu um trabalho destacado em nível nacional.Veja a breve entrevista.
Dicas de leitura
Novidades do Brasil
Em Santa Catarina, a Pirelli produz pneus “verdes” com adição de sílica obtida da casca de arroz. (Publicado na revista inglesa The Economist). Aqui.
Brasil desenvolve revestimento para espelhos dos telescópios que vão formar o maior observatório dedicado a raios gama. (Publicado na revista Pesquisa Fapesp). Aqui.
Começa neste ano a construção no LNLS de novo acelerador de elétrons de terceira geração, que deve ficar pronto em 2016. (Publicado no boletim da Agência Fapesp). Aqui.
INCT de Nanotecnologia para Marcadores Integrados (INAMI) divulga seu protótipo de fluorímetro para imunoensaios. (Divulgação do INAMI). Aqui.
Novidades do exterior
Nitreto de boro cúbico nanoestruturado: ainda mais duro e resistente, promissor para ferramentas de corte. (Com base em paper da Nature). Aqui.
Novo record de eficiência de célula solar orgânica é de célula desenvolvida na Alemanha por empresa + universidades usando oligômeros. (Divulgação da empresa Heliatek). Aqui.
Termocristais: materiais nanoestruturados que permitem manipular o calor, assim como os cristais fotônicos o fazem com a luz. (Com base em paper da Physical Review Letters). Aqui.
Pesquisadores estudam a hidrofobia em óxidos de terras raras e descobrem que estes materiais podem atuar como repelentes de líquidos, com o diferencial de serem robustos e duráveis. Texto e vídeo. (Com base em paper da Nature Materials). Aqui.
Saiba de que é feito o novo material superomnifóbico e veja ele em ação, repelindo molho de soja, café, gasolina etc. Texto e vídeo. (Com base em paper do Journal of the American Chemical Society). Aqui.
A toxicidade dos nanotubos de carbono em aplicações biomédicas pode ser eliminada. (Com base em paper da Angewandte Chemie). Aqui.
Novo sensor de imagens de alta sensibilidade e baixo custo: revestimento polimérico ultrafino aplicado por spray. (Com base em paper da Nature Communications). Aqui.
Materiais para liberação de fármacos: pesquisadores embutem agulhas de nanofibras de carbono em membranas de silicone. (Com base em paper da Applied Materials & Interfaces). Aqui.
Óxido de grafeno consegue absorver material radioativo: pode limpar águas contaminadas. (Com base em paper da PCCP). Aqui.
Artigos de revisão
Saiba mais sobre espectroscopia NEXAFS, com foco na caracterização de materiais orgânicos sintéticos. (Artigo publicado na Materials Today). Aqui.
Gente da nossa comunidade
O novo presidente da Materials Research Society é Orlando Auciello. Auciello foi palestrante em uma plenária do Encontro da SBPMat de 2012. Aqui.
José Carlos Bressiani, formado na primeira turma de Engenharia de Materiais do Brasil, é o novo superintendente do Ipen. Aqui.
Oportunidades para a comunidade de Materiais
Vagas para Engenheiros de Materiais em Minas Gerais para trabalhar na área de desenvolvimento. Aqui.
Concurso do Departamento de Engenharia Metalúrgica e de Materiais da Poli-USP. Aqui.
Chamada FAPESP + Peugeot Citroën: compatibilidade e otimização de materiais para biocombustíveis é tema de interesse. Aqui.
Contratação de pesquisadores em tecnologia de plasma e tribologia para instituto de inovação. Aqui.
6th International Conference on Electroceramics – ICE2013
João Pessoa, PB, Brazil, 9-13 November 2013 Chairs: R. Muccillo (IPEN), J. A. Varela (UNESP), J. A. Eiras (UFSCar)
The Brazilian MRS – SBPMat will organize the 6th International Conference on Electroceramics – ICE2013 to be held in João Pessoa, Brazil, 9-13 November 2013.
