Oportunidade de bolsa de doutorado direto no Grupo de Pesquisa em Nano/Biomateriais Doadores de Óxido Nítrico (NO) do Centro de Ciências Naturais e Humanas da UFABC, sob orientação da Profa. Amedea B. Seabra, em colaboração com o Grupo de Pesquisa do Prof. Marcelo G. de Oliveira do Instituto de Química da Unicamp, vinculado ao Projeto Temático “Hidrogéis e próteses vasculares liberadores de óxido nítrico para aplicações cardiovasculares”.
O objetivo do projeto é o desenvolvimento de nanopartículas absorvíveis de poliéster capazes de liberar NO localmente, para incorporação em biomateriais.
Procuramos candidatos proativos, que demonstrem pensamento crítico e capacidade de trabalho em grupo. O bolsista poderá usufruir de Bolsa de Estágio de Pesquisa no Exterior (BEPE) por período de até 12 meses para desenvolvimento de parte do projeto em universidades na Holanda.
O projeto deverá ser iniciado em janeiro de 2025.
Os candidatos devem possuir excelente histórico escolar de graduação e sólida formação básica em Ciências Naturais e Exatas, com ênfase em Química ou Engenharia Química.
Interessados devem enviar, por e-mail, uma carta de motivação, duas cartas de recomendação, link para o CV Lattes e histórico escolar de graduação para a Profª Amedea B. Seabra (amedea.seabra@ufabc.edu.br).
Ingrid Barcelos recebendo o prêmio da SBPMat em Santos.
Foi na escola pública, durante o Ensino Médio, que Ingrid David Barcelos ouviu falar pela primeira vez em vestibular. Ninguém do seu entorno, na periferia de Belo Horizonte, tinha feito faculdade, mas ela demonstrava interesse pela Física, e os professores da escola a incentivaram a se preparar para fazer um curso universitário.
Com muita dedicação aos estudos, Ingrid conseguiu passar na Universidade Federal de Minas Gerais (UFGM) e obter os diplomas de licenciada e bacharel em Física. Inicialmente, ela pensava em exercer a docência, mas, na universidade, ela conheceu a profissão de pesquisadora, na qual começou a se formar com um projeto de iniciação científica sobre nanotubos de carbono e grafeno.
Depois disso, apesar de ter tido apenas uma mulher e apenas um negro como professores na graduação, a jovem mulher negra decidiu seguir a carreira acadêmica, fazendo o mestrado e depois o doutorado, ambos com pesquisas sobre materiais bidimensionais, no prestigiado Programa de Pós-graduação em Física da UFMG. Durante o doutorado, ela passou um período no Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM).
Então, começaram os prêmios. A sua tese de doutorado foi vencedora do Prêmio José Leite Lopes da Sociedade Brasileira de Física (SBF) e recebeu menção honrosa no Prêmio Capes de Tese 2016 na categoria Astronomia e Física.
Depois de dois anos de pós-doutorado na UFMG, que incluíram estágios de pesquisa na Itália, em um laboratório de Fotônica Avançada do CNR-NANOTEC, ela passou a fazer parte do time de pesquisadores do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS) do CNPEM, onde atualmente, aos 38 anos, lidera o Laboratório de Amostras Microscópicas do Sirius.
Em 2021, Ingrid ganhou o Prêmio Para Mulheres na Ciência – Ciências Físicas, concedido pela L’Oréal, Unesco e Academia Brasileira de Ciências (ABC). E agora, em outubro de 2024, foi escolhida entre 13 excelentes candidatas como vencedora da primeira edição do Prêmio para Mulheres Cientistas em Início de Carreira da SBPMat.
Conheça um pouco mais desta destacada jovem cientista na entrevista que ela concedeu ao Boletim da SBPMat.
Boletim da SBPMat:O prêmio da SBPMat foi um reconhecimento à qualidade e impacto da sua produção científica dos últimos 5 anos, incluindo o trabalho que você apresentou no XXII B-MRS Meeting. Deixe algumas dicas para os membros mais jovens da nossa comunidade sobre como chegar a esses resultados.
Ingrid Barcelos: Para alcançar resultados com impacto significativo, algumas estratégias foram essenciais para mim, e acredito que podem ajudar outros jovens pesquisadores:
– A escolha do tópico é importante. Dedique-se a temas que apresentem lacunas de conhecimento ainda pouco exploradas. Para isso, estar atualizado nas publicações recentes e tendências de pesquisa é fundamental.
– Colaborações em diferentes áreas e com teóricos ampliam as perspectivas do trabalho e podem trazer novos insights que tornam a pesquisa mais rica e completa. Isso aumenta as chances de produzir artigos inovadores.
– A qualidade dos resultados depende do rigor nos métodos. Aconselho muito investir em técnicas avançadas e metodologias que tragam informações novas, tornando assim o trabalho mais relevante para a comunidade científica.
– Paciência e persistência! Publicar em revistas de alto impacto muitas vezes exige diversas revisões e até reformulações do estudo. Não desanime diante de críticas CONSTRUTIVAS, elas são oportunidades para aprimorar o trabalho e torná-lo ainda mais sólido e impactante.
Boletim da SBPMat: Fale um pouquinho sobre os trabalhos de pesquisa dos quais você se orgulha mais.
Ingrid Barcelos: O artigo do qual mais me orgulho é o meu primeiro trabalho como autora correspondente, publicado na Nature Communications em 2021. Esse marco representa um avanço pessoal e profissional importante na minha carreira, simbolizando meu crescimento como pesquisadora independente. Ele me trouxe a responsabilidade de coordenar e orientar todas as etapas da pesquisa e redação, além de fortalecer colaborações com outros pesquisadores. Esse papel foi essencial para o meu desenvolvimento em gestão científica e na consolidação de redes de colaboração.
Esse estudo investiga o comportamento de nanofitas de SnO₂, um material amplamente conhecido, empregando uma técnica experimental avançada que nos permite observar, na nanoescala, a interação das vibrações da rede cristalina com a luz, revelando fenômenos de confinamento óptico. Exploramos como essas interações podem ser ajustadas, abrindo caminho para aplicações em tecnologias optoeletrônicas em uma faixa de energia ainda pouco explorada na literatura: a região de terahertz.
