Secretário do University Chapter da SBPMat na UFABC participa de discussão com vencedora de Prêmio Nobel.


O doutorando Roger Borges.
O doutorando Roger Borges.

No dia 8 de abril deste ano, o doutorando Roger Borges viveu uma experiência única. Ele dividiu uma mesa de discussão (virtual) sobre a importância da ciência com outros 19 estudantes de universidades brasileiras e com a cientista May-Britt Moser, laureada com o Prêmio Nobel de Medicina em 2014. Cada um dos estudantes pôde fazer uma pergunta à nobelista. Em mais uma mesa de discussão, outros 20 estudantes puderam interagir com Serge Haroche, ganhador do Prêmio Nobel de Física em 2012.

As discussões ocorreram dentro do evento online “O Valor da Ciência”, que foi organizado pela Academia Brasileira de Ciências (ABC) e o Nobel Prize Outreach (braço de comunicação da Fundação Nobel) com apoio do Instituto Serrapilheira, com o objetivo de promover reflexões sobre a importância da ciência para a sociedade e de políticas públicas baseadas no conhecimento científico. O evento foi transmitido no canal oficial do Prêmio Nobel no YouTube.

Para participar do evento, Roger Borges passou por um processo seletivo. Na primeira etapa, 90 universidades públicas e privadas de todas as regiões do Brasil indicaram um total de 170 alunos à ABC. Na segunda fase, a ABC selecionou os 40 jovens que finalmente participaram das mesas de discussão.

Roger Borges (28 anos) é membro e secretário do University Chapter da SBPMat na Universidade Federal do ABC (UFABC) desde a criação dessa unidade, em 2019. Roger graduou-se em Ciência e Tecnologia em 2016 e em Engenharia de Materiais em 2020 – em ambos os casos pela UFABC.  Em 2018, tornou-se mestre em Nanociências e Materiais Avançados pela mesma universidade, na qual, atualmente, realiza o doutorado em Nanociências e Materiais Avançados. Desde a iniciação científica, ele tem trabalhado com pesquisa sobre materiais baseados em vidros e vitrocerâmicas para aplicações biomédicas. Tanto na graduação quanto no doutorado, ele realizou estágios de pesquisa no exterior, mais precisamente na University of Idaho (EUA), na Alfred University (EUA) e no Politecnico di Torino (Itália). É coautor de 17 artigos publicados em periódicos internacionais com revisão por pares e de 6 capítulos de livros.

Veja nossa breve entrevista com Roger Borges.

Boletim da SBPMat: – Participar de uma mesa redonda com uma vencedora de Prêmio Nobel junto a estudantes de diversas áreas e diversas instituições/regiões do Brasil é uma experiência muito especial. Comente o que mais o marcou dessa vivência. 

Roger Borges: Sem dúvida alguma, esta foi uma experiência única. Participar de um evento com um nobelista e transmitido pela The Nobel Prize foi uma grande honra para a minha carreira acadêmica, no entanto, o que mais me marcou foi a importância da diversidade dos alunos escolhidos. Houve diversidade de gênero, raça, regional e de perfil acadêmico. Consequentemente, a diversidade das perguntas foi incrível! Por exemplo, alguns alunos da região Norte fizeram perguntas mais atreladas às pautas ambientais, alunas mulheres fizeram perguntas atreladas a pautas feministas, uma aluna negra perguntou sobre importância da pluralidade na ciência, uma aluna de jornalismo perguntou sobre como combater as fake news. É neste momento que fica mais do que explícita a necessidade da diversidade na ciência, bem como políticas afirmativas que favoreçam esta diversidade. A sociedade ganha, a ciência ganha, todo mundo ganha e ninguém perde! Eu acredito que se a mesa redonda não contasse com tamanha diversidade, ela não seria tão frutífera como ela foi. Neste sentido, parabenizo a ABC que teve o cuidado intencional de garantir a diversidade da mesa redonda. Ter uma Academia de Ciências que tem esta visão é motivo de orgulho para o nosso Brasil.

Boletim da SBPMat: – Na mesa de discussão com a cientista e nobelista May-Britt Moser você perguntou de que maneira a colaboração internacional pode diminuir desigualdades em ciência e inovação em países em desenvolvimento. Quais são hoje as suas reflexões sobre o valor da ciência, da inovação e da colaboração internacional?

Roger Borges: – Nós vivemos em um mundo extremamente desigual, onde nem todos os países gozam de equidade de oportunidades de pesquisa e investimento. Na minha percepção, a ciência é a força motriz das inovações que são capazes de diminuir as desigualdades econômicas e sociais entre os diferentes países, ao mesmo passo que a ciência também é a ferramenta que dá respaldo para implementação de políticas que visam diminuir estas desigualdades. Esse é o grande valor da ciência: permitir vivermos em um mundo melhor e nos dar meios para caminharmos neste sentido. Dentro deste contexto, eu vejo que a diminuição das desigualdades – sejam elas de cunho científico, econômico ou social – é um dever de todos, isto é, dos mais e dos menos privilegiados. Assim, a colaboração internacional é um mecanismo que permite dar acesso de infraestrutura e formação de recursos humanos àqueles que não gozam das mesmas oportunidades; além de também ser uma forma de colaborar cientificamente visando desenvolver inovações e políticas que nos trilhem para um mundo com mais equidade.

Boletim da SBPMat: – Você participa do Programa UC da SBPMat, é associado da Associação Brasileira de Pesquisadores/as Negros/as (ABPN), participou de associações de estudantes brasileiros no exterior. Provavelmente você acha importante participar de grupos de pares. Comente um pouco essa questão.

Roger Borges: – Eu tenho comigo um pensamento que norteia bastante as minhas ações: quem escreve a história é quem decide ao que dar visibilidade e o que deixar cair no esquecimento. Quando você se envolve em um grupo/associação que trabalha em prol de causas que visam o desenvolvimento social e/ou científico, você pode contribuir com este grupo e ajudar a escrever a história. É neste momento que você ajuda a decidir ao que dar visibilidade. Assim, pode-se contribuir com melhorias, dar sua perspectiva, enfim, ajudar a escrever a história da forma que você acha que também seria agradável para os outros e para você. Então, se envolver com grupos e pautas que são importantes para nós é a forma que nós encontramos para dar a nossa contribuição de forma ativa e mais efetiva. Se envolver naquilo que acreditamos é extremamente importante. Em contrapartida, também é muito enriquecedor! A gente aprende muito, se atualiza, é realmente uma troca que ajuda a nos tornarmos pessoas e profissionais melhores.

Mesa de discussão com o diretor científico da Nobel Media, Adam Smith, a nobelista May-Britt Moser e 20 estudantes do Brasil.
Mesa de discussão. A partir da esquerda, o diretor científico da Nobel Media Adam Smith, a nobelista May-Britt Moser e 20 estudantes de instituições brasileiras.

 



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