This conference is a forum for the exchange of ideas, advancement of the science, and discussions of the state-of-the-art in Electroceramics R&D, including Ferroelectrics, Piezoelectrics and Pyroelectrics, Thermoelectrics, Conductors (Ionic, Electronic and Mixed), Magnetic and Superconducting ceramics, Photonic and Electro-optical ceramics, Materials for Lithium Batteries and other Energy Storage Technologies, Applications to Solid Oxide Fuel Cells, Membrane Technology, Sensor and Actuator Devices, Solar Photovoltaic and Photoelectrochemical Cells, Interfacial Engineering and Superlattices, Magneto-electric coupling and Multiferroics, Modeling and Simulation.
A Assembleia Geral da Academia Brasileira de Ciências (ABC) elegeu 36 cientistas de excelência para integrar seus quadros como Membros Titulares e Membros Correspondentes. A cerimônia de posse ocorrerá no dia 7 de maio de 2013.
Entre os membros titulares eleitos, há três presidentes da Sociedade Brasileira de Pesquisa em Materiais (SBPMat): Roberto Mendonça Faria (USP), que é o presidente atual; José Arana Varela (Unesp), presidente de 2010 a 2011, e Elson Longo da Silva (Unesp), que presidiu a sociedade de 2004 a 2005. Os dois primeiros foram eleitos na área de Ciências Físicas e o terceiro, em Ciências Químicas.
Está aberta até o dia 23 de novembro a chamada de propostas de simpósios para o XII Encontro da SBPMat. O evento será realizado em Campos do Jordão, no Convention Center, de 29 de setembro a 3 de outubro de 2013.
As propostas de simpósios para o evento de 2013 podem ser apresentadas por qualquer pessoa com título de doutor ligada a uma instituição de ensino e/ou pesquisa do Brasil ou do exterior. Todos os temas da área de Ciência e Engenharia de Materiais podem ser objeto de uma proposta de simpósio. Cada simpósio deverá formar um comitê científico para avaliar os trabalhos submetidos.
Interessados em propor simpósios devem preencher o formulário disponível no site da SBPMat e enviá-lo, por correio eletrônico, para o e-mail secretaria@sbpmat.org.br até o dia 23 de novembro de 2012. As propostas apresentadas serão avaliadas pela Comissão de Eventos da SBPMat, juntamente com os organizadores do XII Encontro, e submetidas à diretoria da Sociedade.
Os simpósios temáticos são, tradicionalmente, um eixo importante da programação dos eventos anuais da SBPMat. O encontro realizado em setembro deste ano contou com 16 simpósios, que tiveram 1.817 trabalhos aceitos para apresentações orais e pôsteres.
XI Encontro da SBPMat: presentes as cinco regiões do Brasil e mais 26 países.
Mais de 1.700 pessoas da comunidade de pesquisa em Materiais se reuniram a poucos metros da praia do Costão do Santinho de 23 a 27 de setembro para participar de uma intensa programação técnica. Houve 1.818 trabalhos aceitos.
Plenárias do XI encontro: resumos, fotos e os arquivos cedidos pelos autores.
Compartilhamos com nossos leitores os arquivos das plenárias recebidos até o momento, acompanhados dos resumos das palestras. Saiba mais.
História da pesquisa em Materiais.
Preparamos uma reportagem sobre Joaquim da Costa Ribeiro, pioneiro da área de Materiais no Brasil, e o efeito termodielétrico. Um capítulo interessante da nossa história. Saiba mais.
Dicas de leitura
Novidades do Brasil. Noticias.
Novo equipamento para pesquisa em materiais no LNLS: estação experimental XTMS (Site da SBPMat). Saiba mais.
A empresa brasileira Flexsolar (Joinville) e o Instituto Fraunhofer iniciam projeto conjunto para desenvolver células solares orgânicas flexíveis no Brasil. (Fraunhofer IAP). Saiba mais.
Novos tipos de lâmpadas e células fotovoltaicas orgânicas são desenvolvidos por centro de pesquisa mineiro. (Revista Pesquisa). Saiba mais.
Nova técnica para produzir nanofios de silício sob stress (usados em microprocessadores) de melhor desempenho. (Agência Fapesp). Saiba mais.
Brasileiros descobrem nova família de materiais capazes de conduzir eletricidade sem perda de energia. (Agência Fapesp). Saiba mais.
