História da pesquisa em Materiais: Seis décadas de operação do reator nuclear de pesquisa IEA-R1.

O IEA-R1, primeiro reator nuclear do Brasil e primeiro reator de pesquisa da América Latina, completou 60 anos de operação ininterrupta e os comemorou com um workshop internacional sobre o uso de reatores de pesquisa. O evento foi realizado de 28 de novembro a 1º de dezembro do ano passado na cidade de São Paulo, no auditório do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN), localizado no campus principal da Universidade de São Paulo (USP). Segundo os organizadores, cerca de 300 pessoas de diversos países participaram do evento.

O IEA-R1 é bastante conhecido por produzir isótopos radioativos que são usados em medicina, indústria e agricultura, suprindo parcialmente as necessidades nacionais. São exemplos o Iodo-131, que se produz no IEA-R1 desde 1959 e é utilizado no diagnóstico e tratamento de câncer de tireoide, e o Samário-153, utilizado como paliativo da dor em metástases ósseas.

Além de fornecer esses elementos a hospitais, indústrias e outras entidades, o IEA-R1 é utilizado, desde o início, em trabalhos de pesquisa em diversas áreas, inclusive a de Materiais. Nessas pesquisas são utilizados os feixes de nêutrons livres (nêutrons que foram separados dos núcleos dos átomos), gerados no núcleo do reator por meio do processo de fissão nuclear. A interação dos nêutrons com as amostras fornece informações únicas sobre a estrutura e composição dos materiais.

De acordo com de acordo com Frederico Genezini e Rajendra Narain Saxena, pesquisadores do IPEN e, respectivamente, gerente atual e ex-gerente do Centro do Reator de Pesquisas (CRPq), os nêutrons têm uma característica muito específica de interação com a matéria. É possível, por meio de seu espalhamento, fazer estudos de estruturas cristalinas, e como o nêutron possui momento magnético, ele também é usado para estudar propriedades magnéticas dos materiais.

IEA-R1: piscina, núcleo do reator e outros elementos vistos de cima.
IEA-R1: piscina, núcleo do reator e outros elementos vistos de cima.

Localizado no próprio IPEN, o reator é formado por uma piscina de 9 metros de profundidade de águas de um azul intenso, cor originada pelo chamado “efeito Cherenkov”, no qual partículas carregadas (no caso, íons gerados pela fissão nuclear) atravessam o meio (no caso, a água) a uma velocidade superior à da luz nesse meio, emitindo a chamativa radiação azul. A água da piscina é contida por paredes de 1 a quase 3 metros de espessura construídas com um concreto muito resistente. O fundo da piscina alberga o núcleo do reator, no qual o urânio é bombardeado com nêutrons, gerando reações de fissão nuclear. Como resultado, os núcleos dos átomos de urânio são divididos em dois, enquanto são liberados dois ou três nêutrons e uma grande quantidade de energia (aquela fortíssima energia capaz de manter unidos os prótons e nêutrons no núcleo do átomo). Enquanto nas usinas nucleares aproveita-se a energia liberada, nos reatores de pesquisa o produto mais importante são os nêutrons, motivo pelo qual os componentes do reator visam a preservar os nêutrons livres.

A água e o concreto em torno do núcleo cumprem importantes funções de segurança, que impedem que níveis nocivos de radiação passem para as proximidades da piscina, nas quais circulam pesquisadores, a equipe responsável pelo reator e os visitantes (cerca de 2.000 pessoas visitam cada ano o IEA-R1).

O processo de produção do urânio para o IEA-R1 é totalmente realizado no Brasil. O minério é extraído e processado na Bahia, enriquecido até pouco menos de 20% no Centro Tecnológico da Marinha de Iperó (SP), e, finalmente, acondicionado dentro dos “elementos combustíveis” que depois são colocados no núcleo do reator. O Brasil pertence ao grupo de apenas 12 países que podem enriquecer urânio.

Nêutrons para investigar a matéria

box exemplosEm torno da piscina, na parte inferior, o reator IEA-R1 possui 12 estações experimentais, nas quais feixes de nêutrons extraídos do reator são disponibilizados para serem usados em conjunto com diversas técnicas experimentais.

