Pesquisa científica, materiais magnéticos, divulgação científica e ensino superior seriam, talvez, as expressões maiores numa nuvem de tags que representasse o professor Marcelo Knobel.
Nascido em Buenos Aires (Argentina) em 1968, Marcelo Knobel veio morar no Brasil, mais precisamente em Campinas (SP), aos 8 anos de idade, acompanhando os pais dele, a psicóloga Clara Freud de Knobel e o psiquiatra Maurício Knobel. A família estava escapando do golpe de estado que acabara de instaurar no poder, na Argentina, uma ditadura militar que demitira Maurício da Universidade de Buenos Aires (UBA). No Brasil, que também estava governado por uma ditadura militar, Maurício tinha sido contratado pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Dez anos depois da chegada a Campinas, Marcelo Knobel ingressou na Unicamp para fazer a graduação em Física. Em paralelo aos estudos, começou a trabalhar com propriedades magnéticas de materiais como bolsista de iniciação científica. Finalizado o bacharelado, Knobel permaneceu na Unicamp para realizar o doutorado na mesma área, obtendo o diploma de doutor em Física ao defender sua tese sobre magnetismo e estrutura de materiais nanocristalinos em 1992. Na sequência, partiu para a Europa, onde realizou dois estágios de pós-doutorado; um deles no Istituto Elettrotecnico Nazionale Galileo Ferraris, da Itália, e o outro no Instituto de Magnetismo Aplicado, na Espanha.
De volta ao Brasil e à Unicamp, em 1995, Marcelo Knobel começou sua carreira de professor e pesquisador do Instituto de Física Gleb Wataghin (IFGW). De 1999 a 2009 foi coordenador do Laboratório de Materiais e Baixas Temperaturas, onde atua como pesquisador até o presente, sempre investigando magnetismo e materiais magnéticos. Junto a seus colaboradores do laboratório, Knobel realizou trabalhos pioneiros no estudo da magnetorresistência e magnetoimpedância gigante em determinados materiais – dois conceitos diferentes que se referem à oposição que um material oferece à passagem da eletricidade em consequência da aplicação de um campo magnético externo. Em 2008, Knobel tornou-se professor titular do Departamento de Física da Matéria Condensada do IFGW.
Na área de divulgação científica, Marcelo Knobel começou no ano 2000 a colaborar com as atividades de ensino e pesquisa do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (LABJOR), da Unicamp. Além disso, Knobel foi um dos criadores da NanoAventura, uma exposição interativa e itinerante sobre nanotecnologia que foi lançada em 2005 e foi visitada por mais de 50 mil pessoas, principalmente crianças, até o presente. A NanoAventura recebeu menções honrosas no Festival de Cine e Vídeo Científico do Mercosul (2006) e no Prêmio Mercosul de Ciência e Tecnologia (2015), além de um prêmio, em 2009, da Rede de Popularização da Ciência e da Tecnologia na América Latina e no Caribe (RedPOP). De 2006 a 2008, Knobel foi o primeiro diretor do Museu Exploratório de Ciências, ligado à Unicamp. Em 2008, tornou-se editor-chefe da revista Ciência & Cultura da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), posição que ocupa até o presente. No campo editorial, Knobel coordena uma coleção de livros de divulgação científica da Editora Unicamp, chamada Meio de Cultura, lançada em 2008.
Em 2007 Marcelo Knobel recebeu o Young Scientist Prize da TWAS-ROLAC (escritório da América Latina e Caribe da academia mundial para o avanço da ciência em países em desenvolvimento), destinado a jovens cientistas da região. No mesmo ano, foi selecionado, junto a cerca de 50 pessoas de diferentes áreas de atuação e diversos países do mundo, para participar do programa Eisenhower Fellowships, que visa a reforçar o potencial de liderança de seus fellows. O grupo viajou pelos Estados Unidos durante 7 semanas cumprindo com uma agenda de reuniões e seminários. Em 2009, foi escolhido fellow da John Simon Guggenheim Memorial Foundation, recebendo recursos dessa fundação para o desenvolvimento de pesquisa.
De 2009 a 2013, foi pró-reitor de Graduação da Unicamp. Nesse cargo, foi responsável pela implantação do Programa Interdisciplinar de Educação Superior (ProFIS). O ProFIS é um curso de nível superior de 4 semestres que proporciona uma formação geral, multidisciplinar e crítica, e possibilita a seus egressos (ex-alunos de escolas públicas selecionados por suas boas notas no ENEM) que ingressem em cursos de graduação da Unicamp sem passar pelo vestibular. O programa foi distinguido em 2013 com o Prêmio Péter Murányi – Educação, destinado a ações que aumentem o bem-estar de populações do hemisfério sul.