Vídeos
Curso de microscopia eletrônica de transmissão no YouTube (LNNano). Veja.
Entrevista sobre recobrimento de nanopartículas para multifuncionalidade: fotoluminescência, sensor e fotodegradação (INCTMN). Veja.
Livros
Lançamento de livro eletrônico com 17 artigos de divulgação sobre engenharia de superfícies (INCT de Engenharia de Superfícies). Veja.
Novidades do exterior
Nobel de Física 2012: material publicado sobre as pesquisas que ganharam o prêmio (SBPMat). Saiba mais.
Divulgação/ popularização de artigo sobre cristais fotônicos (recomendada pela Nature Materials). Saiba mais.
Berkeley Lab aplica a técnica HARPES para entender o ferromagnetismo em semicondutores magnéticos diluídos (Lawrence Berkeley National Laboratory). Saiba mais.
Novo método, simples e barato, de produção de grafeno, um dos materiais do futuro (LQES news). Saiba mais.
Método para evitar fissuras em filmes de nanopartículas de silício (University of Pennsylvania). Saiba mais.
Sergio Mascarenhas na “Memorial Lecture”, no XI Encontro da SBPMat.
Desde o ano passado, a SBPMat outorga, anualmente, uma distinção a um pesquisador de carreira destacada na área de Materiais, quem profere uma palestra durante o encontro anual da sociedade. O nome desse ato é “Memorial Lecture Joaquim Costa Ribeiro”, em homenagem a esse pioneiro da pesquisa experimental em Materiais no Brasil.
Neste ano, a distinção foi outorgada na noite da abertura do XI Encontro da SBPMat ao professor Sergio Mascarenhas, apresentado pelo presidente da SBPMat, professor Roberto Faria, como “uma pessoa que inspirou muitas gerações de jovens pesquisadores, principalmente na área de Materiais”.
Na sua palestra, sobre passado e futuro da pesquisa em Materiais no Brasil, Mascarenhas mostrou e comentou uma série de fotografias dos primórdios da pesquisa científica brasileira. Entre muitas imagens de físicos, brasileiros e estrangeiros, apareceu um engenheiro carioca, lembrado inicialmente pelo palestrante como seu primeiro professor de Física do Estado Sólido, “que era considerada pelos físicos uma disciplina para engenheiros”. Tratava-se, justamente, de Joaquim da Costa Ribeiro.
Formatura de Costa Ribeiro, 1928. Engenheiro Mecânico Eletricista. Fonte: Acervo Costa Ribeiro/ Arquivos Históricos em História da Ciência/CLE-Unicamp.
O efeito termodielétrico ou efeito Costa Ribeiro
Diplomado engenheiro civil e engenheiro mecânico-eletricista em 1928 pela Escola Nacional de Engenharia, Costa Ribeiro se tornou docente da recém-fundada Universidade do Brasil (atual UFRJ) e passou a formar parte do ambiente do Instituto Nacional de Tecnologia, que tinha um pouco mais de infraestrutura laboratorial que a universidade. Dessa maneira, Costa Ribeiro participou de duas das pouquíssimas instituições voltadas ao ensino e pesquisa de ciências que existiam no país na época.
Desde 1943, Costa Ribeiro trabalhou junto ao físico alemão Bernard Gross, que chegou ao Brasil em 1933 e organizou o primeiro curso de Física do Rio de Janeiro, dois anos depois. De acordo com o professor Mascarenhas, Costa Ribeiro e Gross, “gigantes da ciência brasileira”, podem ser considerados os pioneiros nacionais da Física da Matéria Condensada, disciplina que está entre os pilares da área de Materiais. Na época em que eles desenvolveram seus estudos, a pesquisa em Física no Brasil focava as áreas Nuclear e de Partículas, desenvolvidas por cientistas como Cesar Lattes, Mário Schenberg e Jayme Tiomno.
Inicialmente, Costa Ribeiro estudou novos métodos para medir radioatividade e aplicá-los a minerais brasileiros, conseguindo notáveis contribuições. Em seguida, passou a estudar materiais dielétricos (isolantes elétricos sólidos), como o naftaleno e a cera de carnaúba (palmeira típica da região nordeste do Brasil), e eletretos (sólidos com carga elétrica quase permanente).