De acordo com Genezini e Saxena, no momento, apenas três das estações têm equipamentos instalados: o difratômetro de nêutrons de alta resolução, os sistemas de imageamento por nêutrons em tempo real, e o sistema experimental para estudos de terapia por captura de nêutrons com boro (BNCT). Entretanto, as outras estações estão disponíveis para instalação de instrumentos sob demanda. As duas primeiras facilidades são muito úteis para o estudo de materiais, e apresentam vantagens com relação a equipamentos equivalentes que usam raios-X em vez de nêutrons. Segundo Genezini e Saxena, o difratômetro permite estudos de estruturas cristalográficas de materiais que um difratômetro de raios-X nem sempre consegue observar, além do estudo das estruturas magnéticas.

“Enquanto que os raios-X interagem com a matéria mediante forças eletromagnéticas, os nêutrons interagem basicamente via forças nucleares”, explica Reynaldo Pugliesi, pesquisador do IPEN e responsável pelos equipamentos de imageamento por nêutrons, projetados e construídos no IPEN e instalados em uma das estações o IEA-R1. Para se ter uma ideia, uma amostra de 1 cm2 sendo analisada nessa estação experimental pode receber cerca de 8 milhões de nêutrons por segundo.

O imageamento por nêutrons fornece, sem destruir nem danificar as amostras, imagens em duas ou três dimensões (esta última chamada de tomografia por nêutrons) de detalhes que de outro modo seriam imperceptíveis aos olhos humanos. Em particular, materiais ricos em hidrogênio (como óleo, água adesivos e borrachas) são particularmente bem captados nas imagens obtidas por nêutrons, mesmo quando encapsulados em alguns metais como aço, alumínio e chumbo. De fato, os nêutrons conseguem penetrar vários centímetros nos metais e revelar o que há dentro deles. Também nesse sentido, a imagem por nêutrons é complementar da imagem por raios-X: enquanto os nêutrons revelam materiais leves que se encontram por trás de materiais pesados (como uma fita crepe no interior de uma estrutura de alumínio), os raios-X revelam materiais pesados por trás de materiais leves (como os ossos da mão).

Aplicações da tomografia com nêutrons: inspeção de uma restauração feita num vaso cerâmico para conferir o grau de perfeição do trabalho.
Aplicações da tomografia com nêutrons: inspeção de uma restauração feita num vaso cerâmico para conferir o grau de perfeição do trabalho.

O IEA-R1 é aberto à comunidade científica e empresarial por meio de colaborações com pesquisadores do CRPq, centro que coordena a operação do reator e as pesquisas que se realizam com ele. “Nesse modelo temos muitos exemplos de instituições e empresas que usaram os feixes de nêutrons do IEA-R1 e outros instrumentos nos laboratórios do CRPq para medidas”, diz Genezini. De acordo com ele, outros modelos (como o de prestação de serviços) não são possíveis por não haver técnicos dedicados a cada instrumento. “Entretanto, esse modelo tem se mostrado pouco eficiente e estamos investindo em instrumentação e regulamentos para tornar os equipamentos de feixes de nêutrons mais acessíveis ao uso de pessoas externas”, conclui o gerente do CRPq.

História

As origens do reator nuclear IEA-R1 se remontam a meados da década de 1950, quando os Estados Unidos, sob a presidência de Dwight Eisenhower, lançaram o programa “Atoms for Peace”, o qual divulgava e incentivava em nível mundial os usos pacíficos e civis da tecnologia nuclear. Nesse contexto, o Brasil e os Estados Unidos firmaram acordos visando à descoberta e pesquisa de urânio no Brasil e ao desenvolvimento e uso no Brasil de isótopos radioativos para a agricultura e a indústria. Para isso, era necessário contar com um reator nuclear no território nacional.

Assim, em agosto de 1956, o governo brasileiro decretou a criação do Instituto de Energia Atômica (IEA), que mais tarde passaria a ser chamado IPEN, para supervisionar a construção e operação do IEA-R1. A construção ficou a cargo da empresa estadunidense The Babcock & Wilcox Company, acompanhada por uma equipe brasileira liderada pelo primeiro diretor do IEA-R1, o físico nuclear Marcelo Damy de Souza Santos, também considerado fundador do IEA. Em agosto de 1957, a construção do reator foi concluída e, em 16 de setembro do mesmo ano, o reator alcançou as condições necessárias para entrar em funcionamento. A cerimônia de inauguração do IEA-R1 foi realizada em 25 de janeiro de 1958, com a presença do Presidente Juscelino Kubitschek e do Governador do Estado de São Paulo Jânio Quadros.

