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Está aberta até 3 de dezembro deste ano a chamada de propostas de simpósios para compor o XXI B-MRS Meeting, que será realizado de 1º a 5 de outubro de 2023 em Maceió (Alagoas, Brasil), com coordenação dos professores da Universidade Federal de Alagoas (UFAL) Carlos Jacinto da Silva (Instituto de Física) e Mario Roberto Meneghetti (Instituto de Química e Biotecnologia).
As propostas podem ser submetidas por equipes de pesquisadores (doutores), de preferência de composição internacional, que desejem organizar um simpósio dentro do evento sobre um tema de pesquisa na área de Ciência e Tecnologia de Materiais – desde o design, síntese e caracterização dos materiais até as suas aplicações nos mais diversos segmentos. A lista com os simpósios finais aprovados será publicada em 16 de dezembro deste ano.
Para submeter uma proposta de simpósio, basta preencher, em idioma inglês, o formulário online disponível em http://sbpmat.org.br/proposed_symposium/.
Além disso, a comissão organizadora do evento convida a comunidade a enviar sugestões de palestrantes para as plenárias (cientistas internacionalmente renomados, que possam dar uma palestra motivacional sobre os avanços alcançados ao longo do tempo em um determinado tema de pesquisa, bem como os desafios e perspectivas para o futuro. As palestras plenárias devem interessar um público amplo, com diferentes níveis de formação e especialidades temáticas.
As sugestões de plenaristas devem ser enviadas até 20 de novembro deste ano por meio deste formulário Google.
Site do XXI B-MRS Meeting: https://www.sbpmat.org.br/21encontro/.
É tradição na SBPMat. No final de cada B-MRS Meeting, anuncia-se o evento do ano seguinte: a data, os coordenadores e, o mais esperado, o local. Entretanto, com Foz do Iguaçu, um dos destinos mais belos do mundo, as coisas ocorreram diferentemente. O anúncio foi realizado em setembro de 2019, mas o evento só ocorreu três anos depois. A culpa do atraso foi, é claro, da pandemia. Em 2020, o encontro foi adiado. Em 2021, foi realizado em formato online, sempre sob a coordenação do professor Gustavo Dalpian (UFABC), que lidou com habilidade com os desafios de um período difícil. Finalmente, em setembro de 2021, no final do encontro online, as professoras Lucimara Stolz Roman (UFPR) e Marcela Mohallem Oliveira (UTFPR), coordenadoras do XX B-MRS Meeting, anunciaram o que muitos esperavam: o evento seria realizado em Foz do Iguaçu, no ano seguinte.
Foi assim que, depois de três anos sem encontros presenciais, cerca de 1.100 pessoas dos cinco continentes do planeta e das cinco regiões do Brasil se reuniram em Foz do Iguaçu de 25 a 29 de setembro de 2022. “O vigésimo encontro da SBPMat foi importantíssimo para a comunidade de materiais se reencontrar pessoalmente depois da pandemia de Covid-19”, disse a professora Lucimara. “A alegria das pessoas, dos estudantes, principalmente aqueles que estavam participando de uma conferência presencial pela primeira vez, foi contagiante”, expressou a chairlady.
O calor humano compensou o frio meteorológico dessa semana, atípico para a estação. E o local do evento, o centro de convenções do hotel Rafain, albergou perfeitamente os participantes ao permitir que passassem o dia inteiro ali sem se exporem à chuva, e propiciou interações, não apenas nas salas das apresentações, como também no grande espaço que virou restaurante exclusivo para participantes do evento e no amplo corredor com mesas e cadeiras quase sempre ocupadas por grupos de pesquisadores e estudantes. Contíguo ao jardim do hotel, o corredor recebia os participantes todas as manhãs ao som do canto de diversas aves da Mata Atlântica. Outro ambiente de muitas trocas foi o espaço que conteve, com conforto, a secretaria, os estandes dos 22 expositores, as mesas dos coffee breaks e os pôsteres. Ali, os participantes circulavam à vontade, matando a curiosidade sobre os produtos e serviços para a pesquisa em materiais que foram expostos ou demonstrados nos estandes e trocando ideias científicas com os apresentadores dos pôsteres.
“Esta volta emocionante a um encontro presencial com muitos participantes foi possível não só pelo fato de a ciência ter vencido a batalha da Covid, mas também pela força e resiliência da nossa comunidade interdisciplinar, que veio ao evento apesar de todas as dificuldades que encontramos no momento atual do país”, disse a professora Mônica Cotta (Unicamp), presidente da SBPMat.
E vale ressaltar: as abundantes trocas presenciais conviveram ao longo do evento com as virtuais. Centenas de stories e posts dos participantes borbulharam nas redes sociais, estendendo o alcance dos momentos presenciais.
No domingo 25 de setembro, por volta das 19h30, cerca de 900 pessoas ocuparam a sala Amazônia do centro de convenções do Rafain. Número acima das expectativas: vários acabaram ficando de pé no fundo da sala. A vontade de participar estava grande! “Poder olhar para aquela sala de eventos com centenas de pessoas na plateia foi emocionante para mim, tive uma sensação de felicidade única de ter participado dessa organização após a pandemia e ver que conseguimos nos estruturar, voltar para nosso normal”, contou a chairlady Lucimara.

Estávamos na vigésima edição do evento anual da SBPMat, mas foi a primeira vez em que se viu paridade de gênero na mesa de abertura. Foram três as mulheres à mesa, e na liderança: as duas coordenadoras do evento e a presidente da SBPMat. Além delas, compuseram a mesa os professores Rodrigo Martins (NOVA, Portugal) enquanto presidente da União Internacional de Sociedades de Pesquisa em Materiais (IUMRS); Guillermo Solórzano (PUC-Rio) como líder da criação da SBPMat e primeiro presidente da sociedade, e Roberto Faria (IFSC-USP), homenageado com a Palestra Memorial Joaquim da Costa Ribeiro – uma distinção da SBPMat para pesquisadores da comunidade com longa trajetória e sólidas contribuições.
