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Sobre Aldo Craievich: homenagem, reflexões e lembranças.

No dia 24 de abril de 2023, na semana passada, faleceu em São Paulo o Prof. Aldo Felix Craievich, dois meses depois de completar 84 anos.
Aldo nasceu na província de Santa Fé na Argentina e formou-se em física no Instituto Balseiro em Bariloche em 1964. Posteriormente realizou seu trabalho de doutorado na França sob orientação de André Guinier, um mundialmente famoso pesquisador na área de difração de raios X. Em 1973, mudou-se para o Brasil e ocupou postos em diversas universidades e institutos de pesquisa como o Instituto de Física e Química de São Carlos (IFQSC-USP), o Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF) e o Instituto de Física da USP na cidade de São Paulo.
Existem abundantes fontes onde é possível obter dados biográficos detalhados de Aldo – sem dúvida, um dos pesquisadores mais destacados da ciência dos materiais do Brasil. Mas provavelmente, o Aldo vai ser sempre recordado por sua contribuição à construção do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS) em Campinas onde atuou na gestação inicial do projeto e posteriormente como Diretor Científico durante a construção do primeiro anel de armazenamento UVX. O Aldo assumiu a responsabilidade do desenho e construção de linhas de luz e, sobretudo, da formação de usuários para a futura fonte brasileira de luz síncrotron.
Conheci pessoalmente o Aldo quando mudei da Suíça para o Brasil em 1993 para integrar a equipe do incipiente LNLS. A liderança do laboratório era constituída por três diretores: Cylon Gonçalves da Silva, Ricardo Rodrigues e Aldo. Uma curta conversa com eles sobre o projeto de construir um síncrotron com tecnologia nacional partindo de zero foi inspiradora. Que visão progressista e corajosa! Tive o privilégio de observar como eles associavam competência e originalidade, sempre buscando soluções criativas e adaptadas aos baixos recursos e possibilidades reais no contexto brasileiro. Além dos aspectos materiais, o projeto requeria a construção de uma equipe de recursos humanos técnico-científica especializada. É importante que as novas gerações de profissionais visualizem e compreendam a hercúlea tarefa que foi desenvolver e construir tudo, tudo mesmo. Uma analogia seria levantar um arranha-céu quando você tem que aprender a fazer cada tijolo, cada barra de aço, cada pecinha. Que desafio eles encararam, e que completo esse triunvirato! Ricardo, a criatividade, a engenharia e a física dos aceleradores. Aldo, a aplicação de radiação síncrotron, a ciência e a formação de recursos humanos. E Cylon, costurando aspectos diferentes como a ciência e tecnologia do acelerador com a política científica e a organização de um sistema de gestão para um laboratório de big science. Nossa, que trio! Posso contar a meus orientados, estudantes, filhos e netos, que trabalhei perto deles durante a construção do LNLS.!! Além disso, não atrapalhei muito…
Apesar de seu cargo de Diretor, Aldo possuía a humildade para tentar convencer cada pesquisador ou estudante das grandes oportunidades que o LNLS oferecia. Ele organizou numerosas escolas no Brasil, na América Latina e no ICTP-Trieste, onde recebia estudantes de todas as áreas, física, química, engenharia, biologia, medicina etc. Esse esforço de dimensão internacional fica claramente refletido nos vários prêmios que ele recebeu em outros países e no Mercosul. Talvez o maior dos reconhecimentos recebidos por Aldo foi sua entrada em 2015 na Academia Brasileira de Ciências, já quase perto dos 80 anos. A nível bem pessoal, eu todo dia me pergunto: por que Aldo teve que esperar tanto? Quase 20 anos desde o início de operação do UVX, primeiro síncrotron do hemisfério sul. Bem… no fim justiça foi feita, melhor tarde do que nunca. Minha maior tristeza é que o sócio de Aldo na empreitada, o Ricardo Rodrigues, responsável pelo desenho (a física de aceleradores) e construção (a engenharia, a eletrônica, os materiais etc.) do UVX e do novo síncrotron, o Sirius, nos deixou em 2020 sem receber essa honraria. A história da América Latina mostra um desenvolvimento social e econômico com muitos paradoxos, como, por exemplo, a forte urbanização sem industrialização. A formação da comunidade científica e tecnológica no país não ficou isenta dessas peculiaridades. Portanto é importante evoluir para dar mais valor a trabalhos aplicados, à construção de equipamentos reais e operacionais de pequeno, mediano ou enorme porte, à criação de instrumentação, às vezes avançada e às vezes somente soluções práticas e baratas. A inovação e industrialização, tão procuradas e mencionadas na atualidade, agradecerão. Como Aldo descrevia bem em suas palavras: “não existe a divisão pesquisa básica ou aplicada, a dicotomia real é pesquisa de qualidade boa ou qualidade ruim”.