A partir do IEA-R1, o Brasil pôde desenvolver conhecimento nacional para produzir combustível nuclear, instrumentos para pesquisa com nêutrons e radioisótopos, os quais tem sido usados nos segmentos de saúde, agricultura e diversas indústrias. O reator também foi utilizado para produzir, por meio da técnica de transmutação induzida por nêutrons, semicondutores para componentes eletrônicos que foram exportados. Além disso, foi usado para treinar operadores de reatores e para realizar trabalhos acadêmicos.  De acordo com Genezini e Saxena, mais de 250 teses de doutorado e dissertações de mestrado foram defendidas durante o período nas áreas de Física Nuclear e de Matéria Condensada, e mais de mil artigos científicos foram publicados em periódicos indexados.

Proximamente…

Mais um capítulo da história dos reatores de pesquisa no Brasil está sendo escrito. Está em andamento o projeto do Reator Multipropósito Brasileiro (RMB), um reator nuclear mais moderno e com 30 MW de potência (contra 5 MW do IEA-R1). Em conjunto com suas estações experimentais, o RMB será um laboratório nacional aberto à comunidade para pesquisa e para produção radioisótopos, instalado num terreno de 2 milhões de m2 em Iperó (SP).

De acordo com José Augusto Perrotta, coordenador técnico do Reator Multipropósito Brasileiro (RMB), o reator RMB ainda está na fase de projeto. Os projetos conceitual e básico já foram concluídos, e está sendo executado o projeto detalhado. Além disso, já foram emitidas a licença prévia do IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) e a licença de local da CNEN (Comissão Nacional de Energia Nuclear). Entretanto, o cronograma inicial foi afetado por problemas com os recursos financeiros. “O MCTIC não passou os recursos em 2017”, diz Perrota. “O projeto continuou apenas com os recursos designados em 2014. Cada ano sem recursos é um ano de atraso! ”, lamenta.

 

Saiba mais

Gente da comunidade: entrevista com o pesquisador Angelo Fernando Padilha.

Prof. Angelo Fernando Padilha (USP).
Prof. Angelo Fernando Padilha (USP).

Angelo Fernando Padilha nasceu no dia 30 de agosto de 1951 em Novo Horizonte, uma pequena cidade do estado de São Paulo. Cursou o ensino primário e os primeiros anos do secundário (o então chamado “ginásio”) na cidade natal e, aos 16 anos, mudou-se para São Carlos, a uns 170 km de Novo Horizonte, para fazer o “curso científico”, que abrangia os últimos três anos do ensino secundário e oferecia ao aluno uma formação com ênfase maior do que no “curso clássico” nas disciplinas de Matemática, Física, Química e Biologia.

Em 1970, ingressou no curso de graduação em Engenharia de Materiais da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), que acabara de ser criado. Formou-se em 1974. No ano seguinte, realizou uma especialização em Ciência e Tecnologia Nucleares da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), oferecida no Instituto de Energia Atômica (IEA), atual Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN), na cidade de São Paulo. No mesmo ano, ele começou a trabalhar no IEA com pesquisa e desenvolvimento de materiais para reatores nucleares. Também em 1975, Padilha iniciou o mestrado em Engenharia Metalúrgica da Universidade de São Paulo (USP), o qual concluiu em 1977 com a aprovação da sua dissertação sobre recuperação e recristalização em uma liga de alumínio.

Em 1978, ainda vinculado ao IEA, iniciou o doutorado em Engenharia Mecânica na Universität Karlsruhe, atual Karlsruher Institut für Technologie (KIT), Alemanha, obtendo o diploma de Doktor-Ingenieur em 1981 após a defesa de sua tese sobre precipitação em um aço inoxidável, utilizado no elemento combustível do reator rápido regenerador (fast breeder reactor) alemão SNR300. No ano seguinte, no Max Planck Institut für Metallforschung, na cidade alemã de Stuttgart, Padilha fez uma especialização de três meses em Ciência dos Materiais na qual estudou diagramas de fases envolvendo metais refratários.

De 1984 a 1986, além de desenvolver atividades de pesquisa no IPEN, atuou como docente no curso de graduação em Engenharia Metalúrgica da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

De 1987 a 1988, realizou um pós-doutorado na Ruhr Universität Bochum (RUB), na Alemanha.