Na sua fala, a presidente da SBPMat contou um fato acontecido nos anos 1990 que reforça a importância da representatividade nos ambientes de trabalho. A chairlady Lucimara, que na época era estudante, estava na Unicamp participando de um evento quando visitou o laboratório de Mônica, que iniciava a sua carreira de professora pesquisadora no IFGW. A jovem Lucimara se surpreendeu ao ver, pela primeira vez, uma mulher coordenando um laboratório de Física experimental, o que a fez pensar que uma carreira nessa área seria possível. Hoje, Lucimara coordena um produtivo grupo de pesquisa de Física de Materiais na UFPR, e Mônica é diretora do IFGW. No final da sua fala, a presidente aproveitou a ocasião para apresentar e lançar a nova identidade visual da SBPMat, desenvolvida para comemorar os 21 anos da sociedade transmitindo a força, excelência, entusiasmo, coesão e diversidade da comunidade brasileira de pesquisa em materiais.
Na sua apresentação, a professora Lucimara chamou a atenção para os nomes das salas onde ocorreriam os simpósios nos próximos dias: Rio de Janeiro, Foz do Iguaçu, Recife, Florianópolis, Natal, Guarujá, Ouro Preto, Gramado, Campos do Jordão, João Pessoa, Campinas e Balneário Camboriú. Para quem ainda não tinha descoberto o critério por trás da escolha, ela revelou que esses eram os nomes das cidades nas quais já foram realizados encontros da SBPMat ao longo das 20 edições. E “Amazônia”, nome da sala das plenárias e da própria cerimônia de abertura? “O nome desta sala remete à preocupação com a sustentabilidade que a nossa comunidade científica tem e deve ter”, explicou ela.
Na sequência, em uma apresentação ilustrada com muitos documentos, o professor Solórzano contou a história das origens da SBPMat, enfatizando que a sociedade nasceu com uma proposta de interdisciplinaridade e de integração com a comunidade científica internacional. “No primeiro encontro da SBPMat tivemos 400 participantes de 18 países”, destacou o sócio fundador.
Veja a apresentação de Guillermo Solórzano:
Finalmente, subiu ao palco o professor Gregório Faria (IFSC-USP) para introduzir nada menos que o pai dele, o professor Roberto Mendonça Faria, principal homenageado da noite, que foi presidente da SBPMat de 2012 a 2015. “Não é fácil para mim falar sobre o professor, o pai, o avô”, disse Gregório, emocionado, no ano em que o professor Roberto completou 70 anos. “Algo que me deixa muito orgulhoso é a forma como os pares o tratam, que tem a ver com o fato de ele pensar sempre primeiro na comunidade”, disse o filho.
Na sua apresentação, seguindo a abordagem característica das palestras memoriais, de recuperação da memória da pesquisa em materiais no Brasil, o homenageado falou sobre grupos que participaram dos primórdios da pesquisa em polímeros no Brasil: o Grupo de Polímeros Bernhard Gross (IFSC-USP), do qual ele faz parte desde a década de 1970 quando se chamava Grupo de Eletretos, e duas redes nacionais de grande porte na área de materiais poliméricos e orgânicos, das quais ele foi coordenador, o Instituto Multidisciplinar de Materiais Poliméricos do Milênio a partir de 2002 e o Instituto Nacional de Eletrônica Orgânica desde 2009.
Ao longo da palestra, Faria explicou com entusiasmo os principais resultados conseguidos por esses grupos, os quais refletiram a evolução da área, desde o estudo de polímeros isolantes e sua aplicação no microfone de eletretos, até as pesquisas em polímeros eletrônicos e seu uso em dispositivos como OLEDs e células solares.
Veja a apresentação de Roberto Faria:
A partir das 20h00, os participantes confraternizaram em um grande coquetel de abertura, servido no próprio centro de convenções do Rafain, onde não faltaram abraços, risadas, conversa… enfim, a alegria do reencontro presencial!
A programação técnica começou, mais uma vez, antes da abertura, no domingo à tarde, com cerca de 120 participantes na tradicional “Young Researchers’ School”, um tutorial para jovens pesquisadores sobre como fazer ciência de alto impacto, da ideia inicial (sempre ousada) até a divulgação do artigo nas redes sociais, sem esquecer a escrita do paper e as idas e voltas do processo de publicação. Esta edição contou ainda com a novidade dos conselhos para pós-docs sobre como dar continuidade à carreira científica. O tutorial foi proferido pelo criador do site de cursos online ZucoEscrita, o professor Valtencir Zucolotto (IFSC-USP), que é editor da Nanomedicine and Nanotoxicology Book Series (Springer-Nature) e do periódico Frontiers in Sensors/Biosensors (Frontiers), e por Daniel Staemmler, editor executivo na Elsevier na área de Engenharia de Materiais. O tutorial é baseado em dicas práticas e exemplos sobre aspectos técnicos e comportamentais da prática científica.
Mais exemplos de ciência de alto (ou altíssimo) impacto vieram ao longo da semana nas palestras plenárias do evento, proferidas por cientistas de renome mundial, que levaram os participantes a imaginar um futuro, mais ou menos próximo, protagonizado por técnicas, materiais e dispositivos cada vez mais inteligentes, eficientes e sustentáveis. Realizadas na sala Amazônia, as plenárias contaram com 400 a 600 pessoas na plateia. “Nosso programa científico foi, mais uma vez, forte e diverso, trazendo especialistas de todo o mundo para cobrir a ciência de fronteira e nos motivar a perseguir ciência de qualidade no Brasil, além de buscar o uso destes resultados para melhorar a qualidade de vida de nossa população”, disse Mônica Cotta.