Boletim da SBPMat: Quais são, para você, as situações mais gratificantes da profissão de cientista?
Ingrid Barcelos: As situações mais gratificantes para mim vão além das vivenciadas no laboratório, como as seguintes:
Os projetos de extensão me permitem ver o brilho nos olhos das alunas ao aprenderem sobre ciência e perceberem o impacto da pesquisa em suas vidas. A curiosidade delas é inspiradora e reforça a importância de tornar a ciência acessível para todos. Ser uma referência para meninas negras e inspirá-las a enxergar a ciência como uma possibilidade de carreira é extremamente gratificante. Poder mostrar a elas que têm espaço e podem prosperar no campo científico é uma motivação constante no meu trabalho e um compromisso que levo com orgulho.
Boletim da SBPMat: A partir das suas vivências, o que você acha que entidades como a SBPMat podem fazer para que mais mulheres negras possam se tornar cientistas destacadas?
Ingrid Barcelos: Acredito que entidades como a SBPMat podem desempenhar um papel fundamental na promoção de um ambiente mais inclusivo e de oportunidades igualitárias para mulheres negras na ciência. Com base nas minhas vivências, vejo algumas iniciativas que podem fazer a diferença, como promover espaços de diálogo onde mulheres negras possam compartilhar suas experiências e discutir estratégias de apoio mútuo, fortalecendo a rede de cientistas e criando um senso de pertencimento. Além disso, incentivar bolsas de estudo e financiamento exclusivos para mulheres negras em projetos de pesquisa é essencial, pois amplia as oportunidades e reduz as desigualdades, possibilitando que mais mulheres desenvolvam suas carreiras de forma independente. Ampliar a visibilidade das conquistas dessas cientistas também é importante, com prêmios, eventos e publicações que reconheçam seu trabalho, inspirando novas gerações e mostrando que o sucesso é possível. Essas ações, juntamente com políticas institucionais de inclusão, contribuem para uma ciência mais diversa e rica, onde mulheres negras possam se destacar e inspirar futuras gerações.
Boletim da SBPMat: Deixe uma mensagem para as meninas negras que estão iniciando uma carreira de cientistas no Brasil ou estão cogitando essa possibilidade.
Ingrid Barcelos: Acreditem no potencial de vocês e não deixem que ninguém limite seus sonhos! Muitas vezes é difícil encontrar exemplos que se pareçam com você na ciência, mas isso não significa que você não tem espaço aqui. Muito pelo contrário: a ciência precisa das suas perspectivas, da sua coragem e da sua determinação. Sempre que possível, cerquem-se de pessoas que apoiem o seu crescimento. A diversidade enriquece a ciência, e estarei torcendo para que cada uma de vocês alcance todo o seu potencial! Não será fácil, mas valerá a pena!
Vista do Porto Ponta da Praia, em Santos, a partir do Centro de Convenções Blue Med.
29 de setembro de 2024, domingo ensolarado e de temperatura amena. Através da fachada de vidro do Centro de Convenções Blue Med, vemos o finalzinho do estuário de Santos (SP) com seu complexo portuário, que é o maior da América Latina.
Na secretaria, aberta desde as 8h30, pessoas das mais diversas retiram seus crachás. Todas têm um interesse em comum: a Ciência e Tecnologia de Materiais. Todas vão aproveitar a rica programação da vigésima segunda edição do B-MRS Meeting, o evento científico que é realizado anualmente pela SBPMat, sempre em diferentes cidades do Brasil.
Nesta edição, que aconteceu em Santos de 29 de setembro a 3 de outubro, o evento registrou um número recorde de participantes: foram 1.777 pessoas de 36 países do mundo e 24 estados do Brasil. Pouco mais de 40% deles são professores, pesquisadores, profissionais de empresas e pós-doutorandos. E quase 60% são estudantes de graduação, mestrado ou doutorado.
Abertura com 1.250 pessoas na sala
Cerimônia de abertura do XXII B-MRS Meeting.
“Para nós, os estudantes são a parte mais importante do evento”, disse Ivan Bechtold (UFSC), presidente da SBPMat, na cerimônia de abertura do evento, realizada no domingo a partir das 19h, frente a uma plateia de cerca de 1.250 pessoas. O cientista lembrou da sua primeira participação no encontro anual da SBPMat, em 2004, quando ainda era um doutorando. Mais tarde, ele organizou um dos simpósios do evento. Em 2019, foi coordenador geral do B-MRS Meeting. E hoje preside a sociedade.
O evento da SBPMat, de fato, proporciona a muitos estudantes brasileiros experiências muito valiosas que são próprias de conferências científicas internacionais, porém em solo nacional. Nesta edição do evento, as redes sociais se encarregaram de mostrar isso, por meio de postagens dos participantes compartilhando, por exemplo, que estavam fazendo a primeira apresentação, oral ou em pôster, ou que estavam atuando pela primeira vez como coordenadores (chairs) de uma sessão.
Além do presidente da SBPMat, a mesa de abertura do XXII B-MRS Meeting contou com os coordenadores gerais do evento (event chairs), Lucas Fugikawa Santos (professor da UNESP Rio Claro) e Laura Oliveira Peres (professora da Unifesp); o presidente da União Internacional de Sociedades de Pesquisa em Materiais (IUMRS), Osvaldo Novais de Oliveira Junior (professor do IFSC-USP), e o pró-reitor de Pós-graduação e Pesquisa da Unifesp,Fernando Atique. O mestre de cerimônias foi Eduard Westphal, professor da UFSC.
Mesa de abertura do evento.
Na sua fala, Lucas Santos também se dirigiu aos estudantes. “Eu participei do primeiro evento da SBPMat, em 2002, quando estava no final do doutorado”, contou. “Será uma satisfação ver estudantes que estão participando desta edição sendo chairs do evento em 22 anos!”.
Ao proferir suas palavras, Atique destacou a importância do desenvolvimento de materiais para construir um mundo melhor e o seu impacto em todos os setores da economia, enquanto Oliveira Junior lembrou que a colaboração é essencial para enfrentar os desafios globais e que os cientistas têm um papel fundamental a cumprir na superação desses desafios. “Temos que trabalhar duro e juntos”, disse ele.