Em 1988, depois de passar 13 anos trabalhando no IPEN, Angelo Padilha tornou-se docente do Departamento de Engenharia Metalúrgica e de Materiais da Escola Politécnica da USP (EPUSP). Na Politécnica fez a livre-docência em 1989, e, em 1993, foi aprovado em concurso de professor titular.

No ano 1993, voltou à RUB, na Alemanha, para realizar uma especialização em aços inoxidáveis dúplex. Em 1998, realizou um segundo pós-doutorado, na University of Wales Swansea, hoje Swansea University, no Reino Unido.

De julho de 2011 a novembro de 2015, foi cedido pela USP para exercer cargos diretivos em entidades ligadas ao Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), atualmente de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC). Nesse período, foi presidente e presidente da comissão deliberativa da CNEN, presidente da Rede Nacional de Fusão (criada em 2006 para coordenar e ampliar a pesquisa em fusão nuclear no Brasil) e presidente do conselho de administração de duas empresas do segmento nuclear vinculadas ao MCTI, a Nuclebrás Equipamentos Pesados (NUCLEP) e a Indústrias Nucleares do Brasil (INB). Além disso, foi membro do comitê de coordenação dos fundos setoriais e, de 2012 a 2014, membro do conselho técnico-científico do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF).

É autor de mais de 100 artigos publicados em periódicos científicos indexados e cerca de vinte livros e capítulos de livros, como o conhecido livro didático “Materiais de Engenharia”. Sua produção acadêmica conta com, aproximadamente, 2.800 citações, segundo o Google Scholar. Já orientou 25 dissertações de mestrado e 24 teses de doutorado.

Ao longo da sua trajetória profissional, Padilha recebeu uma série de distinções da Presidência da República, Marinha do Brasil e Associação Brasileira de Metalurgia e Materiais (ABM), entre outras entidades.

Atualmente, Angelo Padilha é professor titular da EPUSP, onde ministra disciplinas na graduação e pós-graduação e desenvolve pesquisas sobre metais. Ele é membro titular da Academia de Ciências do Estado de São Paulo desde 2012 e bolsista de produtividade do CNPq de nível sênior (nível outorgado a cientistas ativos na pesquisa e formação de recursos humanos que tenham sido bolsistas de nível 1 A ou B por, no mínimo, 15 anos). Seu índice h é de 27, de acordo com o Google Scholar.

Segue uma entrevista com o pesquisador.

Boletim da SBPMat: – Conte-nos o que o levou a estudar Engenharia de Materiais na primeira turma de Engenharia de Materiais da América Latina (UFSCar, 1970-1974) e a se tornar um pesquisador da área.

Angelo F. Padilha: – Durante o curso ginasial, eu já havia decidido ser engenheiro, mas não tinha clareza sobre que modalidade de Engenharia escolheria. Concluído o ginásio em minha cidade natal (Novo Horizonte, SP), fui para São Carlos, fazer o curso científico. São Carlos foi essencial para a minha formação. A cidade oferecia tudo que um garoto de 16 anos e distante dos pais poderia desejar! No meio estudantil, fervilhavam cultura, debate e rebeldia. Estou falando do início de 1967. O período pior do regime militar iniciado em 1964 ainda estava por vir.

Fui alertado da criação de um curso de Engenharia de Materiais em São Carlos por uma tia, que havia lido um artigo ou uma entrevista do professor Sérgio Mascarenhas no jornal da cidade e ficara impressionada. Foi a primeira vez que ouvi falar desta modalidade de Engenharia. O exame de ingresso foi instigante, muito diferente dos vestibulares da época. Fui muito bem classificado e fiz matrícula. A primeira turma de Engenharia de Materiais da UFSCar era composta de 50 alunos: 2 garotas e 48 rapazes. A universidade foi instalada em uma fazenda de mais de 200 alqueires, pouco distante da cidade. As instalações iniciais foram adaptadas. O ambiente era calmo e acolhedor. Hoje, posso avaliar melhor do que podia à época e estou convencido de que o curso como um todo foi excelente. Ofereceu-nos uma base científica consistente e moderna. A proporção de aulas experimentais foi a mais elevada que tenho conhecimento, para um curso de engenharia. Graças à base científica e tecnológica adquirida nos cinco anos de UFSCar, pude aproveitar bem o mestrado em Engenharia Metalúrgica na Escola Politécnica e depois o doutorado na faculdade de Engenharia Mecânica da Universidade de Karlsruhe. Grande parte da nossa turma fez pós-graduação, em universidades de primeira linha do Brasil e do exterior.

