Da ideia à inovação: nanopartículas nacionais com tecnologia verde.

Um pouco da breve e intensa história da startup Nanogreen (Joinville, SC) e da visão de seus empreendedores.

box startupsA Nanogreen é uma startup empenhada em participar do incipiente mercado de produção nacional de nanopartículas. Essas partículas, que medem menos de 100 nanometros em pelo menos uma de suas dimensões, têm propriedades únicas devido a seu tamanho, e são capazes de conferir interessantes propriedades aos materiais aos quais são incorporadas. Além de serem objeto de intensa pesquisa, nanopartículas já são utilizadas para fabricar os mais diversos produtos, desde meias até embalagens de leite, passando por tintas e sensores um mercado cujo tamanho ainda é difícil determinar, mas movimenta bilhões de dólares no mundo.

Na Nanogreen, o principal diferencial competitivo é o método de fabricação das nanopartículas, baseado na técnica de ablação a laser. Resumidamente, consiste em utilizar amostras do material que vai compor as nanopartículas (por exemplo, titânio ou ouro) como alvos do laser. As amostras são submersas em líquido e se faz incidir o feixe de luz laser sobre elas. A radiação remove material da superfície do alvo, e, finalmente, o material ablacionado forma as nanopartículas no meio líquido.

Inovador no contexto industrial brasileiro, esse método, que se baseia em tecnologias de domínio público (não estão protegidas por patentes) se destaca pelo baixo impacto ambiental, sem uso de substâncias tóxicas. Além disso, o método consegue gerar nanopartículas dos mais diversos materiais, entre metais, polímeros, cerâmicas e, até mesmo, materiais orgânicos (a Nanogreen está realizando testes com cascas de árvores, por exemplo). Finalmente, através de mudanças nos parâmetros do processo e do meio de produção (água destilada, álcool, solvente etc.), é possível modificar o tamanho e distribuição das nanopartículas, o estado de aglomeração, a composição do produto final, e, até mesmo, funcionalizar a superfície das partículas de acordo com a necessidade do cliente.logo nanogreen

No momento, a Nanogreen trabalha com desenvolvimento personalizado de nanopartículas para a aplicação desejada pelo cliente. “Fazemos um desenvolvimento em conjunto, de forma a encontrar a melhor solução, trabalhando em forma de consultoria e desenvolvimento. Posteriormente, vendemos os produtos desenvolvidos sob encomenda”, conta Moisés Teixeira. Para o futuro, os empreendedores da Nanogreen planejam ter um portfólio de produtos desenvolvidos, prontos para serem fabricados sob demanda. “Isso nos permitirá focar somente no fornecimento, ou manter as duas frentes. Tudo isso vai depender de como o mercado e a tecnologia se comportarão, mas são cenas dos próximos capítulos”, completa. Gerar patentes a partir do trabalho de desenvolvimento também é uma possibilidade contemplada pelos empreendedores da Nanogreen.

A equipe de trabalho da startup é formada atualmente por três membros que reúnem formação acadêmica e experiência de pesquisa e desenvolvimento em técnicas a laser e em produção de nanopartículas. Para todos, a Nanogreen foi a primeira experiência de criação de empresa. Formado em Engenharia Mecânica (graduação pela UFSC e mestrado e doutorado pela Universidade de Osaka, Japão), o sócio Edson Costa Santos atua no desenvolvimento de negócios e contatos estratégicos. Além de CEO da Nanogreen, Costa Santos é hoje gerente sênior de inovação na Carl Zeiss AG, na Alemanha. O segundo sócio ativo, Moisés Felipe Teixeira, que possui graduação, mestrado e doutorado em curso em Ciência e Engenharia de Materiais pela UFSC, é responsável pela administração da empresa. Completa a equipe o bolsista Lucas Bóries Fachin, engenheiro químico pela UFSC, que trabalha com desenvolvimento de produto e pesquisa de novos materiais.