Depois de falar sobre o programa do evento e agradecer a participação de todos, a coordenadora Laura Peres encorajou os presentes a aproveitarem o encontro ao máximo. “Interajam com seus pares, desafiem suas ideias e explorem novos caminhos de pesquisa para que, juntos, possamos expandir os limites da Ciência de Materiais e contribuir para um futuro mais sustentável e inovador”, disse ela.
Marília Caldas recebendo a placa da Palestra Memorial.
Depois de encerrados os pronunciamentos da mesa de abertura, a sala se encheu de leveza e alegria com a música “Here comes the sun“, dos Beatles. No três telões, a foto de um amanhecer e o texto “Here comes the Sunlight“. No palco, muito animada, estava a professora do IFUSP Marília Junqueira Caldas, pesquisadora na área de Física de Materiais há 45 anos, pronta para iniciar a Palestra Memorial Joaquim da Costa Ribeiro, honraria da SBPMat para pesquisadores com longa e destacada trajetória dentro da comunidade.
Na palestra, Marília transmitiu aos presentes o seu prazer pela descoberta científica impulsionada pela curiosidade. A cientista contou a história das suas principais contribuições à compreensão do comportamento de diversos semicondutores, como o silício, alguns polímeros, o grafeno e, mais recentemente, os materiais para uso em energia solar que deram o mote à palestra.
Embora o domingo ensolarado convidasse para uma agradável caminhada à beira-mar pelo famoso Jardim da Orla de Santos, mais de 280 pessoas decidiram aproveitar o dia para se capacitarem participando dos quatro minicursos pré-evento, de 3 ou 6 horas de duração, que o XXII B-MRS Meeting ofereceu, sem custo extra, aos participantes. Nessas sessões, especialistas renomados compartilharam seu conhecimento sobre síntese de nanopartículas, técnicas de microscopia (TEM, 4DSTEM) e escrita e publicação de artigos científicos.
Uma das sessões especiais da terça-feira.
Além disso, ao longo da semana, os participantes do evento puderam aproveitar outras sessões especiais. Na segunda-feira de manhã, a editora ACS trouxe ao B-MRS Meeting o ACS on Campus, uma sessão para aprender sobre publicação acadêmica e conhecer editores. Na terça-feira à tarde, entre as 15 e as 16, foi possível escolher entre dez palestras e mesas redondas que ocorreram em paralelo. No palco dessas sessões especiais, em vez de pesquisadores da área, houve convidados diferentes: jornalistas, empreendedores, investidores de startups, representantes de editoras científicas, especialistas do mercado de instrumentação científica… O destaque desse momento diferenciado da programação, foram as três mesas redondas com as suas animadas discussões sobre projetos bem-sucedidos de divulgação científica e extensão, sobre os desafios de ser mulher e cientista e sobre as possibilidades para cientistas que desejam ser empreendedores.
Interação e animação também estiveram presentes na área dos expositores. Nos estandes, houve atividades das mais diversas: sorteios de brindes diferenciados, demonstração de tecnologias, competições e desafios. Foram 36 expositores nesta edição do evento, entre empresas de instrumentação e insumos para a pesquisa, centros de pesquisa, startups e editoras científicas.
Simpósios: mais de 1.700 trabalhos apresentados e muita discussão científica
Alguns organizadores de simpósio e coordenadores do evento no centro de convenções.
Entre a segunda e a quinta-feira, 1.732 trabalhos de pesquisa foram efetivamente apresentados dentro dos 29 simpósios temáticos que compuseram o evento. Para que isso fosse possível, cerca de cem pesquisadores de 17 países atuaram como organizadores desses simpósios. Sob a coordenação dos chairs do evento, Laura e Lucas, esses cientistas conduziram a organização de seus simpósios em todas as fases, desde a submissão da proposta, no final do ano passado, até a seleção dos melhores trabalhos, no último dia do evento.
Essa participação da comunidade internacional na organização dos simpósios do evento da SBPMat garante, uma e outra vez, a desejada variedade, atualidade e representatividade temática e geográfica. De fato, os simpósios desta edição abordaram os mais diversos tipos de materiais: bidimensionais e tridimensionais, cerâmicas e polímeros eletrônicos, ligas de alta entropia, materiais inteligentes e sustentáveis, entre muitos outros. Em mais de 500 apresentações orais e cerca de 1.200 pôsteres, os participantes apresentaram e discutiram avanços recentes no design, síntese, produção e caracterização desses materiais, bem como as suas aplicações em áreas tão variadas e importantes como a de saúde, energia renovável, agricultura, remediação ambiental, eletrônica e patrimônio cultural.
“Tivemos o privilégio de receber renomados pesquisadores internacionais que fizeram palestras inspiradoras sobre os últimos avanços e oportunidades no campo da Eletrônica Orgânica”, diz o pesquisador Rafael Furlan de Oliveira, do LNNano – CNPEM, que foi um dos organizadores do simpósio sobre materiais condutores orgânicos e suas aplicações em Eletrônica, Fotônica e Bioeletrônica. “As contribuições de pesquisadores e estudantes brasileiros foram igualmente impressionantes, demonstrando a criatividade, resiliência e excelência científica da nossa comunidade”, completa.
Sessão oral de um dos 29 simpósios.
Nas sessões orais, realizadas em até 12 salas simultâneas do centro de convenções, sucederam-se apresentações de 12 minutos (e 25 para os palestrantes convidados), seguidas de alguns minutos para as perguntas do público. “Cada apresentação do simpósio foi seguida por discussões animadas, refletindo o interesse significativo no campo específico, mas promissor, com vasto potencial de aplicação, do nosso simpósio”, conta Frank Alain Nüesch, um dos organizadores do simpósio sobre materiais orgânicos que absorvem e emitem radiação no infravermelho próximo. Nüesch é pesquisador da Empa, instituição suíça dedicada à ciência e tecnologia de materiais avançados.
Sessão de pôsteres da terça-feira.
O foco temático dos simpósios, presente desde a primeira edição do evento da SBPMat, permite reunir pessoas com diferentes formações que estão abordando assuntos muito parecidos a partir de perspectivas diversas, criando um ambiente propício a colaborações. “A sala estava lotada, com os participantes envolvidos em discussões animadas com os apresentadores, o que contribuiu para o alto padrão científico do simpósio. Além disso, ficou evidente que houve um grau notável de interação entre pesquisadores com relação a potenciais esforços colaborativos futuros e à formulação de novos projetos de pesquisa”, relata João Coelho (Universidad de Sevilla, Espanha) enquanto coorganizador do simpósio sobre desenvolvimento sustentável da Eletrônica Impressa.