Em 2010, com 42 anos de idade, Knobel foi laureado Comendador da Ordem do Mérito Científico pela Presidência da República.
Bolsista de produtividade 1A do CNPq, Marcelo Knobel publicou cerca de 300 artigos científicos em revistas internacionais com revisão por pares e 15 capítulos de livros sobre materiais e propriedades magnéticas, popularização da ciência, percepção pública da ciência e ensino superior. Também é autor de artigos sobre ciência e educação publicados em diversas mídias. Conta com 6.370 citações, segundo o Google Scholar.
Marcelo Knobel acaba de assumir, no dia 3 de agosto, o cargo de diretor do Laboratório Nacional de Nanotecnologia (LNNano), do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM).
Segue uma breve entrevista com o cientista.
Boletim da SBPMat: – Conte-nos o que o levou a se tornar um pesquisador e a trabalhar na área de Materiais.
Marcelo Knobel: – Escolhi a área de Física pela curiosidade, sem saber direito o que isso significava. Mas já no primeiro semestre percebi que era aquilo mesmo que eu queria para a minha vida, tentando entender a natureza. Logo no início da graduação tive aula de laboratório com a professora Reiko Sato, que posteriormente me convidou para fazer iniciação científica em seu laboratório. Ela trabalhava com propriedades magnéticas de metais amorfos, e foi o tema de início de minha pesquisa. Depois, fiz o doutorado direto com ela também, já trabalhando com nanocristais, e posteriormente segui o pós-doutoramento na mesma área.
Boletim da SBPMat: – Quais são, na sua própria avaliação, as suas principais contribuições à área de Materiais?
Marcelo Knobel: – Venho atuando em sistemas magnéticos nanoscópicos, investigando principalmente as interações dipolares em nanossistemas magnéticos, utilizando diversas técnicas experimentais, modelos teóricos e simulações computacionais. Esses sistemas, além do interesse em pesquisa básica, possuem diversas aplicações possíveis, principalmente em sistemas de gravação magnética e nanomedicina. O grupo de pesquisa que ajudei a consolidar desenvolve novos materiais nanocristalinos e realiza estudos através do desenvolvimento de novas técnicas magnéticas, estruturais e de transporte. No âmbito dessas pesquisas, fomos pioneiros no estudo da magnetorresistência gigante em sistemas granulares e na investigação da magnetoimpedância gigante em fios e fitas amorfos e nanocristalinos. Mas tenho me dedicado também à divulgação científica, sendo um dos responsáveis pela criação do Museu Exploratório de Ciências da Unicamp. Fui o coordenador do projeto NanoAventura, que é uma exposição interativa e itinerante sobre nanociência e nanotecnologia para crianças e adolescentes. Atuo ainda em pesquisas na área de percepção pública da ciência, coordeno a série “Meio de Cultura” da Editora da Unicamp e atuo como editor chefe da revista Ciência & Cultura, da SBPC. Fui recentemente Pró-Reitor de Graduação da Unicamp, onde destaco a implantação do Programa Interdisciplinar de Educação Superior (ProFIS). Atualmente, estou iniciando um novo desafio, como Diretor do Laboratório Nacional de Nanotecnologia (LNNano).
Boletim da SBPMat: – Você tem uma atuação especialmente forte em divulgação da ciência e da cultura científica. Comente com os nossos leitores estudantes e pesquisadores qual é, para você, a importância de realizar esse tipo de atividade.
Marcelo Knobel: – Eu me tornei um cientista após ler livros e revistas de divulgação, e de visitar museus de ciências. Creio que devemos incentivar as novas gerações a pensar criticamente, a ter curiosidade, a buscar desvendar os mistérios que nos cercam. Para o Brasil é fundamental estimular jovens talentos para a ciência. Sem eles não teremos futuro… Além disso, é nossa obrigação prestar contas com a sociedade, que é quem financia a pesquisa científica nas universidades públicas e nos institutos de pesquisa. É importante mostrar a ciência que é realizada em nosso país, e a importância de seguir investindo, cada vez mais, em ciência e tecnologia.
Boletim da SBPMat: – Se desejar, deixe uma mensagem para os leitores que estão iniciando suas carreiras científicas.
Marcelo Knobel: – Não tenho dúvidas que é a paixão que deve guiar as carreiras de todos, e principalmente dos cientistas. Mas além da paixão, é necessária uma formação sólida, não só no conteúdo específico, mas também em habilidades pessoais, como trabalho em equipe, comunicação (incluindo português e inglês, redação científica) e cultura geral. A atividade científica exige esforço e dedicação, mas é recompensada, penso eu, por uma vida repleta de novos desafios e oportunidades.