Para nós, da comunidade argentina, Aldo foi “el cracho”, o apelido pelo qual é conhecido desde seu início na física e nas ciências exatas. O “cracho” é um sinônimo de energia, energia positiva, energia interminável, energia que contagia e faz progredir, energia que transmite optimismo, energia que motiva, a energia que dá o exemplo, a energia que move montanhas, energia contra ventos e mares. O conhecimento profundo, a conversa longa, objetiva e sincera, a cultura, a vontade de ajudar, de estimular a encarar desafios, o exemplo de ciência, humanidade e ética. Essa é a imagem que tenho de Aldo. Fui agraciado por trabalhar perto dele no início de minha carreira como jovem cientista independente no LNLS. Quanto aprendi! Ele foi um mentor, um amigo, um exemplo, um role model.
Daniel M. Ugarte
Professor titular
Instituto de Física Gleb Wataghin
Unicamp

Segue a resposta enviada pela Coordenação-Geral de Comunicação Social da CAPES no dia 27 de abril sobre a carta da SBPMat, que está publicada neste link, referente à renovação de assinaturas das revistas da Royal Society of Chemistry (RSC) no Portal de Periódicos da CAPES.
“Em relação à publicação no site da SBPMat intitulada Acesso às revistas da RSC: carta à atual presidente da CAPES, esta Fundação informa que reconhece a qualidade indiscutível dos conteúdos acadêmicos científicos e a relevância da assinatura dos periódicos da Royal Society of Chemistry pelo Portal de Periódicos. Por isso, vem envidando todos os esforços para que os processos de renovação das assinaturas das revistas científicas aconteçam o mais breve possível, de modo que não ocorram mais prejuízos acadêmicos aos programas de pós-graduação e à comunidade científica. Nesse sentido, com relação aos periódicos da RSC, as negociações estão em andamento e assim que se chegar a um acordo dentro da realidade brasileira e que atenda a todas as recomendações dos órgãos de controle, a contratação se efetivará. A CAPES agradece o reconhecimento da importância do Portal de Periódicos e se coloca à disposição ao diálogo para prestar os esclarecimentos necessários.”
Ilma. Sra. Prof. Mercedes Maria da Cunha Bustamante
M.D. Presidente da CAPES
Assunto: Renovação de assinaturas das revistas da Royal Society of Chemistry – RSC – no Portal de Periódicos da CAPES
Rio de Janeiro, 24 de abril de 2023.
Ilustríssima Senhora Presidente,
A Sociedade Brasileira de Pesquisa em Materiais (SBPMat) expressa sua grande preocupação com a perda de acesso às revistas da editora Royal Society of Chemistry (RSC), em decorrência de não ter sido realizada renovação da assinatura dentro do Portal Periódicos, da CAPES.
A RSC é a sociedade de química mais antiga do mundo, com 180 anos e mais de 50.000 membros, e edita revistas importantes não apenas na área de química, mas também em áreas afins, como a engenharia de materiais, por exemplo. Apesar de possuir 13 revistas no sistema open access, a grande maioria dos artigos publicados nas outras 40 revistas editadas pela RSC só é acessível a partir da assinatura, conforme vinha acontecendo em anos anteriores, a partir do Portal de Periódicos. Com essa quebra, pesquisadores brasileiros deixam de ter acesso a publicações de alto fator de impacto (FI) tais como: Chemical Society Reviews (FI = 56,283), Energy and Environmental Science (FI = 39,151), Materials Horizons (FI = 16,152), Journal of Materials Chemistry A (FI = 13,375), entre muitas outras. Ressaltamos que, entre as revistas editadas pela RSC, já classificadas pelo JCR, todas têm fator de impacto acima de 3.
Desse modo, entendemos que a descontinuidade da assinatura das revistas editadas pela RSC trará um prejuízo imenso para pesquisadores de diferentes áreas, sendo fundamental a manutenção do acesso a essas revistas.
Certa de sua compreensão acerca desse anseio da comunidade científica do país, contamos com o importante apoio da Capes às pós-graduações e colocamo-nos à disposição para quaisquer esclarecimentos.