As discussões científicas também fervilharam nas três sessões de pôster do evento, realizadas sempre no final da tarde no andar térreo. Dada a grande quantidade de pôsteres (cerca de 400 por sessão), as pessoas que se aproximavam da área e percorriam os corredores da exibição podiam experimentar a transformação de um forte barulho ininteligível em interessantes conversas e encontros motivadores.
Programa social: confraternizar é preciso
Conference Party em casa noturna de Santos.
No XXII B-MRS Meeting, não faltaram oportunidades de confraternização para todos os gostos.
O tradicional coquetel de boas-vindas, aberto a todos os participantes do evento sem custo extra, foi realizado no domingo à noite no próprio centro de convenções, propiciando os primeiros reencontros do evento em clima de comemoração, com gostosos comes e bebes.
Durante a semana, coffee breaks matutinos e vespertinos foram servidos na área dos estandes. Além de repor energias e injetar cafeína para encarar as sessões seguintes, esses intervalos foram momentos muito importantes para a interação entre os pesquisadores e com os expositores.
Além disso, na terça-feira à noite ocorreu a Conference Party, outra tradição bem-sucedida dos eventos da SBPMat. A festa foi realizada no Arena Clube, uma das principais casas noturnas de Santos. Com rock e pop de diversas décadas e países, o DJ agradou as várias gerações e tribos presentes no local, que puderam se divertir dançando em grupos de amigos.
Sessões plenárias: ciência básica, aplicada e inovação para o desenvolvimento sustentável
Ao longo dos dias seguintes, na sala principal do centro de convenções, com centenas de pessoas na plateia, seis palestras plenárias foram proferidas por cientistas renomados do Brasil, Estados Unidos, Itália, Polônia e Singapura.
Na segunda-feira de manhã, abrindo o programa científico, Thomas Randall Lee apresentou de uma forma didática e amena os resultados obtidos por seu grupo de pesquisa da Universidade de Houston (EUA) na fabricação e caracterização de nanopartículas de diversos formatos (como estrelas, cubos e esferas) com interessantes propriedades fotônicas e magnéticas. “Randy”, como é chamado este cientista que já participou de várias edições do evento da SBPMat, falou também sobre as aplicações dessas nanoestruturas na geração de energia limpa e como sensores na área de medicina.
Bluma Guenther Soares recebendo o Prêmio José Arana Varela.
A segunda plenária correspondeu ao Prêmio José Arana Varela, concedido anualmente pela SBPMat a um pesquisador de destaque na área de Materiais no Brasil. Neste ano, a distinção foi outorgada a Bluma Guenther Soares, professora da UFRJ e pesquisadora do IMA, em reconhecimento à dimensão e qualidade da sua produção científica e do seu trabalho de formação de pesquisadores. Na palestra, a homenageada abordou uma parte do seu variado leque de trabalhos de impacto na área de materiais orgânicos: o uso de líquidos iônicos como aditivos em nanocompósitos poliméricos condutores.
“Semicondutores em garrafas” que podem ser usados na fabricação de eletrônicos flexíveis foram o assunto da terceira plenária, proferida pelo professor Wojciech Pisula, da Universidade Tecnológica de Lodz (Polônia). Nesses materiais, filmes semicondutores são formados a partir de soluções por meio de processos de auto-organização das suas moléculas. O plenarista, que é autor de vários artigos sobre o assunto destacados em capas de revistas renomadas, mostrou que compreender e controlar esse processo é crucial para conseguir alto desempenho em dispositivos eletrônicos.
Uma das 6 palestras plenárias do evento.
Na quarta plenária do evento, Federico Rosei, da Universidade de Trieste (Itália) cativou o público com a sua oratória. O cientista lembrou que o Sol envia em uma hora mais energia do que o planeta Terra consome em um ano, e que, por outro lado, tem um a dois bilhões de pessoas que ainda não têm acesso à eletricidade. Contudo, a conversão de energia do Sol em eletricidade está longe de ser sustentável. Os dispositivos desenvolvidos até o momento utilizam materiais baseados em fósseis, ou em elementos tóxicos ou escassos, além de serem difíceis de se reciclar. O cientista italiano, que até pouco tempo atuava na Universidade do Quebec (Canadá), estuda, justamente, materiais que possam ser usados para gerar dispositivos fotovoltaicos mais sustentáveis. Mas a sua visão não é otimista. De acordo com ele, para conseguir um desenvolvimento realmente sustentável, o que o ser humano precisa é mudar o seu padrão de consumo.
A quinta palestra plenária demonstrou o potencial do papel, um material sustentável, como substrato de sensores eletroquímicos de alto desempenho que podem ser usados para detectar substâncias como pesticidas, toxina botulínica ou gás mostarda. A cientista Fabiana Arduini, da Universidade de Roma Tor Vergata (Itália) mostrou o trabalho de pesquisa e desenvolvimento que seu grupo vem realizando até conseguir produzir pequenos dispositivos que, usando apenas eletrodos impressos sobre papel, podem substituir um laboratório completo.
A última plenária do evento foi proferida por um destacado pesquisador e inventor da área de baterias, Rachid Yazami. Em 1980, o cientista criou o ânodo de grafite que hoje é usado junto ao cátodo de lítio nas baterias que hoje predominam em quase todas as aplicações, de eletrônicos portáteis a carros elétricos. Em 2011, Yazami fundou a KVI, empresa localizada em Singapura que desenvolve, fabrica e exporta baterias. Na palestra, o cientista mostrou como está trabalhando para melhorar a velocidade de carregamento, segurança e vida útil das baterias de lítio por meio da voltametria não linear. Depois de mostrar um mapa do Brasil mostrando que quase todos os elementos necessários para fabricar baterias estão presentes no país, ele expressou o seu desejo de ver uma gigafábrica de baterias instalada aqui e muitos jovens pesquisadores brasileiros atuando nessa área.