Na segunda-feira à tarde, a professora Christine Kranz mostrou o fantástico trabalho do seu grupo na universidade alemã de Ulm (cidade natal de Einstein). O grupo integra diferentes técnicas de varredura por sonda e adapta os instrumentos para poder estudar processos eletroquímicos enquanto eles estão acontecendo. A cientista, que é editora associada do periódico Bioelectrochemistry (Elsevier), mostrou interessantes resultados obtidos com essa instrumentação no estudo de biofilmes e materiais antibacterianos, catalisadores para a produção de hidrogênio e novas baterias.
Na manhã da terça-feira, o professor Daniel Ugarte (Unicamp) recebeu o Prêmio José Arana Varela da SBPMat. A distinção é concedida anualmente, desde o ano passado, a um(a) pesquisador(a) destacado da comunidade brasileira de pesquisa em materiais, que profere uma das palestras plenárias no B-MRS Meeting. Especialista em microscopia eletrônica de renome mundial, Ugarte tem se destacado no estudo das propriedades de nanossistemas desde o início da sua carreira, quando ocupou a capa da revista Nature como único autor de um artigo sobre nanocebolas de fulereno. Esse foi o marco inicial para uma série de publicações nesse e em outros periódicos de altíssimo impacto, como Science, Nature Nanotechnology, Nano Letters e Physical Review Letters. “Ele nunca desiste de seus ideais de excelência em pesquisa e integridade acadêmica”, disse Mônica Cotta, que introduziu a plenária de Ugarte e lhe entregou o prêmio. Mas a sua contribuição do professor Ugarte à comunidade de materiais foi além dos papers. Na década de 1990, ele idealizou e montou um laboratório de microscopia eletrônica aberto e multiusuário dentro do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS), em Campinas. “A ideia maluca do Daniel funcionou extremamente bem, fornecendo excelentes microscopistas para o mundo e formando a base do que hoje é conhecido como Laboratório Nacional de Nanotecnologia no CNPEM”, destacou Cotta.
Na palestra, Ugarte falou com paixão sobre a evolução histórica da microscopia eletrônica de transmissão, que hoje fornece, além de imagens, muitas informações quantitativas, e o seu impacto no estudo de nanomateriais e nanossistemas. Na apresentação não faltaram momentos de grande emoção quando o cientista compartilhou o seu carinho e admiração por pessoas da comunidade, como Ricardo Rodrigues, um dos desenvolvedores do LNLS, falecido em 2020.
Veja a apresentação de Daniel Ugarte:
“Por meio dos prêmios aos professores Faria e Ugarte, a comunidade pôde expressar mais uma vez sua gratidão aos pesquisadores que dedicam a vida à ciência de materiais no Brasil”, destacou a professora Lucimara. “Temos que saber dar valor aos nossos cientistas para fortalecer nossa comunidade”, completou.
Na terça-feira à tarde, a plenária mostrou a ciência de materiais atuando bem perto da indústria, na fabricação e processamento de materiais. O palestrante foi o professor Sanjay Sampath, da State University of New York at Stony Brook (EUA), que ALI dirige um centro de pesquisa em pulverização térmica da National Science Foundation (NSF), com grande participação de empresas. Com muito entusiasmo, ele apresentou os esforços para aprimorar essa técnica, a qual pode ser usada para depositar revestimentos, principalmente cerâmicas refratárias, sobre grandes superfícies de diversos materiais, com impacto em indústrias como a automotiva, aeroespacial, de energia, da construção e de próteses, entre outras. O cientista, que realiza tanto pesquisa fundamental quanto aplicada, mostrou que aparentes limitações da técnica podem ser transformadas, por meio da pesquisa científica, em possibilidades de novas aplicações.
Na quarta-feira de manhã, o plenarista foi um conhecido membro da comunidade, o ex-presidente da SBPMat Osvaldo Novais de Oliveira Junior (IFSC-USP), o famoso Professor “Chu”. O palestrante colocou uma pergunta instigante: máquinas podem gerar conhecimento? E mostrou que, se os computadores ainda não podem transformar informação em conhecimento, eles já ajudam muito, inclusive na área de pesquisa em materiais. O cientista apresentou vários trabalhos que utilizam ferramentas de inteligência artificial, principalmente aprendizado de máquina (machine learning), para analisar grandes volumes de dados com o objetivo de descobrir materiais com determinadas propriedades ou, ainda, encontrar papers que interessam. Em outros casos, ferramentas de machine learning, associadas a bons sensores construídos com ajuda da tecnologia de materiais, permitem diagnosticar doenças usando dispositivos baratos e portáteis. De acordo com o palestrante, o próximo desafio para que as máquinas possam de fato gerar conhecimento é compreender a linguagem humana. Físico com doutorado em Engenharia Eletrônica e com uma produtiva trajetória na área de materiais, o professor Osvaldo se iniciou na pesquisa em processamento de línguas naturais na década de 1990 a partir do seu interesse em ferramentas de auxílio à escrita científica. Com o tempo, o cientista foi conectando cada vez mais essa linha de pesquisa à Física e aos materiais, principalmente no desenvolvimento de sensores para a área de saúde. “Ensinar linguagens naturais às máquinas é um interessantíssimo tema de pesquisa de fronteira”, disse o pesquisador, estimulando os jovens a atuarem na área.
Veja a apresentação de Osvaldo Novais de Oliveira Junior:
A plenária da quarta-feira à tarde foi proferida por Natalie Stingelin, professora e diretora da Escola de Ciência e Engenharia de Materiais do Georgia Institute of Technology (EUA). A cientista mostrou que os plásticos, que atualmente têm forte impacto negativo no meio ambiente, podem ser os nossos aliados para construir um mundo mais sustentável. Para isso, disse ela, é preciso desenvolver mais e melhores plásticos eletrônicos inteligentes, que reúnam, por um lado, a flexibilidade, leveza e fácil processamento dos polímeros e, por outro, propriedades que garantam eficiência nas aplicações desejadas. Na sua encantadora palestra, a professora Natalie, que dirige o Centro de Fotônica e Eletrônica Orgânica do Georgia Tech, apresentou um material desse tipo desenvolvido no seu laboratório a partir de um processo químico muito simples para aplicações em que é importante controlar a passagem de luz. O material, que é um híbrido orgânico – inorgânico, pode ser usado, por exemplo, em janelas inteligentes que mantêm os ambientes em temperaturas amenas, evitando gastos de energia com climatização. Além das aplicações, o material oferece interessantes possibilidades para realizar experimentos que podem fazer avançar ainda mais a Fotônica.