Foi então que Costa Ribeiro observou pela primeira vez um efeito interessante, enquanto trabalhava com alguns materiais dielétricos. A fusão por aquecimento, sem aplicação de campos elétricos externos, fazia aparecer uma corrente elétrica no material isolante. Depois de solidificadas, as amostras permaneciam carregadas, constituindo eletretos. Em conclusão, para o eletreto se formar, bastava a natural solidificação do material dielétrico após ser derretido por aquecimento. Na lembrança de Bernard Gross, recuperada num artigo do professor Guilherme Leal Ferreira, essa primeira experiência foi realizada com cera de carnaúba.
A elucidação do fenômeno
Em entrevista dos Arquivos Históricos do CLE/Unicamp, realizada em 1988, os cientistas Jayme Tiomno e Elisa Frota Pessoa, que foram alunos de Costa Ribeiro e auxiliares dele na pesquisa do efeito termodielétrico, compartilharam suas lembranças sobre o processo que levou à elucidação do fenômeno. De acordo com eles, em 1943, Costa Ribeiro decidiu fazer o concurso de cátedra na Universidade do Brasil, para o qual tinha que preparar uma tese com uma pesquisa original. O professor seguiu então a sugestão de Bernand Gross de estudar eletretos orgânicos puros.
“Ele começou repetindo a preparação de eletreto usando naftaleno e observando suas propriedades. (…) Trabalhava intensamente, em geral à tarde e noitinha. Uma noite, após colocar o naftaleno fundido numa célula para solidificar e aplicar o campo elétrico, teve de interromper e sair. No dia seguinte retirou o disco sólido de naftaleno para fundir e recomeçar, mas resolveu examiná-lo ao eletrômetro. Era um eletreto!”
Mas esse ainda não era o efeito termodielétrico, e sim um efeito estático, segundo Tiomno, que descreveu: “Depois de preparar vários eletretos sem aplicação de campo elétrico externo, ele percebeu que o efeito era mais intenso quando o resfriamento era mais rápido – era um efeito da velocidade de solidificação. Construiu então uma aparelhagem engenhosa e de acabamento muito bem feito em que podia observar o movimento da interface do naftaleno líquido com o solidificado por resfriamento, medindo simultaneamente a velocidade de solidificação (ou fusão) e a intensidade da corrente elétrica detectada num eletrômetro de Wulf. Verificada a correlação dessas grandezas, estava descoberto o fenômeno termodielétrico ou efeito Costa Ribeiro”.
Divulgação da pesquisa
A primeira publicação de Ribeiro descrevendo o efeito data de 1943. Intitulada “Sobre a eletrização da cera de carnaúba na ausência de campo elétrico exterior”, a comunicação foi feita na forma de uma apresentação à Academia Brasileira de Ciências e, em seguida, num artigo publicado nos anais da instituição. Em 1945, o efeito termodielétrico foi objeto da tese apresentada por Costa Ribeiro à Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil no concurso para professor da cadeira de Física Geral e Experimental. Em 1953, a Academia Brasileira de Ciências lhe outorgou o Prêmio Einstein pelo efeito termodielétrico.
Costa Ribeiro em seu laboratório, 1952. Fonte: Acervo Costa Ribeiro/ Arquivos Históricos em História da Ciência/CLE-Unicamp.
Na entrevista do CLE/Unicamp, Jayme Tiomno e Elisa Pessoa falam também sobre a divulgação do efeito no exterior. Segundo eles, ela começou a ser feita por Costa Ribeiro na Argentina, em reuniões da Associação Física Argentina em 1945 e 1948. Também em 1948, a convite da Universidade de Paris, Costa Ribeiro realizou na Sorbonne uma série de três palestras. Em 1951, um resumo de seu trabalho, que tinha sido publicado em inglês nos Anais da Academia Brasileira de Ciências, foi indexado no “Physics Abstracts”. Em 1954, o cientista realizou nos Estados Unidos quatro palestras sobre suas pesquisas no Massachussets Institute of Technology, no Bureau of Standards (atual National Institute of Standards and Technology), na Yale University e na General Electric.