Encerramento: 3 jovens pesquisadoras e 41 estudantes premiados
Anúncios do evento de 2025 no encerramento do evento de 2024.
Na quinta-feira, por volta das 11h15, a sala estava lotada para prestigiar a última sessão do evento, a cerimônia de encerramento e de premiação. Emocionada, a chair Laura apresentou os números do evento, comemorou o recorde de participantes e agradeceu aos participantes, organizadores de simpósio, plenaristas e palestrantes convidados, expositores, equipe e diretores da SBPMat, comitês local e de programa e voluntários, que, em conjunto, fizeram possível a realização do evento.
Por sua vez, o chair Lucas contou que, para ele, organizar o evento foi uma forma de agradecer à SBPMat tudo que a sociedade lhe deu ao longo da carreira. Ele compartilhou que, ao aceitar o desafio, teve que deixar de lado inseguranças e pensar no dever; ele simplesmente tinha que fazê-lo, pois alguém tem que fazê-lo. “Este evento é muito importante para motivar a próxima geração de cientistas”, disse ele.
A palavra passou então para os coordenadores do próximo B-MRS Meeting: Luiza Amim Mercante (UFBA) e Daniel Souza Corrêa (Embrapa Instrumentação), a dupla mais jovem a aceitar o desafio até o momento. Os chairs mostraram rapidamente a sede do evento, a cidade de Salvador (BA), com sua indiscutível riqueza cultural e natural, e o local do encontro, que será o Centro de Convenções Salvador, um impactante prédio à beira-mar. Além disso, os coordenadores anunciaram os palestrantes das 6 plenárias e da palestra memorial do evento e o lançamento da chamada de simpósios, que está aberta até 4 de novembro.
Encerrando os pronunciamentos da mesa, o presidente da SBPMat reforçou a importância do evento para manter unida a comunidade e anunciou o local do B-MRS Meeting de 2026, a cidade de Curitiba (PR), e seus coordenadores, Gregório Faria, do IFSC-USP, e Paula Rodrigues, da UTFPR.
Entrega do Prêmio para Mulheres em Início de Carreira a Ingrid Barcelos.
Finalmente, chegou o esperado momento da revelação dos vencedores dos prêmios aos melhores trabalhos do evento. Representando a comissão de premiação, a professora Iêda Maria Garcia dos Santos, diretora financeira da SBPMat, falou com orgulho que a sociedade estava outorgando pela primeira vez uma distinção exclusiva para mulheres, o Prêmio SBPMat para Mulheres Cientistas em Início de Carreira. Patrocinado neste ano pela revista Electronic Materials (MDPI), o prêmio distingue a autora da melhor apresentação oral do evento, considerando, além do trabalho apresentado, a sua produção científica anterior. A vencedora deste ano foi Ingrid David Barcelos, pesquisadora do CNPEM. Contudo, a comissão do prêmio, composta pelas diretoras científicas da SBPMat Ingrid Weber (UnB) e Lucimara Stolz Roman (UFPR), outorgou também menções honrosas a Janaína Artem Ataide (Unicamp) e Ingrid Rodríguez Gutierrez (UFABC e CNPEM).
Estudantes premiados junto a representantes da SBPMat e dos patrocinadores.
Por último, entre salvas de palmas, foram anunciados os vencedores dos prêmios para estudantes. Quarenta e um prêmios Bernhard Gross foram entregues ao melhor oral e melhor pôster de cada simpósio. A lista dos vencedores mostrou um bom nível de representatividade de gênero (23 do sexo masculino e 18 do feminino) e geográfica (instituições das 5 regiões brasileiras, além de Alemanha, Canadá e Itália), além da presença de 11 estudantes de graduação, destacando-se no início da sua formação científica. Entre esses vencedores do prêmio da SBPMat, seis trabalhos foram escolhidos como os melhores para receber prêmios em dinheiro da editora científica ACS Publications e outros seis receberam prêmios de revistas da Royal Society of Chemistry.
E dessa forma, com os estudantes premiados no palco posando com seus certificados para a foto do grupo, a vigésima segunda edição do evento da SBPMat chegou ao fim.
Até Salvador!
[Todas as fotos realizadas pelo fotógrafo oficial do XXII B-MRS Meeting podem ser acessadas e baixadas nas pastas compartilhadas aqui.]
A Sociedade Brasileira de Pesquisa em Materiais (SBPMat), vem expressar extrema preocupação com as últimas notícias acerca da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ), particularmente quanto à possível exoneração do Professor Jerson Lima da Silva da presidência da fundação.
O Professor Jerson Lima é um renomado pesquisador com uma carreira de destaque nacional e internacional na área de bioquímica e biologia molecular. Membro da Academia Brasileira de Ciências e da Academia Nacional de Medicina, além de professor titular da UFRJ. A partir de sua atuação como presidente da FAPERJ e de sua capacidade de articulação entre diferentes agentes no cenário nacional, ele tem dado importante contribuição para o desenvolvimento científico do país. Sua exoneração causa preocupação a toda a comunidade científica brasileira visto que sua gestão foi marcada por um comprometimento inegável com o fortalecimento da ciência, tecnologia e inovação não somente no Estado do Rio de Janeiro, mas no Brasil.
A manutenção de um pesquisador de excelência como presidente da FAPERJ é fundamental para garantir o sucesso desta importante instituição como instrumento de desenvolvimento social e econômico do nosso Estado. Deste modo, a ocupação de cargo com tamanha importância por motivos que não estejam diretamente ligados à promoção do conhecimento, da ciência e tecnologia, e compromisso com a inovação, não é aceitável.
Ivan H Bechtold
Presidente da Sociedade Brasileira de Pesquisa em Materiais – SBPMat
We are seeking a researcher interested in developing new materials and deposition techniques for preparing perovskite solar cells (PSCs). The researcher must hold PhD in Nanoscience and Advanced Materials, Chemistry, or Materials Science. Experience in solar cell preparation and photovoltaic characterization is essential for this position. Other skills, such as the use of SEM, XRD, etc., are welcome.
How to apply: send your CV Lattes (https://lattes.cnpq.br/) link and a brief letter describing your expertise and how you think to contribute to the development of PSCs to andre.polo@ufabc.edu.br. Having a recommendation letter from your previous supervisor(s) for the last 24 months is also mandatory. This letter should be sent directly from the supervisor to andre.polo@ufabc.edu.br.