Depois de três dias de intensa programação científica, das 8h30 às 19h30, chegou a hora da tradicional Conference Party, que neste ano teve como mote o vigésimo aniversário do B-MRS Meeting. A festa, exclusiva para participantes do evento, foi realizada no Dreams Motor Park, um espaço que é bar, restaurante, casa de shows e museu de motos. Participantes de todas as idades e diversas origens geográficas lotaram a casa e fizeram uma festa super inesquecível. Enquanto no palco uma banda de rock agradou muito com clássicos de todos os tempos, na pista e nas mesas a animação e a vontade de festejar só aumentavam. “Que festa animada tivemos! Foi um momento de descontração e celebração da vida”, expressou a professora Lucimara. Um ponto alto foi a participação no palco de uma pesquisadora da comunidade, Raphaela de Oliveira, que interpretou “Mercedes Benz”, de Janis Joplin. No final do evento, a doutoranda voltaria a ser destaque ao receber um dos prêmios aos melhores trabalhos de estudantes.
No dia seguinte, às 10h30 começou a última plenária do evento. O professor Pulickel M. Ajayan (Rice University, EUA) falou sobre os desafios de se fazer engenharia na escala nano, principalmente pensando em levar os processos à escala industrial para produzir dispositivos cada vez menores e mais eficientes em verdadeiras fábricas de sistemas bidimensionais. Cofundador e diretor do Departamento de Ciência de Materiais e NanoEngenharia da Rice, Ajayan tem uma produção de altíssimo impacto na área, com índice h= 209 no Google Scholar. O cientista enfatizou a dificuldade de se lidar com as interfaces dos nanoblocos. “Não se trata apenas de montar um Lego”, disse.
Além dessas plenárias de conteúdo técnico-científico, o evento ofereceu, logo na manhã do primeiro dia, uma palestra sobre financiamento à pesquisa, desenvolvimento e inovação. O palestrante foi Marcelo Bortolini, diretor de Desenvolvimento Científico e Tecnológico da FINEP, mestre e doutor em Ciências dos Materiais pelo Instituto Militar de Engenharia (IME) com experiência como docente e pesquisador na área. Bortolini mostrou os instrumentos que a FINEP tem para apoiar toda a cadeia geradora de inovação tecnológica, desde a pesquisa básica até o lançamento de um produto no mercado. O palestrante apresentou as possibilidades de financiamento, tanto reembolsável (empréstimo) quanto não-reembolsável (subvenção) que a FINEP oferece a universidades, institutos de pesquisa, empreendedores, startups e empresas.
Veja a apresentação de Marcelo Bortolini:
Cerca de 1.200 trabalhos foram apresentados, nas sessões orais e de pôsteres, dentro dos 22 simpósios temáticos que compuseram o XX B-MRS Meeting. Organizados por equipes de pesquisadores do Brasil e do exterior, os simpósios abrangeram uma diversidade de materiais (vítreos, ferroicos, magnéticos, supercondutores, polímeros eletrônicos, materiais bidimensionais, filmes finos) e as suas aplicações em áreas como saúde, energia, fotônica e eletrônica e meio ambiente. O evento também contou com 3 palestras técnicas sobre técnicas avançadas de caracterização de materiais, oferecidas por empresas de instrumentação científica.
No elenco de temas de simpósios, apareceram velhos conhecidos, como a décima terceira edição dos simpósios brasileiros de vidros e de eletrocerâmicas, e também novidades, como o simpósio dedicado a novos materiais e nanotecnologia para o agronegócio. “Por ser a primeira vez que um simpósio abordou este tema no evento, os organizadores fomos positivamente surpreendidos, tanto pelo interesse demonstrado pelo público, quanto pela qualidade dos trabalhos científicos”, disse o professor Valtencir Zucolotto (IFSC-USP), que foi um dos organizadores.
Mais uma vez, os simpósios funcionaram como fóruns temáticos para a apresentação de avanços na síntese, caracterização e aplicação de materiais, bem como nas técnicas experimentais e computacionais que possibilitam esses avanços. Não menos importante, a discussão dos resultados a partir de perguntas aos apresentadores foi sempre estimulada. “Em todas as apresentações, o público fez perguntas interessantes aos palestrantes, elevando o nível científico do evento”, comentou João Coelho, professor da Universidade Nova de Lisboa (Portugal), um dos organizadores do simpósio P, que abordou materiais sustentáveis e tecnologias de processamento para sensores e aplicações eletrônicas. “As apresentações orais promoveram, como esperado, interessantes discussões técnico-científicas entre o público e os apresentadores”, destacou o professor José Antonio Eiras (UFSCar), coorganizador do simpósio I sobre materiais ferroicos e multiferroicos.
Pesquisadores de todos os níveis de formação, desde estudantes de graduação até professores, realizaram as apresentações dos simpósios temáticos. No total, foram mais de 340 apresentações orais e mais de 750 pôsteres. Além disso, houve quase 100 palestras convidadas de destacados especialistas do Brasil e do exterior.