Em maio de 1950, os cientistas estadunidenses Everly J. Workman e Steve E. Reynolds publicaram um artigo no periódico Physical Review descrevendo o mesmo fenômeno, observado por eles na transição de fase entre a água e o gelo. Em consequência, o fenômeno da eletrificação de materiais isolantes na mudança de fase é citado na literatura com diversos nomes, ora “efeito Costa Ribeiro” ora “efeito Workman-Reynolds” ou, simplesmente, “efeito termodielétrico”.
O artigo do professor Leal Ferreira sobre o efeito Costa Ribeiro cita que hoje se sabe que o fenômeno da eletrização dos dielétricos gerada pela sua solidificação tinha sido mencionado no século XVIII por Stephen Gray, um dos pioneiros dos estudos experimentais em condução elétrica. Ferreira destaca nesse artigo que, muito além do mérito da prioridade da descoberta, existe o mérito da persistência de Joaquim Costa Ribeiro em estudar experimentalmente o efeito encontrado – mérito aumentado pelas precárias condições de trabalho existentes na época no Brasil.
Apesar de ter uma tendência a “se virar” sozinho, desde a construção de seus instrumentos laboratoriais até a interpretação dos resultados, Costa Ribeiro contou com colaboradores em seus estudos sobre o efeito termodielétrico. Tiomno, por exemplo, contribuiu bastante com a parte teórica, a ponto de merecer um agradecimento especial do professor na tese apresentada à Universidade do Brasil. Armando Dias Tavares e Sergio Mascarenhas também fizeram parte dos colaboradores e dos continuadores das pesquisas no tema.
Quanto às aplicações do efeito, Mascarenhas comenta que o fenômeno tem mais valor de ciência fundamental do que em aplicações tecnológicas, apesar de existir algumas aplicações, como a descrita em um artigo de 1968 sobre seu uso em radiômetros do setor aeronáutico (L.D. Russel and B.H. Beam, Journal of Spacecraft and rockets, vol. 5, pg. 1501, 1968). “Infelizmente, o efeito é pouco ensinado nos cursos tradicionais”, lamenta Mascarenhas.
Costa Ribeiro e esposa. Fonte: Acervo Costa Ribeiro/ Arquivos Históricos em História da Ciência/CLE-Unicamp.
Mais sobre Joaquim Costa Ribeiro
Casado com uma mulher francesa, a quem dedicou muitas de suas poesias, Costa Ribeiro foi pai de oito filhos. Para sustentar a família, numa época em que o professor universitário ganhava uns poucos salários mínimos, o cientista tinha vários empregos simultâneos. Dava aulas em diversas instituições e colégios.
Os colegas de trabalho e parentes o descrevem com adjetivos como estes: humanista, sereno, humilde, inventivo, autodidata, habilidoso com as mãos, intuitivo, inteligente e minucioso.
II Reunião Consultiva da ONU para aplicações pacíficas da Energia Atômica, maio 1955. Fonte: Acervo Costa Ribeiro/ Arquivos Históricos em História da Ciência/CLE-Unicamp.
Muito católico, questionado por alunos seus sobre como conseguir conciliar religião e ciência, respondeu: “É simples, eu separo completamente. Quando estou na religião, estou na religião; quando estou na ciência, estou na ciência”
Além de suas contribuições científicas, Costa Ribeiro desempenhou papeis importantes na criação do CBPF (1949) e do CNPq (1951) e participou de várias iniciativas nacionais e internacionais sobre o uso da energia nuclear.
Faleceu em 1960 no Rio de Janeiro.
Saiba mais.
G. F. Leal Ferreira. Ha 50 Anos: O Efeito Costa Ribeiro. Revista Brasileira de Ensino de Fsica, vol. 22, no. 3, Setembro, 2000. Disponível aqui.
Arquivos históricos em História da Ciência. CLE-Unicamp. Acervo Joaquim da Costa Ribeiro. Disponível aqui.
Arquivos históricos em História da Ciência. CLE-Unicamp. Depoimentos orais. Entrevista com Jayme Tiommo e Elisa Frota Pessoa. Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas, 18 de maio de 1988. Disponível aqui.
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