Foreigner candidates: due to the scholarship requirements, this opportunity is limited to candidates already residing in Brazil and possessing the necessary Brazilian documentation.
Ph.D. candidate
We are seeking a Ph.D. candidate interested in understanding and developing new materials for charge carrier transport layers for PSCs. The candidate must have previous experience (undergraduate internship or MSc) in experimental science and will be enrolled in the UFABC – Nanoscience and Advanced Materials Graduate program. Candidates must have graduated in Chemistry, Physics, or Materials Science.
How to apply: send your CV Lattes (https://lattes.cnpq.br/) link and your undergraduate/graduate curriculum to andre.polo@ufabc.edu.br. It is also mandatory to send a recommendation letter from your previous supervisor(s). This letter should be sent directly from the supervisor to andre.polo@ufabc.edu.br.
Foreigner candidates: due to the scholarship requirements, this opportunity is limited to candidates already residing in Brazil and possessing the necessary Brazilian documentation.
Está aberta a chamada de simpósios temáticos, como parte da programação do XXIII B-MRS Meeting. O encontro ocorrerá no Centro de Convenções Salvador, em Salvador, Bahia, de 28 de setembro a 2 de outubro de 2025. Os coordenadores gerais do evento são Luiza Amim Mercante (UFBA) e Daniel Souza Corrêa (Embrapa Instrumentação).
As propostas devem ser submetidas por pesquisadores com título de doutor até 4 de novembro de 2024, por meio do formulário disponível em https://sbpmat.org.br/proposed_symposium/.
O comitê de programa do XXIII B-MRS Meeting avaliará as propostas. A lista preliminar com os simpósios aprovados estará disponível em 29 de novembro de 2024.
Devido ao crescente interesse em participar dos encontros da SBPMat, o número de propostas submetidas supera em muito os simpósios que podem ser acomodados no programa científico. O comitê de programa, portanto, dará prioridade às propostas de interesse excepcional para a comunidade de ciência dos materiais.
Cada simpósio receberá quatro (4) isenções de taxa de inscrição. Além disso, para cada 100 resumos enviados, o simpósio receberá uma (1) isenção adicional.
Recomendamos uma rotatividade de pelo menos dois dos coorganizadores no caso de simpósios de edições anteriores. Um grupo internacional diversificado de quatro (4) coorganizadores, com igualdade de gênero, é considerado a melhor escolha. Incluir pesquisa interdisciplinar e envolvimento industrial é altamente encorajado para os simpósios. Além disso, sugerimos cautela com excesso de palestrantes convidados, de modo que nas sessões orais haja disponibilidade para apresentações de membros de nossa comunidade. Da mesma forma, o equilíbrio em questão de gênero e região geográfica dos palestrantes convidados é fortemente encorajado.
A Sociedade Brasileira de Pesquisa em Materiais (SBPMat) manifesta preocupação com a proposta de corte de 30% no orçamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) para o ano de 2025.
As instituições de ensino e pesquisa do estado de São Paulo são responsáveis por grande parte do conhecimento científico gerado no Brasil, em especial na área de materiais, e contribuem com a formação qualificada de pesquisadores para atuarem na academia, no mercado de trabalho e para empreender.
A FAPESP tem um papel central no financiamento destas atividades e a redução de 30% dos recursos comprometerá significativamente este processo, sendo um retrocesso não apenas para o desenvolvimento científico e tecnológico do país, mas para a sociedade em geral por ele beneficiado.
O engajamento de todos os setores da sociedade é fundamental para alertar os parlamentares da Assembleia Legislativa de São Paulo, a fim de impedir que isso aconteça.
Ivan H Bechtold
Presidente da Sociedade Brasileira de Pesquisa em Materiais – SBPMat
A comissão organizadora do XXIII B-MRS Meeting, que será realizado em Salvador (Bahia, Brasil) de 28 de setembro a 02 de outubro de 2025, convida a comunidade científica a enviar sugestões de palestrantes para as plenárias.
As palestras plenárias devem interessar a um público amplo, com diferentes níveis de formação e especialidades temáticas. Espera-se que os cientistas sejam renomados pesquisadores a nível internacional, capazes de proferir uma palestra motivacional que aborde os avanços alcançados ao longo do tempo em seu tema de pesquisa, além de discutir os desafios e perspectivas para o futuro.
O XXIII B-MRS Meeting tem coordenação de Luiza Amim Mercante, da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e Daniel Souza Correa, da Embrapa Instrumentação (São Carlos/SP).
As sugestões de plenaristas devem ser enviadas até 20 de maio deste ano por meio deste formulário Google.
[Carta enviada em 24 de janeiro deste ano à Profa. Mercedes Maria da Cunha Bustamante, presidente da CAPES naquele momento, e à Profa. Denise Pires de Carvalho, atual presidente da CAPES, no dia 14 de fevereiro]
A Sociedade Brasileira de Pesquisa em Materiais (SBPMat) expressa sua grande preocupação com a perda de acesso às revistas científicas da editora American Chemical Society (ACS) a partir do início de 2024 e da restrição de acesso aos periódicos da editora Royal Society of Chemistry (RSC) em 2023, em decorrência de não ter sido realizada a renovação da assinatura dentro do Portal Periódicos da CAPES.
O acesso às publicações científicas destas renomadas editoras é fundamental para a realização de pesquisas na fronteira do conhecimento nas mais variadas áreas, em especial na área de materiais, que é altamente interdisciplinar e aplicada, envolvendo física, química, biologia, engenharias, ciências da saúde, ciências agrárias entre outras.
A impossibilidade de acesso compromete a qualidade e atualidade das pesquisas realizadas, impactando na formação de estudantes de graduação e pós-graduação, além de comprometer a excelência do desenvolvimento científico e produção científica do país.
Desse modo, entendemos que a descontinuidade da assinatura das revistas editadas pela ACS e RSC trará um prejuízo imenso aos pesquisadores brasileiros e colaborações científicas internacionais, sendo fundamental a manutenção do acesso a essas revistas.
Certo de sua compreensão acerca desse anseio da comunidade científica do país, contamos com o importante apoio da Capes às pós-graduações e colocamo-nos à disposição para quaisquer esclarecimentos.