Enquanto as apresentações ocorriam, era realizada a avaliação dos trabalhos que tinham se candidatado aos prêmios para estudantes por meio do envio de um resumo estendido. Comissões montadas pelos organizadores de cada simpósio classificaram os trabalhos seguindo os critérios definidos pela comissão de premiação da SBPMat para, no final do evento, definir a lista de vencedores do Prêmio Bernhard Gross – uma distinção outorgada pela SBPMat aos estudantes de graduação, mestrado ou doutorado que apresentam o melhor oral e o melhor pôster de cada simpósio. A premiação envolveu também o trabalho dos professores Ieda Garcia dos Santos (UFPB), diretora científica da SBPMat, Ivan Bechtold (UFSC), diretor financeiro da sociedade, e Maria Luiza Rocco Duarte Pereira (UFRJ). O trio se encarregou de comparar as avaliações de todos os finalistas e eleger os melhores trabalhos de todo o evento para receberem os prêmios patrocinados por periódicos da American Chemical Society (ACS) e da Royal Society of Chemistry (RSC), os quais consistiram, respectivamente, em R$ 2.000 e vouchers de £200 para cada trabalho vencedor, além dos certificados.
Fruto desse processo, a entrega dos prêmios ocorreu no encerramento do evento, pouco antes do meio-dia de quinta-feira. Frente a um público de algumas centenas de pessoas, a professora Ieda chamou ao palco, um por um, os finalistas dos Prêmios Bernhard Gross: 27 estudantes de todos os níveis de formação, do IFSP, UFSC, UFMT, USP, UTFPR, UFSM, UFPR, UFSCar, Unesp, UFRGS, CNPEM, Unicamp, UFMG, Universidade Nova de Lisboa e UFRJ. Na sequência, foram anunciados os vencedores dos nove ACS Publications Prizes, cujos certificados foram entregues na cerimônia pelo vice-editor da revista Applied Nano Materials, T. Randall Lee, e dos cinco RSC Prizes, entregues por Natalie Stingelin, que é editora-chefe dos periódicos Journal of Materials Chemistry C e Materials Advances.

Ainda no encerramento, a chairlady Lucimara fez os agradecimentos: aos participantes, aos patrocinadores dos prêmios, às comissões de avaliação, aos patrocinadores (empresas, agências de fomento, ICTs), à equipe da SBPMat.
E neste ciclo que sempre recomeça, chegou, mais uma vez, o esperado momento do anúncio do próximo evento da SBPMat, que será realizado pela primeira vez em Maceió, capital do estado de Alagoas, e pela quinta vez na região Nordeste, de 1º a 5 de outubro de 2023. O professor Carlos Jacinto da Silva (UFAL), que coordena o XXI B-MRS Meeting junto ao professor Mário Roberto Meneghetti (UFAL), tomou então a palavra para apresentar o local do evento, o Centro Cultural e de Exposições Ruth Cardoso, localizado numa área central de Maceió, próxima à praia e a muitos hotéis, restaurantes e locais de lazer.
Veja a apresentação do XXI B-MRS Meeting:
No fim da cerimônia de encerramento, houve novamente longos e fortes abraços. Aos poucos, os participantes foram deixando a sala Amazônia, provavelmente com a satisfação de ter participado de um evento científico muito produtivo e a vontade de repetir a experiência em Maceió. “No evento vimos uma sociedade viva, pulsante, com uma nova geração de pesquisadores competentes e comprometidos com o desenvolvimento da ciência”, destacou a chairlady Lucimara. “Estou desde já animada para o próximo encontro em Maceió!!!”, concluiu a coordenadora.
Photos: the album of the Student Awards and Prizes Ceremony is available here.
Bernhard Gross Award
(Established by B-MRS in honor of Bernhard Gross, a pioneer of Brazilian materials research. It distinguishes the best oral and poster contributions presented by students in each symposium)
Symposium A – Poster. Gustavo Venâncio Bellucci. Development of curcumin-anchored hydroxyapatites.
Symposium A – Oral. Leonardo Francisco Gonçalves Dias. Evaluation of bisphosphonates adsorption on TiO2, HA and composite surfaces.
Symposium C – Poster. Caroline Eloisa Apolinário Botteon. Assessment of cytotoxicity of gold nanoparticles functionalized with Brazilian red propolis in 2D and 3D models of urological cancers.
Symposium C – Oral. Paulo Henrique Olivieri Jr. Cell-Surface Glycosaminoglycans Regulate the Cellular Uptake of Charged Polystyrene Nanoparticles.
Symposium E – Oral. Raphael F. Moral. Probing the Stacking Properties of Cesium Lead Halide Perovskite Nanoplates with SAXS.
Symposium F – Oral. Matheus F. F. das Neves. Aqueous conductive ink based on PEDOT nanoparticles without organic solvents, passivant agents or metallic residues.
Symposium G – Poster. Murillo Henrique de Matos Rodrigues. The Influence of the Magnetic Field and Nanoparticle Concentration on the Thin Film Colloidal Deposition Process of Magnetic Nanoparticles: The Search for High-Efficiency Hematite Photoanodes.
Symposium G – Oral. Rafael Lavagnolli Germscheidt. Water oxidation performance enhanced by electrochemically designed vacancies on Prussian blue catalyst.
Symposium H – Poster. Matheus Cavalcanti dos Santos Nunes. Thermoluminescence properties of Al2O3:C laser sintered ceramic under X-rays and beta irradiation.
Symposium H – Oral. Alexia Oliveira Silva. Thermoluminescence properties of alexandrite under beta, ultraviolet and X-ray irradiation.
Symposium J – Poster. Lucas Felipe Santos de Azeredo. Ferromagnets with minor magnetization loops that lie entirely and way outside the major hysteresis loop.
Symposium J – Oral. Allan Marciel Döring. The diffusion process of La, Fe and Si through the La(Fe,Si)13 phase – A Fick’s 1st law-based approach.
Symposium N – Oral. Mayara Carla Uvida. PMMA-silica coatings modified with calcium phosphates for bioactive corrosion protection of Ti6Al4V alloy.
Symposium P – Poster. Eduardo Fonseca Maia. Gold/Cooper and Silver/Cooper Mixed Nanoparticles Films on Silica Substrate: Materials With Potential Use in Optical Sensors.
Symposium P – Oral. Tomás Pinheiro. Paper-based, Green Laser-Induced Graphene for bioelectronic applications and electrochemical sensor production.
Symposium Q – Poster. Ana Carolina Cunha Serafim. Carbon dots obtained from two different agricultural residues.