No quesito infraestrutura, a Nanogreen precisa de uma série equipamentos de fabricação e caracterização que a startup não tem condição de adquirir. Entretanto, os empreendedores superaram essa dificuldade por meio de parcerias e convênios com instituições de pesquisa e universidades, bem como pagamento de horas-máquina e terceirização de análises. De acordo com os empreendedores, a ideia é adquirir, assim que possível, uma máquina própria para a fabricação das nanopartículas por meio de recursos de editais, investidores externos ou empréstimo bancário.

Surgimento da startup

A ideia de trabalhar com ablação a laser surgiu há cerca de dez anos, a partir da experiência do sócio Edson Costa Santos com tecnologias a laser, durante seu doutorado no Japão. Contudo, os primeiros produtos foram desenvolvidos há cerca de três anos em caráter experimental dentro do Instituto de Inovação do SENAI, do qual Costa Santos era diretor. Ao ter contato direto com a tecnologia, os empreendedores viram o potencial do negócio. “Como não é o foco do Instituto o tipo de venda e negócio que hoje fazemos, a criação da empresa foi a melhor maneira de trazer essa tecnologia para o mercado brasileiro”, relata Costa Santos.

Um marco na breve história da Nanogreen foi a aprovação da incubação no Parque de Inovação Tecnológica de Joinville e Região (Inovaparq), ocorrida em 2016. Nesse momento, os sócios incubaram “apenas” uma ideia, surgida ao constatar a inexistência de fornecedores nacionais de nanopartículas de alguns materiais, combinada com a pouca personalização que os fornecedores tradicionais ofereciam. Os empreendedores da Nanogreen queriam trazer ao Brasil uma forma diferente de fabricar e fornecer produtos nanoparticulados. “Juntamos o desejo de empreender com uma tecnologia inovadora”, relembra Moisés. “Com a aprovação da incubadora, vimos que mais pessoas acreditavam em nós e que, a partir dali, tínhamos uma missão que já era maior que nós mesmos” completa.

Nesse primeiro momento, os empreendedores desembolsaram recursos próprios para custear a mensalidade da incubadora, os primeiros materiais para produção, contabilidade e tudo que fosse necessário. Porém, logo no primeiro ano de empresa constituída, em 2018, dois projetos da Nanogreen foram aprovados. No programa de apoio ao empreendedorismo inovador Sinapse da Inovação, a Nanogreen recebeu R$ 100.000 para investir na empresa, desenvolver um projeto e contratar um bolsista (o Lucas Bóries Fachin). No Edital de Inovação para a Indústria, a Nanogreen recebeu R$ 500.000 para desenvolver um projeto. “Aqui já tivemos os primeiros sinais de que havia mais pessoas acreditando na nossa ideia”, diz Fachin.

Ainda em 2018, a Nanogreen foi contemplada pelo programa InovAtiva Brasil, dedicado a “acelerar” startups. “Fomos reconhecidos dentro do programa como uma das empresas destaque daquele ano por uma equipe de mentores especializados”, lembra Lucas. “Esta premiação foi o auge da empresa até o momento e obter esse reconhecimento foi uma forma de mostrar que estamos no caminho certo e que há muitas pessoas que veem em nossa ideia um potencial tecnológico de poder mudar o mundo”, completa.

De acordo com os empreendedores, muitas discussões, pivotagens e mudanças de planos foram acontecendo ao longo da curta e intensa jornada da Nanogreen. O ano de 2019 trouxe a primeira operação comercial da startup: um contrato de pesquisa e desenvolvimento com uma grande empresa têxtil para otimização de alguns produtos.  “Além disso, temos alguns projetos de subvenção com empresas parceiras já sendo desenvolvidos, porém a primeira nota fiscal será emitida por agora”, comenta Costa Santos.

Equipe atual de empreendedores da Nanogreen. A partir da esquerda: Edson Costa Santos, Moisés Felipe Teixeira e Lucas Bóries Fachin.
Equipe atual de empreendedores da Nanogreen. A partir da esquerda: Edson Costa Santos, Moisés Felipe Teixeira e Lucas Bóries Fachin.

Veja nossa entrevista com os empreendedores.

Boletim da SBPMat: – Quais foram os fatores mais importantes no sentido de viabilizar a criação e desenvolvimento da startup?