“A ciência é viva, dinâmica, empolgante e enriquecedora, e fazer parte do seu avanço é um grande privilégio”, diz Ana Elisa Ferreira de Oliveira, vencedora do Prêmio Capes de Tese 2023 na área de Materiais.
O prêmio distinguiu as 49 melhores teses de doutorado, uma por área do conhecimento, defendidas em programas de pós-graduação de todo o país em 2022. Além disso, 98 menções honrosas foram outorgadas. Mais de 1.400 trabalhos se candidataram a esta edição do Prêmio Capes, cuja cerimônia de premiação foi realizada em Brasília no dia 14 de dezembro.
Na sua tese, Ana Elisa desenvolveu dois sensores eletroquímicos, um de grafite e outro de nanotubos de carbono, capazes de detectar em tempo real um biomarcador de câncer de mama (a proteína CA 15-3) em amostras biológicas (soro sanguíneo e saliva). Essa proteína aparece em níveis superiores aos normais na maioria das mulheres com câncer de mama depois da fase inicial da doença – motivo pelo qual pode ser usada para monitorar a resposta dessas pacientes aos tratamentos, bem como para fazer triagem de metástase e para detectar a recorrência do câncer.
Os sensores desenvolvidos no doutorado de Ana Elisa foram produzidos sobre uma base de papel na qual eletrodos foram impressos usando tintas condutoras por meio de métodos simples, como a serigrafia e a escrita à mão. Para detectar o biomarcador CA 15-3, os sensores foram modificados com anticorpos dessa proteína.
A pesquisa foi realizada com orientação do professor Arnaldo César Pereira dentro do Programa de Pós-Graduação em Física e Química de Materiais da Universidade Federal São João del-Rei (FQMat – UFSJ), em Minas Gerais. Contudo, o trabalho é resultado de dez anos de formação científica na área de sensores, desde a iniciação científica até o doutorado, sempre na UFSJ e com o mesmo orientador.
Nesta entrevista ao Boletim da SBPMat, esta jovem cientista, natural de Barbacena (MG) fala sobre os sensores e sobre as dificuldades e alegrias da trajetória que percorreu até concluir a melhor tese brasileira de Materiais defendida em 2022.
Boletim da SBPMat: Conte-nos um pouco sobre a sua formação científica.
Ana Elisa Ferreira de Oliveira: Minha carreira acadêmica começou quando entrei na Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ) em 2011. Fiz duas iniciações científicas orientadas pelo Prof. Dr. Arnaldo, ambas na área de desenvolvimento de sensores. A iniciação científica na UFSJ foi a introdução na minha carreira como pesquisadora. A partir dela, entendi a importância da pesquisa científica e tive certeza da minha vontade de continuar meus estudos na pós-graduação. Em 2015, fiz mestrado no Programa de Física e Química de Materiais da UFSJ, e ingressei no doutorado em 2017, nesse mesmo programa.
Quando estava escrevendo meu projeto de doutorado, queria muito algo na área de saúde, por isso escolhi o desenvolvimento de sensores para determinação de biomarcadores. Então, faltava decidir o que o sensor iria determinar, qual doença. Hoje o câncer de mama é o tipo de tumor mais comum em mulheres na maior parte do mundo. As mulheres com mais de 50 anos são mais afetadas por este tipo de câncer. Estatisticamente, cerca de uma em oito mulheres é diagnosticada com câncer de mama durante a vida. Logo, decidi que no meu doutorado focaria na aplicação de sensores para determinação de biomarcadores de câncer de mama.
Durante meus anos de pesquisa, publiquei 19 artigos em diferentes periódicos. Entre graduação, mestrado e doutorado, foram dez anos na UFSJ. Uma década de muito estudo, aprendizado, desafios e evolução pessoal. Sou eternamente grata pelo papel da minha universidade em minha trajetória profissional.
Boletim da SBPMat: Quais foram os maiores desafios que você enfrentou para realizar a tese premiada?
Ana Elisa Ferreira de Oliveira: O caminho durante meu doutorado não foi fácil. Mas, definitivamente, a principal dificuldade é que fomos surpreendidos por uma pandemia mundial que naquele momento havia tirado a vida de milhões no mundo. Adaptar-me a uma nova realidade e ter o trabalho no laboratório interrompido por meses foi desafiador. Quando finalmente voltei, recuperar o tempo perdido foi extremamente cansativo. Passei manhã, tarde e noite no laboratório, e muitas vezes sai sem resultados. Isso foi muito estressante. Porém, com muito esforço e dedicação consegui cumprir esse desafio. E o recebimento desse prêmio apenas constata que valeu a pena!
A premiação foi uma grande surpresa. Eu estou me sentindo extremamente honrada por ter meu trabalho de doutorado reconhecido com o recebimento de um prêmio tão importante. É uma sensação indescritível. Comemoro essa vitória junto a todos que, de forma indireta ou direta, me ajudaram a realizar meu sonho.
Boletim da SBPMat: Quais são as vantagens dos sensores desenvolvidos com relação a outras técnicas de detecção de doenças?
Ana Elisa Ferreira de Oliveira: Os sensores eletroquímicos apresentam algumas vantagens sobre as técnicas convencionais: alta seletividade e sensibilidade, baixo custo de produção dos aparelhos, não requerem muita manutenção para seu uso e conservação, a análise pode ser feita em tempo real e técnicos especializados podem não ser necessários.
Além de terem resposta rápida e muitas vezes sem a necessidade de pré-tratamento, os eletrodos impressos podem ser fabricados em larga escala, o que permite uma produção de baixo custo. São descartáveis, dispensando a etapa de limpeza. Consequentemente, os sensores impressos são conhecidos como dispositivos de baixo custo, miniaturizados, descartáveis e de alta sensibilidade. Os eletrodos impressos podem substituir o sistema convencional de três eletrodos (trabalho, referência e contra) usando tintas condutoras e um substrato.
Boletim da SBPMat: Vocês montaram os protótipos dos sensores. Quais seriam as etapas necessárias para que esses dispositivos possam ser usados fora do laboratório?