Symposium R – Poster. Juliany Louise Hurbano Carvalho. Study of Self-Assembly Structures Based on Carbon Quantum Dots.
Symposium R – Oral. Ana Carolina Dalila Steil. PLA/PPy composite nanofibers by solution electrospinning for the development of electrochemical sensors.
Symposium S – Poster. Nicolli de Freitas. Simple, fast, and efficient electrochemical thinning of ultra-large MoS2 on gold surfaces.
Symposium S – Oral. Raphaela de Oliveira. Chlinoclore: probing water in an emergent naturally abundant 2D material.
Symposium T – Poster. Ezequiel Lorenzett. Electrostatic Charged Functional 3D Printed Materials.
Symposium T – Oral. Funsho Olaitan Kolawole. Nano-scratch and micro-scratch properties of CrN/DLC and DLC-W coatings.
Symposium U – Poster. Yan Araujo Santos da Campo. Elastomers and Chaos: an alternative approach to electromechanical coupling and its correlation with failure prediction.
Symposium U – Oral. Gustavo Scheid Prass. Processing and characterization of AISI 316L coating reinforced with Cu and CuO nanoparticles.
Symposium V – Poster. Thissiana da Cunha Fernandes. Determination of thermodynamic parameters for growth of lead-free piezoelectric single crystals from the melt.
Symposium V – Oral. Isabela Reis Lavagnini. In situ synchrotron X-ray diffraction of hydroxyapatite-zirconia composite during Conventional Sintering and Flash Sintering.
Symposium X – Oral. Yuri Ferreira da Silva. Effect of submerged liquid plasma treatment on the hygroscopicity of vegetable ivory microparticles.
(Sponsored by journals of ACS Publications, a division of the American Chemical Society. Prizes for the best student contributions of all the event)
Symposium A – Poster. Gustavo Venâncio Bellucci. Development of curcumin-anchored hydroxyapatites.
Symposium G – Poster. Murillo Henrique de Matos Rodrigues. The Influence of the Magnetic Field and Nanoparticle Concentration on the Thin Film Colloidal Deposition Process of Magnetic Nanoparticles: The Search for High-Efficiency Hematite Photoanodes.
Symposium T – Poster. Ezequiel Lorenzett. Electrostatic Charged Functional 3D Printed Materials.
Symposium U – Poster. Yan Araujo Santos da Campo. Elastomers and Chaos: an alternative approach to electromechanical coupling and its correlation with failure prediction.
Symposium E – Oral. Raphael F. Moral. Probing the Stacking Properties of Cesium Lead Halide Perovskite Nanoplates with SAXS.
Symposium N – Oral. Mayara Carla Uvida. PMMA-silica coatings modified with calcium phosphates for bioactive corrosion protection of Ti6Al4V alloy.
Symposium P – Oral. Tomás Pinheiro. Paper-based, Green Laser-Induced Graphene for bioelectronic applications and electrochemical sensor production.
Symposium R – Oral. Ana Carolina Dalila Steil. PLA/PPy composite nanofibers by solution electrospinning for the development of electrochemical sensors.
Symposium S – Oral. Raphaela de Oliveira. Chlinoclore: probing water in an emergent naturally abundant 2D material.
(Sponsored by journals of the Royal Society of Chemistry. Prizes for the best student contributions of all the event)
Symposium H – Poster. Matheus Cavalcanti dos Santos Nunes. Thermoluminescence properties of Al2O3:C laser sintered ceramic under X-rays and beta irradiation.
Symposium S – Poster. Nicolli de Freitas. Simple, fast, and efficient electrochemical thinning of ultra-large MoS2 on gold surfaces.
Symposium C – Oral. Paulo Henrique Olivieri Jr. Cell-Surface Glycosaminoglycans Regulate the Cellular Uptake of Charged Polystyrene Nanoparticles.
Symposium F – Oral. Matheus F. F. das Neves. Aqueous conductive ink based on PEDOT nanoparticles without organic solvents, passivant agents or metallic residues.
Symposium G – Oral. Rafael Lavagnolli Germscheidt. Water oxidation performance enhanced by electrochemically designed vacancies on Prussian blue catalyst.
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Utilizando um conjunto de materiais cuidadosamente preparados e combinados, pesquisadores da USP de São Carlos desenvolveram um imunossensor fotoeletroquímico portátil com potencial para uso no diagnóstico precoce de doenças. O dispositivo permite a detecção rápida e precisa de doenças como o câncer, inclusive em estágio inicial. O imunossensor foi testado, com resultados muito bons, na detecção do antígeno prostático específico (PSA na sigla em inglês), que é o marcador mais utilizado para diagnosticar e acompanhar casos de câncer de próstata a partir de amostras de sangue.
Em um sistema compacto, que cabe em uma mão, o dispositivo reúne todos os elementos necessários para realizar o diagnóstico, prescindindo de laboratórios e profissionais especializados. Dessa forma, torna-se atrativo, por exemplo, para uso em locais afastados de centros de saúde e se insere dentro do paradigma de point-of-care testing, uma expressão que designa, na área de saúde, a possibilidade de se fazer exames clínicos no mesmo local do atendimento médico.
“A tecnologia desenvolvida tem potencial para facilitar e tornar mais rápidos e precisos os diagnósticos de câncer, principalmente no estágio inicial. O método permite a detecção de biomarcadores em baixos níveis de concentração e no próprio consultório médico”, diz Thiago Serafim Martins, um dos autores correspondentes do artigo que reporta esta pesquisa e foi capa no periódico ACS Applied Materials & Interfaces. Martins participou deste trabalho durante o seu doutorado, cuja tese foi defendida neste ano no Instituto de Química de São Carlos (IQSC-USP).

O desafio
Imunossensores formam uma classe de dispositivos de detecção cujo funcionamento se baseia na interação entre anticorpos e os seus antígenos. Nesses biossensores, anticorpos são imobilizados na superfície da plataforma de detecção de modo que, ao entrarem em contato com seus respectivos antígenos, e apenas com eles, ocorra a reação química que, no organismo, permite que nos defendamos dos patógenos.