Boletim da SBPMat: – Quais são, na sua própria avaliação, as suas principais contribuições à área de Materiais? Descreva brevemente as contribuições de mais impacto ou mais destacadas considerando todos os aspectos da atividade científica.

Angelo F. Padilha: – A área de Materiais fez muito mais por mim do que eu fiz por ela. Nunca trabalhei na fronteira do conhecimento, tampouco procurei nichos científicos. Procuro utilizar conceitos científicos modernos e técnicas experimentais avançadas para estudar, entender e aperfeiçoar materiais tradicionais e amplamente utilizados, tais como aços e ligas de alumínio. Por exemplo, meu artigo (em coautoria com Paulo Rangel Rios) mais lido e citado é um trabalho de revisão, publicado em 2002 e aborda a microestrutura de aços inoxidáveis austeníticos; um material descoberto em 1911 e ainda bastante utilizado.

Encaro como uma obrigação agradável escrever livros técnicos em português. Publiquei meu primeiro livro, sobre técnicas de análise microestrutural, em coautoria com Francisco Ambrózio Filho, em 1985. Sinto-me gratificado ao ver meus livros espalhados por várias bibliotecas do país. Embora sejam todos muito simples, são lidos e até citados.

Gosto muito da atividade docente, tive muitas centenas, talvez milhares, de alunos e dezenas de orientados. Até hoje sinto prazer em orientar estudantes e em dar aulas de Ciência dos Materiais no primeiro ano da Poli e de disciplinas mais específicas nos anos finais da graduação e na pós-graduação. Considero a interação com a indústria essencial para um professor e pesquisador da área de Engenharia. Mais da metade dos trabalhos que orientei foram em cooperação com a indústria.

Boletim da SBPMat: – Você tem uma significativa trajetória de pesquisa e gestão em instituições do segmento da energia nuclear. Quais são, na sua visão, os desafios da pesquisa em Materiais para área nuclear?

Angelo F. Padilha: – Meu primeiro emprego como engenheiro foi na área nuclear, na Coordenadoria de Ciência e Tecnologia de Materiais (CCTM) do Instituto de Energia Atômica (IEA), hoje IPEN-CNEN. O grupo foi criado e era liderado pelo Professor Shigueo Watanabe. Era composto de cerca de 50 pessoas, quase todos físicos do estado sólido. A convivência com eles foi para mim uma escola importante.

As aplicações da tecnologia nuclear contemplam não apenas a geração de energia núcleo-elétrica, mas também numerosas aplicações na indústria, na medicina, na agricultura, além da propulsão nuclear. Por exemplo, o número de pessoas que já se beneficiaram dos radio-fármacos produzidos no IPEN é comparável ao número de pessoas que se beneficiam da energia elétrica gerada pelos reatores instalados em Angra dos Reis.

Quase todos os materiais utilizados na construção de um reator nuclear, ou de um submarino de propulsão nuclear, ou até mesmo de uma centrífuga para enriquecimento isotópico de urânio são materiais que não foram desenvolvidos para estas aplicações. Na década de 1950, quando os norte-americanos construíram o primeiro reator nuclear para geração de energia núcleo-elétrica e o primeiro submarino de propulsão nuclear, em termos de materiais, eles precisaram desenvolver principalmente a tecnologia do urânio e do zircônio. Centenas de outros materiais indispensáveis para as aplicações mencionadas já eram disponíveis ou precisaram tão somente de alguma adaptação.

Por outro lado, as tecnologias nucleares apresentam algumas características especiais: i) são dominadas por poucos países; ii) muitas delas não podem ser adquiridas no mercado; iii) existe pouca cooperação internacional, especialmente nas tecnologias nucleares sensíveis; iv) são tecnologias complexas e exigem uma grande quantidade de recursos humanos e econômicos para serem desenvolvidas; v) são em geral tecnologias maduras, dominadas e aperfeiçoadas ao longo de décadas. Um país ao dominar uma tecnologia madura, pode rapidamente transformá-la em vantagem geopolítica ou econômica.

O Brasil construiu ao longo dos últimos sessenta anos um programa nuclear que pode ser classificado como um dos dez ou doze mais importantes do planeta. Além disto, temos grandes reservas de urânio. Do ponto de vista de materiais, ainda somos dependentes de importações, que frequentemente encontram grandes obstáculos. Acredito que os maiores desafios e oportunidades na área de materiais para aplicações nucleares estão na produção nacional, nas adaptações e nos aperfeiçoamentos. É mais provável que as inovações futuras sejam do tipo incremental do que radical.