Atenciosamente,
Mônica A. Cotta
Presidente da Sociedade Brasileira de Pesquisa em Materiais – SBPMat
Com muito pesar, a SBPMat informa o falecimento do seu sócio fundador Aldo Felix Craievich, professor sênior da USP, ocorrido na madrugada de hoje, 24 de abril de 2023, aos 84 anos de idade.
Craievich foi pioneiro da pesquisa em vidros no Brasil e um dos protagonistas da história do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS). Além disso, dedicou-se à formação de usuários de luz síncrotron, principalmente na América Latina.
Em 2016, a SBPMat o distinguiu com a Palestra Memorial “Joaquim da Costa Ribeiro” em reconhecimento à sua trajetória.
A Diretoria Executiva da SBPMat lamenta profundamente a partida deste cientista argentino, que morava no Brasil desde 1973, e gostaria de lembrá-lo como um sócio que deu grandes contribuições à nossa comunidade.

Uma equipe de pesquisadores do CeRTEV (um dos maiores centros acadêmicos de pesquisa em vidros do mundo, localizado em São Carlos, SP) conseguiu realizar a primeira observação experimental das mudanças que ocorrem na estrutura de um vidro durante o relaxamento e a nucleação de cristais, processos que ocorrem na escala nanométrica em todos os vidros e que impactam as suas propriedades.
Vale lembrar que os vidros são materiais amorfos: os seus átomos não se apresentam em um arranjo organizado e periódico. Além disso, estão fora do equilíbrio termodinâmico e, portanto, tendem a buscar estabilidade. Nessa busca, a estrutura dos vidros experimenta rearranjos, os quais tendem ora a deixá-la mais fluida (relaxamento), ora a formar os primeiros cristais (nucleação) para, finalmente, cristalizar.
Além de ocorrerem espontaneamente (ao final de tempos quase infinitos para o ser humano em temperatura ambiente), a relaxação e cristalização dos vidros pode ser muito acelerada por meio do aquecimento do material, que é o método utilizado para produzir vitrocerâmicas. Muito mais resistentes a impactos do que os vidros comuns, as vitrocerâmicas possuem regiões cristalinas dispersas na matriz amorfa. Pelas suas propriedades únicas, são utilizadas em aplicações como janelas à prova de balas e restaurações dentárias.
Compreender as mudanças estruturais dos vidros durante o relaxamento e a nucleação é um problema científico antigo, cuja resolução estava limitada pela ausência de instrumentação adequada. Por isso, para poder realizar este estudo, os pesquisadores do CeRTEV precisaram desenvolver um método adequado. O desafio foi finalmente superado mediante o uso de experimentos baseados na técnica de ressonância magnética nuclear (NMR, na sigla em inglês) combinados com simulações computacionais.
“Nossa pesquisa e a técnica resultante oferecem uma ferramenta valiosa para monitorar e compreender o processo de relaxamento em muitos vidros, bem como os estágios iniciais da nucleação de cristais que ocorrem durante os tratamentos térmicos”, diz Henrik Bradtmüller, autor correspondente do artigo que reporta esta pesquisa na Acta Materialia. “Essas descobertas são cruciais para o design e para o controle de produção de vitrocerâmicas tecnologicamente avançadas e de alto desempenho”, completa o jovem cientista alemão, que atua como pós-doutorando na UFSCar, com bolsa da FAPESP, desde 2020.
A revelação
O trabalho conjunto de cientistas altamente especializados foi uma das chaves para alcançar o sucesso nesta pesquisa. De fato, a equipe de trabalho agregou a ampla experiência de dois pesquisadores seniores: a do professor Edgar Dutra Zanotto (UFSCar) na área de nucleação e cristalização em vidros, e a do professor Hellmut Eckert (IFSC-USP) no desenvolvimento e refinamento da nova técnica de NMR. Foram também fundamentais as contribuições do pós-doutorando Anuraag Gaddam (IFSC-USP), também bolsista da FAPESP, que realizou as simulações computacionais, e de Henrik Bradtmüller, que desenvolveu e aplicou as estratégias de NMR que possibilitaram as observações inéditas.

“Através do uso de simulações de dinâmica molecular, fomos capazes de prever as mudanças estruturais que ocorrem durante o relaxamento do vidro”, diz Bradtmüller. “Já os experimentos de alta sensibilidade com a técnica NMR nos permitiram observar essas mudanças pela primeira vez”, completa. A técnica de NMR permite analisar, na escala atômica, a estrutura de materiais sólidos, inclusive estruturas amorfas.