Nesse momento, entra em cena outro componente do imunossensor, o transdutor, o qual traduz essa informação imunoquímica em outro tipo de sinal que possa ser facilmente interpretado (geralmente uma corrente elétrica). Quando essa tradução se baseia em reações eletroquímicas, o dispositivo é chamado de imunossensor eletroquímico. E quando a geração de corrente elétrica é incentivada pela ação da luz sobre um material sensível, se diz que o imunossensor é fotoeletroquímico, “Os biossensores fotoeletroquímicos pertencem a uma abordagem analítica sensível e de baixo custo para detectar moléculas de interesse clínico e ambiental”, diz José Luiz Bott-Neto, pós-doutorando no Instituto de Física de São Carlos (IFSC-USP) e coautor correspondente do paper. Entretanto, explica ele, antes deste trabalho, essa tecnologia exigia o uso de fontes de luz de grandes dimensões e alta potência, o que inviabilizava o seu uso em dispositivos portáteis.
Frente a essa limitação, a equipe da USP São Carlos se propôs a desenvolver um fotocatalisador (um nanomaterial capaz de aumentar a capacidade do sistema de absorver luz e transformá-la em corrente elétrica) que permitisse usar fontes de luz menores. Os pesquisadores partiram de dois materiais que, além de apresentar propriedades fotocatalisadoras, são atóxicos, de baixo custo e fácil preparo: o dióxido de titânio (TiO2) e o nitreto de carbono grafítico (gC3N4). Então, eles inseriram átomos de níquel na estrutura do nitreto de carbono grafítico, formando o composto Ni-gC3N4, e combinaram esse material com nanopartículas de dióxido de titânio, resultando na formação do compósito Ni-gC3N4/TiO2. Finalmente, trataram a superfície do compósito com sal de aril diazônio. “Este último atuou como amplificador de sinal ao mesmo tempo que possibilitou a imobilização dos anticorpos nas nanopartículas”, diz Bott-Neto. O fotocatalisador foi usado para revestir os eletrodos de carbono do sistema fotoeletroquímico.
O resultado
Sempre buscando simplicidade e miniaturização, os autores montaram um protótipo do dispositivo com os fotocatalisadores, os anticorpos anti-PSA imobilizados neles, um sistema elétrico e, como fonte de luz, um LED de 3 watts, além de peças produzidas por meio de impressão 3D. Nos testes de desempenho, o immunosensor fotoeletroquímico foi capaz de detectar o PSA em diversas concentrações em amostras de soro humano, e apresentou o menor limite de detecção já relatado na literatura para dispositivos desse tipo, segundo os autores do artigo. “A alta sensibilidade e seletividade do imunossensor pode ser atribuída à heterojunção entre Ni-gC3N4 e TiO2”, explica Bott-Neto.
O trabalho traz uma contribuição fundamental para levar a tecnologia de detecção fotoeletroquímica, que se caracteriza pelo baixo custo e altos níveis de sensibilidade e seletividade, a aplicações que requerem portabilidade, como os testes point-of-care.

Referência do artigo científico: Photocatalysis of TiO2 Sensitized with Graphitic Carbon Nitride and Electrodeposited Aryl Diazonium on Screen-Printed Electrodes to Detect Prostate Specific Antigen under Visible Light. José L Bott-Neto, Thiago S Martins, Lorenzo A Buscaglia, Sergio A S Machado, and Osvaldo N Oliveira Jr. ACS Applied Materials & Interfaces 2022, 14, 19, 22114–22121. https://doi.org/10.1021/
Contato de autor correspondente: joseluiz.bott@gmail.com
Ilustríssima Senhora Presidente,
A Sociedade Brasileira de Pesquisa em Materiais (SBPMat) expressa sua grande preocupação com a perda de acesso às revistas da editora Royal Society of Chemistry (RSC), ocorrida a partir desse mês de agosto, em decorrência de não ter sido realizada renovação da assinatura dentro do Portal de Periódicos, da CAPES.
A RSC é a sociedade de química mais antiga do mundo, com 180 anos e mais de 50.000 membros, e edita revistas importantes não apenas na área de química, mas também em áreas afins, como a engenharia de materiais, por exemplo. Apesar de possuir 13 revistas no sistema open access, a grande maioria dos artigos publicados nas outras 40 revistas editadas pela RSC só é acessível a partir da assinatura, conforme vinha acontecendo em anos anteriores, a partir do Portal de Periódicos. Com essa quebra, pesquisadores brasileiros deixam de ter acesso a publicações de alto fator de impacto tais como: Chemical Society Reviews (FI = 56,283), Energy and Environmental Science (FI = 39,151), Materials Horizons (FI = 16,152), Journal of Materials Chemistry A (FI = 13,375), entre muitas outras. Ressaltamos que, entre as revistas editadas pela RSC, já classificadas pelo JCR, todas têm fator de impacto acima de 3.
Desse modo, entendemos que a descontinuidade da assinatura das revistas editadas pela RSC trará um prejuízo imenso para pesquisadores de diferentes áreas, sendo fundamental a manutenção do acesso a essas revistas. Certa de sua compreensão acerca desse anseio da comunidade científica do país, contamos com o importante apoio da CAPES às pós-graduações e colocamo-nos à disposição para quaisquer esclarecimentos.
Atenciosamente,
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Uma equipe de pesquisadores de instituições brasileiras deu os primeiros passos rumo ao uso da flogopita, mineral abundante no Brasil, como fonte natural de camadas isolantes ultrafinas que poderão ser usadas em dispositivos optoeletrônicos do futuro. “O nosso trabalho apresenta a inserção desse mineral natural na pesquisa de materiais e seu possível uso em diferentes áreas da nanotecnologia”, diz o cientista Alisson R. Cadore, autor correspondente do artigo recentemente publicado no periódico 2D Materials.