Boletim da SBPMat: – Deixe uma mensagem para os leitores que estão iniciando suas carreiras científicas.

Angelo F. Padilha: – Procure obter uma formação científica consistente, o resto será consequência. Um pesquisador com conhecimentos profundos em disciplinas fundamentais, tais como termodinâmica, cristalografia e transformação de fases será sempre bem-vindo em qualquer grupo de pesquisa. Não desanime ao enfrentar a nossa mastodôntica e caolha burocracia.

Boletim da SBPMat: – Seu nome consta na “comissão interdisciplinar de materiais”, criada no final do ano 2000 para viabilizar a fundação da SBPMat. Se possível, compartilhe alguma lembrança ou comentário a respeito da sua participação na criação da sociedade.

Angelo F. Padilha: – Acredito que a SBPMat foi criada no momento certo e com o perfil adequado. Em minha opinião, esta é a principal razão do seu perdurável sucesso. Todos da “Comissão Interdisciplinar de Materiais” contribuíram de alguma forma; uns mais e outros menos. Eu estou certamente entre os que menos contribuíram. Acho que a capacidade de articulação agregadora do Guillermo Solórzano e a liderança científica do Edgar Zanotto foram decisivas. Tenho orgulho de ter participado da criação da SBPMat.

Bolsa FAPESP de pós-doutorado no IPEN para pesquisa com células a combustível.

O Centro de Células a Combustível e Hidrogênio (CCH) do IPEN informa que possui uma bolsa FAPESP de pós-doutorado  como parte do Projeto Temático “Estudos sobre o uso do bioetanol em células a combustível tipo PEMFC e SOFC”. A bolsa tem duração de 24 meses a partir do início de 2017.

O candidato selecionado atuará na pesquisa relacionada à produção  de hidrogênio pelo processo de reforma a vapor.  O prazo para o envio de documentação é 13 de janeiro de 2017.

Mais informações pelos links: fapesp.be/bolsas pd e https://www.ipen.br/portal_por/conteudo/institucional/noticias/ipen_pos_doc_ccch_catalise_2016.pdf

Pós-doutorado no IPEN em eletrocerâmicas com bolsa FAPESP.

Uma oportunidade de Pós-Doutorado com Bolsa da FAPESP está disponível no Centro de Ciência e Tecnologia de Materiais do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN) da Universidade de São Paulo (USP), que faz parte de um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (Centro de Desenvolvimento de Materiais Funcionais – CDMF) apoiado pela FAPESP.

O candidato selecionado integrará a investigação “Estudos de sinterização assistida por campo elétrico em eletrocerâmicas”. A bolsa tem duração de 24 meses, podendo ser prorrogada por mais 12 meses.

Entre as atividades previstas estão experimentos de sinterização por flash, análise de fases estruturais por difração de raios X, análise microestrutural por microscopia eletrônica de varredura e microscopia de varredura por sonda, e análise de fenômenos de transporte por espectroscopia de impedância eletroquímica.

Os experimentos de sinterização por flash serão feitos em dispositivo montado nos laboratórios do IPEN (R. Muccillo e E.N.S. Muccillo, J. Eur. Ceram. Soc. 33,2014, p.515-520).

Os experimentos visam coletar dados para a modelagem e proposição de mecanismos para explicar o fenômeno de sinterização por flash, que possibilita obter corpos cerâmicos densos com tamanho de grão nanométrico, a temperaturas menores que as aplicadas em sinterização convencional.

Interessados devem enviar curriculum vitae destacando habilidades na operação e interpretação de resultados em espectroscopia de impedância eletroquímica de sólidos e sinterização, com no máximo cinco páginas, e duas cartas de recomendação de ex-supervisores por e-mail para Prof. Reginaldo Muccillo (muccillo@usp.br). Mais informações podem ser solicitadas por meio desse endereço de e-mail. Prazo: 15 de Novembro de 2016.

Caso o bolsista resida em domicílio diferente e precise se mudar para S. Paulo, poderá ter direito a um Auxílio-Instalação.

Mais informações sobre a bolsa de Pós-Doutorado da FAPESP estão disponíveis em fapesp.br/bolsas/pd.