Para fazer os experimentos, a equipe escolheu o dissilicato de lítio (Li2Si2O5), uma vitrocerâmica bastante utilizada, principalmente em próteses dentárias. Os pesquisadores a aqueceram ao longo de períodos que variaram entre 15 minutos e 60 dias, a 435 °C, temperatura inferior à da transição vítrea desse material, na qual os átomos ganham mobilidade e o vidro começa a ficar mais fluido, sem porém fundir.
As amostras retiradas em diversos momentos do aquecimento foram analisadas por meio dos experimentos de NMR desenvolvidos. Os resultados das análises mostraram, pela primeira vez, o que acontece com a estrutura do dissilicato de lítio durante o relaxamento e a nucleação. “A distribuição dos blocos de construção de rede desse vidro (-Si-O-Si- ) permanece praticamente inalterada”, relata o professor Zanotto, que é diretor do CeRTEV. “Em contraste, os cátions modificadores de rede (Li+), que são muito móveis dentro do material nas temperaturas de recozimento, aproximam-se continuamente de uma configuração estrutural que se assemelha ao estado cristalino”. Com tempo de aquecimento suficiente, explica o professor, os primeiros núcleos de cristal aparecem, seguidos por muitos outros, até chegar à cristalização de todo o material.
A partir de agora, os autores do trabalho esperam que a metodologia desenvolvida seja utilizada para estudar muitos outros materiais vítreos e que esta nova compreensão detalhada de fenômenos fundamentais permita ajustar as propriedades de vitrocerâmicas para melhorar o seu desempenho e ampliar o seu leque de aplicações.
Esta pesquisa foi financiada pela FAPESP.

Referência do artigo científico: Structural rearrangements during sub-Tg relaxation and nucleation in lithium disilicate glass revealed by a solid-state NMR and MD strategy. Henrik Bradtmüller, Anuraag Gaddam, Hellmut Eckert, Edgar D. Zanotto. Acta Materialia. Volume 240, November 2022, 118318. https://doi.org/10.1016/j.actamat.2022.118318
Contato de autor: Edgar Dutra Zanotto – dedz@ufscar.br
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Representantes da SBPMat e da IEEE Magnetics Society se reuniram no dia 1º de março para formalizar um acordo entre as duas sociedades científicas. Na reunião, que foi realizada online, foi assinado um memorando de entendimento com o objetivo de promover o intercâmbio e a disseminação de informação técnica, bem como a cooperação entre sócios. Dessa forma, a SBPMat se transformou em sociedade irmã (“sister society”) da IEEE Magnetics Society.
“A SBPMat tem constantemente buscado parcerias internacionais no sentido de ampliar oportunidades para nossa comunidade de materiais”, diz Mônica Cotta (UNICAMP), presidente da SBPMat. “O acordo com a IEEE Magnetics Society vem referendar o excelente trabalho que pesquisadores em magnetismo e áreas correlatas realizam no Brasil; eles devem se beneficiar da maior cooperação com nossa nova sociedade irmã”, completa.
“O Brasil é um global player em materiais magnéticos, sendo produtor de materiais magnéticos especiais e dono de grandes reservas de materiais importantes para a sua produção, como ferro, silício, nióbio e terras raras”, contextualiza Rubem Sommer (CBPF), que é diretor científico da SBPMat.
De acordo com ele, o acordo recém assinado é uma evolução natural das colaborações que vêm ocorrendo, por exemplo, através dos eventos realizados por membros de ambas as sociedades, inclusive dentro dos encontros anuais da SBPMat.
“A evolução destas atividades resultou na parceria em andamento entre SBPMat e IEEE Magnetics Society para a realização da conferência INTERMAG 2024 no Rio de Janeiro de 5 a 10 de maio de 2024”, anuncia Sommer.
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Imagine a seguinte situação. Você compra um alimento embalado com um filme polimérico que tem a propriedade de manter os insetos afastados. Depois de consumir o alimento, você coloca o filme em água e ele começa a se dissolver. Dezesseis minutos mais tarde, você tem um novo produto: um líquido repelente, pronto para ser borrifado nas suas plantas.
E agora, o processo inverso. Você joga o líquido em moldes e espera alguns dias. Como se fosse mágica, os filmes voltam a se formar espontaneamente. Você pode, então, utilizá-los de novo como embalagens repelentes.