Nanogreen: – Devido ao caráter altamente científico e especializado da Nanogreen, sem dúvidas o maior fator para viabilizar a empresa até o momento foi o conhecimento técnico dos sócios. Por trabalharmos com uma tecnologia nova e avançada, o conhecimento de fabricação e aplicação é o que permitiu a incubação e a aprovação nos editais citados. Além da necessidade do profundo conhecimento do laser, técnicas de caracterização, como microscopia eletrônica de varredura, caracterização química, técnicas de medição de concentração e força de coesão são importantíssimas para o bom desenvolvimento do produto. Além disso, com as aprovações vieram oportunidades de participação em eventos e mentorias do Sinapse da Inovação e do InovAtiva Brasil, por exemplo, que estão ajudando em questões jurídicas, contábeis e de negócios, que costumam ser o mais complicado para quem, como nós, tem origem na parte técnica.

Boletim da SBPMat: – Quais foram as principais dificuldades enfrentadas até momento pela startup?

Nanogreen: – A principal dificuldade neste início é o investimento inicial, onde faltam recursos para investimentos na empresa e para contratação de pessoas. Num negócio altamente científico e de pesquisa e desenvolvimento intensivo como a nanotecnologia, o custo inicial é consideravelmente alto para termos os primeiros retornos, no entanto tal investimento não está disponível sem que os investidores ou clientes vejam a tecnologia validada na prática em empresas, mas para tal validação precisamos do primeiro desenvolvimento, o que cai em um ciclo meio complicado. Por isso, é tão importante a existência de editais de fomento e subvenção para novas tecnologias. Quando estamos falando de empresas de TI e software, investimentos são mais baixos e os retornos são mais rápidos, o que explica a facilidade de investimento e a quantidade de empresas que vemos nessas áreas. Já o desenvolvimento industrial e de materiais fica um pouco para trás com isso.

Boletim da SBPMat: – Qual é, na sua visão, a principal contribuição da startup para a sociedade?

Nanogreen: – Introduzir no mercado nacional um fabricante de nanoparticulados, aumentando a concorrência interna e diminuindo a necessidade de importação. Isso reduziria tempo e taxas de importação, barateando custos de alguns produtos que precisam desta tecnologia e podendo viabilizar aplicações. Fora isso, trabalhamos com uma tecnologia considerada verde, que não usa solventes ou produtos tóxicos para a produção das nanopartículas. Isso garante que nosso produto seja consideravelmente mais puro que o produzido por rotas químicas, mas também evita a necessidade de tratamento de efluentes, risco de vazamentos para rios e lençóis freáticos e por aí vai. Dessa maneira, estamos contribuindo para evitar ainda mais a degradação do meio ambiente.

Boletim da SBPMat: – Qual é sua meta/seu sonho para a startup?

Nanogreen: – A meta é sermos o maior e mais inovador fabricante de nanoparticulados sem uso de produtos tóxicos do Brasil, em um curto espaço de tempo, e no futuro expandir essa reputação para a América Latina. Está nos nossos planos também a internacionalização da Nanogreen, e existem hoje diversos programas brasileiros de apoio a iniciativas assim!

Boletim da SBPMat: – Deixe uma mensagem para as pessoas que avaliam a possibilidade de criar uma startup.

Moisés Teixeira: – A minha mensagem para quem está lendo esta matéria e sonha em abrir uma startup é que você é do tamanho do seu sonho. Por isso, sonhe alto, sonhe grande. Se você tem uma boa ideia, vontade de empreender e tempo para se dedicar, mergulhe de cabeça. Ninguém irá tentar colocar sua ideia em prática, a não ser você, então acredite, tente, trabalhe duro e faça acontecer. Vários obstáculos irão aparecer no caminho, mas quando você acredita, tudo é possível. Por fim, ninguém melhor para tocar seu negócio do que você mesmo, então esteja presente, arregace a manga e coloque a mão na massa. O que posso dizer é que depois que você entra nesse mundo, não há mais volta, empreender é uma paixão e vicia.