O trabalho se insere na busca por materiais bidimensionais (de um ou poucos átomos de espessura) de baixo custo. Nessa procura, a comunidade científica tem investigado os chamados “materiais lamelares”, os quais são formados por camadas ultrafinas empilhadas, unidas entre si pelas chamadas “forças de van der Waals”. Por serem relativamente fracas, essas forças físicas permitem que a separação das lamelas seja feita por meio de diversos métodos. Um dos exemplos mais conhecidos desse grupo é o grafite, que é a fonte do grafeno. Outro exemplo é o das micas, família de minerais que inclui a flogopita, a qual nunca tinha sido estudada na sua forma bidimensional antes do trabalho da equipe brasileira.
Neste trabalho, os pesquisadores usaram cristais macroscópicos de flogopita minerados em Itabira (MG) para gerar camadas bidimensionais mediante esfoliação mecânica. Essa técnica extremamente simples ganhou fama por ter protagonizado a primeira obtenção bem-sucedida de grafeno, que valeu o prêmio Nobel de Física a Andre Geim e Konstantin Novoselov em 2010. Nesse método, utiliza-se uma fita adesiva comum para separar flocos do material, os quais ficam grudados à fita. O procedimento é repetido até chegar à camada mais fina possível, a monocamada.
Usando esse método, os autores do artigo obtiveram monocamadas e flocos de algumas camadas de flogopita. Com eles, realizaram uma robusta caracterização que envolveu diversas técnicas experimentais em laboratórios da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM), do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS) e da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Alguns resultados foram confirmados com simulações computacionais realizadas pelos autores da Universidade Federal de Lavras (UFLA).

“Neste trabalho, identificamos teórica e experimentalmente a composição química e estrutural da flogopita e demonstramos que esse isolante natural e abundante pode ser esfoliado até o limite de uma única camada, mantendo suas características físicas”, resume Cadore, que atualmente é pesquisador do Laboratório Nacional de Nanotecnologia (LNNano), mas realizou o trabalho na UPM, onde era professor. Uma das principais descobertas do estudo foi o fato de que a flogopita ultrafina é estável quando é submetida a processamento térmico, bem como quando é exposta ao ambiente (as amostras ficaram durante 13 meses em condições ambiente sem apresentar degradação).
Além disso, o trabalho comparou as características da flogopita com as do isolante sintético mais utilizado internacionalmente como substrato em nanodispositivos, o nitreto de boro hexagonal. Para isso, a equipe brasileira desenvolveu uma colaboração com o Instituto Nacional de Ciência dos Materiais do Japão (NIMS), onde é produzido o material com as melhores propriedades físicas. O grupo japonês forneceu os cristais sintéticos.
De acordo com os autores, dado que a flogopita bidimensional é um ótimo isolante elétrico e térmico, além de ser naturalmente abundante e de fácil extração, ela poderá ser usada como material de baixo custo em dispositivos que ainda são pouco explorados na escala nano, como transistores, capacitores e fotodetectores. Essas aplicações se tornam ainda mais promissoras perante a possibilidade de utilizar a flogopita bidimensional em estruturas de propriedades únicas chamadas “heteroestruturas de van der Waals”, as quais são formadas pelo empilhamento de camadas ultrafinas de materiais diferentes, unidas por forças de van der Waals. Por isso, os autores do artigo montaram heteroestruturas de flogopita e dissulfeto de tungstênio e estudaram algumas das suas propriedades. “Destacamos que a flogopita bidimensional é um isolante estável às condições ambiente e pode ser ainda facilmente combinado com outros materiais 2D, criando heteroestruturas híbridas ultrafinas, o que amplia a aplicação desse nanomaterial em novos dispositivos optoeletrônicos futuros”, diz Cadore.

Realizado dentro do doutorado de Raphaela de Oliveira, o trabalho da flogopita bidimensional se insere em uma linha de trabalho iniciada no Departamento de Física da UFMG. “Nossos estudos sempre envolveram diferentes pesquisadores nacionais e internacionais na obtenção e caracterização de diferentes materiais 2D naturais e a sua aplicação em nanodispositivos e nanofotônica ”, conta Cadore, cujo doutorado em Física pela UFMG foi sobre heteroestruturas bidimensionais de grafeno. O objetivo dessas pesquisas é achar materiais com as características ideais para essas aplicações, de modo a substituir os sintéticos, que têm alto custo.
O trabalho desenvolvido com a flogopita foi inspirado por estudos realizados com pedra-sabão, iniciados na UFMG em 2015. Os estudos com esse mineral continuaram no LNLS – CNPEM conduzidos pela pesquisadora Ingrid Barcelos, que também fez doutorado em Física na UFMG com uma pesquisa sobre heteroestruturas de van der Waals. Em 2021, Ingrid ganhou, pelo trabalho com pedra-sabão, um dos prêmios Para Mulheres na Ciência, outorgados pela L’Oréal Brasil em parceria com a UNESCO e Academia Brasileira de Ciências (ABC).

A pesquisa sobre flogopita bidimensional teve financiamento da CAPES, CNPq, Fundo Mackenzie de Pesquisa e Inovação, FAPESP, FAPEMIG e Prêmio L´OREAL-UNESCO-ABC Para Mulheres na Ciência.
Referência do artigo científico: Exploring the structural and optoelectronic properties of natural insulating phlogopite in van der Waals heterostructures. Alisson R Cadore, Raphaela de Oliveira, Raphael Longuinhos, Verônica de C Teixeira, Danilo A Nagaoka, Vinicius T Alvarenga, Jenaina Ribeiro-Soares, Kenji Watanabe, Takashi Taniguchi, Roberto M Paniago, Angelo Malachias, Klaus Krambrock, Ingrid D Barcelos and Christiano J S de Matos. 2022 2D Mater. 9 035007. https://doi.org/10.1088/2053-
Contato do autor correspondente: alissoncadore@