Um material como esse foi recentemente desenvolvido por uma equipe científica da Unicamp, com colaboração da Embrapa, no mestrado em Engenharia Química de Izabella Wyne Inacio Alves Caetano, realizado com a orientação da professora Liliane Maria Ferrareso Lona (Unicamp).
Um dos segredos do novo filme é a sua estrutura compartimentada. De fato, à luz de um microscópio eletrônico, é possível observar que o filme contém divisórias. Trata-se de partículas poliméricas esféricas de cerca de 500 nanômetros, as quais carregam uma substância – neste caso, óleo de neem, conhecido pelas suas propriedades inseticidas e repelentes.
As partículas ajudam a preservar o óleo da degradação que a luz geraria. Ao mesmo tempo, permitem a sua liberação em doses controladas, evitando o desperdício. Quando o filme se dissolve, as diminutas partículas passam a ficar dispersas na água, mas elas mantêm a sua funcionalidade.
O avanço da equipe brasileira mostra uma possibilidade de desenvolver produtos que o consumidor pode desmanchar usando apenas água, utilizar em outro contexto e reconstruir sem perder as suas propriedades principais. Ademais, a possibilidade de transformar um líquido em um filme (de menor tamanho e peso) pode ser aproveitada para facilitar o transporte e armazenamento do produto e diminuir os custos envolvidos.

O trabalho foi publicado no início deste ano no periódico Advanced Sustainable Systems. Além disso, com a ajuda da Agência de Inovação da Unicamp (Inova), os autores depositaram um pedido de patente sobre os filmes nanocompartimentados em dezembro do ano passado.
“A principal contribuição deste trabalho é a preparação de filmes nanocompartimentados com a possibilidade upcycling (ou seja, reutilização). Assim, a tradicional “economia linear” (descartar após o uso) é direcionada para a “economia circular”, priorizando a sustentabilidade do processo”, diz o pós-doc Filipe Vargas Ferreira, que participou do trabalho e assina o artigo científico como autor correspondente junto à professora Liliane Lona.
Documentos da ONU e da União Europeia sugerem que, até 2030, os filmes poliméricos usados em embalagens sejam fabricados de forma que possam ser reciclados ou reutilizados. Nesse contexto, dizem os autores do paper, a proposta de upcycling apresentada no trabalho constitui uma oportunidade de agregar valor ao produto, uma vez que aumenta a funcionalidade do material e está de acordo com as novas exigências mundiais.
A proposta inicial da pesquisa era preparar um líquido contendo nanopartículas (uma dispersão coloidal) que carregassem compostos naturais com potencial uso no controle de pragas na agricultura. Para sintetizar as nanopartículas, a equipe escolheu uma blenda polimérica comercial chamada ecovio®, a qual se destaca por ser compostável, ou seja, por se transformar em adubo quando, finalmente, é descartada. “Na literatura científica, nunca tinha sido usada uma blenda num processo de encapsulação deste tipo, porque é muito difícil trabalhar com mais de um polímero nessas situações”, relata a professora Liliane. O desafio foi superado pela mestranda Izabella após um ano de trabalho junto à orientadora.
Posteriormente, novas possibilidades de reutilização da dispersão se abriram quando a mestranda verificou que o líquido formava filmes flexíveis ao ficar na bancada do laboratório por alguns dias. “Quando analisamos estes filmes no microscópio de varredura (SEM) percebemos que, durante a secagem, as nanopartículas tinham se auto-organizado formando compartimentos neles”, conta Izabella, que defendeu a dissertação de mestrado sobre este trabalho no ano passado. “A satisfação foi maior ainda quando verificamos que o diâmetro das partículas se mantinha quando o filme retornava para a forma de dispersão coloidal ao acrescentarmos água”, relata a professora Liliane.
O estudo foi financiado, principalmente, pela FAPESP e o CNPq.

Referência do artigo científico: Water-Dependent Upcycling of Eco-Friendly Multifunctional Nanocompartmentalized Films. Izabella W. I. A. Caetano, Filipe V. Ferreira, Danilo M. dos Santos, Ivanei F. Pinheiro, and Liliane M. F. Lona. Adv. Sustainable Syst. 2023, 2200430. https://doi.org/10.1002/adsu.202200430
Contato dos autores correspondentes: lona@unicamp.br, f102309@dac.unicamp.br.