Ana Elisa Ferreira de Oliveira: Os resultados do trabalho sugerem a possibilidade de utilização de sensores eletroquímicos impressos como alternativa para determinação de CA 15-3 em amostras biológicas. No entanto, há muito mais estudos que podem e devem ser realizados nestes sensores propostos para que se tornem comerciais.
Eles podem ser ainda mais otimizados tentando aumentar a sensibilidade e diminuir o limite de detecção e quantificação. Outra possibilidade é a modificação dos sensores impressos para determinação de outros biomarcadores, não só de câncer, mas de outras doenças como as cardiovasculares.
Os sensores eletroquímicos também podem ser projetados para análise point-of-care (POC) devido à sua rápida resposta analítica, possibilidade de miniaturização e operação simples. O teste POC geralmente é realizado próximo ao paciente, permitindo a disponibilidade instantânea dos resultados para a tomada de decisões imediatas e informadas sobre o atendimento ao paciente.
Portanto, algumas otimizações experimentais poderiam ser realizadas nos sensores propostos para diminuir o tempo de análise e permitir o uso de potenciostatos portáteis. Os sensores eletroquímicos impressos possuem grande potencial no monitoramento da saúde e, felizmente, muitos trabalhos estão sendo gerados na literatura envolvendo diferentes materiais para esses fins. Os resultados desta tese corroboram esta ideia e apresentam uma possibilidade de desenvolvimento de dispositivos sensíveis para CA 15-3.
Boletim da SBPMat: Deixe uma mensagem para nossos leitores que estão fazendo seus trabalhos de iniciação científica, mestrado ou doutorado.
Ana Elisa Ferreira de Oliveira: Existe uma frase atribuída a Marie Curie que diz “Durante toda a minha vida, as novas descobertas sobre a natureza me alegraram como uma criança”. É assim que me senti durante toda minha carreira acadêmica. E é assim que ainda me sinto ao ler um bom artigo, ao desenvolver um projeto ou quando leio sobre uma pesquisa nova. A ciência é viva, dinâmica, empolgante e enriquecedora. Fazer parte, nem que seja num pedacinho muito pequeno, no avanço da ciência é um grande privilégio.
Boletim da SBPMat: Se quiser fazer algum outro comentário, fique à vontade.
Ana Elisa Ferreira de Oliveira: Gostaria fazer um agradecimento especial a algumas pessoas que estiveram ao meu lado durante essa caminhada. Aos meus pais, irmã e sobrinhos pelo constante apoio e incentivo. Ao meu marido Lucas por estar ao meu lado em todos os momentos. À Mayra, minha companheira fiel de laboratório pela ajuda e parceria. Ao Prof. Dr. Lucas Franco Ferreira pela parceria e colaboração. Aos colegas do grupo de pesquisa (Grupo de Pesquisa em Polímeros e Eletroanalítica – GPPE), agradeço pelo apoio, colaboração, companheirismo, conversas agradáveis e momentos de alegria. E em especial, gostaria de agradecer meu orientador Prof. Dr. Arnaldo César Pereira pela oportunidade concedida. Ele me acolheu como aluna há nove anos atrás, e desde então passamos por iniciação científica, mestrado e agora o sonhado doutorado. Agradeço pela orientação, conversas e parceria, por confiar no meu trabalho e pelo constante incentivo. É difícil descrever em palavras sua importância na minha caminhada profissional.
Veja as teses de temas relacionados a Materiais que foram distinguidas no Prêmio Capes de Tese 2023:
Tese vencedora
Área de avaliação: Materiais Autor: Ana Elisa Ferreira de Oliveira Título da Tese: Desenvolvimento de eletrodos impressos em papel para determinação do biomarcador de câncer CA 15-3 em amostras biológicas Programa: Física e Química de Materiais IES: UFSJ Orientador: Arnaldo Cesar Pereira Lattes da autora:http://lattes.cnpq.br/7041612631494354
Menções Honrosas
Área de avaliação: Materiais Autor: Rafael Turra Alarcon Título da Tese: Modificação estrutural de triacilgliceróis visando a obtenção de monômeros e polímeros seguindo os princípios da Química Verde: rotas sintéticas mais eficientes com menor gasto energético Programa: Ciência e Tecnologia de Materiais IES: UNESP – Bauru Orientador: Gilbert Bannach Lattes do autor: http://lattes.cnpq.br/9108187580652868
Área de avaliação: Materiais Autora: Catia Liane Ucker Título da Tese: Nb2O5 aplicado em processos fotocatalíticos de degradação da Rodamina B: influência da composição, estrutura e método de síntese Programa: Ciências e engenharia de materiais IES: UFPEL Orientador: Sergio da Silva Cava Co-orientadora: Cristiane Wienke Raubach Ratmann Lattes da autora: http://lattes.cnpq.br/3494568110192672
Área de avaliação: Engenharias II Autor: Robert Saraiva Matos Título da Tese: Atividade fotocatalítica de nanocompósitos ZnO/Fe3-xMnxO4/Óxido de Grafeno (0,075≤x≤0,30) obtidos com nanopartículas sintetizadas em meio bioquelante amazônico Programa: Ciência e Engenharia de Materiais IES: FUFSE Orientador: Rosane Maria Pessoa Betanio Oliveira Co-orientador: Nilson Dos Santos Ferreira Lattes do autor: http://lattes.cnpq.br/0342189537308858
Área de avaliação: Engenharias II Autora: Fernanda Aparecida de Faria Almeida Título da Tese: Síntese automática do novo grupo prostético ceto[18f]fdg para radiofluorinação de peptídeos e sua utilização no desenvolvimento do radiofármaco ceto[18f]fdg-vap-p1 Programa: Ciência e Tecnologia das Radiações, Minerais e Materiais IES: CDTN Orientador: Marcelo Henrique Mamede Lewer Co-orientadora: Juliana Batista da Silva Lattes da autora:http://lattes.cnpq.br/2004744607440769
Área de avaliação: Farmácia Autor: Fernanda Isadora Boni Título da Tese: Sistemas poliméricos multifuncionais baseados em micropartículas contendo nanocarreadores para liberação colônica da camptotecina Programa: Ciências farmacêuticas IES: UNESP – Araraquara Orientadora: Maria Palmira Dalfon Gremiao Co-orientadora: Beatriz Stringhetti Ferreira Cury Lattes da autora:http://lattes.cnpq.br/6465892934301545